Heart Attack


Pesares e Nostalgias




...




Já eram três e meia da madrugada e a ruiva não conseguia dormir.

Embora estivesse dividindo o quarto com o cirurgião, ela acabou ficando com a cama, enquanto ele dormia no sofá.

Nami estava ansiosa e apreensiva. Não sabia como enfrentaria aquela situação difícil que lhe atormentara a ponto de tirar seu sono.

A cama já não estava totalmente confortável. Rolava de um lado para o outro, procurando uma posição cômoda. Mas... Era impossível...

Olhou ao redor da alcova. O brilho da lua iluminava suavemente o quarto. Somente o vidro da janela estava fechado e o barulho das ondas podia ser ouvido quase que imperceptivelmente. O clima estava um pouco diferente desde que embarcaram, pois o calor eminente podia ser sentido e ela institivamente levou a mão à testa para enxugar um resquício de suor.

Foi então que a ruiva resolveu se levantar.

Nami trajava apenas uma camisa branca de manga comprida e um pequeno short jeans.

Ela levou as mãos aos longos cabelos ondulados e os prendeu num rabo de cavalo frouxo.

Em vagarosos passos se dirigiu ao banheiro e a primeira coisa que fez foi acender a luz e abrir a torneira do lavatório para pegar uma quantidade razoável de água na palma das mãos e lavar o rosto.

Ela se olhou no espelho, vendo sua atual aparência, sem lentes de contato, maquiagem para tatuagem ou a artificial tintura, já que a mesma saía instantaneamente quando o cabelo era lavado.

Eram nítidas as olheiras. Estava cansada, mas não conseguia dormir... Aquela agonia estava lhe matando.

Nami soltou um suspiro abafado e logo depois apanhou a toalha pendurada ao lado do espelho para enxugar o rosto molhado.

Um barulho pôde ser ouvido e na direção do quarto.

Quando voltou ao cômodo, a ruiva percebeu que Law havia levantado e estava em frente ao frigobar que se encontrava no canto escolhendo uma bebida.

– Por que está acordado...? – Ela indagou desinteressada.

– Sede...

– Hmm... Então tá... – Nami praticamente se jogou em cima da cama com toda a impaciência que predominava por parte daquela ansiedade. Ela fitou o teto do quarto como se quisesse desenhar algo em sua mente, apenas para ver se conseguia pegar no sono.

Olhou discretamente para o canto onde o moreno estava, mas sem virar totalmente o rosto.

Ele estava de pé bebendo algo que com certeza continha uma porcentagem considerável de álcool.

Law estava sem camisa, trajando apenas uma calça jeans escura. Ele também estava sem o disfarce completo. Prova disso era como suas tatuagens estavam nítidas naquela noite...

A ruiva ousou percorrer com os olhos o que mais estava chamando sua atenção naquele momento... E embora nunca fosse admitir, nem sob tortura... Aquela visão era um tanto agradável... Mas...

Como aquele maldito cirurgião conseguia ser tão inconveniente a ponto de se exibir na frente dela daquele jeito...?

Tudo podia ser muito bem apreciado... Desde o peitoral torneado que parecia ter sido esculpido perfeitamente por um renomado artista, às tatuagens desenhadas simetricamente pelos músculos bem trabalhados. O mesmo ocorria com o abdômen chapado, tendo suas linhas bem delineadas, além dos bíceps contornados impecavelmente e que entravam em consonância com as tatuagens pelos ombros e antebraço. O corpo dele era extremamente proporcional e podia facilmente extasiar qualquer mulher que o fitasse apenas uma vez... Ou pela primeira vez ou-

Nami chacoalhou a cabeça quando percebeu que estava presa à imagem fascinante daquele pirata ardiloso e irritante...

Ele podia ser bonitinho, porém era extremamente irritante, o que o tornava feio. Completamente feio...

Ela se virou para o lado da janela, tentando esquecer definitivamente aqueles pensamentos absurdos, mas algo interrompeu sua concentração e passos foram ouvidos pelos corredores do lado de dentro do navio.


– Alertem todos os seguranças!!! Navio pirata à vista!!!


