Heart Attack


A Navegadora do Leste Azul




...




23h40 Corredor externo da mansão do Tenryuubito.

- Uma rebelião!? Vocês estão loucos!? Um Almirante vai ser chamado!

- Não temos outra escolha Nami... Se não fizermos nada, nunca sairemos daqui!

Akira discutia com a ruiva em meio à desordem que todos os escravos da mansão faziam. Eles haviam arquitetado um plano de fuga, ainda que morressem em prol disso. E então, libertaram todos os cativos da prisão interna e se dirigiram ao portão principal.

Alguns seguravam tochas e ameaçavam os Dragões Celestiais por fora, impedindo-os de sair da mansão, porém, um almirante já havia sido chamado e estava a caminho com suas tropas.

Havia poucos soldados ali para segurar os escravos e Nami sabia que aquilo tinha a ver com o cirurgião, afinal... Ele havia mandado a maioria deles de volta para Impel Down desde que assumira o posto do homem que havia matado.

- Todas as entradas foram bloqueadas! Continuem tentando! Temos que escapar antes da marinha chegar! – Um dos escravos que liderava um grupo, bradava aos demais para derrubarem o portão gigante que dava acesso ao lado de fora da mansão.

- Isso é loucura... – Nami disse espantada ao ver tamanho pandemônio. O fogo das tochas iluminava alarmantemente os arredores da mansão aquela hora da noite.

- Nami venha conosco! Você não pode continuar aqui! – Akira bradava em meio ao tumulto.

- Eu não posso... – Redarguiu temerosa.

- Não faz sentido você dizer que não vem! Se você ficar, eles irão te matar! – A garota dizia enquanto segurava a mão da navegadora, tentando convencê-la de escaparem juntas.

– E-eu... Tenho outro método para sair daqui... – A ruiva contestava, deixando claro suas intenções.

Uma feição de espanto tomou conta do rosto da garota.

- Não me diga que já estava planejando sair daqui...? – Ela contestou um tanto perplexa.

- Sim... Já estava planejado há dias... Me desculpe... – Nami já estava preparada para ser odiada por Akira, pois ali acabara de mostrar que pretendia fugir sozinha.

Com toda a certeza ela seria chamada de mesquinha.

- Isso é... – A garota replicou quase que num sussurro.

- Me desculpe Akira... Eu sei o quanto é difícil continuar aqui e que é impossível de escapar, mas não estava nos meus planos chamar tanto a atenção do governo e-

- Isso é admirável! Você é a primeira que tenta escapar sozinha daqui, sem planejar uma rebelião! – Akira sorriu satisfeita em resposta e Nami ficou sem entender.

– O quê...?

- Nami... Estamos unidos para fugirmos juntos, mas nunca ninguém tentou escapar por conta própria... Eu sabia que você era diferente... Essa decisão só mostra o quanto é corajosa... – A garota sorria ternamente enquanto esbanjava um brilho estimulante em seu olhar.

- Mas... Eu estou tendo ajuda por fora e... – Nami não soube o que dizer. Estava chocada.

- Não se preocupe! Siga com o seu plano de fuga. Eu continuarei com os outros escravos... Mas seja como for, eu espero te ver lá fora! – A garota então passou a se afastar enquanto sorria contentada.

A ruiva continuou sem reação, mas um confino sorriso passou a se formar em seus lábios.

- Boa sorte... Ainda nos veremos depois que fugirmos daqui...

E então as duas acenaram uma para a outra.


Nami olhou ao redor e sabia que teria de mudar algumas coisas no roteiro. Se estava acontecendo uma rebelião de escravos, ela seria um alvo se continuasse com aquele uniforme.

Foi então que decidiu trocar as vestes no intuito de driblar os marinheiros quando chegassem.

A navegadora correu para o laboratório onde havia dormido na noite em que o cirurgião havia lhe tratado. Ela sabia que ali havia ficado algumas vestes reais.

Chegando ao local, ela procurou em todos os armários, até que finalmente encontrou o que tanto caçava, porém... Aqueles trajes definitivamente não haviam lhe agradado...




...




- Então finalmente esses piolhos resolveram se rebelar contra um Dragão Celestial...? Se eles conseguirem fugir, ficará marcado na história... Mas isso se os anciões não encobrirem esse fato da sociedade... - Doflamingo especulava cinicamente enquanto ria da cena fora da mansão. Ele observava tudo pela janela.

- Você não fará nada Joker...? – Baby 5 que ainda estava ali acompanhando seu mestre, contestava preocupada.

- Por que deveria fazer...? Isso é problema do Tenryuubito...

- Mas um almirante chegará em breve e sua situação pode se complicar... – A morena redarguia incomodada.

