Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 39
Capítulo 39 - Rejeição




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     Mais um começo de semana. Miguel assistia as aulas de segunda-feira mal podendo esperar para que quinta-feira chegasse logo. Era estranho estar tão empolgado para saber de algo que nem era com ele. Sim, afinal a conversa que Camila e Toni teriam, sob o pretexto de "estudarem juntos" era algo que só dizia respeito a eles dois, não é? Mas Miguel estava realmente ansioso. Camila confirmou que realmente não estava interessada em manter nenhum tipo de relacionamento amoroso e Toni sequer estava pensando na possibilidade de levar um não. Como Toni reagiria a rejeição? E se ele conseguisse enrolar Camila na conversa de um jeito que ela acabasse não recusando? Isso seria possível. Mas que droga! Por que estava tão ansioso assim? Mesmo que Camila recusasse o que Miguel ganharia com isso? Só pelo prazer de não dividir a atenção de Camila com mais ninguém? Será que era isso? Em meio a tantas perguntas, Miguel quase estava se esquecendo de seus próprios problemas: sua apresentação. Como ele iria ser o protagonista da peça? O professor ainda nem havia preparado as falas e ele já estava nervoso, muito embora Danieli já o tivesse tranquilizado um pouco naquela manhã. Ele se lembra exatamente o que ela disse:
    - Miguel? - diz Dani ao ver o rapaz antes da entrada enquanto tomava água.
    - Ah, oi Dani - ele responde de maneira tímida e rápida - Tudo bem?
    - Tudo. Desculpa, eu nem falei com você no sábado porque tive que sair correndo, mas..a gente vai fazer o papel dos protagonistas da apresentaçãozinha do professor, né?
    - Nem me fale. Não tenho a menor ideia de como vou resolver isso
    - Relaxa. Foi pra isso que eu vim falar com você. O professor disse que vai trazer as falas na próxima aula, então...a gente podia ensaiar juntos, o que você acha?
    O coração de Miguel começa a acelerar. Ela disse aquilo mesmo? Só ele e ela? Só os dois?
    - S-Sério? Mas..você tem um monte de coisa pra fazer, tem outra peça pra ensaiar. Não quero dar trabalho e...
    - Imagina. Não vai ser trabalho nenhum. Eu também tenho que ensaiar - diz ela com uma voz suave e meiga - A gente combina um horário que fique bom para os dois.   
    - Ah, beleza. Bom saber que posso contar com a sua ajuda
    - É claro que pode. Somos amigos, não somos?
    Aquilo soou ainda mais agradável aos ouvidos do espinhento rapaz. Então ela realmente o considerava como amigo. Isso era muito bom. Ou não. Ele se lembra das palavras de Leandro "cuidado para não ser muito amigo dela". A amizade pode ser uma faca de dois gumes. Mas era muito melhor ser considerado amigo do que conhecido.
    - Bem, a gente se vê então. - diz a mocinha, enquanto arrumava a alça de sua bolsa - Já vai tocar o sinal. Vou ao banheiro e já tô subindo. Até
    - Até - foi tudo o que Miguel disse.   
    Era o que Miguel se lembrava da conversa de manhã. Bom saber que podia contar com Dani, mas ao mesmo tempo ficar mais próximo dela e não conseguir dizer o que sentia podia ser ainda mais doloroso. Era melhor dar tempo ao tempo. Antes da próxima aula de interpretação no sábado, Miguel teria que saber o destino de sua prima. Mal podia esperar pela quinta-feira. Miguel evitou tocar nesse assunto até aquele dia, mas por dentro estava extremamente ansioso para ver a cena.
    Enfim, chega a tão esperada quinta-feira. Miguel e Camila almoçaram normalmente, assistindo ao jornal da tarde. Era por volta de duas horas e nenhum dos dois sequer havia tocado no assunto Toni.   
    - Bem, hoje é meu dia de lavar louça, né? - diz Camila, já tirando a mesa - E você não vai tirar mesmo esse uniforme?
    - Já tiro, já tiro. Estou indo para o quarto agora
    - Sei. Você sempre dorme à tarde e de uniforme ainda. Você só tira esse negócio na hora de tomar banho mesmo
    - Não é verdade...e hoje eu não vou dormir
    - Não? Que milagre! Vai ter algum evento naquele seu jogo online à tarde? É isso?
    - Não, na verdade - ele faz uma pausa, procurando as palavras - O Toni vem aqui hoje, não vem?
    - Vem. E o que é que tem?
    - Bem...se você precisarem de alguma força na lição...é melhor eu estar acordado, não?
    - Que? Mas você nem faz a lição!
    - Mas eu consigo acompanhar bem a matéria e...