Os gritos puderam ser ouvidos por ambos. Nami automaticamente se levantou e abriu a janela. Estava curiosa em saber se realmente havia um navio pirata por perto.

– O que está fazendo!? Feche a janela!

– Por quê...? Está com medo de ser o Doflamingo...? – Nami sorriu audaciosamente de canto.

– Se estiverem aprontando um ataque e te verem espiando pela janela, você pode ser pegar por uma bala de canhão! – Ele bradava irritado.

– Uma bala de canhão não me acertaria tão fácil assim... Pare de me taxar como uma garotinha indefesa... – Ela replicava desinteressada e em baixo tom.

A impaciência dele já havia alcançado o limite naquela noite. Ele teria de fazer a ruiva parar de agir insensatamente.

– Então você não me deixa escolha... – Uma auréola surgiu ao redor da mão direita do moreno. Mas antes que pudesse expandir seu círculo, a sombra do navio invadiu a visão dos dois e o quarto ficou ainda mais escuro.

Quando Nami olhou para frente, percebeu algo completamente familiar, mesmo de longe...


As velas daquele navio continham o símbolo dos piratas de Eustass Kid...


Nami congelou por dentro. Seu olhar simplesmente fixou no navio que passava ao lado, embora não pudesse vê-lo por completo e somente o imenso casco.

Law também reconheceu o navio de seu rival e inimigo. Ele se aproximou da janela e ficou ao lado de Nami. Se perguntou o que Kid estava fazendo por ali, ainda que a Redline ficasse a alguns dias daquele local.

A navegadora se manteve atônita por dentro e por um momento a única coisa que podia sentir era seu corpo reagir de forma intensa. Se questionou por que estava tão tensa apenas por rever aquele navio ao qual esteve presa durante semanas... Aquilo estava acontecendo por que involuntariamente havia adquirido algum trauma durante o sequestrou, ou...

Por que o que ela mais queria era gritar pelo nome dele...?

Ainda que sua maior vontade fosse um absurdo, ela sabia que aquilo não faria sentido e estava fora de cogitação.

Nami abaixou a cabeça por longos segundos até que resolveu sair da cama de vez.

O cirurgião podia ver nitidamente a reação misteriosa da ruiva, pois a mesma parecia um tanto tranquila...

Ao menos era isso que ela aparentemente mostrava.

A navegadora calçou o chinelo que se encontrava ao lado de sua cama e tirou a camisa de manga comprida, ficando apenas com uma regata da mesma cor. O calor já estava lhe incomodando.

Após isso, ela se dirigiu à porta.

– Aonde você vai...? – Ele contestou desconfiado.

– Espairecer... – Ela contrapôs de forma branda, para logo depois deixa-lo sozinho no quarto.

Sozinho. Foi o que ele constatou após ouvir a porta se batendo.

Law sabia que o motivo do recente abatimento dela se devia única e exclusivamente à Eustass.

Ele se perguntava qual era a profundidade daquele sentimento tão nítido que Nami tinha pelo ruivo, e também...

Se ela poderia facilmente esquecê-lo...




...




– Pensei que você fosse saquear esse navio de luxo aí do lado... – Apoo sorria cinicamente, achando que poderia facilmente incitar o capitão de cabelos ruivos.

– Não... Já tenho dinheiro suficiente... E também seria burrice fazer algo desse tipo sendo que estamos perto da Redline. A base mais próxima da Marinha seria avisada. – Kid replicava desinteressado. Suas últimas viagens desde o sequestro de Nami estavam entediantes.

– Hmm... Já faz um tempo que você está desanimado... Isso tudo é por causa daquela garota...?

Houve um silêncio sombrio em torno sala.

– Isso não é da sua conta... – O ruivo retrucava de maneira plácida, porém Apoo não pararia por ali.

– Oww espantalho, você não acha que esse cara está calmo demais...?

– Não perco meu tempo reparando nas outras pessoas, Apoo... Mas... – Hawkins que também se encontrava junto dos dois, replicava de modo aplacado, como de costume, para logo depois continuar a frase que não havia terminado.

– Ele tem reagido de forma tranquila nas últimas semanas, o que não é normal, pois o temperamento dele é explosivo. – Concluía o que vira sobre Eustass Kid desde o final do sequestro.