Longos segundos se passaram até o shichibukai responder com um sorriso cínico de canto.

- Olhe atentamente lá para baixo e você vai entender...

Após dizer tais palavras, Baby 5 desviou o olhar para o lado de fora da janela e avistou uma cena absurda.

Um soldado de Impel Down se aproximava da porta principal da mansão, porém no trajeto que fizera, acabou retalhando friamente muitos escravos que cruzaram seu caminho.

O sujeito trajava uma farda negra, mas estava sem o tradicional cap e as luvas, deixando as mãos descobertas e as tatuagens tão familiares à mostra. Ele também carregava uma grande espada nos ombros.

- Law! – A morena bradou ao reconhecer a imagem do cirurgião.

- Isso mesmo... Ele está aqui disfarçado de soldado...

- Mas o que pretende fazer com ele...? Irá mata-lo...?

– Estou pensando... – O loiro riu descontroladamente após a frase. A chegada do clímax estava lhe excitando completamente.

Law parou em frente à mansão e passou a olhar fixamente para a janela onde Doflamingo e Baby 5 se encontravam. Seu olhar era frio e penetrante. Não parecia haver resquícios de medo... E isso definitivamente incitava o loiro de todas as formas.

- O que iremos fazer mestre...?

- Não se preocupe... São exatamente 23h55... Daqui há vinte e cinco minutos iremos embora. Esse é o tempo cronometrado até que o almirante e a marinha cheguem... Vamos descer, mas quero que você vá na frente e fique de prontidão na carruagem que está estacionada naquele ponto no meio da floresta... Tenho um assunto de extrema importância para tratar com esse pirralho insolente...




...




O barulho do lado de fora era de puro e extremo alarme. Todos os escravos ainda tentavam arrebentar o portão gigante, mas a tarefa não estava sendo fácil.

Aquela mansão era monstruosamente grande e não havia nenhuma outra moradia ao redor. O terreno era privado e um tanto excluído dos demais, pois os Dragões Celestiais que habitavam ali, tinham mais o que esconder do que os outros. Prova disso era a presença de Doflamingo ali.

Os anciões e nem a marinha tinham tal conhecimento.


Nami havia saído do laboratório e ficou escondida atrás de uma pilastra do corredor externo. Ela se encontrava estrategicamente perto do portão que dezenas de soldados tentavam derrubar.

Assim que o portão se abrisse, ela escaparia dali e faria como Law havia lhe dito anteriormente. Haveria duas pessoas lhe esperando do outro lado da mansão, e ela concluía que seria ainda mais fácil sair dali por meio daquela rebelião, pois não havia soldados suficientes para barrarem sua fuga. E ninguém jamais descobriria que ela era uma escrava se a vissem naqueles trajes.

- Você também vai aproveitar para escapar...?

Uma voz muito familiar tirou a atenção da ruiva.

Quando ela ousou olhar para frente, percebeu Arlong bem diante de si.

Naquele momento Nami sorriu de canto.

- Acredito que esse será o momento perfeito para que você também fuja... Afinal, quem quer viver como escravo de um Dragão Celestial para sempre...? – Logo após a navegadora terminar tal sentença, um barulho estrondoso pôde ser ouvido do outro lado.

Os escravos finalmente haviam derrubado o portão.

- O meu ódio por você nunca vai mudar... Um dia ainda terei minha vingança... – Arlong retorquiu calmamente e Nami apenas o observou caminhando na direção do portão que acabara de cair.

– Estarei esperando... – E finalmente ela sorriu vitoriosa após fitar o tritão se retirando do local junto dos outros. Nami finalmente havia tirado um grande peso de dentro de si. Saber que agora tinha condições de parar aquele que por anos ameaçou sua vila, fazia com que lhe batesse uma inédita sensação de tranquilidade.

E quando tudo terminasse... Ela poderia finalmente voltar para Cocoyashi e dizer a todos o que havia acontecido. Porém... Após se recordar do passado maçante de sua vila, lembrou que a mesma passava por sérios problemas...

Nami estava ali por que havia decidido salvar sua irmã e sua vila. Então ela teria de fazer o máximo para finalmente fugir dali e seguir com a rota de voltar ao East Blue.

Então a navegadora resolveu não perder mais tempo e sair dali imediatamente.

A maioria dos escravos já havia fugido para dentro da floresta e poucos ainda permaneceram ali. Alguns saqueando relíquias dos cofres da mansão. Outros torturando alguns Dragões Celestiais por vingança.

Quando Nami se aproximou do portão, ela ouviu o barulho de uma sirene tocando.

A Marinha havia chegado.

