Camila esfrega o rosto mais uma vez e começa a falar em um tom sério e lento
    - Então...aconteceu uma coisa...há pouco tempo
    - Há pouco tempo? - pergunta Miguel - Você fala...um pouco antes de vir pra cá?
    - Isso. Tudo começou há uns três meses antes de eu vir pra cá
    Camila olha para o teto, faz uma pausa e começa a lembrar do que aconteceu...há pouco tempo atrás, quando ainda estava morando em Santos
    - Ei, Camila! - chama uma voz conhecida no meio de uma praia não muito lotada, naquele sábado, por volta das quatro da tarde
    - Carol. Bom te ver - responde Camila, cumprimentando a amiga - Achei que você não viria para a praia hoje. Você não disse que tinha umas tarefas para terminar?
    - Já terminei. Foi mais rápido do que eu pensei. Daí aproveitei e vim dar uma voltinha na praia
    - Que bom. O Sol baixou um pouquinho...tá ótimo pra andar!
    Carol era uma garota de pele nem muito clara, nem muito escura, cabelos castanhos longos, olhos negros e vestia um biquini verde com uma canga também verde. Camila estava usando seu biquini rosa e sainha azul, seu conjunto de praia preferido. Eram duas grandes amigas que sempre saiam juntas e trocavam confidências.
    - Ai, não acredito! - grita Carol, de repente, interrompendo o assunto que elas estavam conversando.
    - O que foi? - pergunta Camila
    - É o Marcos ali...junto com o Danilo!
    Camila cora ao ouvir o nome Danilo. Era o rapaz mais popular da escola. Um garoto claro, cabelos morenos e um olhar confiante e penetrante. Camila o admirava há algum tempo, mas nunca teve oportunidade de conversar muito com ele. Era uma ano mais velho e estudava uma série acima de Camila, mas ela o conhecia muito bem de longe. Já o havia visto várias vezes na praia, mas sempre cercado de gente, esse pessoal super popular. Não que Camila fosse uma tonta, pelo contrário, também era bem popular na sua sala e já tinha ficado com alguns meninos, mas todos namoricos rápidos e sem compromisso. Acontece que com aquele Danilo ela tinha uma atração em especial. Se ela tivesse mais algum contato com ele, mas como? Ela não conhecia nenhum dos amigos dele. Já Carol tinha uma atração por aquele Marcos. Ela começou a gostar dele desde um dia que os dois trocaram uma ideia no ônibus, mas também nunca teve muita oportunidade de se aproximar. Agora os dois estavam ali, só os dois, tomando água de coco sem ninguém em volta. Seria uma oportunidade. Bem, elas teriam que passar por ali de qualquer jeito.
    - Só estão eles ali? - pergunta Camila, desacreditada.
    - Acho que sim. Amiga, é nossa chance!
    - Chance? Como assim?
    - Ouvi falar que o Danilo está solteiro, solteiro. Se você se aproximar dele agora...tenho certeza que você consegue ficar com ele
    - Tá falando sério? Não brinca!
    - Eu aproveito e falo com o Marcos também. Ai, é agora ou nunca
    Carol e Camila se aproximam da barraca de água de coco de braços dados, fingindo que passam por ali só por coincidência. Será que os meninos iriam notá-las?
    - Ei, vocês são da escola do Centro, não são? - pergunta Danilo, que, estando sozinho, não deixaria uma moça tão bonita passar despercebida.
    - Hã? - Camila se vira, fingindo surpresa - Ah, sim! Vocês são...da nossa escola também, não é?
    - Somos sim. Sentem aí
    - Tudo bem - diz Carol, toda animada.
    Os quatro passam um bom tempo conversando. Carol não consegue ter a aproximação que queria com Marcos, embora ele tenha se lembrado dela naquele dia no ônibus. Por outro lado, Danilo pareceu muito interessado em Camila. Ele lançava vários olhares para a loirinha que mexia o cabelo, fingia que não era com ela, mas estava super animada. Será que ele estava interessado nela? O garoto que ela estava sonhando esse tempo todo?
