O Desconhecido escrita por ChatterBox


Capítulo 2
2 ¨°¨ Chocada


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores(as) (fantasmas por enquanto)!
Espero q estejam gostando da fic, finalmente a coisa vai ficar interessante, tomara q n se assustem com a personalidade do Anthony... É bem forte.
Boa leitura,
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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Paris era uma das minha cidades favoritas. Mas daquela vez, parecia ter perdido toda a sua magia. Eu segui calada para todos os lugares, como forma de protesto para o meu pai.

Ele fingia que não entendia, mas vez ou outra inflava o pulmão de ar, ao me ver quieta e sisuda num canto. Eu sabia que ele não queria me deixar triste, mas ele simplesmente não sabia abrir mão das suas ordens para me deixar feliz. Tentava não gritar comigo, não me aborrecer, mas sempre que eu negava qualquer escolha dele, ele explodia.

Minha mãe me encorajava, me dizia que tudo iria ficar bem, e que com o tempo eu gostaria de Anthony.

Eu sabia que não, e ainda iria recorrer a ajuda dela, eu sabia que com um tempo ela iria acabar ficando preocupada e iria me dar apoio. Mas por enquanto, eu tinha a difícil tarefa de ser gentil com toda a família Chevalier. Por quê? Se o meu “noivo” não gostasse de mim, não poderia descobrir se ele concorda com o casamento e ver se consigo que ele recuse o noivado, seria tudo mais simples se eu conseguisse, só precisava me esforçar um pouco.

Quando fomos a casa dos Chevalier, eram três da tarde. A casa deles era parecida com a minha, o que me deixou mais confortável. Semelhante à uma casa de verão de uma família nobre. O jardim botânico extenso na frente, a casa grande atrás. Mas era com certeza muito maior que a minha.

O terreno era muito grande, e se seguisse mais para a esquerda no jardim, haviam mais espaços de lazer, piscina e coisas que eu não me atreveria a imaginar. Era realmente parecido com um castelo.

Esperamos na entrada do jardim quando eles vieram nos receber. O pai de Anthony, amigo de meu pai, era sorridente, tinha cabelos grisalhos e vestia uma roupa muito bem engomada, parecida com um roupão de magnata. Veio ao lado da mulher, uma loira magra e alta, que tinha a cabelo preso num penteado chique, vestindo um vestido amarelo de camurça. Anthony estava ao lado, não prestei muita atenção nele até que se aproximou.

Sr. Chevalier abriu os braços para tomar meu pai num abraço amigável:

 - Robert! – saudou, os dois abraçaram-se às risadas. Minha mãe cumprimentou a Sra. Chevalier. – é tão bom receber amigos na minha casa, quanto tempo!

Enquanto eu ainda estava desconfortável, esperando que toda aquela apresentação terminasse, e Anthony estava na mesma. Nos entreolhamos durante breves minutos. Não conseguia enxergar seu rosto direito já que o sol estava batendo direto no meu olho. Mas a primeira coisa que reparei foi que era alto e atlético. Tinha cabelos pretos e quando seu olhar cruzou com o meu, curvou um sorriso um tanto malandro.

 - E não podemos nos esquecer do pilar da família! – Sr. Chevalier, que meu pai chamou de “Albert” voltou-se para mim. Forcei um sorriso, esperava que tivesse convencido. – Anna Bethany!

Estendeu a mão para mim, quando estendi a minha fui surpreendida quando ele se inclinou e beijou-a, num gesto bastante formal.

 - Encantado.

Sorriu, cordial. Eu tentei parecer estar me sentindo bem com aquela situação, geralmente, eu era muito boa em fingir estar feliz e ser educada, por conta dos diversos eventos empresariais em que meu pai sempre me levou e exigia que eu fosse sempre simpática. Mas daquela vez, não estava funcionando, a tristeza era tanta que mesmo tentando muito, ela ainda transparecia.

 - O mesmo.

Respondi, timidamente.

 - Este é o nosso filho. – Sra. Chevalier apresentou Anthony, a mim. – Anthony Louie Chevalier.