– Ahá! Eu não disse!? Esse cara foi fisgado pela navegadora do Chapéu de Palha, ahahahaha, que ironia louca não é Eustass...? O que ela te deu pra você ficar tão gamado...!? Ou melhor... O que ela não te deu...!? Ahahaha!!! – A risada frenética do pirata podia ser ouvida nos cômodos ao redor.

– Se for para ficar aqui torrando a minha paciência, é melhor que saia... – O ruivo persistia de modo indiferente.

– Admita Kid! Você está loucamente apaixonado por aquela ruiva!

– É melhor que se cale... – O ruivo que ainda se encontrava sentado, advertia o pirata.

– Por que você a devolveu pro Chapéu de Palha!? Se a queria, por que simplesmente não ficou com ela...?

– Chega. Se você não sai, eu me retiro... – Kid se afastou rapidamente de perto dos dois, se ausentando da sala e batendo a porta com força pelo lado de fora.

O ruivo passou a caminhar pelos corredores do navio, se dirigindo para o convés.

Ao chegar ao local, percebeu que em poucas horas amanheceria e o céu se encontrava muito estrelado, além do vento soprar forte naquele momento.

Ao se aproximar da balaustrada que lhe daria a visão do outro navio ao lado, ele apenas observou tudo calmamente, tentando medir o diâmetro daquela embarcação que provavelmente havia muitos passageiros ricos.

Ironicamente ele se recordava dela... E se perguntava o que a mesma estaria fazendo agora... Naquele exato momento...?

Quando pensou em tal caso, sentiu uma melancolia invadir o mais íntimo de seu ser... Era notável que desde que ela partiu, as coisas não foram as mesmas... Ele se sentia num mundo em preto e branco, como se somente poucas coisas fizessem sentido e ela fosse o antídoto daquela doença estranha que havia contraído... Se perguntava desde quando havia se tornado tão complacente com tudo e todos...? Não era para ocorrer justamente o contrário...? Quando aquela fase ruim iria passar...? Quando ele deixaria de sentir a falta dela...?

Quando ele deixaria de se recordar daqueles olhos castanhos intensos, dos cabelos ondulados que brilhavam impetuosamente mostrando tanto vigor e imponência, do corpo ameno e simetricamente sensual, do perfume deliciosamente cítrico, ou dos lábios macios e afáveis... Aquela beleza estonteante e infinitamente apetecível...?

Era impossível simplesmente apagar as memórias que adquiriu ao se despedirem... Ele tinha uma sede insaciável e somente ela poderia lhe satisfazer...

Se a tivesse apenas mais uma vez... Uma única vez... Ele não a deixaria nunca mais partir...

Suspirou impaciente e desanimado sobre o quão patético havia se tornado, e tudo por causa de uma mulher...

Kid resolveu por um ponto final naqueles pensamentos. E foi quando resolveu se recolher dali e se dirigir ao seu quarto, porém...

De longe algo havia feito instantaneamente seu corpo reagir de forma inexplicável... Estava equivocado ou o seu controle de magnetismo estava alterado...? Por que simplesmente o ruivo sentia...


Que ela estava perto...?


Foi quando olhou para o navio mais uma vez, suspeitando de algo... Porém...

Aquilo era improvável. A ruiva jamais estaria ali...

– Acho que estou ficando louco... – Replicava a si mesmo, virando-se de costas logo em seguida. Em longos passos voltou para o interior de seu navio, esperando se recuperar daquela insanidade que lhe perturbava dia após dia...


Longe dali, Nami também se encontrava no exterior do navio.

A brisa forte movia com maestria as madeixas longas, enquanto se matinha encostada na parede lateral da parte de fora do navio que dava acesso direto ao mar, enquanto a outra extensão era tomada pela visão do navio de Eustass.

Embora quisesse se reencontrar com o ruivo, ela sabia que aquela não era a hora e nem a melhor circunstância, pois prova disso era seu atual semblante, de pesares e nostalgias...