    Algum tempo depois, Marcos acaba tendo que ir embora. Os três que sobram também saem da mesinha. Como o ônibus de Carol chega primeiro, Danilo e Camila ficam sozinhos no ponto. Era a deixa de Danilo.
    - Sabe...gostei de você, Camila - diz o rapaz com um olhar penetrante - Você é muito linda
    - Ai, obrigada - diz ela, sorrindo
    - Tem...alguma coisa no seu rosto...
    - Hã?
    E ele beija a garota subitamente ao que ela corresponde imediatamente.
    - Espera aí! Espera aí! - interrompe Miguel
    - Que foi?
    - Ele só falou isso: "Tem uma coisa no seu rosto" e já foi te beijando?
    - Bem...foi isso mesmo que aconteceu - explica Camila - Quando se tem um clima não tem muito o que falar...ele queria, eu também queria...rolou
    - E você fala isso como se fosse a coisa mais natural do mundo?
    - Mas é natural!
    - Eu nunca vou entender isso...
    - Posso continuar a história?
    - Claro. Continua aí
    - Bem, eu comecei a namorar o Danilo naquele dia. A gente namorou por uns dois meses e meio...eu conheci a família dele, era até bem riquinho, viu? Comecei a sair mais com os amigos dele...estava tudo indo muito bem...mas a nossa relação tinha uns probleminhas...
    - Que probleminhas?
    - Bem...ele era meio afoito...a gente se beijava e ficava...mas...por exemplo, às vezes, quando ele me beijava, a mão dele escorregava um pouco...
    - Escorregava? Como assim?
    - Você sabe...escorregava...   
    Miguel continuou com cara de quem não entendeu.
    - Ele passava a mão na minha bunda! Pronto, falei! - diz ela, vermelha de vergonha.
    Miguel também fica corado, mas ela continua a história. De fato, Danilo era muito afoito nesses momentos de mais intimidade
    - Hmmm...ai, para - diz Camila, tirando a mão de Danilo que estava onde não deveria estar
    - Ai, amor...desculpa...eu me empolgo um pouco
    - Assim eu não gosto
    - Já pedi desculpa, não pedi?
    Apesar disso, o relacionamento dos dois caminhava tranquilamente, sem muitos excessos. Até aquele dia...
    - Então, amor - diz Danilo, enquanto estava num parque, abraçado com Camila sobre uma toalha de piquenique - Esse fim de semana meus pais vão viajar
    - Sério? Pra onde?
    - Meu pai tem uns negócios para resolver numa cidade do Nordeste e minha mãe estava a fim de ir junto...eles vão deixar a casa livre
    - E daí? - pergunta Camila, já um pouco nervosa
    - Como e daí? Não acha que já tá na hora da gente fazer o que namorados fazem?
    Camila se levanta assustada rapidamente.
    - O..o que namorados fazem?
    - Ué? Tá nervosa? Vai me dizer...você ainda é virgem, é?
    A garota fica corada. Todos os seus namoricos foram coisas bem bobinhas. O que ele queria fazer....era aquilo...aquilo mesmo?
    - Relaxa, amor - diz Danilo, abraçando e dando um beijo no rosto dela - Eu vou cuidar direitinho de você e...
    - Não, espera eu...eu...acho que não tô pronta pra isso...
    - Não tá pronta? Por que? Você não me ama?
    - É claro que eu te amo, mas...
    - Então não tem do que ter medo. Quando duas pessoas se amam isso é mais do que natural.   
     - Mas eu...
    - Sexta à noite, lá em casa...não tem melhor oportunidade..
    - Eu...bem, eu... - diz ela, ainda muito assustada com aquilo tudo. Nisso, o sorveteiro passa pelo parque. Camila queria mudar de assunto o quanto antes - Espera. Eu vou pegar um sorvete. Já volto!
    O sorveteiro já tinha se afastado e tinha umas três crianças com ele. Danilo aproveita a oportunidade e liga o celular.
    - Alô? Vitão? Sou eu, cara, Danilo! Então, cara...sabe aquela aposta. Prepara a grana que eu vou ganhar!