Desta vez consegui enxergar um pouco mais, e tive certeza de que o sorriso que esbanjava, era realmente digno de um paquerador barato, o que não era nada bom. Apertamos as mãos e ele disse um pouco sério:

 - Prazer em conhecê-la.

 - O prazer é todo meu.

Menti.

 - Vamos para a nossa mesa de chá logo adiante, vocês podem ir se conhecendo no caminho, tenho certeza que vão ter muito o que conversar.

Albert chamou, seguindo pelo jardim no caminho da direita. Os nossos pais foram na frente, e eu fui obrigada a caminhar com aquele desconhecido atrás, por mais que me sentisse pouco à vontade com isso.

Suspirei. Ótimo, o meu “futuro noivo” aparentava ser um soberbo arrogante, o que só deixava tudo pior. No momento em que consegui vê-lo melhor, já tinha certeza que minhas esperanças de ter a ajuda dele tinham ido por água abaixo. Ele estava achando tudo muito divertido pelo que me parecia.

 - Chá da tarde...- puxei conversa, já que estava ali, não iria perder a oportunidade de talvez estar enganada sobre o sujeito. – Parece que a sua família também é bem clássica. Só de arranjar um casamento para nós, já é bem notável que parecem ter ficado presos nos costumes do século passado.

Ele riu de lado, brevemente. Tinha as mãos nas costas e vestia um suéter de marca. Toda a família tinha um sotaque francês muito chique.

 - Meus pais são muito conservadores. – contou, o jeito dele de falar parecia sempre tentar seduzir você. – Nunca aceitariam o fato de que eu não pretendo me casar. Então esse casamento arranjado foi perfeita. Pelo menos parece que nós estamos concordando, não é? – franzi o cenho, sem entender muito bem. – Nós dois temos que nos casar para seguir a tradição da família, mas não significa que precisamos nos comprometer.

Encarei-o um pouco confusa. Alguma coisa no jeito dele de falar, estava sendo muito rude. Como se estivesse achando um fardo ter de casar comigo, mais uma obrigação do que um desejo. Eu não precisava que ele fizesse nenhuma caridade se comprometendo comigo, o que ele pensa que eu sou?

 - Mas não precisa se casar comigo por obrigação.

Avisei. Quando disse isso ele hesitou e soltou uma baforada densa, como se tivesse acabado de descobrir algo ruim.

 - Ah não... – suspirou. – Você estava mesmo querendo me conhecer, não é? É óbvio que você concorda com o casamento arranjado, olha pra você. Parece mais uma princesinha, um cachorrinho treinado do que uma filha... – fiquei boquiaberta quando disse isso, estava irritado comigo como se tivesse acabado de arranjar um fardo.- Toda educadinha, com esses vestidinhos de lady... – fechou os olhos, impaciente. – No que eu fui me meter?

Balançou a cabeça, arrependido. E estava ignorando completamente o que eu estava achando daquilo tudo, estava mais falando com sua consciência do que com uma pessoa, no caso eu, que estava extremamente ofendida. Ele era um grosso!

 - Escuta, eu agradeceria muito se você tivesse mais respeito por mim e por minha família. Eu não concordo com esse casamento.

Esclareci, tentando continuar controlada. Ele não teve qualquer reação, me fitou com certo descaso, pouco ligando para o que eu estava falando.

 - Não, não, não é nada contra você, é só que eu não pretendia ter que aturar uma filhinha do papai durante um mês, achei que fosse somente um acordo financeiro. Ainda tinha esperanças de não precisar te conhecer...

E continuava sendo inconveniente, e desta vez teve intenção de me ofender, me olhando de cima abaixo com desdém.  Arfei o ar, aborrecida.

Chegamos à mesa de chá, no meio do jardim, numa plataforma coberta, estavam as duas mesas servidas com as melhores louças francesas. Uma tinha dois lugares, e a outra quatro.

