Lies escrita por E R Henker


Capítulo 5
Capítulo 4




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 O Pérola Negra navegava sob águas caribenhas ainda tranquilas, e parada em sua proa, como que um presente dos Deuses para enfeitar tal grandioso navio, Katherine Swan apreciava a imensidão azul que se abria diante de seus olhos, com a água salgada do mar salpicando-lhe o rosto.

 

- Não importa pra onde tu olhes, tudo que verás será o azul! – comentou James, que acabara de se aproximar da mulher, parando ao seu lado e fingindo admirar ao mar, quando na verdade a analisava de canto de olho.

 

- Talvez você ainda não tenha percebido, - disse ela, virando-se na direção do homem, que fez o mesmo, deixando-os cara a cara – mas o azul é um das coisas das quais nunca pude fugir.

 

Seus olhos azuis faiscaram, e escureceram, eram agora dois mares profundos e perigosos de se navegar, o que fez com que James baixasse seus olhos verdes e límpidos brevemente, para então ergue-los em direção aos azuis mais uma vez, mas desta vez com um pequeno sorriso a iluminar-nos.

 

- Você deseja algo? – questionou ela.

 

- Muitas coisas, – respondeu ele, direto – mas por agora, me basta agradecer-lhe pelo cargo de seu Imediato, eu sei que Jack está, no mínimo, imensamente chateado com você por isso. Então, muito obrigada!

 

James sorriu, e Katherine que abria a boca para lhe responder, endureceu levemente a face e apertou os lábios, apenas afirmando com a cabeça e virando-se para sair dali.

 

- Não que eu ache que eu ache que você se importe. – disse ele, mais para si mesmo, mas ainda assim, alto o suficiente para Katherine, já a três passos dele, ouvi-lo.

 

- Desculpe, - ela havia se virado, e conversava olhando-o intensamente nos olhos – o que foi que disse?

 

- Eu disse, - James respondeu, e o sorriso ainda permanecia em seus lábios – que não acho que você se importe sobre como Jack está ou não se sentindo.

 

- Então, eu devo lhe lembrar – três passos e ela estava diante dele, olhos apertados, dois mares inavegáveis transbordavam poder ali, diante do homem, que fechara o sorriso, mas sem baixar ou piscar os olhos –, que és meu Primeiro Imediato, e estás aqui para acatar minhas ordens, não para achares coisas a respeito do que eu penso ou deixo de pensar.

 

Katherine voltou a virar-se na direção oposta a James, e saiu dali, deixando o homem a fazer o que ela fazia antes, admirar ao mar. Ele era um bom homem, de sorrisos encantadores e intensa lealdade, e isso a perturbava, isso e seus olhos verdes límpidos.

 

- Você não precisa disso, Katherine. – repreendeu-se ela, baixinho.

 

- Disse alguma coisa, Capitã? – perguntou Pintel, que estava ali por perto.

 

- Eu estava apenas me perguntando, onde o Sparrow poderia estar. – respondeu ela, sorrindo brevemente e então franzindo a testa de forma cômica, percebendo a ambigüidade em sua frase, e logo se corrigindo – Quero dizer, o Jack, e não o James.

 

Pintel riu, e apontou para o timão, para onde Katherine, erguendo o rosto, olhou, e se deparou com o Capitão. Jack tinha uma mão no timão, olhava para o horizonte, e a mulher, que o olhava, parou de fazer-lo e seguiu em sua direção, e então o homem, que na verdade a analisava anteriormente, sorriu de canto.

 

- Caso tenha vindo perguntar, - disse ele, assim que ela terminou de subir as escadas que levavam até o convés superior – ainda não chegamos.

 

- Jack, - disse ela, levantando as sobrancelhas enquanto parava a sua frente – eu não sou uma criança de oito anos, que fica perguntando se já chegou ou não.

 

- Pois eu pensei que fosse. – respondeu ele, sorrindo.

 

- Bem, a culpa não é minha – retrucou ela, com um sorriso mordaz nos lábios, que fez com que o Capitão parasse de sorrir – se és velho demais, e eu pareço uma criança perto de você!

 

- Como você se atreve? – disse ele, largando do timão e se aproximando dela, que sorriu.

 

- Tente descobrir! – zombou.

 

Ele se aproximou, e ela sorria, deliciando-se com a situação. Os lábios vermelhos, abertos em um sorriso matreiro, convidavam-no para um pequeno embate. Um embate boca a boca. E o homem de lábios com gosto de rum, cederia a este convite de muito bom grado, se ele não fosse Jack Sparrow, e como tal, teimoso por natureza.