    Camila conseguiu comprar dois picolés de fruta e já estava voltando. Mas ela ainda estava com muito medo do que poderia acontecer. Já havia conhecido algumas meninas que fizeram isso com os namorados e parecia tudo muito natural, mas Camila ainda não se sentia pronta para isso. Ela amava Danilo, mas alguma coisa dentro dela ainda a estava deixando insegura. Ela vê que Danilo estava falando no celular e se aproxima lentamente. Lentamente o bastante para ouvir o resto da conversa dele.
    - Pois é - dizia ele no celular - É sexta. Eu falei pra vocês que conseguia traçar a loirinha essa semana. É. Essa sexta ela vai lá em casa. Pode ir preparando a grana aí. Hahuhaa
    - O quê?! - grita Camila, deixando cair os dois picolés no chão
    - Hã? Camila? Você tava aí, amor?
    - Estava. Estava sim. E acabei de ouvir o que você falou. Então é isso? Eu sou só uma coisa que você apostou! Aquele papo de me amar, de gostar de mim é tudo balela
    - Imagina, amor. Eu te amo. Não sei do que você tá falando
    - Tira essa mão de mim, seu desgraçado! - grita a mocinha, injuriada - Eu...eu juro que gostava de você. Sempre gostei. Mas bem que tinha algo me dizendo que alguma coisa tava errada! Como é que você pode fazer isso comigo?
    - Isso o que? Qual é? É só uma brincadeira! Namorados fazem isso o tempo todo! Vai dar chilique por uma coisinha dessas?
    - Coisinha? Seria...seria a minha primeira vez...é algo muito especial!
    - Especial? Ah, fala sério! Em que mundo você vive? Você acredita em conto de fadas, não acredita? Já peguei muita menininha que dizia a mesma coisa, mas depois da primeira vez elas nem falam mais nada, querem mais é curtir! Você pode até falar isso agora, mas é só frescura, no fundo você tá querendo isso mais do que eu. Vai, confessa! Vai dizer que também não tá querendo?
    A raiva estampava totalmente o rosto de Camila. Ela dá um tapa na cara de Danilo e sai dali correndo
    - Te odeio! Nunca mais olha na minha cara! - diz a garota, chorando de raiva
    - Aaahh...essa desgraçada... - sussurra Danilo, também com raiva.
    Imediatamente o rapaz pega o celular e liga para alguém conhecido
    - Marcão? Sou eu, Danilo! Lembra daquela grana que você tá me devendo? É, aquela! Nem precisa mais esquentar com ela...se você me fizer um favorzinho...
    No dia seguinte, Camila chega na escola e se encontra com Carol.
    - Camila! Como é que você tá? Nem acredito no que você me contou ontem
    - Pois é. Onde já se viu? Apostar que me levava pra cama. Como alguém pode ser tão canalha? Agora tá tudo terminado mesmo...
    - Foi sacanagem mesmo. Mas tá tudo bem com você?
    - Tá sim. Eu supero. E você e o Marcos?
    - Ainda não rola nada. Mas não desisti ainda.
    - Não desiste mesmo. Hehe
    Foi uma manhã aparentemente tranquila. Todo mundo na escola soube do término do namoro de Camila e Danilo, embora ninguém soubesse todos os detalhes. Apesar dos pesares, tudo seguia normalmente. Até aquela hora, quando Camila estava chegando em casa
    - Camila?
    - Hã? Marcos? Você por aqui?
    - É. Eu treino tênis aqui perto. Não sabia que você morava aqui
    - Pois é. Moro.
    - Fiquei sabendo que você e o Danilo terminaram. É verdade?
    - É verdade, sim. Foi uma sacanagem dele, mas...deixa pra lá
    - Quer saber...acho que foi melhor assim
    - Você acha?
    - Acho. Ele é assim mesmo. Nunca fica com uma namorada por muito tempo...você merece alguém mais carinhoso, mais atencioso do que ele...
    - Como assim? Não tô entendendo
    - Alguém..como eu
    E ele dá um beijo súbito em Camila. Tão rápido que ela mal tem tempo de escapar. Mesmo assim, ela consegue empurrar Marcos e se recompor
    - O que deu em você? Tá louco? - diz ela, desconcertada.
