Entre o Perfeito e o Proibido escrita por bellinhaborges


Capítulo 5
Capítulo 3 - Aproximações e Atritos - Parte II




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Capítulo 3 - Aproximações e Atritos Parte II

 

Ino acompanhava Gaara com o coração aos pulos pelos corredores. O silêncio que se estabelecera entre os dois era quase sepulcral e o clima estava tenso demais para que ela se arriscasse ao menos a encará-lo.

Ela caminhava olhando para os próprios pés, raramente lançando olhares aos corredores para saber o que estava à sua frente. Tentava se distrair do nervoso e da tensão que aquele garoto lhe provocava mergulhando em seus pensamentos enquanto andava, mas a respiração pesada dele ao seu lado e o barulho de seus passos ecoando pelo corredor vazio sempre a traziam de volta.

Aos poucos, ela foi se dando conta de que estava completamente hipnotizada por ele. Por mais que ela pensasse estar atenta às coisas à sua volta, a única coisa em que prestava atenção era à respiração e aos movimentos dele. Isso era algo que ela não queria admitir, mas fora obrigada a fazê-lo assim que entraram num dos corredores escuros.

- Pode deixar, Asuma-san. - disse uma voz masculina que parecia estar falando ao telefone, aproximando-se juntamente com um ponto de luz que vinha na direção deles.

Como não pudera perceber o som de passos e vozes antes? Sim, tinha que admitir que novamente aquele estranho garoto estava exercendo uma enorme influência sobre ela. Se não fosse pela situação em que se encontravam, Ino teria amaldiçoado até a décima sexta geração da família de Gaara por ele conseguir fazer isso com ela. Mas eles estavam em num dos piores locais daquele colégio e completamente cegos pela escuridão.

Ino sempre fora uma garota segura, decidida e extremamente orgulhosa. Porém, devido à um trauma em seu passado, ela adquirira alguns medos que julgava infantis e tentava escondê-los à todo custo. Escuridão era um deles. O que mais a intrigava é que ela não conseguia se lembrar da origem desses medos, assim como não conseguia lembrar de nada que acontecera em sua vida antes dos seis anos de idade. Mas alguns medos, como certos olhares, escuridão e ser trancada em algum lugar sozinha insistiam em permanecer.

No entanto, algo mais a preocupava ali. Ela conhecia aquela voz que falava ao longe de algum lugar, mas também não conseguia se lembrar. A única certeza que tinha era de que a voz pertencia à um dos funcionários da escola, mas como passara as férias fora, se esquecera de alguns deles.

Aos poucos, o som dos passos foi ficando mais forte e o ponto luminoso foi chegando mais perto. O coração de Ino disparou e ela quis amaldiçoar Gaara mais ainda por querer ir ao almoxarifado, pois os únicos corredores que davam para o local eram os mais decadentes da escola, cheirando mofo e sem nenhuma iluminação.

Ino, diante da situação, apertou o passo. No entanto, quando já estava à uns 5 metros de distância no começo do corredor, notara que o barulho dos passos de Gaara sumira, restando apenas aqueles passos arrastados que se aproximavam no fim do corredor e os seus próprios. Em seu desespero para sair dali, Ino quase gritara, mas algo lhe dizia que gritar não seria uma opção viável no momento.

Voltou correndo, o mais silenciosamente que pôde, tateando o lugar a sua volta à procura do garoto. Após alguns momentos sem encontrá-lo na escuridão, desejou dar meia volta e deixá-lo ali sozinho. Mas, antes que fizesse isso, esbarrou em algo que ela julgou ser uma mesa em carvalho antigo, que balançou e fez um ruido ensurdecedor de sua madeira pesada em atrito com o piso de mármore. Como se já não bastasse, ela

- Quem está aí? - perguntou a voz misteriosa, agora apreensiva no corredor. Com o barulho que acabara de fazer, quem quer que estivesse ali se assustara e parara de conversar tranquilamente em seu telefone, agora caminhando rapidamente em sua direção.

Ino desejou desaparecer naquele momento. Não sabia para onde correr, não tinha para onde fugir. Não sabia como explicar o que estava fazendo ali, pois ninguém acreditaria que Yamanaka Ino estaria indo à um almoxarifado. Naquele corredor escuro e mal cheiroso e ainda por cima com um garoto novato, aqueles hipócritas daquela escola nunca acreditariam nela e ainda teriam todas as condições à seu favor para acusá-la de mau comportamento, o tipo de coisa que era punido severamente.