 

- Me parece que você deixou meu irmãozinho a ver navios! – sussurrou ele, próximo ao ouvido dela, fazendo com que seus rostos se roçassem levemente neste ato. Seus olhos, negros e quentes, indo em direção ao homem que ainda admirava ao mar na proa do navio.

 

- Pois para mim, - retrucou ela, com a voz baixa e um pouco rouca, – parece que você perdeu uma grande oportunidade.– e então, ela aproximou mais seu corpo do dele, e deslizou sua mão da barriga até o pescoço do homem, acariciando-o ali.

 

Eles eram adultos e vividos, tinham passado por coisas com as quais a maioria das pessoas nem ao menos sonha, e mesmo assim ainda estavam ali, vivos. Uma das provas de suas ainda existências, era o calor da respiração de um tocando ao outro, e o bater de seus corações, cada um no seu ritmo, cada um com suas cicatrizes. Mas às vezes, respirar e ter um coração batendo, não significa nada.

 

Às vezes, para algumas pessoas, se é necessário ser livre. E liberdade, não era algo que algum deles possuísse. Nem liberdade, e muito menos maturidade.

 

- Você, - continuou ela, depois de um tempo, sussurrando em sua pele – perde –, e ela roçou seus lábios em seu pescoço – as melhores – e um leve pressionar de lábios na clavícula masculina, que fez com que ele apertasse sua cintura – chances, - os lábios rubros, puseram-se sobre os lábios de rum, leves e provocativos – Capitão.

 

Ele era homem, e como tal, mesmo que quisesse, teria muitas poucas chances de não corresponder às provocações da mulher, o caso, é que Jack nunca nem ao menos pensara em tentar.

 

Lábios finos e precisos contra a pele alva, em uma procura alucinada por outros lábios, estes vermelhos e macios, aos quais se encaixar. A barba, tão negra quanto seus olhos agora em chamas, arranhava a face feminina de uma forma excitante, fazendo aquele rosto de porcelana pedir por mais. Eles eram dois, mas poderiam facilmente ser apenas um, caso se entregassem e se permitissem.

 

Duas línguas quentes se encontraram, e travaram, ali, na junção de duas bocas tão complementares, seu pequeno duelo particular. Mãos delicadas agarraram cabelos e dreadlocks, e dedos cheios de anéis subiram da cintura feminina, deslizando por seu corpo até chegar a seu rosto, e estranhamente para um beijo tão quente, acariciá-lo.

 

- Você me deseja? – perguntou ela, respirando sobre a boca masculina.

 

- Sim, assim como a todas as outras mulheres! – respondeu ele, afastando-se um pouco, e pronto para a explosão que acreditava estar por vir, Jack ansiava por tal cena.

 

Ela não explodiu, nem ao menos chegou a ficar estressada, na verdade, ela não se importava muito. A pergunta que ela fizera, fora na verdade, uma desculpa. Uma desculpa para poder parar, uma desculpa para poder se afastar, uma desculpa que se juntou a tantas outras.

 

- Então, você vai acabar descobrindo, que não sou como todas as outras! – disse ela, simplesmente, cobrindo aqueles lábios com os seus por um breve momento, para então se afastar.

 

- Não, você não é, você é pior. - concordou ele, afastando-se um passo e voltando para o timão, com um tom brincalhão na voz, mas sem tal brilho em seus olhos.

 

Até que ponto ele poderia usar mentiras para dizer verdades? A resposta; até onde a linha tênue entre o que é verdade e o que é mentira lhe permitir.

 

- Sim, você está certo! – foi a única resposta que ela deu, acompanhada de um sorriso, enquanto se afastava.

 

Katherine desceu as escadas, e parou. Não havia um lugar pra onde ela pudesse fugir, não havia um lugar longe o bastante para onde correr. Ela estava perdida. Tinha de manter-se longe dos doces olhos verdes, e também dos muito bem treinados lábios com gosto de rum. Céus, ela tinha de manter-se longe de si mesma.

 

- Sonhando acordada, Katherine? - perguntou Barbossa, parado em frente a mulher.

 

Ela o olhou, tinha uma resposta afiada na ponta da língua, mas os olhos do homem brilhavam brincalhões, e ela engoliu a resposta mal criada. Afinal, Katherine Swan sabia muito bem ser agradável, apenas não gostava de se dar ao trabalho.

 

- Talvez. – foi o que ela respondeu, sorrindo para ele.

 

- Por que não vens até minha cabine, onde possamos conversar mais calmamente? – perguntou o Capitão, já velho conhecedor daquelas e de tantas outras águas.

