O Desconhecido escrita por ChatterBox


Capítulo 1
1 ¨°¨ Abismada


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos :)
Espero que gostem da fic, muita coisa ainda está por vir. Esse capítulo contém mais drama.
Boa leitura.
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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- Como...?

Me levantei da cadeira, soltando uma breve baforada sarcástica.

 - Até consigo perdoar você por ter me deixado prisioneira por todos esses anos, me obrigando a fazer tudo o que uma filha perfeita deve fazer; nunca tendo pisado numa escola durante toda a minha vida; ter tomado aulas em casa desde pequena; aprender a dançar balé, mesmo sendo péssima nisso; aprender regras de etiqueta; e servir de troféu para todos os seus sócios da empresa...- listei tudo que ele havia me feito, com ironia, ainda tentando controlar o tom de raiva na minha voz. – Mas o homem com quem vou me casar... Eu mesma quero escolher.

 Papai respirou fundo, pisou duas vezes na frente, duas atrás, começou a rodar pela sala, pensando no que fazer para não agir com grosseria daquela vez, e no fim virou-se para mim e disse, controlando-se para que não soasse autoritário:

 - Você tem que fazer o que é melhor pra você. – disse. Balancei a cabeça para os lados, abismada. – Sabe que não é só por mim e sua mãe que deve se casar com o Anthony, mas também por você, o seu futuro. A junção da nossa família com a dele, pode trazer frutos materiais incríveis....

 - Eu não dou a mínima para frutos materiais! – interrompi, já impaciente. – Quando você vai entender que toda essa ambição que você e mamãe compartilham, não é a mesma que eu tenho. Você nunca cansa de acumular riquezas... Olhe essa mansão! Metade das coisas que temos aqui é feita dos materiais mais caros, você pode comprar tudo o que quiser com o dinheiro que tem e ainda quer que eu me case com um sujeito que mal conheço para ganhar mais?

- Não quero ganhar mais, eu... – assim que ele interviu para defender-se eu baforei de novo, será que não havia jeito de convencê-lo? – Isso é estabilidade. Se as famílias se juntarem, teremos a estabilidade dos negócios da família para sempre, não teremos que nos preocupar com nada!

 - Você quer controlar a minha vida!

Reivindiquei.

 - Não ouse aumentar a voz para mim! Você vai fazer o que é melhor para você! Eu sei o que é melhor para você! É para o seu futuro Anna!

 Naquele momento meu pai bradou a voz, soou grave e amedrontadora, me calando, como sempre faz quando tento me impor. Meus olhos se encheram de lágrimas de mágoa, que segurei com ódio.

 - Eu já sei o que é melhor para mim! Eu tenho dezoito anos!

 - Não seja boba! Você é só uma menina! Não sabe de nada da vida!

E retrucou, com o tom de voz ainda mais impulsivo, ao terminar de falar deu as costas e saiu do cômodo, batendo a porta com força.

Eu desabei em cima da cadeira, as lágrimas rolaram, umas após outras, sem parar. No meu peito se espalhava a angústia, o medo. E junto com toda a raiva, me vieram as lembranças do passado e tudo que já passei vivendo ali. Sempre tendo de me calar, sempre tendo de abrir mão do que quero... Quando isso iria acabar?

Eu não dava a mínima para esse tal de Anthony, de fato, nem o conhecia. Não era justo que me juntasse a um homem que nunca vi antes, para o resto da vida, condenada. Isso não condizia ao nosso século, nem à minha vontade.

E só de me lembrar do que teria de deixar para trás, meu coração já apertava. Não era apenas uma vida livre de escolhas e autonomia. Era ele, Kyle. O grande amor da minha vida, quase que podia ouvi-lo dizendo adeus nos meus ouvidos, me desesperava ter de perdê-lo. Não era possível! Não podia aceitar!

Mas como convenceria meu pai? Ele nunca soube de Kyle, temos mantido nosso relacionamento em segredo durante anos. Meus pais nunca aprovariam meu namoro com o filho do jardineiro, me matariam se soubessem, e seria ainda mais um motivo para que eu me juntasse a Anthony, o desconhecido.

Como faria isso? Não sabia o que fazer, porque tenho certeza que se me voltasse contra o meu pai, ele nunca me perdoaria, ou pior, poderia até me considerar não mais filha dele, me mandar para outra casa, alguma faculdade num país desconhecido.

Eu nunca de verdade tivera minha liberdade de escolha, ele sempre deixou claro que decidiria tudo na minha vida, desde pequena, fui treinada para ser apenas uma imagem a ser exposta, apenas a assentir todas as vontades de meu pai. E minha mãe? Ela nunca ligou muito para isso, embora tivesse muito mais sensibilidade que meu pai.

A viagem para Paris, que era onde ficava a mansão dos Chevalier. A família com qual meu pai queria se juntar, seria em apenas dois dias. Onde teria que conhecer o meu futuro par durante um chá, exatamente como dois séculos atrás, uma beleza.

Mas tinha uma decisão a tomar, havia mais do que tudo em jogo desta vez. Tinha que finalmente resolver se valeria a pena correr todos os riscos. E tudo indicava que sim.

******

Me preparei para ir ao jardim. Era onde me encontrava com Kyle todas as noites, escondida. Estava tentando me preparar para contar para ele que logo, logo, tudo estaria em jogo. Eu não sabia como deixá-lo. Não sabia como contar para ele, e sabia que ele não iria aceitar, iria querer correr para contar tudo ao meu pai e pedir a minha mão, como sempre quis, e não poderia deixá-lo fazer isso. Seria difícil convencê-lo, não me deixaria ir, iria querer lutar por mim. E por mais que eu quisesse que fizesse isso, não iria adiantar, só pioraria as coisas se o fizesse.