A primeira coisa que a navegadora fez por instinto foi fazer o caminho inverso de antes no ímpeto de se esconder novamente. Não queria dar de cara com um almirante, pois as lembranças ruins de como foi separada de seus companheiros fazia com que feridas antigas fossem reabertas, mas... Logo a frente ela viu um cenário sangrento e horripilante.

Muitos escravos haviam sido mortos violentamente e a mansão estava aos poucos pegando fogo por dentro.

Os olhos dela arregalaram naturalmente na medida em que passava entre os cadáveres jogados no chão.

Quem havia feito tamanha crueldade?

Quando a ruiva se aproximou ainda mais da porta principal da mansão, ela viu algo que lhe tirou toda a atenção.

Law e Doflamingo se encontravam naquele local e ambos se encaravam impetuosamente.

– Então finalmente podemos começar o nosso joguinho... – O loiro replicava sarcasticamente esbanjando um sorriso desumano ao avistar a ruiva logo atrás do cirurgião.

Law virou de costas e instantaneamente teve a visão de Nami bem em sua frente.

Seus olhos acenderam em resposta e ele se perguntava por que a ruiva ainda estava ali... E ainda por cima vestida daquele jeito...

Os trajes dela basicamente se resumiam a um longo vestido branco com duas fendas laterais. Um modelo extremamente ousado e com um caimento impecável. Meias transparentes da mesma cor e na altura das coxas. E um salto agulha na tonalidade prata. Os cabelos ruivos estavam devidamente soltos.

Uma aparência luminosamente majestosa.

- O que está acontecendo...? Por acaso você iria enfrenta-lo sem me dizer nada...? – A ruiva indagava um tanto assustada. Não esperava que o cirurgião estivesse prestes a começar um combate com aquele que provavelmente estava lhe perseguindo para leva-lo de volta.

- Por que eu deveria lhe dizer...? E por que ainda está aqui...? – Law respondeu friamente, ansiando que Nami saísse logo dali, mas seria impossível se ela começasse a discutir no momento mais crítico.

- Eu não planejei voltar para cá! A marinha praticamente chegou neste lugar e... Por que todos esses escravos estão mortos!? – A navegadora bradava de forma intimidante.

– Eles estavam no caminho... – O moreno retorquiu indiferente e a ruiva se sentiu confusa. No dia anterior ele parecia ter mostrado um lado tão frágil ao qual ansiava por ajuda desesperadamente... E agora, ele estava ali... Fazendo tudo de novo, como se nada tivesse acontecido.

- O que você pretende afinal...? Por que está agindo dessa forma...? – Nami contestava em tom melancólico. Por que havia algo nele que parecia ter sido drasticamente mudado de lugar e que não havia mais conserto?

- Desculpe interrompê-los, mas os marinheiros chegaram... O que vocês farão...? Ou melhor... O que você fará...? – Um brilho sombrio pôde ser visto nos óculos de Doflamingo. A pergunta foi dita enquanto o mesmo encarava os dois no mesmo instante.

Nami entendia que aquilo parecia uma indireta sobre o que o loiro lhe propôs dias atrás.

O cirurgião sabia que o shichibukai estava inquirindo uma reação por parte da missão que lhe dera anteriormente.

Os dois entenderam a pergunta de maneira individual. Mas tudo o que Doflamingo teve foi o silêncio de ambos.

- Prendam todos agora!!! – Vários marinheiros surgiam no local, dando de cara com os três que se encontravam ali.

Nami posicionou o Clima Tact no intuito de se defender. Law também apanhou a espada, pronto para desferir um golpe em todos de uma vez.

Doflamingo ficou parado, apenas observando a reação dos dois.

- Prendam todos!!! São ordens do almirante!!! – O marinheiro que comandava o batalhão ordenava.

Quando a ruiva se preparava para incidir um golpe, Law correu em sua frente, desembainhou rapidamente a espada e em segundos...

Retalhou todos os marinheiros que se encontravam ali...

De forma feroz...

Tudo o que a navegadora pôde presenciar foram os gritos de dor e pânico dos soldados que se encontravam na frente do cirurgião... E mais uma vez...

Rios de sangue sendo derramados no chão unidos aos membros cortados de todos aqueles homens.

Os olhos dela se estenderam em horror e aversão e ela teve de conter um grito...

Por que o cirurgião não estava liberando sua habilidade para cortar seus inimigos, mas sem mata-los...? Por que toda aquela natureza fria e sanguinária havia despertado mais uma vez...?

Doflamingo observava tudo em silêncio, sufocando uma risada de escárnio ao presenciar a cena. Ele simplesmente estava amando ver a reação da ruiva, e estava extremamente curioso sobre o que ela faria...