    - Qual é, Camila? Agora você tá desimpedida. Fica comigo. Vou te fazer muito mais feliz que o Danilo e..
    Ela não fala nada e entra correndo em casa. Nisso, chega Danilo, que estava ali perto escondido.
    - Valeu, Marcos. Sabia que você conseguia
    - Pô, Danilo. Mas é sacanagem demais, não acha?
    - Que nada. Ela merece. Consegui tirar a foto direitinho. Hahhaha.
    No dia seguinte, Camila chega normalmente na escola e vê uma atmosfera estranha. As pessoas pareciam estar olhando para ela de um jeito estranho. Talvez fosse só impressão. Nisso, ela encontra Carol, que estava sentada, quieta, num banco
    - Carol. Que bom que eu te achei. Não consegui falar com você ontem. Você não vai acreditar no que aconteceu co...
    Ela olha para Camila com um olhar triste e cheio de lágrimas
    - O que foi? Você tá chorando?
    - Como você teve coragem?
    - Hã? Do que está falando?
    - Como você teve coragem de fazer isso comigo, Camila?!
    Ela mostra uma foto com Camila e Marcos se beijando.
    - Não, espera. Eu posso explicar isso aí
    - Explicar o que? Não tem nada pra explicar! Que droga, Camila! Você sabia que eu gostava dele! - diz Carol, em prantos
    - Não. Foi ele que me beijou à força e...
    - Não inventa! Como é que você me faz uma cachorrada dessas? Eu pensava que você era minha amiga!
    - Carol, espera! Quer me escutar?
    - Não quero escutar mais nada de você, sua falsa! - ela pega as coisas e sai dali imediatamente. Parecia estar inconsolável.
    - Mas...é mentira...eu...eu não fiz nada...
    - Ê, Camila...mal terminou comigo e já foi se esfregar em outro? - diz Danilo, chegando devagar por ali
    - Foi você. Foi você que fez isso, não foi?
    - Eu? Não. Não fui eu que beijei o Marcos
    - Seu cínico. Desgraçado! - ela tenta dar outro tapa nele, mas dessa vez Danilo segura o braço dela
    - Isso é pra você aprender a deixar de ser frescurenta - diz ele, com um tom sério e baixo - Mulher nenhuma me dá um tapa na cara e fica por isso mesmo!
    Ele solta o braço dela bruscamente. Camila cambaleia um pouco e quase derruba a bolsa
    - Maldito...eu perdi minha amiga por sua causa! - diz ela, em lágrimas
    - Isso não é problema meu. Ih, tá na hora da aula. A gente se vê
    Realmente foi assim. Danilo combina de tirar uma foto com Marcos beijando Camila e espalhar várias cópias pela escola toda. Na verdade, não foram necessárias muitas fotos, já que boatos e fofocas se espalham voando. Naquela hora, todos acreditavam que Camila era a vilã da história
    - Eu falei...foi sacanagem demais, Danilo - fala Marcos   
    - E eu já falei. Ela mereceu
    - Mas ela brigou com a amiga por causa disso. Eu nem sabia que aquela Carol tava gostando de mim
    - Não sabia? Ela ficava com uma cara de retardada olhando pra você
    - Não é melhor contar a verdade e...
    Danilo olha para Marcos de um modo sério e ameaçador
    - Faz isso e você sabe o que te acontece. Eu também sei vários podres seus
    Marcos fica quieto, mas não consegue deixar de sentir pena de Camila. Os próximos dias foram ainda mais insuportáveis. Boatos e murmurinhos não paravam de voar pela escola toda
    - Olha lá, aquela é a Camila? - diz uma menina, baixinho para a amiga, enquanto Camila estava passando por perto
    - Ela mesma. Vagabuuunda....não vale o ar que respira...dizem que ela pegou o cara que a melhor amiga gostava! - responde a outra, também bem baixiho.
    A situação era muito triste. A cada dia que se passava, Camila ficava cada vez mais isolada e abandonada pelos colegas. A situação só melhorou naquele dia, quando a mãe de Camila chega em casa e a vê no quarto, chorando no travesseiro.