Era óbvio que a de dois lugares era para nós. Nos acomodamos e finalmente pude responder:

 - Escute bem, eu também não tenho o menor interesse de conhecer um garoto arrogante que se achar melhor que todo mundo. – desta vez respondi do mesmo tom, mas sem perder a classe. Ele não pareceu se atingir, continuou com o mesmo ar de desprezo e até abriu um sorriso maldoso. – Se acha que vai ser tão torturante ter que conversar comigo, não se incomode. Finja até que não estou aqui, eu não me importo nem um pouco. E à propósito, você está errado sobre mim. Eu não sou uma filhinha de papai, muito menos um cachorrinho treinado.

 Assim que disse isso, ele bufou uma risada sarcástica, desdenhando minha conversa.

 - Ah não? E o seu jeito de sentar na cadeira? A postura reta. As palavras que você usa quando fala, sempre formais de mais. O jeito que você prende o seu cabelo... – abri a boca, chocada. Fuzilei-o com o olhar. Quem ele pensava que era pra falar comigo assim? – Sinto informar, mas você é sim, um cachorrinho treinado.

Já chega. Não aguentaria nem mais um minuto falando com aquele estúpido. Tinha que arranjar um jeito de sair da mesa.

Peguei o bule de chá e me servi, quando fui servir a xícara dele, deixei que caísse no seu suéter, propositalmente.

Ele se afastou da mesa, surpreendido pelo chá quente na sua roupa. Remexeu-se com agonia por conta do líquido quente estar queimando sua pele.

 - Oh, me desculpe. – menti, estampando minha cara mais inocente possível. Ele me bombardeou com um olhar fulminante sobre mim. – Eu sou tão desastrada, me perdoe muitíssimo.

Os nossos pais nos olharam da outra mesa e ele foi obrigado a fingir que não percebeu que eu tivera a intenção de derrubar o chá nele.

 - Não, tudo bem, eu vou me trocar.

Avisou, entre dentes, furioso. Levantou-se da mesa e foi em direção à casa.

Escondi um sorriso de satisfação e aproveitei a chance para pedir licença para ir ao toalete ou algo assim. Saí da mesa e comecei a caminhar pelo jardim, ver qualquer coisa que me distraísse.

Quando de repente, alguém me deteve pelo braço, bruscamente. Era Anthony, me encarando zangado:

 - Onde você pensa que vai? Por que derrubou chá em mim?

Tirei meu braço das mãos dele, irritada. Como se atrevia a falar comigo como se fosse meu dono?

 - Não te interessa. – respondi, de cabeça erguida. – Isso é para você pensar melhor antes de me tratar como se eu fosse um nada. Posso não fazer a mínima questão de me casar com você, mas exijo que me trate com respeito enquanto eu estiver na sua casa. Ou, se você não se lembra, eu tenho totais condições de tornar a sua vida um inferno.

Ele me interrompeu com uma gargalhada bárbara, jogando a cabeça para trás e desacreditando do que eu dizia.

 - O que faz você pensar que eu teria medo de você? Você é só uma garotinha assustada. Igual a você, eu já peguei muitas. Sei bem do seu tipo.

Baforei o ar, tudo que ele falava só me deixava com mais raiva, estava prestes a cravar minhas unhas no seu pescoço.

 - Você não faz ideia de como está enganado.

Enfrentei-o, e dei as costas, determinada. Ele ficou onde estava, deve ter ido trocar o suéter. Eu torcia muito para que ele fosse o seu preferido, e não conseguisse nunca mais recuperá-lo.

Era óbvio que ele estava acostumado a ter todas as garotas aos seus pés sem fazer o menor esforço. Ainda as tratava como lixo e nunca lhe disseram nada. Mas ele tinha se metido com a garota errada.

Ele era rico, tinha um bom físico, e ainda devia ser considerado o filho perfeito pelos seus pais. Era o bastante para que se achasse o maioral, mas comigo as coisas seriam diferentes, e se ele pensava que aguentaria todas as provocações dele calada, estava muito enganado.

Eu segui pelo jardim, para qualquer lugar. Não conseguia esquecer todas as estupidezes que aquele brutamontes fez comigo, desejava desesperadamente voltar para casa e para Kyle, antes que fosse tarde. Não iria aguentar sequer mais uma semana acompanhada daquele boçal.