Será que a navegadora decidiria entregar Law à ele como havia lhe proposto antes...? Caso essa fosse a resposta, qual seria a reação do cirurgião em seguida...?

E Law...? Havia finalmente tomado a decisão de obedecê-lo e mata-la como havia lhe ordenado...? Quais seriam as últimas palavras dela diante de tamanha traição...?

O loiro se sentia extremamente incitado com a decisão de ambos, mas certo de apenas uma coisa... Independente do que fariam...


Ele mataria os dois.


- Pare com isso agora! – Quando Nami deu por si, já havia corrido na direção do cirurgião e lhe desfechado um golpe.

Ele defendeu o ataque com sua espada. Várias faíscas saíam da arma da ruiva. Uma espécie de eletricidade que corria em círculos.

O moreno a encarou friamente como de costume, porém... Atentou para a atual feição da ruiva naquele momento e se espantou com o que vira.

O rosto dela estava completamente encharcado... Lágrimas escorriam por toda a sua face, mas o pior... Seu semblante mostrava uma dor inexplicável. Parecia até mesmo que era ela quem estava sendo cortada em várias partes.

Nami sentia vontade de chorar até que suas lágrimas secassem...

- Por que está fazendo isso...? Por que insiste matar pessoas inocentes para saciar essa sede infinita de sangue...? – A voz dela estava completamente trêmula. Era impossível prosseguir sabendo que ele estava totalmente perdido por motivos tão indecifráveis.

- Por que se importa...? São apenas escravos e marinheiros que já estavam destinados à morte... – Law replicou insensível. Nenhum resquício de compaixão em relação às pessoas que acabara de matar. Nenhum sinal vital... Nenhuma luz naquela escuridão que parecia lhe consumir aos poucos...

- Por favor, pare... – Nami implorou em tom de choro. Era possível notar suas mãos e pernas tremerem por ver o quanto Law havia sido tão implacável ao ponto de matar impiedosamente todas aquelas pessoas. O cenário ao redor era extremamente feral. Ela não havia testemunhado um massacre tão cruel e sua reação foi a mais temerosa possível.

Law não pôde deixar de se sentir culpado... Ele sabia que aquilo era apenas consequência de feridas passadas, mas... Faze-la chorar era muito pior... Por que ela se tornou algo precioso... Mais precioso do que sua própria vida...?

Ele podia senti-la em sua dor.

Doflamingo ainda observava os dois de longe e por um momento Law se recordou de seu trato com ele.

Finalmente o cirurgião havia terminado de tomar sua decisão...

Foi então que se aproximou da ruiva e passou a sussurrar palavras quase inaudíveis, unidas a um sorriso compassivo.


– Fuja...


E após aquele sussurro, ele caminhou devagar na direção de Doflamingo enquanto segurava sua espada.

Law sabia que estava marchando para a morte, mas não se importava...


Sua vida não valia nem mesmo um único sorriso dela...


Os olhos castanhos e marejados se alargaram. Nami sabia que se o cirurgião continuasse ali, provavelmente era para se arriscar por ela.

Como poderia seguir sem ele...? Como poderia apenas correr para longe e deixa-lo ali para morrer...? Por que suas esperanças pareciam ser consumidas por chamas...? Por que se sentia tão triste como se estivesse perdendo alguém tão importante...? Então ele se tornou importante de verdade...? O quão importante ele havia se tornado...? Por que no fundo percebia que havia muito mais força para tirá-lo daquela prisão interna do que fugir...?

Ela se questionava por que tinha a imensa vontade de pintar aquele mundo cinza em cores quentes e fortes... Então decidiu impensadamente...

Que correria para o fim junto com ele...

Nami relutou por segundos, o que pretendia dizer... E depois de sentir os lábios tremerem de medo, ela finalmente deixou sua voz fluir...


– Eu não vou entrega-lo para você... Doflamingo... – E finalmente a ruiva se virou e encarou o loiro.

Law olhou para trás desacreditado.

O que ela estava dizendo...? Entregá-lo...? Aquilo não fazia o menor sentido.

Por trás dos óculos, o olhar de Doflamingo era de surpresa.

Então ela havia decidido que não o deixaria nem mesmo no fim...? Por quê...? Desde quando o cirurgião havia desenvolvido um laço tão forte como aquele...?

- Você está louca!? Fuja daqui agora!!! – Law bradou enfurecidamente. Era uma decisão completamente insana, e...

Era inaceitável que ela continuasse ali apenas para morrer...

- Eu acho que você não entendeu Traffy-Kun... – Nami sorriu ousadamente de canto enquanto jogava uma mecha ruiva para trás de modo majestoso. O tom de voz audacioso e a forma tão peculiar e provocativa de chama-lo daquele jeito.

