No outro na escola, logo que chegamos, Chris veio falar comigo.

_Math – disse Chris – preciso falar com você!

_Vou deixa-los em paz! – Debby disse saindo.

_Não tenho nada pra falar com você! – respondi impaciente

_Por favor, me escute…

_Seja breve!

_Eu só quero esclarecer uma coisa: Não fui eu quem te enviou a mensagem!

_O que? – disse num quase grito, surpreso, claro!

_É verdade! – Chris disse, ele parecia tremer e poucas vezes me olhava nos olhos, parecia estar amedrontado – Acredita em mim?

_Acreditar em que? A cada dia você diz algo diferente.

_Eu sei, é que eu...

Antes que terminasse a frase, ele deu as costas e saiu ligeiro sem que eu pudesse conseguir entender.

Fiquei ali parado no corredor, em meio aquela multidão de alunos que passavam constantemente, olhando para o nada. Meu pensamento estava distante. Se Chris estava dizendo a verdade, e realmente pareceu estar, o mistério ainda não tinha sido resolvido. Havia mais alguém no banheiro naquele dia. Alguém que não gosta de mim. E Chris me pedindo pra beijá-lo se eu não quisesse mais ser ameaçado sendo que era mentira. Ele só queria de aproveitar disso? Eu nunca o perdoaria se tivesse feito isso. Aliás, eu jamais perdoaria a mim mesmo.

Ainda atordoado, fui pra sala.

Fui para o fundo da sala e me sentei lá. Eu estava me sentindo traído e ao mesmo tempo nada mais fazia sentido pra mim. Era muito confuso pra mim parecia que tinha dado um apagão em minha mente, eu não me conseguia lembrar dos detalhes naquele dia do banheiro. Talvez porque eu estava nervoso demais pra me concentrar em alguma coisa. Eu só lembrava do banheiro vazio, logo após Sam apareceu e em seguida, Chris. Ninguém mais. Nenhum ruído ou movimento mais podia ser percebido ali dentro. Se bem que antes de Chris aparecer, eu não tinha percebido sua presença ali.

Mas foi naquele momento que eu parei e pensei: Dois dias se passaram e não havia recebido mais nenhuma mensagem no meu celular. Talvez tivesse sido só uma brincadeira de mau gosto, ninguém queria mesmo me ameaçar de fato, senão já teria dito o que queria.

Eu não sabia ao certo o que pensar, eu só queria me sentir um pouco aliviado, como se as coisas não tivessem tão ruins como estão.

A aula seguia e eu não fazia ideia do que a professora de literatura dizia. Eu estava completamente no meu mundo, só ouvia as confusões no interior da minha cabeça.

Chegou o intervalo e todos foram saindo. Foi estranho, Debby nem se importou comigo naquele dia, as coisas estavam ficando diferente entre nós. Tudo que ela fazia era seguir as garotas. Embora ela fosse a única que soubesse do meu segredo e a única que eu pudesse contar naquele momento pra conversar, eu não me importei. Continuei sentado em meu lugar. Eu não queria sair pelos corredores do colégio, eu me sentia um pouco, talvez, envergonhado. Preferi ficar na sala mesmo, sozinho. Todos já tinham saído e Adam continuava apressado, arrumando suas coisas para sair também.

_A aula estava tão interessante assim? – perguntei, na tentativa de puxar papo. Nem eu sei o motivo.

_Na verdade – ele respondeu simpático – parecia que não ia acabar nunca mais!

Fiquei em silêncio. Eu não sabia mais o que dizer. Mas pelo menos não fui o único a ter a impressão de uma aula infinita.

_Vai ficar aqui? – Adam perguntou.

_É. Estou sem ânimo pra sair por ai!

_Tudo bem! – ele respondeu e já foi virando-se para sair.

_Adam? – chamei rápido, antes que ele saísse – Se importa de me responder uma pergunta?

_Pode perguntar.

_Eu não consegui esquecer aquilo, eu preciso saber!

_Deixa eu adivinhar: Ainda incomodado sobre o que o Gabú tava falando?

_Sim! Por favor, eu só quero saber, eu não me importo! Não vou fazer nada.

_Ei, calma! Estávamos falando da confusão entre você e o primo dele.

_Primo dele? – perguntei intrigado.

_O Will! Você não sabia?

_Não. Mas e do que falaram?

_Ele só queria entender porque...

_Não pode ser!

_Porque não?

_Isso muda tudo...

_Tudo?

_Eu nunca imaginei que pudessem existir tantas pessoas com motivos pra me derrubar!

_Você acha que ele tentaria algo com isso só por isso?

_Eu não sei, eles são da mesma família.

_Não se preocupe... Eles não são tão próximos!

_Como assim?

_Não são amiguinhos.

E foi logo saindo me deixando um pouco perplexo.

Eu não sabia ao certo o que Adam quis dizer sobre a relação entre o Gabú e o Will. Eu nunca imaginaria que eles eram da mesma família, talvez ninguém que não os conhecessem a tempo. Fiquei realmente curioso e ai mesmo tempo preocupado.

