Silent Town escrita por Jhay


Capítulo 12
Capítulo 12




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10 de julho de 2012. 09h44min

 Não conseguia acreditar. Abriu e fechou os olhos varias vezes para saber se era real ou não. Beliscou o braço e sentiu a dor. Era real. E ele estava ali. Bem ali, na sua frente, olhando para ela com ternura e pesar.

  – Leon!!! - gritou sorrindo - É você mesmo?

  – Shh! Pare de gritar - correu até ela sussurrando - Eles podem te ouvir, sabia? Vamos sair daqui, rápido!

 Alyce estava com dificuldade de se mexer, seus sentimentos de alegria, tristeza e terror se misturavam estranhamente. Não sabia o que fazer. Não queria deixar os restos de Kaio ali, jogados à esmo, mas também queria seguir Leon e não perdê-lo de vista nunca mais. Olhou para a massa vermelha espalhada no chão.

  – Alyce! Ele não é o Kaio! - disse com convicção.

  – O que? Do que está falando? Esse é ele sim. Olha os cabelos e os olhos...

  – Olhe para cima - ele sustentou seu olhar por um momento até que Alyce resolveu olhar para cima.

 Um pássaro cor de petróleo gigante de rabo extenso estava sobrevoando o lugar.

  – Um pássaro grande, e dai? - olhou de volta para Leon sem entender.

  – Olhe de novo com mais atenção! - disse impaciente.

 Agora via realmente. Era um pássaro cor de petróleo de rabo extenso, mas tinha algo a mais. Seu bico era grande e fino como uma tesoura acompanhados de muitos dentes pequenos e finos, seus olhos eram completamente vermelhos, suas garras eram afiadíssimas. O pássaro guinchou e deixou a mostra um pedaço de carne, talvez do ser despedaçado ao lado de Alyce.

  – Não entendi, por que disse que esse não era Kaio?

  – Esse pássaro lê em sua mente a pessoa que você mais está pensando e a transforma em uma ilusão. Esse monte de massa vermelha e deformada não é Kaio, bem, é uma pessoa sim, mas não Kaio. Agora que você sabe disso olhe novamente para esse ser. Você vai ver que é outra pessoa, porque a ilusão não funciona mais.

 Alyce olhou. O rosto deformado não era de Kaio. Ele estava certo. Era alguém diferente dele. Tinha cabelos brancos, olhos esbranquiçados e dentes pobres, parecia que já tinha morrido há tempos.

  –  Deve ser o corpo de algum morador da cidade. Agora vamos logo antes que apareça mais desses caras! - pegou em seu braço e a levantou com um puxão gentil.

 Ela não ficou relutante, deixou que ele a guiasse por algum caminho longe dali. Seguiram por uma rua adjacente. Não tinha certeza para onde devia ir, mas o importante era que Leon estava com ela. Ficou tão aliviada por saber que aquele não era o corpo de Kaio. Tinha esperanças. Pensou ter ouvido algo. Olhou para trás. Arregalou os olhos

  – Ah  meu Deus!!! Não olha pra trás!- Cravou as unhas no pulso de Leon e o puxou para que corresse junto dela - Não olha! Corre!!!

  – Mas o que... - olhou para trás e não completou a frase, se empenhou em correr.

 Era uma horda de fantasmas e monstros diabólicos que avançavam em direção aos dois. Grunhiam e lamentavam. Eram muitos. Alyce não queria olhar para trás, tinha uma terrível impressão de aquelas coisas se aproximavam a cada instante. Leon virou na rua a direita e depois a esquerda. Estava tentando andar em ziguezague para tentar despistá-los, mas era complicado. Seus pulmões logo, logo iriam pedir por uma quantidade de oxigênio que não poderia respirar. Olhou para Leon que estava um passo à sua frente. Os cabelos negros batiam na testa suada e voavam em volta do rosto acompanhando a corrida. Alyce foi puxada bruscamente para a direita. Os dois ficaram espremidos em uma fenda entre um prédio e outro, ocultos pela escuridão. Eles ouviram os seres se aproximarem. Leon colocou a mão na boca de Alyce e ela cobriu a mão quente com sua mão fria. Não parava de tremer.