O espanto decorria pelos olhos cinzentos. Ele sabia que aquela era a pior hora para as decisões loucas da ruiva, mas ela definiria a questão em seguida.

- Eu sei que um dia você trairá a todos nós, mas... Eu decidi que não vou perdê-lo para esse desgraçado, então... Se quiser pode se arrepender e me agradecer quando nos encontrarmos no outro mundo, o que acha...? – E finalmente a ruiva expressou um olhar sólido e irresistivelmente intenso. Um sorriso tão arriscado e irresponsável... Como ela poderia decidir tal coisa por ele...?

– Por quê...? – Ele indagava sobressaltado.

- Não faça perguntas difíceis... Eu também gostaria de saber... Mas... Eu não treinei tão duro durante dois anos para fugir... Eu decidi enfrentar todos os meus medos nessa noite... – E então ela agarrou sua arma, posicionando-a na direção de Doflamingo. Finalmente havia chegado a hora que lutaria com toda a sua força... Força essa que não havia aplicado desde seus últimos treinamentos em Watheria.

Após ouvir as recentes palavras da ruiva, ele sentiu que a dor e tristeza causada por seus erros pesavam ainda mais, porém tinha a plena convicção que poderia ter sua liberdade de volta... Mas somente se pudesse salvá-la... E então...

– Você terá de arcar com as consequências depois de decidir isso, Nami-Ya... – Law redarguiu sério. Se a ruiva havia decidido se arriscar, então ele podia agir como havia planejado.


Não havia outra escolha.


- Tudo bem. Você me pagará um bilhão de berries depois... Pode ser...? – Ela sorriu sarcasticamente em resposta.

- Posso te dar muito mais do que isso... – Ele correspondeu ao sorriso, atendendo às expectativas gananciosas da ruiva.

Doflamingo presenciou tais cenas, um pouco abismado interiormente... Como Law havia conseguido uma estreita relação de confiança com alguém...? Se questionava se até seus companheiros tinham tal retribuição.

Nami estava certa sobre sua decisão e há tempos esperava por aquilo...

Desde que o céu se tornou cinza... Ela esperava o sol chegar.




...




- Capturem todos os escravos que fugiram pela floresta! – Um marinheiro com uma farda branca e várias medalhas que o posicionava como um Contra-Almirante ordenava a toda linha de frente. Apenas dois batalhões continuaram ali, pois...

O próprio Almirante de Frota estava presente para garantir que aquela rebelião acabasse.

- Almirante Sakazuki, fomos reportados que a mansão está pegando fogo e cinco Tenryuubito foram mantidos como reféns, porém três estão mortos... – O Contra-Almirante que acompanhava Akainu expunha a situação atual dentro do palácio.

- Três deles estão mortos...? Só há escravos na mansão...?

- Pelas informações, apenas escravos e poucos soldados de Impel Down.

Após ouvir tais palavras, o Almirante de Frota retirou o boné e ajeitou o cabelo para trás, para finalmente coloca-lo de volta.

- Eu estou sentindo... – Akainu pausou a frase enquanto apertava o punho, para logo depois termina-la.


- Cheiro de piratas...


- Piratas aqui...? Impossível senhor... – O homem indagava, estranhando a suposição de seu superior.

- Eu mesmo irei me certificar disso...

A forma arrogante e impiedosa do Almirante despertava o extremo temor do batalhão. Todos sabiam que ele era inflexível até mesmo com marinheiros... Que dirá com piratas...

Porém...


– Sinto muito desapontá-lo, mas você terá de se certificar mais tarde...


Uma voz extremamente desaforada e familiar interrompeu a linha de raciocínio do almirante.

E então... Todos ali perceberam que estavam completamente cercados...

- Mas o quê...!? – Um marinheiro apontou a arma e atirou na direção de onde anteriormente a voz havia saído. Mas...

Para a surpresa dele, ela foi absorvida pelas chamas azuis que formavam o corpo de um usuário do tipo Zoan Místico.

- E-ele é... – Um marinheiro gaguejou.


- MARCO A FÊNIX! – E o outro gritou seu nome, alertando os dois batalhões que ali estavam.


Mas para a surpresa de todos... Akainu sorriu de canto...

– Há quanto tempo... Comandante da primeira divisão dos piratas do Barba Branca... – O almirante se sentiu imensamente satisfeito, pois aquele era o momento perfeito para finalmente aplacar a raiva que restara há dois desde a guerra contra os melhores e...

Matar mais um pirata daquela tripulação abominável.

- Se soubesse que te encontraria por aqui, teria chamado a galera toda pra curtir a festinha... – E finalmente o loiro saiu dentre um dos arbustos em meio à penumbra da estrada que ligava a floresta.

