Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 20
Capítulo 20 - Evolução




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    Era isso. Ali estava Miguel, em companhia da garota que não abandonava seus pensamentos. Por outro lado, bem no meio dos dois, estava uma outra moça que queria mais ver Miguel pelas costas. Mas afinal qual era a dela? Só porque já teve um namorado mentiroso pensa que todos são assim? Que desrespeito!
    - Que foi, Miguel? Ficou quieto de repente - observa Danieli
    - Hã? Não, não é nada
    - Você gosta de ficar viajando, não é? - Paula comenta em tom de deboche - Parece estar sempre no mundo da lua
    De fato, não era uma mentira.
    - É que eu sou meio distraído...só isso
    - Ah, deixa ele. Dizem que os grande gênios sempre são avoados desse jeito! - brinca Dani
    - Gênio, eu? Que nada! - diz Miguel de forma modesta
    - Que nada é? Desde que eu estudo na mesma sala desse cara ele só tira nota alta! E o que dá mais raiva é que ele mal estuda! - exclama Paula, dessa vez de uma forma mais cômica
    - Olha só! Já sei pra quem vou pedir ajuda nas próximas provas! - diz Dani animada.
    - M-Mas você parece ser bem esforçada, Dani. Vi você resolvendo aquela questão de Matemática hoje antes da aula.
    - Ah, em Matemática até que eu me viro...tenho mais problema com Física e Química. Essas sim são chatas.
    - Nem me fale! Vou ter que me virar do avesso pra passar em Física - comenta Paula.
    - A Sandra até que é boa nessas matérias, né? Mas se ela não estiver na área...vamos pedir socorro pra você, Miguel! - fala Danieli sorrindo
    - Bem, vou ver no que posso ajudar, né?
    - Ai, como é modesto! - diz Dani enquanto se levanta para jogar o papel do lanche no lixo
    Ajudar nas matérias da escola? Bem, não é um dos melhores programas, mas, se for uma forma de aproximação, seria válido. Nessas horas ser um nerd de ciências exatas não era tão ruim. Miguel estava feliz por estar conseguindo uma aproximação cada vez maior de sua amada. Porém, o fato de ter uma colega reprovadora bem do lado não era nada animador. Apesar disso, estava aproveitando ao máximo aqueles momentos de intervalo. Ora, quando mais ele teria a oportunidade de conversar com ela dessa maneira? Enquanto aproveitava seus momentos de felicidade interior, Miguel dá uma olhada no pátio. Não era o Leandro ali conversando com uns outros caras? Na certa, ele percebeu que Miguel estava em um bom momento e não quis atrapalhar. É. Era bem possível. E ali do outro lado não era a Camila conversando com o Toni? Ela mesma. O quê? Peraí, ainda conversando com o Toni? Isso não era um bom sinal...não mesmo!
    Os minutos de intervalo não demoraram muito para passar. Logo, o sinal toca e as aulas recomeçariam. Mas Miguel considerou aqueles poucos momentos significativos. Claro, com exceção da conversa particular que teve com a Paula. O ex fingia que gostava dos mesmos livros, mas só lia Agatha Christie? Ela não deu lá um exemplo muito bom, mas Miguel entendeu a situação. Será que ele estava fazendo o mesmo? Se ele começasse a fazer e pesquisar coisas como teatro e arte (que eram um saco para Miguel, embora reconhecesse o valor de todas essas coisas) não estaria indo contra ele mesmo? Mas isso seria uma forma de agradar a pessoa amada. Afinal, quando se ama o outro, busca-se a felicidade do outro, mesmo que envolva ferir o próprio orgulho. Mas isso não seria uma mentira para a outra pessoa? Pelo menos era o que Paula achava. Claro, o ex dela não devia ter contado desde o começo. Se Miguel contasse sobre suas preferências para Danieli a história poderia ser diferente. Só que não havia muitas brechas para isso...pelo menos, o rapaz deixou a entender que tinha algum interesse nas mesmas coisas que ela, sendo que na verdade...eram pessoas de gostos bem diferentes.
    Ao chegar na sala, Miguel e as meninas voltam para seus lugares. Camila também chega junto com seu novo amigo, no maior papo. Miguel ainda estava preocupado com isso. Aqueles dois...estavam se dando bem demais. Não demora muito, Leandro chega
    - E aí? Tava te vendo no intervalo...tá ganhando a mina, heim? - o amigo provoca
    - Que nada. No máximo, estou conseguindo ficar mais amigo dela - explica Miguel
    - Amigo, é? Só cuidado para não ficar amigo demais
    - Como assim?
    - Você sabe. Se ficar muito nesse negócio de amiguinho pra cá, amiguinho pra lá, ela vai acabar só te vendo como isso mesmo. Pior: se ela arranjar um namorado ainda é capaz de você ser o primeiro a saber!
    - Que droga
    - Por isso é melhor você deixar suas intenções mais claras
    Miguel para e pensa mais um pouco
    - Minhas intenções mais claras...- o garoto repete
    - A menos que você queira falar que gosta dela na lata. Mas aí é mais arriscado!
