Sete Dias Para Viver escrita por Cerine


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

♥♥♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/358230/chapter/15

Observávamos as gotas de chuva caírem sem cessar. Já estávamos sentados naquela parada de ônibus há mais de meia hora. Passamos algum tempo calados até que Brian resolveu quebrar o silêncio.
 

-Ainda não consigo acreditar que amanhã será meu último dia de trabalho como seu fotógrafo... - disse ele, com uma expressão melancólica no rosto.
 

-Você deveria estar comemorando! Depois de amanhã não vai mais precisar ficar me seguindo por todos os lugares! –falei normalmente, tentando esconder meu pesar, mas minhas palavras soaram falsas.
 

-Na verdade, eu... Eu gostaria de continuar com esse trabalho por mais um tempo... Só mais um pouco... –falou Brian, desviando seu olhar e suspirando logo depois.
 

-O que há de bom nesse trabalho? Tenho certeza que você vai ficar aliviado depois que tudo acabar, você não vai precisar mais ficar me aturando... –falei com um sorriso forçado no rosto, e Brian me olhou com uma expressão entristecida.
 

-Vou sentir sua falta... – disse ele num sussurro, como se estivesse disfarçando a emoção.
 

-Não vai não... –falei com uma voz embargada, evitando os olhos de Brian.
 

Ele apenas me encarou, e depois de um suspiro entristecido, abriu um sorriso sonhador no rosto e começou a falar:
 

-Quando eu tinha 15 anos, comecei a trabalhar como um fotógrafo pra valer. Naquela época, meu entusiasmo e expectativas eram tão altos que eu sentia como se pudesse ser o rei do mundo, uma pessoa capaz de realizar qualquer sonho, por mais difícil ou impossível que ele fosse. Porém, à medida que os anos foram se passando, todo aquele entusiasmo desapareceu, deixando apenas o senso de obrigação e o compromisso pelo trabalho. As pessoas me pagavam bem para tirar fotos e, apesar de serem fotos lindas, as quais eu deveria apreciar, meu único sentimento era “estou cumprindo meu dever” e “estou ganhando dinheiro para isso”. Quando nos vimos pela primeira vez, eu estava tirando fotos daquele jardim. Aquelas fotos seriam usadas para fazer um calendário, e meu único pensamento ao ver você naquele lugar foi: “Droga, ela está me impedindo de fazer meu trabalho e ganhar dinheiro!”. Que pensamento mais idiota, não é? Que tipo de fotógrafo eu sou? Eu sempre fui apaixonado pelas paisagens naturais, então porque eu só pensava em dinheiro naquele momento? Que tipo de fotógrafo não aprecia o seu próprio trabalho? Porém, depois que eu resolvi aceitar sua proposta, eu também estava disposto a jogar fora essa atitude “feia”... Eu aprendi muito com você nesses últimos dias. Percebi que existem coisas que merecem ser vistas e apreciadas, existem situações que merecem ser vividas... Não podemos simplesmente ignorar nosso coração e agir somente pela razão. Se fizermos isso estaremos desgastando nossa alma, tornando nossa existência como a de um objeto qualquer, que não possui sonhos verdadeiros, nem a capacidade de olhar para o céu e perceber que somos muito menores do que podemos imaginar. Apesar de o mundo ser grande e nós tão pequenos, ainda assim podemos fazer a diferença na vida de outras pessoas, e em nossas próprias vidas. Se nós não tivéssemos nos encontrado naquele jardim, eu nunca poderia ter tido a oportunidade de conhecer uma pessoa tão especial como você, nem ver o seu sorriso lindo enquanto brincava com aquelas crianças no espaço de recreação da lanchonete. Foi ali, naquele momento, que eu senti como se toda a minha vida tivesse valido a pena... Por que finalmente eu havia encontrado a única memória que eu queria levar para a eternidade, até mesmo para quando o dia da minha morte chegasse. Por que naquele momento, eu vi um anjo sorrindo, e um monte de anjinhos pequenos ao redor daquele maravilhoso anjo. 
 