    Camila parece ter sacado a ideia do primo
    - Hmm..tô sacando..você quer é ouvir a minha conversa com o Toni, não é?
    - Não, eu...   
    - Hahauha. Pode assumir.Eu sei que é verdade. Mas já falei pra relaxar. Eu não estou a fim do Toni e ponto final.   
    - Mas eu não queria
    - Acredite. Eu não caio na lábia de qualquer um, não. Confia em mim.
    Miguel acreditava nas palavras da prima, mas também queria muito saber como Toni reagiria. Ele precisava ouvir a conversa deles e tinha um plano: fingiria estar em seu quarto fazendo qualquer coisa, mas ficaria escondido na cozinha, local de onde é possível ouvir toda a conversa da sala de visitas. Qualquer coisa poderia usar a desculpa de ter descido pra tomar água ou algo assim. O importante era ouvir aquela conversa. Não demora muito para Toni tocar a campanhia da casa, por volta das três e meia da tarde. Miguel, que disse a Camila que estaria no quarto, aproveita que a prima foi atender a porta e desce rapidamente para a cozinha. De lá poderia ouvir perfeitamente o diálogo entre os dois. Com a mãe trabalhando fora e sem empregada, também não teria ninguém para atrapalhá-lo. Poderia ouvir tudo tranquilamente.
    - Oi. Conseguiu achar fácil a casa? - atende Camila, sorrindo e cumprimentando com o clássico beijinho no rosto.
    - Foi sim. Tranquilo. Pertinho da escola - diz Toni, vestindo uma camisa regata, bermuda e tênis. Camila estava em roupas de casa: camiseta branca com uma estampa de arco-íris, shortinho e chinelo. E claro, sempre com o rabo-de-cavalo no cabelo. Toni dá uma bela olhada na garota. Como aquele shortinho ficava bem nela...
    - O que foi? Vai ficar aí parado? Vem, pode entrar
    - Ah, beleza. Licença
    - Entra aí
    Os dois seguem para a sala de visitas. Miguel já podia ouvir os dois. Tinha que manter o máximo de silêncio possível.
    - Quer alguma coisa? Uma água ou suco?
    - Se tiver água..aceito
    Miguel gela. Droga. Camila já iria expulsar ele dali. Ele corre para o lado de fora, na área da lavanderia, e espera a mocinha pegar dois copos de água fresca. Parece que ela não percebeu nada. Ótimo. Hora de voltar à escuta.
    - Valeu
    - Calor, né? - diz Camila, enquanto tomava seu copo de água. Algumas gotinhas caem na camiseta dela, o que Toni observa com bastante atenção.
    - Pois é. Bastante - diz o rapaz, também bebendo tudo de uma vez.
    - Beleza. Então, vamos rever a matéria do bimestre. - diz a loirinha empolgada
    - É muita coisa.
    - Pelo menos os pontos principais. No que você tem mais dúvida?
    - Vixi...se eu te disser, você me bate. Tô ruim em todas as matérias - lamenta Toni
    - Tá bom, tá bom...vamos começar pelas mais difíceis. Química. Química é uma das mais difíceis.
    - Eu sei. Tem um monte de coisa que eu não fiz ainda.
    - Beleza. Começamos com Química então
    Nas próximas duas horas, Camila e Toni focaram realmente só no estudo de Química. Miguel ouvia tudo, mas não o que queria. "Vamos lá", ele pensa, "Você não é o pegador da sala? Quando é que vai começar a dar em cima dela?". Mas é aí que, finalmente, eles começam a mudar de assunto
    - Isso. Tá aprendendo bem. Hehehe - parabeniza Camila, vendo que Toni já estava tendo algum progresso
    - É que eu tenho uma boa professora
    - Hahahua. Imagina
    - É. É sim. Você manja pra caramba. Vai se dar muito bem na vida
    - Manjo nada...é que essa matéria eu estudei, mas também peno pra passar nas matérias
    - Modesta. Manja sim. Fora que manda bem no handebol
    - Hahauhau. Elogiando desse jeito eu vou ficar mal acostumada
    - Mas você merece o elogio. Tô falando sério mesmo!
    Ela mexe no cabelo e sorri
    - É sério...precisa te falar - continua o rapaz
    - Oi? Que foi, Toni?
    - Precisa te falar que, desde que você mudou pra escola, meu, tenho pensado muito em você
    - Pensado em mim? Como assim?
    "Maldito!", pensa Miguel, "Como ele consegue falar essas coisas de um jeito tão natural?"
    - É. Você é a mais gata daquela sala. Falando sério, na real, tô muito a fim de você
    Camila ouve tudo, mesmo não demonstrando muita surpresa com o que ouviu.
    - Tá a fim...de mim?