 

- Claro, principalmente se a conversa for regada a rum! – disse ela, sorrindo um sorriso ladino ao melhor estilo Jack Sparrow.

 

- Resposta certa, Capitão errado. – zombou Barbossa, o que fez a mulher gargalhar, ato ao qual ele acompanhou com um pequeno sorriso.

 

- Desculpe, é força do hábito. – riu-se ela.

 

A situação que poderia ter sido constrangedora fora no final engraçada, mas aquilo era realmente um fato, Katherine vivera diversos personagens em sua vida, e algumas vezes, características remanescentes dos mesmos se fundiam e acabavam por vir à tona.

 

- Quem é você afinal? – perguntou o Capitão, sendo de questionamento o único brilho que habitava seus olhos naquele momento.

 

- Alguém que você não pode, mas deve, confiar. – respondeu ela, com uma pequena fagulha de dor em seus olhos azuis, enquanto sua postura demonstrava pretensão.

 

- Ou talvez seria alguém em que se pode, mas não deve, confiar? – questionou James, intrometendo-se na conversa, não se importando com sua posição circunstancial no navio, já que era apenas um Imediato – não totalmente bem vindo – metendo-se na conversa de dois Capitães.

 

Katherine sorriu, era um riso presunçoso assim como quase tudo na Capitã. Mas não se pode culpá-la por ser assim, não é fácil ser a única mulher em meio a tantos homens, principalmente quando se é preciso impor. Não é fácil ser mulher em nenhuma situação, mas a situação aquela na qual a jovem Capitã Swan se encontrava, era ainda mais difícil. Aquela mulher já passara por inúmeras situações tão ou quão difíceis quanto aquela. Mesmo jovem, ela era calejada pela vida, e só ela tinha noção da profundidade de suas feridas, e das conseqüências de suas escolhas.

 

- Chegamos a um embate, aparentemente. Mas como o assunto pouco me interessa, deixo a decisão para vocês. – disse ela, saindo daquele estranho círculo que os três haviam formado no convés do navio, e dirigindo-se para sua cabine.

 

James observou a mulher enquanto ela se afastava, ele apenas não conseguia compreende-la, por mais que já houvesse captado, ao menos um pouco, de sua essência. Ele sabia que poderia confiar sua vida as mãos da Capitã, e ela não lhe falharia jamais. Mas o que ele não sabia, e queria muito poder descobrir, era o que mais ele poderia confiar a aquela mulher incrivelmente prepotente e sedutora. Um coração, talvez?

 

- Ela não é para você, meu caro. – afirmou Barbossa, tomado, em um mínimo instante, por uma pequena compaixão pelo jovem à sua frente. Era previsível aos olhos do mais velho o que acabaria acontecendo ali. E era inevitável também.

 

- Você não tem como saber. – respondeu James, virando-se e saindo dali. Ele era jovem, afinal, e não sabia muito da vida. Vivera na corte inglesa, tivera muitas mulheres em sua cama, e muitos duelos por causa disso, mas isto não significava nada, não quando se falava sobre pirataria. E muito menos, quando se falava sobre amor. Ninguém nunca sabe o suficiente quando se fala de amor, e este é um dos motivos pelos quais nunca podemos lutar contra ele. Não se morre de amor, mas também não se vive sem ele.

 

No convés superior do navio, assistindo a tudo aquilo, como se fosse uma pequena peça teatral sendo encenada apenas para si, Jack Sparrow tentava absorver tudo que lhe era possível como mero humano. Ele analisava cada expressão e cada mínimo detalhe, um leve levantar de sobrancelha ou um apertar de punhos, o homem tentava simplesmente absorver e guardar para si, analisar a situação e jogar a seu favor.

 

Mas Jack, assim como era um jogador, também era uma peça. Ele era uma peça, assim como todos os presentes naquele navio – e até mesmo, julgava ele – algumas pessoas bem longe dali, de um jogo ao qual um número muito grande de pessoas tentava ganhar, e do qual um número maior ainda de pessoas participava. Entretanto, não era apenas de pessoas que Jack era uma peça em um tabuleiro. A vida é um imenso tabuleiro, repleto de pequenos e distintos jogos que se entrelaçam vez por outra, ou que simplesmente nunca chegam a se coincidir, mas que juntos tecem uma longa trilha de jogatina. Sim, os Deuses também possuem seus vícios, o jogo era um deles.

 

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Notas finais do capítulo

N|A: Eu sei que tá virando rotina meus pedidos de desculpas. Mas é que o tempo tá curto e a inspiração não anda boa, então, mais uma vez: me desculpem pela demora.

Muito obrigada pelos comentários,