Eu peguei o meu candeeiro e comecei a andar pelo jardim, ele era grande, estilo botânico.  Passei ao lado das rosas e cheguei no fundo, onde havia um pequeno espaço gramado com dois bancos. E lá estava ele sentado. Meu coração transbordou ao vê-lo, quis chorar, mas segurei, não podia deixá-lo preocupado logo de início, a notícia cairia da pior maneira.

Tinha os cabelos castanhos emaranhados, a camisa dobrada nas mangas, justas no seu braço rígido. Abriu um sorriso torto e veio ao meu encontro.

 - Achei que não viria mais, está um pouco atrasada. – riu, como sempre de bom humor, olhei para suas órbitas castanhas me fitando do alto e queria poder transparecer o tanto que aquilo me doía naquele momento. Fiquei calada, não consegui dizer nada. – Como foi o seu dia?

Eu suspirei, desviei o olhar, procurando controlar minha emoção e agir naturalmente, pelo menos por enquanto.

 - Foi um pouco atordoado. – contei, achei melhor tirar logo aquele peso dos meus ombros. Sabia que não conseguiria atrasar mais. – Eu preciso te contar algo.

Engoli o seco, com nervosismo, e meus olhos encheram de lágrimas. Me virei para pousar o candeeiro no chão e assim segurar suas mãos, que estavam estendidas para mim.

 - Você está tensa. – observou. – O que quer me contar? Está tudo bem?

 - Não. – neguei. – Aconteceu algo horrível.

 - O quê? Me fala.

 - Meu pai... Ele quer me obrigar a me casar com o filho de um amigo empresarial dele, por uma associação financeira.

A luz que havia no rosto de Kyle se apagou numa fração de segundo. 

 - O quê? – indagou, indignado. – Ele não pode fazer isso com você!

 - Eu sei, eu tentei, você sabe que eu sempre tento dizer o que penso, mas...

 - Mas agora é diferente! Não posso deixar que ele faça isso com você, não posso deixar que faça isso com a gente! Eu vou falar com ele.

Virou-se e andou decidido em direção à casa, corri atrás dele e o detive pelo braço, cheia de lágrimas pelo rosto.

- Não! Não faça isso! Vai ser pior, ele nunca aceitaria nosso namoro, me levaria hoje mesmo pra Paris para oficializar o casamento e me deixar longe de você!

Só de olhar para Kyle já conseguia imaginar como ele estava se sentindo, tem sentido raiva de meu pai por muito tempo. Nunca concordou com as atitudes que ele tomava sobre mim, o jeito que ele controlava a minha vida, e finalmente ele tinha conseguido acabar com tudo, Kyle estava furioso. Senti ele cerrar os punhos e ficar vermelho de fúria, os olhos ardiam com lágrimas.

 - E o que mais eu posso fazer? Ele vai ter que me escutar. – pausou para respirar e chegou perto de mim, com as palmas das mãos no meu rosto, olhou profundo nos meus olhos molhados. – Fuja comigo, Anna.

Meus olhos brilharam. Não posso negar que sempre sonhei em sair daquele inferno e viver a minha vida toda com Kyle. O único que me fazia feliz de verdade, me entendia, me amava como eu realmente era.

Mas era uma fantasia, e eu sempre soube, todas as vezes em que já pensei nessa possibilidade, que era impossível. Não teríamos para onde ir, onde viver, nem dinheiro, meu pai me acharia, e seria capaz de me mandar para um manicômio por pura insatisfação.

 - Não posso. – neguei, num fio de voz lamentável. – Sabe que não temos como fazer isso, você ainda vai para a faculdade em outra cidade e, para onde eu iria? Me pai me acharia, eu estou condenada a viver pelas vontades dele.

 - Em quanto a sua mãe? Você tem que fazer com que ela ajude você.

 - Escute, eu... – respirei fundo para contar-lhe o que havia planejado em fazer. – Não vou desistir. Vou lutar até o fim pela minha felicidade e mesmo que demore, um dia isso tudo vai acabar. E eu juro pra você, que vou lutar de todas as maneiras pra que ele desista desse casamento. Eu ainda não conheci meu...noivo. – doía pronunciar “noivo” como uma terceira pessoa, não ele, como eu queria chamar um dia. – Talvez ele também não concorde com isso, eu posso tentar convencê-lo, posso falar com a minha mãe e no momento certo... Contar para o meu pai sobre nós. – engoli o seco, já imaginando o que teria de enfrentar. – Não vou deixar de ligar, de me comunicar, e daqui há um mês eu devo estar de volta.

Kyle ficou em silêncio, podia notar toda a confusão que devia estar a sua cabeça, a dúvida, a dor. Era tudo que eu sentia.

 - Eu te amo.

Pronunciou com a voz quase falha, quebrando o silêncio e partindo meu coração ao meio.

 - Também te amo. Muito.

Respondi, e em fim ele selou os lábios nos meus. Um beijo intenso, e emocionado. Me joguei nos braços dele, puxando ele para mais perto, enquanto seus braços fortes me envolviam. Nossos lábios brincavam uns com os outros, meu coração bombeava forte, ondas de excitação viajaram pelo meu corpo. Lutei para que não acabasse, mas terminou.

Eu tinha um horário para ir, e tive de partir, meu rosto banhado em lágrimas, meu peito tomado de pânico. Era como deixar tudo que me restava para trás.

Mas faria tudo para tê-lo de volta. De tudo.


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Notas finais do capítulo

Reviews??? Qualquer coisa serve gente, sério, me deixem feliz. :)

Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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