E o pior é que todo o meu plano estava arruinado. Ele precisava de mim para conseguir o seu casamento de fachada, e nunca concordaria em recusar o noivado, mesmo que me odiasse mais do que tudo. Até por quê, para o que ele pretendia, ele não precisava mesmo gostar de mim.

Parei na frente de um lago e sentei num banco, para deixar que o tempo passe. Mentiria dizendo que me perdi(o que é bem possível naquele terreno imenso, já tinha passado por um campo de golf, um campo de polo, uma piscina...).

****

Passei a maior parte do tempo arremessando pedrinhas no lago e quando começou a entardecer, eu andei de volta para de onde vim.

As mesas de chá estavam desocupadas, então segui até a casa. Chegando na sala de estar, vi meus pais sentados conversando com os Chevalier enquanto tomavam whisky.

Quando entrei, Albert perguntou:

 - Anna, onde esteve?

 - Me desculpe, mas eu acabei indo dar uma volta para conhecer e me perdi.

Menti novamente.

 - Quer se juntar à nós, filha?

Minha mãe perguntou, todos sorridentes, mas eu não estava na mesma energia.

 - Não, obrigada. Preciso descansar um pouco.

  - Tudo bem, Bernadette vai te mostrar o seu quarto. Anthony também preferiu se recolher. Amanhã terão mais oportunidade para se conhecer.

Senhor Albert disse, me apresentando a governanta da casa que me levaria até meu quarto. Suspirei, só de pensar que teria de aturar aquele grosso amanhã.

Fomos pelo corredor de madeira, e Bernadette abriu a terceira porta à esquerda para que eu entrasse.

Agradeci e fiquei sozinha no meu quarto. As minhas malas já haviam sido postas lá pelos empregados. Era parecido com os estilos de quartos de hóspedes que tinha na minha casa, uma cama rodeada de cortinas de cetim. Um closet médio, um banheiro privativo e uma sacada com vista para a piscina. Tudo de estilo clássico e antigo, cada enfeite custava uma fortuna. Mas já estava acostumada com aquilo, embora achasse um pouco de esbanjamento.

Peguei minhas malas e arrumei no closet as minhas roupas, já que ficaria um mês naquele lugar não queria ter de abrir malas o tempo todo.

Peguei uma saia e uma blusa de cetim e após tomar um banho eu me vesti. Não tinha muito estímulo para sair dali, mas se não fosse jantar, talvez meu pai começasse a desconfiar de que estava tentando driblar o casamento. Argh, aquilo era detestável. E provavelmente teria de me sentar perto do brutamontes outra vez.

Quando Bernadette bateu na porta, eu juntei toda a minha coragem e saí do quarto até a sala de jantar.

Chegando lá, nossos pais já estavam sentados.

 - Olá Anna, junte-se à nós.

Sra. Chevalier convidou, gentilmente. Eu acatei o pedido e me sentei na cadeira vaga ao lado. Como eu pensei, havia outra na minha frente onde provavelmente se sentaria Anthony, que ainda não estava ali.

 - Mas onde está o Anthony? Queremos servir o jantar.

Sra. Chevalier se perguntou, num suspiro denso, minha mãe a chamava de Claire.

Pouco depois ele apareceu vindo do corredor, vestindo uma camisa de manga comprida e calça jeans. Revirei os olhos, disfarçadamente. Achei que iria se sentar, mas passou direto pela sala de jantar, antes de deixá-la, sua mãe lhe chamou:

 - Ei, filho. – ele parou para olhá-la, um pouco impaciente. – Onde vai? Não vai sentar conosco pra jantar?

 - Ah, não mãe, eu vou jantar fora hoje, obrigada.

Ia sair de novo. Todos estávamos muito surpresos com a falta de educação dele. E o pai interviu dessa vez:

 - Filho, não faça essa desfeita para os nossos convidados. – percebi que ambos os pais dele estavam disfarçando o quanto estavam incomodados com a atitude dele, controlando-se para não dar-lhe um sermão. – Se vai sair para jantar, ao menos leve Anna com você.