    - É sério. Tô falando sério mesmo. Você mexe muito comigo - diz ele, se aproximando do rosto dela cada vez mais. Toni olhava profundamente nos lindos olhos azuis da garota que, por sua vez, também mantinha seu olhar fixo no dele. Quando ele estava prestes a beijá-la (o que Miguel não podia ver para não se denunciar, mas ele sentia uma tensão), Camila o empurra levemente para trás com a mão.
    - Olha, Toni. Eu fico muito lisonjeada pelo que você sente por mim. De verdade. Mas, desculpa...não rola
    - Por que não? Você tá namorando?
    - Não, não tô, mas é que..
    - Já tá gostando de outra pessoa?
    - Também não, eu...
    - Então o que é? Por que não rola? Eu tô livre, você também. A gente se dá super bem. O que é que te impede?
    - Eu...eu tenho meus motivos...
    - Que motivos? É porque eu sou burro? Eu prometo que me esforço mais. Se você me ajudar! É porque eu saio muito? Sem problema. Eu não saio mais pra balada nenhuma, não pra mais lugar nenhum sem você. Eu faço o que você quiser...se for por você, eu...
    - Não, não. Não é nada disso. Olha, você é um cara super legal. Eu te adoro. De verdade. O problema não é com você, é comigo
    - Mas...como assim? Você tem medo de alguma coisa?
    - Não é bem medo, eu...
    - Não precisa ter medo - ele continua - Eu vou cuidar de você, vou cuidar direitinho de você - ele se prepara pra dar mais um beijo nela, mas a loirinha evita de novo.
    - Não, Toni, para. Tô falando sério - diz ela, mudando para um tom de voz mais firme - É que eu não quero mesmo me amarrar com ninguém agora. Sério.
    Toni suspira e entende a resposta de Camila
    - Então...não rola mesmo
    - Não, desculpa - diz ela - Olha...eu sempre vou ser sua amiga, mas fora isso não rola. Você é um cara bonito, legal...tá cheio de menina pra você por aí. Mas comigo não rola mesmo
    - Cheio de menina...mas nenhuma é você, Camila
    Ela não fala nada.
    - É sério mesmo. Esquece essa história. Vamos...pra Física agora?
    - Ah...desculpa...já tá ficando tarde...a gente pode combinar outro dia?
    - Tarde, mas...ainda são cinco e meia
    - Eu sei, é que...eu não tô muito bem, desde manhã
    - Ei, não é por que eu falei aquilo que você precisa ficar chateado. Fica aí. Você tá precisando de nota
    - Não. É sério. Não tô com cabeça pra estudar agora, não. A gente marca outro dia.
    - Tá legal...vem, eu te levo até o portão
    Miguel ouviu tudo. Realmente, Camila não quis nada com Toni. E, mesmo sem ver como ficou a cara de Toni, Miguel percebeu pelo tom de voz que ele havia ficado muito chateado. Essa é a sensação de levar um fora? Logo, Camila volta, senta-se na mesa de estudos, esfrega o rosto com as duas mãos e abaixa a cabeça
    - Miguel? Eu sei que você tá aí..pode sair - diz ela, ainda com a cabeça baixa
    - Sabia? Mas eu...
    - Você disfarça muito mal. Ouviu tudo, né?
    Miguel faz que sim com a cabeça
    - Tá chateada? - ele pergunta
    - Tô. Você deve achar que não, mas também é muito chato pra quem dá o fora
    - Imagino...
    Ela levanta a cabeça e suspira
    - Escuta, Camila
    Camila volta sua atenção para o rapaz, com um leve sorriso misturado à sua vontade de chorar.
    - Afinal...por que você não quer namorar ninguém? Pode falar
    - Não quero pensar nisso agora. Quero estudar, me formar, depois eu penso nisso...
    Miguel se senta na cadeira e olha bem nos olhos da prima, em um raro momento de determinação
    - Fala a verdade. Eu sei que você tá escondendo alguma coisa
    Camila fica até espantada com aquela ação firme do primo. Era a primeira vez que o via assim. Parecia estar realmente preocupado com ela.
    - Não, não precisa se chatear com os meus problemas. Aconteceram umas coisas chatas mesmo, mas...
    - Então me conta. Que droga, Camila! Você acha que eu tenho seis anos? Você sabe que eu nunca vou contar pra ninguém qualquer coisa que você me falar. Se você não pode desabafar comigo, vai desabafar com quem? - diz ele, mais uma vez em um momento raro de explosão, embora logo tenha voltado para seu olhar morto de sempre. Camila, ainda mais surpresa com essa outra ação do primo, resolve, então, contar de vez
    - Tudo bem. Eu vou te contar...


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