Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Capítulo 3 - Oi




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Capítulo 03 - Oi

    Apesar de ter passado por essa crise existencial, Miguel assistiu às primeiras aulas sem problemas. Apesar de tudo, ele não era do tipo que se deixava dominar o tempo todo por pensamentos e problemas pessoais. Mesmo aulas, que eram motivo de sono para muitos de seus colegas (Leandro incluído), conseguiam distraí-lo de sua própria mente. Era só evitar olhar para lá, não é? Sim, isso mesmo. Concentrar-se na aula era uma boa saída para escapar da influência de Danieli. Assim foi pelas três primeiras aulas. Exercícios de interpretação de texto na aula de Português e duas aulas seguidas de exercícios de Matemática (essa última foi bem maçante). Pouco mais de duas horas depois já era hora do intervalo.
    - Ei, acorda! - diz Miguel estalando os dedos para o adormecido Leandro
    - Heim, o que foi? - o sonolento rapaz abre os olhos lentamente - Já está na hora de ir embora?
    - Não, mas já é hora do intervalo.
    - Hã? Já acabou a aula de Matemática?
    - Já. E você fala como se tivesse sido rápido...para mim foi quase uma eternidade!
    - Sério? Acho que dormi no meio...- comenta Leandro tirando os óculos e esfregando os olhos
    - Acho nada. Você dormiu descaradamente mesmo!
    - É. Essa é a vantagem da última carteira, né?
    Leandro põe a mão na boca e boceja
    - Se quiser a gente troca no próximo período
    - Não, tudo bem. Eu não consigo dormir no meio da aula. Se o professor me chamar a atenção vai ser um mico só.
    - Ah, você é certinho demais. Aqui na última carteira ninguém percebe nada
    - Eu acho que o professor até já se acostumou com você dormindo toda aula, isso sim
    - Deixa isso pra lá. Vai, vamos descer e comprar alguma coisa.
    Hora do intervalo.Miguel sempre achou essa hora curta demais, mas, melhor do que nada, não é? Vinte minutos para ir ao banheiro, comer qualquer coisa, conversar um pouco e já voltar para a sala. A mesma rotina de sempre todos os dias. Parando para pensar, para um aluno que vive as regras passivamente (como o próprio Miguel já se definiu mentalmente) e sem maiores problemas a vida colegial é absurdamente tranquila e monótona. O que poderia acontecer de diferente? Mal sabia ele que sim, algo de diferente estava destinado a acontecer naquele dia.
    - Você não dorme nas aulas, mas viaja muito mais do que eu. Tá com a cabeça aonde, rapaz? - diz Leandro ao perceber a cara de Miguel, enquanto ambos caminhavam pelo corredor que levava até as escadas.
    - Nada demais. Só um monte de ideias que vêm e vão da minha cabeça.
    - Ideias, é?
    - É. Mas não é nada demais, não.
    - Espero que não. Qualquer coisa é só falar. Se for mulher então...cê sabe que eu tenho experiência com isso, né?
    - Sei, claro - responde Miguel ironicamente
    Leandro desce para comprar algum lanche enquanto Miguel vai ao banheiro. Saindo de lá, ainda mergulhado em devaneios, ele entra na fila do bebedouro a fim de matar a sede (embora Miguel nunca achasse que aquela água que salta do bebedouro matasse mesmo a sede). Que bom, só uma pessoa na fila. Mas não era uma pessoa qualquer...não era a...Danieli? O coração do rapaz começa a bater mais rápido. O que ela estava fazendo ali? Bebendo água, é óbvio. Mas, por que diabos ele resolveu beber água justo na hora que Danieli também pensou em fazer isso? Ela já estava acabando...seria essa uma chance de puxar conversa? Danieli estava ali, sozinha, só tomando água, o que não levaria mais do que alguns segundos. No momento em que se virasse para ir embora, ela o veria ali. Iria cumprimentar de novo só com um sorriso tímido? Ou iria dizer um oi? Mas o que ele podia conversar com ela? Bem, um oi é uma ótima maneira de começar, não é? Cumprimentar de novo com um sorriso seria muito mais fácil, não seria? Ela já acabou? Era agora! O que dizer? É só uma menina...é só falar um oi, ou qualquer coisa. Vai deixar passar só com um sorriso mesmo? O que o pobre Miguel esperava de si mesmo era deixar essa chance passar em branco, mas, excepcionalmente, ele resolveu arriscar. Dani se vira e vê Miguel ali parado.
    - O-Oi - diz Miguel sorridente e torcendo para ela não perceber a vermelhidão do seu rosto.