Akainu analisou ao redor atentamente e sabia...


Que a fênix não estava sozinha...


- Como conseguiram entrar na terra sagrada tão facilmente...? – Ele indagou de forma temerária.

Marco esboçou um sorriso provocativo em resposta.

– Isso... É algo que definitivamente você nunca descobrirá... – E ao terminar a frase, vários piratas surgiram atrás de si.

Todos os comandantes e os principais aliados do falecido Barba Branca mostraram as caras na frente do almirante e dos marinheiros que o acompanhavam.

- Estão todos aqui... – Um marinheiro redarguia completamente assustado.

- O que faremos...? – Outro contestava e esperava ordens.

- Almirante Sakazuki...? – O contra-almirante também esperava uma reação do almirante, mas tudo o que ele teve foi...

A típica feição que indicava que Akainu literalmente estava encurralado...

- Me desculpe por estarmos em vantagem, Sakazuki... Mas é melhor não fazer nenhum movimento ou... Algo terrível acontecerá... – E mais uma vez Marco sorriu, mostrando total controle da situação.




...




Os segundos pareceram eternos para ele naquele momento. A mansão estava em plenas chamas, o que fez com que o cenário se tornasse ainda mais aterrorizante pela alta claridade do fogo.

O cirurgião sabia que o que faria não seria fácil, mas não tinha escolha...

Law e Nami correram no mesmo ritmo para desferirem um ataque em conjunto contra Doflamingo.

Naquele momento o loiro também sentiu o clímax de um momento inesperado. A decisão do cirurgião e da navegadora foi imprevista, e pela primeira vez ele sabia que seus cálculos estavam incorretos, mas para a surpresa dele...

Law girou o corpo e se posicionou na frente da navegadora, impedindo-a de prosseguir.

Automaticamente ele se aproximou para perto dela e sussurrou algo que por um instante a fez estremecer inteiramente por dentro...

Ele sabia que se arrependeria eternamente, mas...


– Me perdoe...


E então o cirurgião acertou impiedosamente a ruiva, atravessando a espada por completo em seu peito.

Os olhos dela arderam em resposta e finalmente ela sentiu a lâmina atravessando seus órgãos vitais.

Ela deixou o Clima Tact cair de suas mãos e colidir com o chão.

Nami olhou diretamente nos olhos dele... Tentando entender o que acabara de acontecer, porém... Não teve tempo de raciocinar o por quê... Apenas sentiu a dor vigorosa tomar conta de seu coração e o corpo fraquejar, perdendo totalmente as forças que tivera. A única coisa que ainda amparava a óbvia queda era o fato de ainda ter a espada do cirurgião atravessada em seu peito, impedindo-a de desabar por completo no chão.

Doflamingo se manteve estático diante da visão onde o cirurgião cumprira as ordens dadas, mas...

Ele se irou ao constatar que mais um erro de cálculo lhe pegara desprevenido e sabia... Se Law resolveu obedecê-lo, ainda que contra sua vontade... Ele deveria cumprir com o que lhe dissera antes... Para que seu novo plano obtivesse êxito.

Acabar com o bando do Chapéu de Palha era uma de suas maiores prioridades, pois ele sabia que Monkey D. Luffy era o mais forte candidato a lhe dar trabalho no futuro.

Ainda com os olhos fixados no rosto dele, a ruiva pôde enxergar o cinza daqueles olhos clarear perfeitamente. Será que aquela era a passagem para a remissão que ele precisava...? Matá-la iria fazê-lo se sentir melhor...? Então essa era a sua real missão...? Por que a doce sensação de tormento que deveria lhe matar, estava lhe tranquilizando ao perceber que iria salvá-lo...?

Law também contemplou os olhos castanhos perderem toda a sua vivacidade. Um filete de sangue desceu pelo canto dos lábios dela, porém, algo repentino tirou ainda mais sua atenção naquele instante.


Nami sorriu perfeitamente afetuosa...


O semblante dele congelou em surpresa... Ele havia lhe atingido, então por que ela sorriu...?

Mas em frações de segundos o soberano ódio do cirurgião havia se libertado, e então... Ele lançou um olhar colérico na direção de Doflamingo.

– Isso é o bastante para você...? – Um tom de voz sombrio e demasiadamente ameaçador foi o suficiente para Doflamingo entender e também...

Já havia passado da hora de sair dali, ou provavelmente o almirante descobriria sobre suas fraudes com os Tenryuubito. E isso definitivamente não estava em seus planos, porém... Ele sorriu maliciosamente de canto.

- Não pense que somente com isso irá me convencer... Você tem o bando inteiro para assassinar... Então fique atento, por que farei contato daqui a alguns dias... – E por fim ele se afastou, correndo rapidamente para fora da mansão.