Estremeci quando ouvi isso. Tentei não mostrar o meu desespero, enquanto todos estavam em silêncio esperando qual decisão Anthony iria tomar. Vi ele bufar, sem acreditar que teria de fazer isso. Não poderia negar na frente de todos, os seus pais comeriam seu fígado.

 - É bom que ele conhece a cidade e se conhecem melhor. Vamos, filho.

A mãe encorajou.

 - Então, Anna... Gostaria de vir jantar comigo?

Ouvi seu convite à contragosto. Respirei fundo, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Contra a minha vontade eu tive de aceitar:

 - Claro, Anthony.

Forcei um sorriso, mas não era nada convincente, estava estampado no meu rosto que estava achando aquilo péssimo.

Segui-o pela casa até a entrada, ambos em silêncio, enquanto eu queria me matar. Do lado de fora, o manobrista estacionou o seu carro na porta, um conversível antigo, digno de um colecionador, vermelho.

Fomos os dois até ele e nos acomodamos, ele no motorista, eu no carona.

 Dirigiu pela rua e se seguiu um tempo em silencia antes que ele quebrasse com o comentário maldoso:

- Sabe... Eu estava indo encontrar uma garota. – franzi o cenho, enojada com o atrevimento dele em me contar isso, como se dissesse “como você pode ver, eu sou um cafajeste e dou a mínima para respeitar você”. – mas como está aqui eu vou ser bonzinho e te levar para jantar de verdade.

Encarei-o, pasma.

 - Como poderia ser capaz de me levar no seu encontro com outra garota? Você é um ridículo.

Critiquei, enojada.

 - Tem sorte que estou numa boa maré, geralmente nada me impede de me divertir com uma vadia.

 - Tenho nojo das garotas que aceitam ficar com você.

O jeito dele de falar me fazia querer vomitar.

 - Você não deve ter se divertido muito, não é? Que cara iria querer ficar você? Você é muito santinha para o que os caras precisam...

 - Ainda bem que para esses tipos de cara eu não sou interessante. Nunca iria querer despertar o interesse de estúpidos como você. E se você quer saber... Não sabe nada sobre mim.

Ele nem sequer olhava na minha direção, mantinha um sorriso malvado nos lábios e seguia dirigindo.

 - Chegamos.

Avisou, saindo do carro. Olhei pela janela para ver onde havia me levado, estava tão furiosa com o que ele estava me dizendo no carro que mal prestei atenção no caminho. Até me preocupava para onde aquele sujeito poderia me levar, ele era tudo, menos confiável.

Era um restaurante de comida francesa, para o meu alívio. Saí do carro e o segui para dentro, após ele ter entregado a chave do carro para o manobrista.

Sentamos na mesa e recebemos o cardápio. Estava tentando sorrir, porque sempre faço isso, mas ele estava realmente sugando a minha energia. Tinha acabado de chegar naquele lugar e já contava os minutos para que me levasse para casa.

 - Quero um “escargot”, por favor. E uma limonada.

 Pedi.

 - Eu quero um whisky, e um “Coq au Vin”. Por favor.

Ele pediu em seguida. Respirei densamente e olhei para outro lugar que não fosse ele, irritada.

 - É realmente boa moça. Não toma bebida alcoólica, acertei?

  Sorriu de lado, provocador e falando baixo como bom conquistador barato, os olhos castanhos sobre mim, sorrateiros. Como sempre querendo debochar do meu jeito de ser.

 - Devia fazer o mesmo, não sabe o que pode fazer com a sua saúde.

Respondi, calmamente. Não daria mais a ele o prazer de conseguir me tirar do sério. Era com isso que se divertia, quando eu ficava aborrecida.

- Você praticamente não tem sotaque britânico. – mudou de assunto, talvez porque não conseguiu o que queria. – Por quê?

- Eu morei em muitos lugares. Passei muito tempo nos Estados Unidos e acabei me acostumando a falar como eles, mesmo sendo genuinamente inglesa.

 - Quantos idiomas você sabe falar?

- Três, fora o meu.

 - Quais são?

 - Francês, italiano, espanhol.

 - Nossa, prendada. – falou, fingindo estar impressionado, tomando o whisky que o garçom trouxe. – O que mais?