Derrotada, Ino, apenas fechou os olhos e esperou que o homem a encontrasse. Não soube exatamente por quantos minutos havia ficado parada ali, mas não foi por muito tempo.

Antes que um jato de luz vindo de uma lanterna que estivera o tempo todo na mão do homem iluminasse o local onde estava, ela sentiu uma mão agarrando seu pulso e a arrastando dali. Ino teve tempo somente de ver o homem pegar sua lanterna e iluminar a própria face, na expressão mais assustadora que ela já tinha visto. Não acreditava como pudera esquecer o rosto do inspetor Tenzou, mais conhecido por Yamato.

Mas não pôde observar por muito tempo, pois fora empurrada às pressas dentro de um local ainda mais escuro que o anterior e ouvira o som de uma porta se fechando. Completamente atordoada, Ino encostou-se à uma das paredes e deixou que seus joelhos cedessem e que seu corpo deslizasse lentamente pela superfície da parede, caindo sentada no chão.

- Você pode me explicar o que está acontecendo? - perguntou uma voz fria e áspera ao laso dela, quase fazendo-a saltar de onde estava de susto.

- G-gaara? - perguntou ela, tentando juntar 2+2.

- Quem mais você achou que poderia ser? - perguntou ele sarcástico, mas ela não lhe respondeu, então ele continuou - Tem certeza de que você estava me levando para o lugar certo?

Ino refletiu um pouco sobre a pergunta dele e demorou para absorver suas palavras, de tão incrédula e absurdo que parecia aquilo. Por que motivo ela o levaria à um dos lugares que ela mais odiava naquele colégio, arricando-se a ser pega?

- Yamanaka? - chamou ele, impaciente.

- Se duvida tanto de mim, vai sozinho então. - respondeu ela, asperamente.

- Então tá. - retrucou ele, sem nem ao menos alterar seu tom de voz.

Logo em seguida ela ouviu passos se aproximando dela, mas eles logo se distanciaram, indo na direção de uma pequena nesga de luz que vinha debaixo da porta. Logo depois se seguiu um barulho da fechadura girando, mas nada acontecia. O barulho foi ficando mais alto e impaciente, mas a porta não se abria. Gaara, começou então, a golpear a porta, mas devido à um ruído de passos nos corredores, ele se decidiu que aquilo não era a melhor coisa à se fazer.

- O-o que aconteceu? - perguntou Ino, temendo a resposta. - Nós n-não estamos t-trancados, né?

- Se você ouviu, pra que pergunta? - respondeu ele secamente, visivelmente irritado.

- NANI? Nós estamos TRANCADOS? - gritou ela, começando a se descontrolar.

Ino vislumbrou o ambiente fechado e escuro e viu flashes de seu passado em câmera lenta em sua frente. Para dar mais vivência ainda aos fantasmas de sua mente, sentiu uma mão tampar sua boca rapidamente, para que parasse de gritar. Igual à uma situação que já vivenciara.

- INO! INO! PÁRA! - gritou Gaara, desesperado, tentando desvencilhar-se dos tapas da garota.

- Me solta! Eu quero ir pra casa. - gritava ela, debatendo-se e tentando acertá-lo de todas as formas possíveis, tão desesperada que estava, nem prestava atenção no que fazia.

Somente depois que Gaara a segurou pelos pulsos e os travou como algemas contra a parede é que ela conseguiu se acalmar, vencida pelo cansaço e com a respiração ofegante misturando-se à dele, devido à sua prossimidade.

- O que é que deu em você, garota? - perguntou ele, aturdido. - Você é louca, é?

Havia apenas o barulho de suas respirações ofegantes naquele aposento. Porém, mesmo que detestasse o silêncio, Ino estava atordoada demais para dizer algo.

- Nós apenas estamos "trancados", isso acontece com todo mundo. - repreendeu ele, com a raiva eminente em sua voz. - O QUE É QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA PRA FAZER UM ESCÂNDALO DESSES? - gritou, mas se arrependeu depois que Ino começou a soluçar sem parar e ele pôde jurar que viu o brilho perolado de uma lágrima escorrendo por sua face. - Ino, eu...

Mas ela permaneceu em silêncio, apenas voltando seu rosto para baixo e desconectando a respiração de ambos. Vendo isso, Gaara afrouxou o aperto em seus pulsos e ela deixou que eles caíssem soltos em seu colo.