Finalmente o shichibukai havia se convencido de algo...

Law havia vencido o seu pior inimigo...

Ele mesmo...


No mesmo instante em que o loiro se ausentou do local, o moreno amparou Nami em seus braços, segurando-a com cuidado pela cintura.

As roupas dela estavam levemente rasgadas e havia uma mancha pequena de sangue no peito.

Law expressou extrema clemência através do olhar. De tudo o que havia sentido em sua vida, aquela era a primeira vez depois de anos que a dor impetuosa e inconsolável de perder alguém tomava conta facilmente de si. Ele não estava preparado para aquilo... Era algo pesado demais para carregar... Mas por que por ela...? Por que a suposta dor de perdê-la parecia tão infinita e irreversível...? A ruiva era mesmo a única luz que havia restado naquela perfeita escuridão...?

A navegadora ainda estava consciente e passou a formar palavras mentais, para articulá-las com muita dificuldade.

- A marinha está vindo... Me deixe... Aqui... – A voz soava fraca e melodiosa.

- Pare de falar... Isso vai agravar sua situação... – Ele se agachou com a ruiva em seus braços. A espada ainda estava fincada no peito dela e sabia o quanto a mesma sentia a dor possante de ter a lâmina transposta no local. Porém... Muito mais ele sentia pelo sofrimento dela.

- No final... Você sempre quis me matar... Não é...? – Ela soltou um pequeno riso abafado que soava irônico e Law não entendia aquelas recentes palavras. Nami estava aceitando de modo complacente a morte...?

- Você não deveria sorrir para o seu assassino... – Ele replicou enfurecido pela reação pacífica. Por que uma mulher tão imperiosa como ela aceitaria ser traída e morta sem ao menos amaldiçoa-lo...?

– No fundo eu sempre soube... Que você era apenas um pirata sádico e traiçoeiro... Já estava preparada... Então... Por favor... Vá embora... – Ela implorou, tentando não deixar que lágrimas caíssem de seus olhos, mas era impossível de controla-las... Ela sentia que havia perdido o domínio de todos os seus sentidos... Mas de tudo o que sentira, a dor invisível de ser traída era a mais intensa de todas.

Nami havia trocado rosas por cinzas, mas no fundo aquilo lhe fazia tão bem quanto mal... Essa era a impressão mais forte que tivera dele...

Ela o odiava tanto quanto o queria...

Law olhou desesperadamente para o dano que havia causado e então a primeira coisa que lhe veio à mente era de livrá-la imediatamente daquele tormento, porém... O que estava prestes a fazer seria muito mais doloroso do que ela e ele podiam sentir... Mas não havia outra escolha...

Ele enlaçou com muito mais força a cintura dela, trazendo-a mais perto de si e então... Ele segurou o cabo da espada...

O cirurgião fechou os olhos por instinto, se preparando mentalmente para aplicar a força necessária. Teria de fazer aquilo friamente e de uma vez só. Então finalmente...


Law puxou rapidamente a espada de dentro do peito da ruiva.


Tudo que o mesmo teve como consequência foi o grito agonizante de dor... Aquela exclamação de suplício foi o som mais tortuoso que pôde ouvir em sua vida...

Ele jogou a espada para o lado e voltou a encará-la. Mas dessa vez o olhar mostrava compaixão em demasia.

Então finalmente o cirurgião da morte havia se arrependido de matar...?

Naquele momento ele constatava que machuca-la era um ato que refletia diretamente em si. Mas por quê...?

Law não podia perguntar se ela se importaria se ele lhe matasse... Por que a ruiva havia se tornado o seu pior inimigo...? Ela carregava o amor que ele não tinha... E então ele concluía que havia esperado por alguém como ela por anos... Porém era fatídico se dar conta disso somente naquele momento...

A ruiva respirava de modo ofegante e em breves segundos a mancha de sangue no peito começou a se alastrar pelo traje branco como a neve, dando fortes indícios do começo de seu fim.

Internamente Law se desesperou... E aquela reação não fazia o menor sentido... Ele sempre manteve a calma nos momentos mais críticos de sua vida, porém... Um único pensamento invadiu sua razão naquele instante e ele finalmente entendeu...

– Não... – Após perceber o que estava acontecendo, ele se recusou a aceitar...

Um vento frio soprou... E o moreno sentiu um calafrio em seu coração... Todas as peças haviam se encaixado e tudo passou a fazer sentido, pois acabara finalmente de descobrir que a ruiva era muito mais importante do que tudo... Mas...



Não a amava... Não poderia ama-la...