 - É impressão minha, ou você está interessado sobre a minha vida?

  - Bom, se nós vamos ter que passar um mês fingindo que estamos começando a gostar um do outro e se tudo der certo... O resto das nossas vidas morando sob o mesmo teto, acho melhor que eu saiba algo sobre você.

 - Por que acha que vou aceitar ficar a minha vida toda com um homem que não amo só para agradar meus pais? Eu planejo me casar, de verdade. E na verdade eu estava pretendendo ter o seu apoio para que recusasse o casamento já que... – suspirei. – Meu pai nunca aceita um não quando se trata de controlar a minha vida. Mas é óbvio que já descartei a possibilidade de receber a sua ajuda.

Tomei a limonada.

 - Sabe, Anna, enquanto à isso... Realmente não está errada... Eu não costumo fazer caridades, preciso desse casamento de fachada, então não vou poder recusar... Mas quem sabe um dia eu não arranjo outra pessoa que tope... Ou... Em último caso... – riu, desfazendo da ideia. – Eu resolva me casar de verdade com alguém... Nós nos divorciamos.

 - Eu vou tentar ao máximo não me juntar a você. Se isso acontecer, pode ter certeza que foi porque tudo de que tentei não funcionou.

Falei claramente. Ele ficou parado, talvez um pouco surpreso com a minha resposta.

 - Mas então, você não pretende se casar de verdade com alguém nunca? Não tem a menor esperança de se apaixonar por alguém?

Perguntei, não tinha muita curiosidade, já sabia a resposta. Quis saber só para que o tempo passasse mais rápido.

 - Relacionamentos afetivos nunca fizeram muito sentido pra mim. Eu sinto informar, mas essa história de amor verdadeiro... Homem ideal... É tudo babaquice, nenhum homem de verdade procura por isso. Porque nenhum deles é capaz de sentir nada disso.

Deu de ombros, convencido.

- Talvez porque você se sinta assim, e tenha amigos que talvez não sintam a mesma coisa, mas demonstram que sentem... Você acredita nisso. Mas acho difícil que os seu pai, ou o meu pai... Sejam uma raça extinta. Porque até onde eu sei, eles são fieis e amam suas esposas.

O garçom chegou com os nossos pratos. Agradeci e pus-me a comer.

 - Pra ser sincero... Não sei bem porque estou sendo franco com você, mas... – suspirou, tentando fazer passar despercebido o fato de que estava começando a querer me contar o que pensava de verdade. – Talvez eu seja capaz de sentir isso sim, talvez todos sejamos, mas... É meio difícil acreditar que vá existir alguma mulher que me faça despertar esse sentimento, quando todas que já conheci até hoje nunca me instigaram nenhum interesse de verdade. E foram muitas.

Começou a comer, quando terminou de me responder.

 - Talvez nunca tenha tentado um tipo diferente de garota. E talvez nunca tenha se esforçado realmente para conhecer nenhuma delas. Sentir atração é fácil, mas sentir paixão... É algo que só acontece quando você sabe com quem está lidando.

Por um momento nossos olhares se cruzaram, ele se calou e continuou comendo, um pouco pensativo.

Era difícil acreditar, mas tínhamos chegado num ponto da conversa em que nenhum tentava ofender ao outro, pelo menos por enquanto. E o jantar terminou pacificamente, graças ao santo Deus.

Ele me levou para casa assim que terminou, claro que por mais que não estivéssemos mais num momento em que ambos estávamos querendo avançar no pescoço um do outro, nenhum de nós tinha a intenção de prolongar aquele jantar, até por medo de que aquele silêncio tranquilo acabasse.

Na entrada do meu quarto fui surpreendida com sua voz:

 - Boa noite.

Desejou, enquanto passava pelo corredor até o seu quarto, com um sorriso malicioso nos lábios.

 - Boa noite.

Respondi, um pouco desentendida.


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Notas finais do capítulo

Agora quem deixasse de ser fantasma e deixasse um review seria um grande presente^^
E para os novos leitores, por favor??? (*cara de cachorrinho q caiu da mudança*)
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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