    - Ah, oi - Danieli corresponde também com um simpático sorriso no rosto.
    Mas Miguel não sabia como continuar o diálogo...foi apenas um "oi". O que eram só duas letras? Duas vogais? Danieli sorri e sai dali sem dizer mais nada. O que teve de diferente da hora da entrada? Só porque agora ele disse um "oi"? Por que não continuou a conversa? Realmente, Miguel não estava se sentindo muito bem, mas, por outro lado, estava feliz consigo mesmo por, ao menos, ter conseguido falar com a mocinha. Dizer "oi" é falar? Bem, para Miguel isso foi um grande passo. Tanto que nem ao menos se lembrou que estava com sede. Deixou o bebedouro de lado e saiu dali pensando no que acabou de fazer. Sim, apesar de ter sido só um "oi", palavras saíram da sua boca! Normalmente ele não conseguiria dizer nada naquela situação, mas...ele conseguiu dizer um "oi"!
    - Ah, você tá aí? Quer um pedaço? - chega Leandro com uma coxinha enorme nas mãos
    - Não, não, obrigado
    Leandro percebe que tem alguma coisa de diferente com o amigo.
    - Cara, eu te conheço. Cê não tá bem hoje. Pode falar, o que é que tá rolando?
    Miguel olha para o amigo e resolve compartilhar seus pensamentos. Afinal, com o Leandro ele podia conversar normalmente.
    - É meio esquisito falar disso, mas...tô a fim de uma menina
    Leandro esbugalha os olhos enquanto devorava o salgado. Não era uma expressão de surpresa, era mais algo do tipo "então finalmente você resolveu falar disso!"
    - Ah, sim. A ruivinha nova, não é?
    - É. Ela mesmo. Eu já comentei que simpatizava com ela, mas...acho que a parada é mais séria do que eu pensei
    Leandro estava disposto a ouvir o amigo. Ele já sabia do sentimento de Miguel, mas nunca o forçou a falar disso. Agora que ele finalmente parecia estar sincero consigo mesmo, Leandro iria ajudar no que for preciso.
    - Serião? Você só comentou isso comigo algumas vezes, mas não achei que fosse sério mesmo. O que fez você aceitar isso assim, de uma hora para outra?
    - Hoje eu estiver perto dela duas vezes. Meu coração quase saiu pela boca. Ela mexe mesmo comigo
    - Tô sabendo... - responde Leandro, ouvindo seriamente Miguel
    - Mas o máximo que eu consegui foi dizer um "oi"
    - Bom, te conhecendo do jeito que eu te conheço...para você isso já é uma vitória
    - Não é? Mas eu não vou conseguir nada só com isso...eu...precisaria conversar mais com ela
    - Bem, você sabe exatamente o que tem de fazer
    - Sei..
    - Vai ter que conversar com ela
    - Mas como? Eu não tenho nenhuma amiga...mesmo você, aqui na escola, não conversa muito com as meninas!
    - Bem, é que as meninas da nossa sala são umas chatas...mas ela também não tem lá muitos amigos...é, vai ser difícil
    Miguel suspira. Leandro coloca a mão no ombro dele e comenta:
    - Relaxa, cara! Ainda é abril! Até o fim do ano muita água vai rolar!
    - Tô sabendo
    - E, segundos os meus instintos, acho que ela também simpatiza com você
    - E por que você acha isso?
    - Meus instintos nunca falham! - afirma Leandro com um ar confiante
    - Sei...
    De volta à sala, Miguel e Leandro chegam um pouco atrasados. Danieli já estava sentada em seu lugar, concentrada em alguma leitura. No final da aula, Danieli sai junto com suas duas amigas, o que não dá nenhuma chance de aproximação (não que Miguel fosse tentar qualquer coisa). Não resta nada ao rapaz a não ser voltar para casa e pensar em como vencer sua timidez. Não seria um ano fácil, mas, de uma coisa ele tinha certeza: estava realmente apaixonado por Danieli.
    Ao abrir a porta de casa, Miguel percebeu que estava destrancada.
    "Ué?", pensou o rapaz, "minha mãe saiu para o trabalho sem trancar a porta?"
    Entrando em casa, seguindo pelo corredor, Miguel ouviu algum barulho e alguma voz. Foi o suficiente para deixá-lo assustado.
    "Ladrão? Mas na hora do almoço?"
    Miguel ainda estava receoso de entrar, mas, sua expressão muda ao ver que a voz era conhecida.
    - Hmm? Miguel? É você? - grita uma voz feminina dentro da casa
    "Não é possível! O que ela está fazendo aqui?"


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Notas finais do capítulo

Quem será essa pessoa? No próximo capítulo esse bonde começa a andar...



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