Aquilo com certeza era o fim do mundo. Praguejava mentalmente a si mesma por ter sido capturada por um sentimento tão patético e doloroso como aquele. Como aquilo havia acontecido...? Será que deixou a porta entreaberta a ponto de o primeiro que passasse em frente conseguisse facilmente terminar de abri-la? Ou... Será que no fundo ela sentia um desejo insano de desvendá-lo por completo...? Descobrir quem ele realmente era...? E por que de todas as mulheres que ele conhecera, ela havia se sobressaído tanto...? Eram tantas perguntas sem respostas...

Quando pensava em tais coisas, ela percebia no quanto estava fazendo um esforço descomunal para não deixar que aquilo crescesse ainda mais e a fizesse sofrer, como já havia sofrido anteriormente...

Mas ainda que não quisesse ver que aquela inocente paixão florescesse ainda mais, a ruiva se perguntava se ele pensava nela... Como ela pensava nele...

Ela desviou os dedos da mão esquerda e tateou o anel que se encontrava no anelar da mão direita. Um forte abatimento tomava conta do seu interior de forma impetuosa.

– Pare com isso, sua idiota. – Repreendia a si mesma em baixo tom enquanto um sorriso melancólico brotava em seus lábios.


– Como conseguiu passar pelos seguranças do corredor sem ser reconhecida...?


Nami virou o rosto e encarou o dono daquela voz fria e obscura...


– Ah... É você, Trafalgar... – Replicou sem nenhuma emoção em sua voz.


– Vai ficar aqui fora sozinha até quando...? – Ele se aproximou e se sentou ao lado dela.

– Como se isso te incomodasse e fosse da sua conta... – A ruiva rezingava de modo desinteressado e com uma carranca nítida.

– Por que quando as mulheres se apaixonam ficam tão previsíveis...? – Impelia de forma evidente, mas obviamente aquela pergunta era inconveniente o suficiente para arrancar um par de olhos castanhos arregalados e brilhantes.

Um silêncio pairou ao redor de ambos.

– Você bateu a cabeça...? – Perguntava desacreditada.

– Não.

– Está com febre...?

– Também não...

– Você está bêbado...?

– Obviamente não.

– Drogado...?

– Não...

– Então você sofre de sérios problemas mentais... Já pensou em procurar um psiquiatra...? – Nami afirmava convicta e irônica.

Law sorriu cínico em resposta e ela não entendeu.

– A carapuça serviu...?

– Eu realmente não sei do que você está falando... – A ruiva desconversava de modo inegável, tentando se desvencilhar de qualquer indício que mostrasse o quanto ela estava de fato nutrindo algo diferente pelo ruivo.

– Eu te disse antes... Para tomar cuidado com o Eustass... Ele não é um novato qualquer...

– Tá, tá... Eu já sei... Só queria entender por que você veio até aqui para puxar assunto sobre algo que não faz o menor sentido...

– O que não faz sentido é ver o quanto você se esforça pra esconder que está completamente atraída por ele...

Nami arqueou uma sobrancelha. Desde quando ele se interessava se ela estava atraída por alguém...? E será que havia mostrado algo que o fizesse entender que ela estava mesmo atraída pelo ruivo?

– Sério... De tudo o que falamos até agora, o que não faz sentido é esse seu interesse repentino em quem eu mostro alguma atração, admiração, ou seja lá o que for...

– Paixão...? – Ele completava.

– Não... Por que está insinuando isso...?

– Por que é isso que está acontecendo...? – O cirurgião arriscava, tentando confundi-la.

– Isso é uma pergunta ou uma afirmação...? – Nami contestava indigesta.

– Eu também gostaria de saber... – Law concluía de modo sarcástico, enquanto sorria de canto.

– Você... É louco... Completamente louco... É melhor eu ficar longe... Vai que é contagioso... – Respondia dissimulada enquanto se afastava um pouco dele, se posicionando a meio metro de distância, mas ainda assim... Precisava fazer com que aquele assunto encerrasse, ou ela poderia dar mais evidências de que aquilo que ele desconfiava era real. Foi quando parou para olhar atentamente a tatuagem do peitoral dele, e se concentrando ao máximo apenas no intuito de avaliar a tatuagem e não o tórax definido, afinal... Ele era feio... Completamente feio...

– Por que desenhou um coração aí...? Espera... Deixe-me adivinhar... Você não tem um de verdade e quis improvisar...? – Sorriu sarcástica.