De qualquer forma, eu não sabia ao certo se devia confiar no Adam. Ele era melhor amigo do cara que discutiu comigo. Talvez eles tivessem combinado algo. A aquela altura, eu já não conseguia confiar mais em nada nem ninguém.

Nesse momento, meu celular tocou, era mais uma mensagem com número bloqueado. Hesitei em ler, mas a curiosidade foi maior.

“Consegue se adaptar fácil as mudanças? Talvez você precise de uma ajudinha!”

Foi o suficiente pra balançar toda a minha cabeça de novo. Eu não tinha entendido o que aquele ser quis dizer. Quais eram as mudanças? O que essa pessoa queria de mim? Eu achava que isso de sms tinha acabado.

Fiquei o resto do intervalo olhando pro meu celular relendo aquela mensagem, tentando ver um sentido lógico, mas não conseguia. O que não me preocupou tanto foi que não tinha nenhuma ameaça dessa vez.

De volta à aula, comecei a observar a todos ali, pensando nas possibilidades de quem possa ter mandado a mensagem, mas acabei me perdendo nos pensamentos quando olhei para Gabu. Ele estava sorrindo, sempre simpático. Não sei, era algo diferente que eu sentia quando olhava pra ele. Eu não estava mais me reconhecendo, isso já aconteceu comigo algumas vezes de achar outros caras bonitos, mas nunca sentir alguma coisa. Antes eu achava normal, eu sentia atração por garotas e agora eu estava começando a me sentir diferente quando olhava pra ele.

Quando eu olhava pra ele, me sentia desconfortável quanto ao que pensava. Era um sentimento novo em mim. Mas enquanto estava perto dele, tudo estava bem. Mas depois vinha o arrependimento, a confusão. Eu não queria ter que lidar com essa mudança que estava acontecendo. Espere, eu disse mudança? Seria possível aquela mensagem estar se referindo a isso? IMPOSSÍVEL! Eu não contei sobre isso a ninguém.

_Eu não gosto de coisas novas! – Debby exclamou – Por exemplo, eu prefiro meus amigos antigos! Não gosto de ficar mudando de amigos.

_Nos ama, apenas! – Steffy comentou.

_Na verdade, agente se contenta com o que tem! – Debby revidou.

_Nossa como as coisas mudam de repente! – Steffy observou.

_Do que vocês estão falando? – perguntei confuso.

_Amiga - Ally disse para Debby – eu concordo com você, mas às vezes é preciso! Assim como quando conheci vocês no ano passado.

_Eu odiava você! – disse a Ally.

_Mas agora não vive sem mim! – ela respondeu.

_Grupo de seis pessoas para realizar o trabalho! – disse o professor de filosofia.

_O grupo já somos nós aqui! – disse Steffy.

_Falta uma pessoa! – Jhulie observou.

_Posso entrar no grupo de vocês? – Chris perguntou.

Imediatamente lancei um olhar para Steffy, não queria dizer nada, apenas esperei sua decisão.

_Por mim, tudo bem! – ela decidiu.

Ótimo! Era tudo que eu precisava agora, aquele menino no meu grupo. Era incrível a sua cara de pau, mas não tinha nada que eu pudesse fazer.

_Vocês vão desenvolver um trabalho sobre o lixo! – o professor completou.

_LIXO? – Gabu gritou – Vamos falar da escola pra que?

_Pra conhecer um pouco mais dos tipos que são jogados aqui, você, por exemplo! – Will disse.

_Ah falar de mim vai ser da hora!

_Já chega! – ordenou o professor.

O Gabu era o típico garoto engraçadinho da turma, que pra tudo tinha uma piada! Isso que não fazia sentido pra mim, por que eu meu interesse nele?

Mas o que me chamou a atenção mesmo foi o jeito que o Will falou com ele. Talvez Adam estivesse certo!

_Tá feliz que eu fiquei no seu grupo? – Chris me perguntou.

Eu apenas dei um sorrisinho simpático para ele. Sim, foi falso, mas o que eu podia fazer?

_Sabe? – ele continuou – tem uma coisa que eu queria te contar!

_Pode falar! – respondi.

_Sabe, eu era bi! – ele disse baixinho.

_Hum!

_Mas isso foi há muito tempo e hoje eu me envergonho disso.

_E porque está me contando isso agora?

_Não sei, quero ser sincero.

_Ok!

Ele não disse mais nada. Acho que esperava uma reação diferente minha, mas não estava nem aí!

Foi então que o sinal tocou para irmos embora. Finalmente a aula chegara ao fim.

Neste dia eu não iria embora com a Debby porque ela teria que passar no dentista, e como eu estava muito apertado, dei uma passada no banheiro antes e então fui caminhando sozinho. A escola já estava vazia, parecia que eu tinha demorado uma hora lá.

Quando passei pelo estacionamento, não tinha quase movimentação de gente e carros. Mas então percebi uma coisa estranha e logo parei para observar. Will deu um abraço na Liah, professora de literatura, e eles entraram no carro juntos e partiram.

Senti como se aquilo não tivesse certo. Mas por quê? Eles estariam tendo um caso?