- Gomem, Ino. - desculpou-se ele, atordoado. - Desculpa por ter gritado com você ou por ter te machucado, essa não era a minha intenção e... - mas calou-se ao constatar mais uma vez que a garota não emitia som algum além de seus soluços e de sua respiração descompassada. Derrotado, ele apenas saiu da frente dela e foi sentar-se em um canto distante daquele lugar, com o intuito de esperar até que aquele homem desaparecesse dali, para poder gritar por socorro.

*****

- Haruno! - chamou uma voz áspera e indiferente à ela, acordando-a de seus pensamentos.

- O q-que foi, Sasuke-kun? - perguntou ela, desconcertada.

- Você está indo na direção errada. - respondeu ele simplesmente, mas ainda demorou um tempo para ela absorver a informação e dar um salto ao perceber que estava prestes a virar em uma porta e entrar no banheiro masculono.

- G-gomem, Sasuke. - disse, envergonhada, querendo enfiar a própria cabeça em um vaso sanitário e dar descarga no momento.

- Está bem, mas vamos então. - pediu ele, indo à frente.

- H-hai!

Direita, esquerda, um pátio, mais um corredor e, por fim, a sala de Senju Tsunade.

- Mas, Tsunade-sama, a senhora precisa assinar esses documentos senão...

- SHIZUNE! - gritou a mulher, do lado de dentro de uma sala, cuja porta estava trancada.

- H-hai! - respondeu a outra, com a voz trêmula.

- Em primeiro lugar... NÃO ME CHAME DE SENHORA! - berrou Tsunade. Com uma voz mais calma, continuou. - Eu já lhe disse que, quando voltar da reunião, eu assino.

- Mas, Tsunade-sama... - tentou a outra.

- Já está decidido. - disse a mulher, tentando se esquivar do assunto.

- Tá, tá certo então. - disse Shizune, dando-se por vencida. Um sorriso iluminou a face de Tsunade.

- Que bom, então Shizune. Escute... - e diminuiu o tom da voz. - Tem mais algo para eu fazer aqui, além de ler e assinar toda essa papelada?

- Bom, Tsunade-sama, agora há pouco veio uma enfermeira aqui procurando um remédio para dar à uma garota que recebeu uma bolada na aula de educação física, mas eu lhe disse que nosso estoque do remédio acabou, mas lhe dei o endereço de uma farmácia....

- SHIZUNE! - gritou Tsunade.

- H-hai, Tsunade-sama! - respondeu ela, de imediato.

- Você não sabe que a farmácia mais próxima que temos daqui fica à 50 quilômetros de distância? - perguntou a mulher, fazendo os cabelos de Shizune se arrepiarem.

- Gomen, Tsunade-sama, mas eu achei que isso era o melhor a ser feito e...

- Tá certo, esqueça isso. - tranquilizou-a. - Mesmo que a enfermeira provavelmente só chegue amanhã, nós temos nossos próprios assuntos pendentes aqui, né?

- Sim, sim.

- Então, acho que podemos começar com... - mas foi interrompida por uma batida na porta.

- Quem gostaria? - perguntou Shizune.

- Haruno Sakura! - respondeu uma voz animada do outro lado.

- Uchiha Sasuke. - disse um garoto de voz fria, quebrando o clima.

- Entrem, entrem.

- O que querem? - perguntou a loira.

- Eu... - começou Sakura.

- Eu preciso conversar sobre um assunto com você, diretora.

- Pois bem, Sasuke. - disse ela, esperando que ele falasse.

- Eu preferiria que fosse em particular. - respondeu ele, lançando um olhar para Sakura e Shizune, que perceberam e logo deixaram a sala.

- Sakura, ele é frio assim mesmo? - perguntou a morena de cabelos curtos e repicados.

- Infelizmente é sim, Shizune-san. - respondeu a rosada, suspirando e encarando o chão.

- Que garoto estranho... Mas, não tenho tempo pra ficar prestando atenção nele. Preciso resolver uns assuntos antes que sobre para Tsunade-sama. Se algo mais acontecer nesse colégio, acho que ela vai acabar me matando.- disse a morena, trêmula. - Pode esperar nessa salinha aqui, sentada naquele sofá com almofadas de veludo vermelho, ao lado da porta. - e, atravessando o vão de uma porta de vidro, despediu-se - Ja ne.

- Ja ne, Shizune-san. - disse Sakura, empolgada.