– Não... Tem um motivo em especial...

– Hmm... Seria uma prova de amor destinada ao seu estimado urso...?

– O Bepo...?

– Ele mesmo.

– Por que ele...? Não poderia ser uma mulher...?

– Hmm... Deixe eu pensar... Já sei! A tal Jewelry Bonney! Acho que ouvi uma conversa escondida dela com o Killer sobre você! – Nami soltava um riso de deboche enquanto observava o olhar do cirurgião se estender em perplexidade e uma gota de suor escorrer por sua testa.

– Eu e ela... Apenas tivemos um contratempo que no futuro nos uniu...

– Sei... Então você foi chutado... Impressionante...

Law não respondeu a frase indiscreta da ruiva. Apenas fechou os olhos por um momento, tentando não pensar o quanto Bonney havia lhe feito de idiota.

A ruiva olhou para o alto, perdida na imensidão do céu escuro e repleto de estrelas... Ela passou a fazer contagem mental de todas elas, percebendo logo depois que finalmente seu sono estava chegando. Foi então que virou o rosto na direção do moreno e o flagrou mirando atentamente seu ombro.

– O que foi...?

– Qual o significado dessa tatuagem...? – Averiguava na tentativa de desvendar o desenho, afinal... Ele se mostrava fã desse tipo de coisa, pois havia uma porção de tatuagens em seu corpo.

– Se eu te contasse... Provavelmente teria que te matar! – Nami redarguia com um sorriso maroto no rosto.

– Por quê...?

– Por nada. É um desenho de um cata-vento com uma laranja na ponta superior.

– Laranja... Isso explica algo... – Arriscava de modo impreciso.

– Você não vai adivinhar e eu também não vou te contar! Então, antes que essa conversa chata também se estenda, estou indo dormir... Boa noite...! – A navegadora se levantava do local onde havia se sentado, porém... Antes que pudesse sair de modo espetaculoso dali, ela tropeçou em seu próprio chinelo.

Um segundo era suficiente para que ela tombasse no chão, mas...

Uma mão firme agarrou seu braço e num impulso ele a puxou para si...

Ainda processando o que havia acontecido em milésimos de segundos, Nami se sentiu confusa por não ter visto o quanto ele foi veloz ao agarrá-la e interromper sua queda.

Ela abaixou o rosto e percebeu a proximidade de ambos. Ele a atraiu tão rapidamente que por instinto as mãos dela se alargaram sobre o peito dele, lhe fazendo se apoiar ali. Law estava tão perto que ela podia sentir sua respiração... Ele era muito mais alto do que ela... Seu corpo era firme e seu porte tão másculo e viril... Mas o pior...

Ele havia lhe enlaçado pela cintura, e ela estava completamente amparada em seus braços...

Quando a garota elevou a cabeça, um sorriso ousado pôde ser visto.

– Qual é a graça...? – A ruiva contestava exaltada.

– Isso já aconteceu antes... Mas dessa vez tive tempo de impedir que caísse... – Ele dizia em baixo tom e ousado... Aquele timbre tão enigmático e frio... A voz tão rouca e instigante...

– Eu não ia cair em cima de você dessa vez... – A navegadora respondia imperiosa.

– É... Dessa vez precisei ser mais ágil... – O sorriso permaneceu por um tempo significativo. E como assim precisou ser mais ágil...? O que ele queria dizer com aquilo...? Havia uma mensagem subliminar em sua frase...?

– Você impediu minha queda pra que eu lhe devesse algum favor...? Pode esquecer, pois não pedi pra que me ajudasse...

– Agora que você mencionou, acho que seria ótimo cobrar... – Law retorquia audacioso, mantendo-se firme naquela posição junto dela.

A ruiva não conseguiu despregar os olhos dele nem por um instante, pois aos poucos estava revivendo algumas sensações que tivera quando passaram a conviver juntos... E também... Quando seus olhos fixaram nos lábios dele, se relembrou do episódio em que ambos se beijaram... Aquilo foi tão inexplicável que ela nem se lembrava do motivo de ter acontecido...