As palavras de Brian ecoaram na minha mente e pareciam estar quebrando todas as barreiras que meu coração havia construído para suportar a dor de estar perto da morte. Por que ele estava fazendo isso? Por que ele estava me fazendo fraquejar? Se eu ouvisse mais uma palavra gentil saindo de sua boca, meu mundo iria desabar e eu não conseguiria ir adiante. Só faltava um único dia para tudo acabar, e eu precisava aguentar tudo, evitar o medo e o desespero, me manter firme e sorridente, mesmo que só faltasse um minuto para a minha morte.
 

-Por que está dizendo tudo isso? É uma despedida? –perguntei de maneira rude.
 

Brian estranhou meu tom de voz e me encarou com uma expressão confusa.
 

-Não é uma despedida, ainda temos um dia... Quem sabe... Quem sabe até mais do que isso?
 

Soltei uma risada de deboche.
 

-Por que se iludir com falsas esperanças? Isso é burrice! –falei com um sorriso irônico no rosto, enquanto Brian me encarava com perplexidade.
 

-Kate, eu... Eu queria muito conseguir uma maneira de estender o nosso tempo juntos... Será que você não entende? Eu falei tudo isso por que eu quero que fiquemos juntos, por que eu te am...
 

-Por favor, não diga! Não diga mais nada! -interrompi, levando as mãos aos ouvidos.
 

-Mas eu preciso dizer! Eu preciso dizer o que eu estou sentindo nesse momento! –insistiu Brian.
 

-Brian! Isso não vai mudar absolutamente nada! Não vai fazer diferença nenhuma que você fale de seus sentimentos por mim! Depois de amanhã, tudo vai estar acabado! EU VOU MORRER! –falei em voz altiva, controlando o tremor em minhas mãos e sentindo um nó na garganta.
 

-Pode ser que aconteça um milagre! Pode ser que o destino nos conceda mais tempo! –insistiu ele.
 

-PARE! PARE DE SE ENGANAR! –gritei, e Brian me encarou assustado. –É melhor acabarmos com tudo isso antes que... Antes que tudo se torne um mar de tristeza... 
 

-O quê? –perguntou ele, confuso.
 

-O nosso contrato acaba aqui! Não precisa mais vir amanhã! Apenas envie as fotos pelo correio e depois elas serão entregues aos meus pais! –falei secamente, e levantei-me do banco da parada de ônibus.
 

-V-Você está falando sério? - perguntou ele, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.
 

-Adeus! –falei de forma rude, e saí andando rapidamente no meio da chuva.
 

-Não! Kate! Espera! –gritou Brian, e imediatamente correu atrás de mim, alcançando-me logo depois.
 

Brian segurou firme em meu braço, impedindo-me de fugir.
 

-O que você acha que está fazendo? Não pode ir embora desse jeito! Como... Como pode ser tão cruel? –disse ele, com a voz embargada.
 

Cruel? Ele que estava sendo cruel! Tentando-me com falsas esperanças. Vendo-o olhar para mim daquele jeito, como se estivesse prestes a perder a coisa mais importante de sua vida, não pude mais me segurar, todas as barreiras do meu coração já tinham sido derrubadas. As lágrimas começaram a cair desenfreadamente. E eram lavadas pelas gotas de chuva que também escorriam pelo meu rosto. 
 

Chorei de forma descontrolada.
 

-Kate... –sussurrou Brian, e sua voz estava rouca, como a de alguém que está prestes a chorar.
 

-Acha que não está doendo em mim também? Acha que eu não preferiria viver e ficar ao seu lado? – falei com uma voz de choro, enquanto as lágrimas continuavam a cair.
 

Brian também estava com os olhos cheios de lágrimas.
 

-Então não fuja... Não se dê por vencida... –falou ele, e acariciou o meu rosto com a sua mão.
 

Brian se aproximou lentamente de mim, e seus olhos estavam cada vez mais perto, até que finalmente me beijou. A chuva continuava a cair incessantemente, porém, já não estávamos mais preocupados em ficar resfriados ou muito menos em quanto tempo ficaríamos ali parados no meio daquela rua fria, por que mesmo com o frio da chuva, nossos corpos estavam aquecidos, e nossas almas perdidas num beijo sem fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!