Caminhou em direção ao sofá e sentou-se entre as almofadas. O lugar era aconchegante, mas ela não estava com vontade nenhuma de ficar ali. Estava contando os minutos para que Sasuke saísse daquela sala e eles fossem juntos até o refeitório.

Porém, antes que ela pudesse pensar em mais nada, o som de gritos vindos da sala da diretora invadiu seus ouvidos. Movida por uma curiosidade irrefreável, ela caminhou cuidadosamente até a porta e encostou seu ouvido na mesma.

- O que significa isso, Uchiha Sasuke? - perguntou a diretora, exasperada.

- Eu apenas preciso desses documentos, Tsunade-sama! - pedia ele fervorosamente, começando a ficar alterado. - Você não sabe o quanto eu preciso deles!

- Sinto muito desapontá-lo, mas eles são confidenciais e eu não pretendo entregá-los à você por motivos tão fúteis como uma vingança tola. - respondeu a mulher firmemente.

- O que você sabe da minha vida pra dizer isso? Você por um acaso SABE ALGUMA COISA DA MINHA VIDA? - gritou ele, completamente alterado, algo que deixou Sakura incrédula do outro lado da porta. Jamais ela o vira alterado, em hipótese nenhuma, não importava o que acontecera.

- Já chega, Uchiha. Pode se retirar. - pediu a diretora, encerrando o assunto.

Antes que Sakura pudesse raciocinar, a porta fora aberta com um baque, quase a derrubando, e um rapaz corpulento e alto, de cabelos rebeldes e negros saiu de dentro dela.

- Sasuke-kun... - disse Sakura, sem compreender o que estava acontecendo. - O que acontec...

Mas nesse momento ele explodira. Fechara a porta do escritório da diretora num baque surdo e empurrara Sakura com tudo na parede, encurralando-a com os braços, cada um de uma lado de seu corpo e encarando-a com os olhos tomados pela fúria.

- Sasue-kun...! - disse ela, com medo da reação repentina dele. - Você... O quê ... O que está acontecendo?

Mas a única resposta era o olhar fulminante e carregado pelo ódio e pela raiva que passara na sala da diretora momentos antes. Após se dar conta do que estava fazendo, suspirou e deu um passo para trás, deixando o caminho livre para Sakura sair dali.

- Desculpe. - pediu ele, friamente.

- Não precisa se desculpar... - respondeu ela, desconcertada.

- É... Bom, até mais. - disse ele e logo depois saiu da salinha de espera, sem nem ao menos olhar pra trás, deixando Sakura aturdida e com seus olhos verdes arregalados de surpresa.

- SAKURA! - gritou a diretora, por trás da porta. - VOCÊ AINDA TEM ALGO PRA TRATAR COMIGO?

- H-HAI, TSUNADE-SAMA! - respondeu ela, correndo para dentro da sala da mulher.

- Pois então, diga. - solicitou a loira, com um sorriso angelical falso em seu rosto.

- Ah, Tsunade-sama, eu estava interessada no curso de medicina e...

- Até que enfim, alguém se interessou! - respondeu ela, em tom de alívio. - Achei que ninguém fosse querer fazê-lo... Bem, pode pegar um desses formulários aqui - e estendeu-lhe um masso de folhas grampeadas. - Aqui estão todos os quesitos e as regras. É só preenchê-lo e me entregar na data prevista.

- Arigatou, Tsunade-sama! - agradeceu Sakura, já saindo da sala feliz. - Ja ne!

- Ei, Sakura, espere! - pediu a mulher e Sakura parou de súbito no meio do caminho. - Você é amiga do Uchiha, não é?

- Eu? Bem, eu... - como ela iria responder àquela pergunta? - Er, eu...

- Posso lhe pedir uma coisa? - perguntou a mulher, com um semblante preocupado. - Não deixe que ele prossiga com as coisas absurdas que ele anda tramando, isso só será ruim para ele. Acho que eu já não consigo fazer mais nada em relação à isso, mas sinto pesar em deixar a situação prosseguir, simplesmente. Pode fazer isso, Sakura?

- E-eu...

- Que bom! - respondeu a loira, sorrindo. - Pode ir, antes que o almoço acabe. Sayonara, Sakura! - e se levantou da cadeira, conduzindo a garota, desconcertada, até a porta.

pôde ouvir em câmera lenta algo que ela deduziu como sendo um vaso antigo de porcelana, rodar erroneamente pela superfície da mesa e se espatifar no chão num baque surdo, sem poder fazer nada.


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