Não era capaz de criar um vínculo como aquele... Não poderia se afeiçoar ou ter qualquer resquício de sentimentos por ninguém... Mas seu coração havia lhe traído... E tudo simplesmente havia saído de seu controle ao entender...


Que ela era tudo para ele e que um inesperado amor incondicional predominou o mais íntimo de seu coração, sua alma e sua mente...


Nami havia se convencido que Law ainda era submisso à Doflamingo depois das últimas palavras do loiro ao se ausentar dali, mas ela não sabia que...

Law teria de perdê-la para salvá-la...

Não havia outra forma de enganar o shichibukai e ele sabia que teria de encenar uma cena real... Era totalmente arriscado, mas não havia outro meio.

Nami estendeu o olhar ao perceber que finalmente depois de tanto tempo se escondendo atrás de um véu de frieza e impiedade, Law mostrou uma feição completamente humana...

Um fio de calor que percorria a extremidade do rosto dele...

Uma lágrima perfeita em seus olhos...

A ruiva não entendia aquela expressão, mas não importava... Mesmo se sentindo melancolicamente traída, ela estava disposta a perdoá-lo... O motivo...?

Ela desconhecia...

Aqueles olhos cinza penetrantes que a fitavam com tanta intensidade... Céus, como amava a cor de seus olhos... Como amava encarar aquela expressão tão afetuosa sendo direcionada apenas para si...

Aquele doce aroma de laranja que penetrava impetuosamente o olfato do cirurgião parecia lhe ferir violentamente... Nami era única... E ele havia finalmente encontrado todo o sentido de sua miserável vida...

A mansão já estava completamente em chamas, e o vento passou a soprar forte naquele momento, desordenando majestosamente os cabelos negros do cirurgião.

Nami sentiu pingos quentes colidirem com sua face... Ele havia finalmente libertado o seu verdadeiro eu... Quebrado os grilhões... Escapado daquela prisão manchada de sangue... E repentinamente sua condição humana predominou...

A ruiva elevou a mão até o rosto dele, tentando enxugar apenas uma lágrima...

– Não chore... Você não é assim... – E então ela constatava que apenas aquele gesto tão puro faria seus olhos lacrimejarem novamente... No final, Trafalgar Law não era um homem tão cruel e desumano... Ainda havia esperanças para ele...

Após ouvir aquela voz tão suave como o sopro de uma brisa harmoniosa em manhãs de primavera, o cirurgião se aproximou do rosto dela... E profundamente Nami sentia que ele lhe faria chorar em vão... Deixando aquela lágrima perfeita tocar-lhe a face com seu suspiro...

Bebendo suas lágrimas enquanto chorava...

A respiração de ambos se misturou, e eles sentiam que aquilo era o bastante para entenderem que não existia mais nada que os separassem...

E o sol brilharia novamente para derreter toda a neve...

Mas quando finalmente entenderam aquele sentimento forte e desesperadamente mútuo, Nami sentiu as pálpebras pesarem... Os orbes castanhos sendo cobertos e os cílios descendo até alcançarem o ponto final.

Naquele instante o olhar do cirurgião alargou e ele imediatamente retirou um pequeno vidro do bolso.

Segurando o corpo da ruiva com o braço esquerdo, ele retirou a tampa do vidro com a mão direita.

Nami respirava amenamente e não possuía mais forças nem mesmo para movimentar um único músculo. Então...

Ele bebeu o líquido e se aproximou novamente do rosto da navegadora.

Cuidadosamente o cirurgião encostou seus lábios nos dela, procurando por espaço para derramar o líquido no ímpeto de fazê-la engolir.

Nami entreabriu os lábios... Sentiu um gosto doce se espalhando por todo seu paladar... E a sensação deliciosa de sentir um cuidado que mais parecia um carinho... Que mais parecia um beijo...

Os lábios do cirurgião eram caprichosos, calmos, calorosos e apartavam suavemente os seus...

Ela não havia entendido... Mas não importava... Sua vida estava nas mãos dele agora.

Law sentia um intenso gosto adocicado de sangue... Distinguindo o sabor amadeirado e suavemente açucarado...

Percebendo que ela havia cedido completamente, ele não resistiria... Ainda que fosse um completo egoísta e a situação fosse absurdamente imprópria... Ele precisava desesperadamente dela...

Enquanto as cinzas da mansão em chamas caiam sobre os dois, o moreno a enlaçou cuidadosamente com seus braços, lhe envolvendo totalmente a si... E se afogou nos lábios da ruiva, tentando passar todo ar que tivera para fazê-la respirar de novo...

Ele se encontrava perdido por anos... Sem saber para onde iria... Mas agora o cirurgião havia decidido ser guiado...

Pela navegadora do Leste Azul...