    - Acho que não teria coragem para fazer uma coisa dessas
    - Hehe. Não é muito a sua cara
    - Hmmm
    - O que foi? Pode falar. Tô aqui pra isso
    - Mas acho que ser só amigo dela também não deve ser tão ruim
    - Hã? Como assim? Vai desistir, Miguelito? Assim do nada?
    - Não...é que eu só estava pensando
    - Pensando em que?
    - Somos muito diferentes
    Leandro faz uma pausa, mas continua
    - Diferentes? - repete ele - Diferentes onde? Vocês dois são quietos e tiram notas maiores que as minhas. Pra mim já tão mais que combinando!
    - Não é tão simples assim! Nossos gostos são diferentes!
    - Até aí...você gosta de ouvir metal, eu prefiro eletrônica. E nem por isso a gente não se dá bem
    - Opa, calma aí! Não compara desse jeito também não
    - Hã? Que é isso? Tá estranhando, Miguel? Só quis dar um exemplo. Diferenças todo mundo tem
    - No caso as diferenças são um pouco gritantes demais. Ela gosta de teatro, literatura e arte. Eu fico o dia inteiro jogando no PC, vendo vídeos idiotas na Internet e dormindo. Você ainda acha que combina?
    - Se é assim...por que você se interessou por ela?
    - Eu não sei. Apenas me interessei
    - Sei
    - Sei lá. Não tenho a menor confiança de que esse relacionamento daria certo. Seria muito difícil...
    - Já entendi
    - Entendeu o que?
    - Você não quer compromisso, tá querendo só pegar a mina, curtir e sair fora, né, seu safado?
    O problema é que esse "seu safado" saiu mais alto do que o esperado e bem na hora que o professor de Química entra na sala
    - Algum problema aí, seu Leandro? - pergunta o professor
    - N-Não - diz Leandro meio sem-graça - Pode começar a aula, professor
    "Esse cara não tem jeito", pensa Miguel, "E todo mundo olha pra cá. Mas que droga..."
    E o resto da manhã correu normalmente. Como já imaginava, conversar com Leandro não era lá muito produtivo, mas, no fim, ele disse algumas coisas proveitosas. "Muita amizade pode ser perigoso", pensava Miguel enquanto guardava suas coisas para ir embora, "Será mesmo? É melhor ela me ver como amigo do que me ignorar". Danieli ainda estava ajeitando as coisas. Deveria ir lá se despedir dela? Bem, teria que passar pela porta de qualquer jeito.
    - Tchau, Danieli...até amanhã - diz o garoto timidamente, ao passar perto dela
    - Tchau, Miguel. A gente se vê - se despede a menina, com um beijinho de cumprimento que pega Miguel desprevinido. Por algumas frações de segundo ele ficou sem saber o que fazer. Um beijinho no rosto? Normalmente amigos se cumprimentam assim. Isso significava...que já podia se considerar amigo dela? Parece que a relação tinha evoluído de alguma forma. Foi o suficiente para deixar Miguel feliz da vida
    - Tchau - diz a voz seca de Paula, que estava ali querendo expulsar o moleque.
    - T-Tchau - responde Miguel, também sem muito ânimo. Já tinha esquecido daquela menina.
    Ao sair da sala, Miguel encontra Camila e Leandro. Camila finalmente tinha saído um pouco de perto daquele Toni. Bem lembrado. Era hora de perguntar algumas coisas. De uma forma ou de outra, os dois teriam que voltar juntos para casa, não é? O trio sai da escola e vai junto até um cruzamento. Ali, Leandro se despede (ao que parecia ele tinha que passar em algum lugar). Agora seriam só Miguel e Camila. A loirinha estava cantarolando alguma coisa, até Miguel, finalmente, tomar a iniciativa
    - E então?
    - Então o que? - pergunta a prima
    - Você tem alguma coisa pra me falar, não tem?
    - Eu? Não, porque?
    Camila falava isso em um tom suave, com uma ironia perceptível apenas para quem a conhecia bem.   
    - Algo como...aquela pergunta na aula de Filosofia?
    - O que? Sobre amor platônico?
    - É. Isso. Por coincidência bem depois de a gente ter conversado sobre a Danieli e eu, não é? Por que você fez aquela pergunta? Foi só pra me fazer sentir mal?
    - Claro que não. Você tá viajando! Eu só queria saber mais um pouco sobre o assunto, só isso! Se você interpretou errado, me desculpe.
    - Olha, eu posso até ser ingênuo e infantil, mas eu percebi que você estava diferente hoje
    - Eu? Diferente? Miguel, você tá viajando mesmo
    - Viajando, é?
    Camila sai andando na frente, e ao que parecia, não estava mais nem ligando para as neuras do primo
    - E o Toni? Você tem alguma coisa a dizer sobre ele
    Camila para de andar. Parece ter tocado em algum ponto dela.
    - Como assim? O que o Toni tem a ver? - diz ela voltando-se para trás, aparentemente indiferente, mas com um certo incômodo difícil de perceber.
    "Agora sim", pensa Miguel, "Agora eu descubro onde você está se metendo!"


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