 Ficaram naquela posição por pelo menos dez minutos até terem certeza de que não tinha mais ninguém. Se esconderam dentro de um dos prédios, ficando no hall de entrada em baixo do balcão de recepção. Respiração com dificuldade tentando não fazer barulho.

  – Leon... - ela tinha medo de falar alto.

  – Diga - parecia que ele também.

  – Como... Onde você esteve? - seu tom de voz misturava medo e alivio.

  – Bem... É meio complicado de explicar... Digamos que uma mulher me pegou lá na casa onde nós estávamos e me levou para um outro lugar. Era um porão estranho e sinistro. Ela me explicou o que estava acontecendo. No começo eu não acreditei, mas quando vim aqui pra fora e vi aqueles monstros... Finalmente acreditei.

  – A mulher... Ela... Ela era um fantasma?... - tinha medo da resposta, não sabia o porque.

  – Não... Na verdade ela me disse que era uma bruxa. Me contou sua história.

  – História?

  – É... Ela me contou que... - ele se interrompeu no meio da frase.

 O rosto ficou pálido, olhos imóveis, a boca meio aberta e engolia em seco. Alyce quis perguntar o que era, mas ele colocou o dedo indicador em seus lábios e apontou com a outro mão alguma coisa de frente para ela. Alyce girou a cabeça 90 graus vagarosamente. No primeiro momento ficou assustada com o espectro na sua frente, mas quando percebeu quem era relaxou os músculos tensos. Soltou o ar que segurava.

  – Que susto você deu - colocou a mão perto do coração.

  – Desculpe-me, mas um ser como eu às vezes faz isso - os lábios finos se abriram em um sorriso de dentes brancos.

 Novamente estava de cócoras com as mãos sobre o joelho. Os cabelos negros em contraste com a pele branca caiam vez por outra perto dos olhos. Os olhos negros fitavam os azuis de Alyce.

  – O que você está fazendo aqui?

  – Eu que deveria perguntar isso. Garota, você deveria ter aberto a caixa lá na praça!

  – Eu sei! Mas não sei se percebeu, a praça estava infestada daquelas coisas, Anne foi comida por um ser demoníaco e eu vi um corpo dilacerado que me iludiu. Não tinha como abrir lá! Queria que eu morresse?! - sussurrou tentando não gritar.

  – Você está certa... - disse olhando para baixo e fazendo um circulo imaginário no chão com o dedo indicador - Não dava... Mas é que eu estava tão ansioso para finalmente me libertar desse inferno que nem me dei conta da situação perigosa na qual vocês estava, perdoe-me.

  – Tudo bem. Eu te entendo. Também estou doida pra sair daqui o mais rápido possível.

  – Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? - Leon se recompôs.

  – Ah, claro! Leon esse é...

  – Mathews, prazer em conhecê-lo, Amélia disse que estava protegendo você.

  – Então você a conhece?

  – Ela mantêm todos aqueles que "alma pura" a salvo dos outros. Ela te contou sobre...

  – Contou.

  – Contou sobre o que? Por favor, não me excluam!

  – Desculpa, Alyce - olhou para ela - Amélia é a bruxa que me levou da casa onde estávamos inicialmente. Quando cheguei lá ela me contou tudo. Contou que fizeram mal a filha dela e fizeram um ritual macabro que deu errado. O demônio Regnatimalus foi despertado e depois ele deixou o corpo e assombrou a cidade. Acho que foi isso mesmo.

  – Então... - Alyce foi interrompida pela entrada principal de vidro que se estilhaçou.

  – Você roubou! ­- vozes foram misturadas - Entregue o que é nosso por direito! - era a horda de seres que entrava pelo prédio.


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