Ainda o encarando firmemente, ela se sentia emergida naquele olhar... Cinza... Extremamente cinza... Uma mistura de preto e branco, onde o branco lutava incansavelmente para estar no controle... Seria essa a parte boa nele que tentava se sobressair...?

Naquele instante a brisa oscilou forte e os cabelos negros e desgrenhados meneavam perfeitamente sob o sopro do vento.

Nami se sentia tentada com a imagem do cirurgião bem à sua frente... Ainda que ele fosse um shichibukai e um pirata... Por que naquele momento ele parecia ter um aspecto tão terno e angelical...?

Era notável que ele percebia a forma como ela estava lhe encarando. Tão intimamente, como se estivesse descobrindo algo privilegiado... Talvez algum segredo que ele lutava para esconder... Mas isso era impossível apenas com um olhar... Um tanto impreciso, ele entenderia se fitasse cada vez mais os olhos castanhos chamejantes que serviriam como espelhos... Apenas para refletir algo que ele deixaria secretamente escapar...

Nami se praguejava mentalmente por ainda se sentir inebriada por aquele perfume que ele usou no jantar... A fragrância simplesmente continuou impregnada na pele dele... Aquele perfume estava a enlouquecendo...

Percebendo a reação engraçada dela, provavelmente por causa do perfume que ela parecia ter amado, o moreno levou uma de suas mãos ao rosto dela e passou a acariciar delicadamente o local. Seus dedos deslizaram perfeitamente sobre a pele alva e macia como seda... Quando ousava fixar ainda mais seus olhos no rosto dela, mais constatava traços primorosos e extremamente extasiantes... Extasiantes a ponto de mirar os lábios entreabertos e tão convidativos...

Naquele instante ele se encontrava faminto... Faminto pelo toque dela...

Nami estranhou o último movimento dele... Ela estava louca...? Por que ele parecia simplesmente estar ali... Acariciando seu rosto sem nenhuma explicação...? Ou será...

– Por que está fazendo isso...? Você não está achando que sou algum objeto de desejo que se encontra em qualquer esquina...? – Ela articulava com a voz mais grave que o comum e de modo interrogativo, retirando rapidamente a mão dele de seu rosto.

Law sorriu enigmático, mas de forma afetuosa... Era incrível como ele apreciava aquela feição enfurecida... Ironicamente ele concluía que ela ficava ainda mais atraente quando estava brava...

O sorriso dele lhe causou ainda mais indignação. Por que ele simplesmente se manteve calado...?

– Então eu estou certa...?

O cirurgião demorou alguns segundos para definir aquela questão. Estava amando vê-la tão irritada...


– Se quer mesmo saber... Eu não penso em você dessa forma...


O olhar dela acendeu. Ele estava mesmo dizendo a verdade...?

– Você...-

– Por que você sempre tem que tornar as coisas mais difíceis...? – Ele a interrompeu sussurrando tais palavras perigosamente perto de seus lábios... Nami estreitou o olhar ao sentir o hálito de hortelã se misturando ao seu...

Naquele momento o cirurgião levou uma de suas mãos à nuca da navegadora sentindo como as longas mechas ruivas escorregavam entre seus dedos...

Numa tentativa ele simplesmente passou a comprimir a proximidade dos lábios de ambos, prestes a fazer algo que nem mesmo ela poderia parar...

Narcotizada. Era assim o atual estado dela. Mas aquilo não fazia o menor sentido. Por que ela sentia como se ele estivesse ali apenas por ela...? Mas mesmo que fosse, ela não podia permitir. Estava confusa sobre o que sentia pelo ruivo, e aquela altura seria suicídio se deixar levar pelo momento onde se sentia extremamente envolvida pelo cirurgião... Ainda que fosse apenas pela falta de se sentir amada ou desejada... Não se deixaria dominar por ele em hipótese alguma...

Ela fechou os olhos instintivamente, fazendo uma força excessiva para quebrar aquele feitiço onde se manteve presa...

– Mas que raios eu estou fazendo...!? – Pensava enquanto pressionou as mãos para frente no ímpeto de empurrá-lo para longe.


E foi o que aconteceu...


Law não conseguia entender por que a ruiva agira daquele jeito. Tudo parecia fluir perfeitamente até que a mesma se recusou a receber o que ele mais queria lhe dar...