    - Filha! O que tá acontecendo? - pergunta a mãe
    - Eu não aguento mais, mãe! - diz ela, chorando, no colo da mãe - Não aguento mais aquela escola! Tá todo mundo contra mim!
    - Tsc...aquele mal-entendido todo com o Danilo...eu sabia que aquele menino não prestava...o que eu faço com você, filha - lamenta a mãe, passando a mão na cabeça da filha, que se acabava em lágrimas no colo dela.
    - Me tira de lá, mãe. Não quero mais voltar pra lá. Não quero!
    - Mas você vai pra outra escola?
    - Não. Nem em outra escola adianta. Nesse bairro todo mundo também tá contra mim. É só sair na rua, que todo mundo fica me apontando. Eu quero sair dessa lugar, dessa cidade.
    - Ai, filha...o que eu posso fazer? Só se...só se você fosse morar com a sua tia Marta, lá em São Paulo, por uns tempos
    - Isso. Eu vou morar com a tia Marta. Vou morar em qualquer lugar. Mas me tira daqui, por favor! - ela implora, chorando mais e mais.
    Miguel ouve toda a história com uma expressão séria
    - Então..foi por isso que você veio morar aqui? - ele pergunta
    - Isso - diz Camila, chorando - Não é porque eu ia ficar sozinha em casa, nem nada...era por causa disso! Minha vida virou um inferno depois daquilo!
    - Caraca...isso é muito sinistro...eu...eu nem sei o que falar...
    - Não precisa falar nada, Miguel...mas agora você sabe porque eu não quero nada com ninguém. Depois daquele cara...não confio mais em homem nenhum!
    - Então, é por isso que você dispensou o Toni?
    - Eu dispensaria ele e qualquer outro! - diz ela, limpando as lágrimas - Não quero passar pela mesma coisa de novo!
    - Mas, peraí Camila. Como você sabe que todo mundo é assim? Aquilo foi só uma fase ruim
    - Eu sei. Eu sei que nem todo mundo é assim. Mas eu não quero correr o risco de passar por essa situação de novo, entende?
    Miguel fica em silêncio. Sua prima, sempre tão alegre e radiante havia passado por uma situação tão desagradável. Ele também se lembra de Paula, que teve um namorado que não era nada daquilo que ela pensava. Mas o caso de Camila era ainda mais grave que o de Paula. O que ele podia dizer?
    - Você sim, Miguel
    - Hã? O que tem eu?
    - Eu sei que você é diferente daquele cara. Quando você me contou que estava gostando de alguém, puxa, eu fiquei tão contente, tão contente. Aquele seu jeitinho tímido e fofo, com vergonha de falar pra Dani que gosta dela. Depois do que eu passei...fiquei feliz de saber que ainda tem alguma inocência nesse mundo! - diz a loirinha, ainda com lágrimas nos olhos.
    Miguel ouve aquilo com uma dor no peito. Inocência? Miguel não era inocente. Ele admitia para si mesmo que já sentiu desejos e fantasias impuras com Camila. Justo ela, sua própria prima e amiga. No fundo, ele se sentia tão canalha quanto aquele Danilo, aquele que Miguel teve vontade de assassinar cruelmente enquanto ouvia a história da prima. Naquele momento, Miguel nunca se sentiu tão mal e tão culpado por seus pensamentos sujos. E Camila o achava realmente uma pessoa pura e inocente. Se ela soubesse...se ela soubesse...o Toni sim, Toni era a pessoa mais pura dessa história toda. Miguel sabia que Toni realmente gostava de Camila e não seria um canalha como Danilo. Só Miguel podia melhorar essa situação. Só ele. Era o que estava sentindo. Se não falasse aquilo agora, poderia se arrepender pelo resto da vida!
    - Camila!
    - Oi, Miguel. Pode falar..   
    - É que...
    - O que?
    - O Toni. O Toni ele realmente gosta de você!
    Miguel diz isso com todas as letras. Ele tinha que fazer alguma coisa!