– Posso te pedir uma coisa...? – Nami encetou uma pergunta, onde o mesmo não respondeu, ficando em silêncio. Mas ela definira a questão na mesma hora.

– Fique longe de mim! – Articulou de forma alarmante, correndo para longe dali e deixando-o mais uma vez sozinho...

E embora tudo soasse estranho e contrário... Ele sabia... Que ela jamais cederia ao que ele tanto queria...

Levaria um tempo, mas Law estava convicto que naquele momento ele se tornaria mais presente na mente da ruiva... Por que simplesmente...

Kid havia sido retirado de um pequeno espaço da mente dela...




...




Depois de alguns dias a bordo, o navio ancorou no porto de Mariejoa. Ali seria o ponto de partida da ruiva e de despedida do cirurgião...

Os dois estavam perfeitamente disfarçados, pois prova disso era como nenhum marinheiro os reconheceu após passarem por uma tropa.

As pessoas que transitavam por ali basicamente eram viajantes, marinheiros, funcionários do governo e...

Alguns Tenryuubitos que puderam ser vistos carregando um número considerável de novos escravos.

Os estrangeiros faziam gestos que mostravam respeito para com os Dragões Celestiais...

Law e Nami tiveram que esperar os nobres passarem com várias pessoas presas em correntes, sendo torturadas enquanto andavam na direção que lhes era ordenada.

Muitas pessoas cochichavam discretamente umas com as outras sobre a cena cruel.

– Quantos escravos... – Uma senhora replicava ao marido que estava ao lado.

– Coitados... – Uma garotinha parecia conter o choro ao testemunhar tal cena ao lado da mãe.

– Que futuro triste eles terão... – Um rapaz comentava com o amigo que o acompanhava em sua viagem.

– Eu quero ir embora daqui agora... – Uma garota sussurrava com outra, sequer olhando para frente.

– Quando o próximo navio vai chegar...? – Outra garota murmurava com o namorado que estava ao lado.

Law e Nami ficaram calados. A cena era horrível. Muitos escravos gritavam desesperadamente por ajuda, mas todos ali tinham de se manter calados, pois...


Quem iria contra o Governo Mundial...?


– NÃO FIQUEM FAZENDO POSE, SUAS ABERRAÇÕES!!! – Um soldado empurrava um grupo de pessoas estranhas... Elas eram mais altas do que os demais...

Nami estranhou aquilo e se aproximou ainda mais para ver aquela cena intrigante. Law se perguntou o por quê do interesse repentino da mesma para com o grupo que era levado pela marinha.

– EU JÁ DISSE PRA ANDAR LOGO, MONSTRO! – Um soldado da marinha apontava a arma para o rosto de um dos desconhecidos daquele grupo estranho.

– Pare de gritar desse jeito nos meus ouvidos... Humano...

Os olhos de Nami arregalaram por um momento, e uma forte compressão em seu estômago pôde ser sentida.

Aquela voz... A estatura... O jeito de andar... A forma como se escondia atrás daquele chapéu...

Quando o grupo passava entre os viajantes, Nami pôde encarar o dono daquela voz tão familiar...

E em câmera lenta a cena pareceu durar uma eternidade...

Quando ele passou praticamente ao seu lado, o rosto finalmente foi revelado e ela teve a prova concreta de quem ele era...

Um tritão da raça Tubarão Serrote... O nariz em forma de serra... A pele na tonalidade azul... A tatuagem no peito e no antebraço... O olhar sólido e cruel...


Arlong...


Nami pensava enquanto sentia seu corpo estremecer completamente... E no mesmo momento... A navegadora não estava entendendo por que estava reagindo daquele jeito... Como se não estivesse preparada para vê-lo...

Porém, algo ainda mais assombroso ocorreu...

Ele também a encarou... Olhando firmemente em seus olhos...

Sem entender o por quê, o tritão simplesmente não conseguiu deixar de encarar a humana que se encontrava no meio da multidão de viajantes... Ela era loira, cabelos longos, olhos azuis, roupas finíssimas... Mas... Ele sentia algo familiar nela... Foi quando se recordou...

Da ruiva que manteve sob ameaça durante oito anos no East Blue...

Nami...