Lies escrita por E R Henker


Capítulo 3
Capítulo 2.




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Sob um céu belamente estrelado o Pérola Negra navega, cortando as águas com seu casco já tão acostumado aquela situação. Uma leve brisa trazia um pouco de frescor aquela noite caribenha, aplacando assim o mormaço de um dia muito quente.

 

No convés superior do navio, próximo ao leme do mesmo, dois conhecidos de velhas viagens discutiam sobre o olhar disfarçado dos tripulantes. A discussão havia tido início pouco antes, quando o mais velho deles decidiu reaver seus direitos como Capitão e suposto dono do navio, e tomar seu lugar ao timão.

 

- Eu sou o dono do navio, o que me faz Capitão dele! – disse Jack, segurando o leme e encarando Barbossa.

 

- Até dois dias atrás, Sparrow, você era um pobre coitado, sem nada em seu poder além de um bote. A menos é claro, que você esteja se referindo a ele. Qual o nome do seu grande navio, Capitão? Perolinha?– ironizou Barbossa, deixando Jack indignado.

 

- Mini-Pérola, talvez?! – questionou uma terceira voz, desta vez feminina.

 

Katherine havia saído da cabine do Capitão, e percebeu que a tripulação estava fazendo suas tarefas de modo desatento, como se estivessem com a atenção voltada para outro lugar. Não foi necessário muito tempo para que ela percebesse o que estava acontecendo e decidi-se ir resolver a situação.

 

- És uma ótima piadista, Srta. Swann! – falou Jack, desgostoso.

 

- Sempre, meu caro! Sempre! – replicou ela, sorrindo em deboche.

 

Barbossa, aproveitando que o foco de Jack havia saído de si e voltando-se para Katherine, aproximou-se do timão. Mas Jack, que antes estava com uma mão no timão, agarrou-se ao mesmo, de uma forma possessivamente infantil.

 

- É o meu Pérola, pode tirar suas mãos sujas dele! – disse Jack, ainda possessivo e infantil. Fazendo com que Katherine gira-se os olhos, mas sorrisse levemente.

 

- O navio é meu, Sparrow. – respondeu Barbossa, de forma cansada e quase complacente, para depois sorrir em deboche e completar – Eu o roubei de você, mais uma vez!

 

Jack abriu a boca para responder, e então voltou a fechá-la, franzindo levemente as sobrancelhas. Katherine riu baixinho, logo escondendo a boca com a ao e tentando disfarçar. Barbossa postou-se diante do timão, e Jack foi forçado a largar o mesmo.

 

- Meu navio, faz de mim Capitão! – debochou vitorioso Barbossa.

 

- Ah é? – questionou Jack, com um sorriso ladino nos lábios, para completar debochado depois – Então me diga, Hector, qual é o curso que devemos tomar?

 

Foi então a vez de Barbossa abrir a boca e ter de tornar a fechá-la, afinal, ele não sabia a resposta. Jack estivera no timão até aquele momento, e era ele quem estava com o mapa da Fonte, sem contar é claro, na maldita bússola que sempre lhe ajudava em tudo.

 

Mas Jack Sparrow teve sua resposta, e diferente do que se era esperado, ela não saiu da boca do Capitão Barbossa, e sim da de Katherine. E definitivamente, o que foi ouvido, não agradou a ele.

 

- Siga a noroeste, estamos indo para a Baía dos Naufrágios! – disse ela, sorrindo logo após.

 

- Como assim?! – perguntou Jack, surpreso. Enquanto Barbossa abria um sorriso. – Por quê?

 

- Existe alguém a quem eu quero ver. – ela respondeu, ainda sorrindo. Jack engoliu em seco, e Barbossa abriu mais ainda o sorriso ao ver o outro naquela situação.

 

- Por quê? – voltou a repetir Jack, sua voz tomando um leve ar de desespero.

 

- Eu não sou sua mulher, Capitão, para que fique questionando toda e qualquer ação minha, não lhe devo satisfações. E mesmo que eu tivesse a má sorte de o ser, pode ter certeza que eu jamais seria do tipo que dá explicações. – respondeu ela, seca, parando de sorrir.

 

Jack fez bico e arregalou os olhos, enquanto Barbossa ria ao ver a mulher virar rapidamente, os dando as costas, e se retirar do local a passos rápidos e rígidos.

 

- Essa vai te dar trabalho, meu caro! – debochou Barbossa, no que Jack o olhou erguendo uma sobrancelha, questionando-o, para então, sorrir maliciosamente e seguir os passos antes dados pela mulher, esquecendo-se até mesmo de seu posto no timão.

 

Katherine adentrou a cabine e bateu a porta da mesma, passando a mão na nuca e esfregando-a, em um gesto claro de nervosismo. Foi até um armário no canto da cabine, abriu-o e de lá tirou uma garrafa de rum, então dirigiu-se para o outro canto e sentou-se na cadeira atrás da mesa. Levou a garrafa de rum aos lábios e sorveu um longo gole do mesmo, para então começar a sorrir, nervosa.

 

Jack entrou na cabine e deparou-se com a cena da mulher sentada atrás da sua mesa de Capitão, segurando uma garrafa de rum, e com o olhar perdido logo à frente. E aquilo, de certo modo, surpreendeu-o.

 

- Entre, Capitão, finja que o navio é seu! – disse ela, mas seu tom de voz era mais amargo do que debochado, e ela continuava a fitar o nada.

 

- Como queira, amor! – disse ele, dando seu sorriso cínico costumeiro.

 

- Você é sempre tão irritante? – perguntou ela, sorrindo levemente.

 

- Se isso lhe fizer sorrir, querida. – disse ele, agora sorrindo malicioso.

 

- Ow Jack, - disse ela, fazendo uma leve careta, para então esboçar um sorriso e logo após dar uma leve gargalhada – essa foi péssima!

 

E ainda sorrindo, Katherine estendeu a mão que segurava a garrafa de rum na direção do pirata, que sentou-se na cadeira em frente a de Katherine, do outro lado da mesa, e pegando a garrafa bebeu um generoso gole daquele líquido que lhe era tão precioso.

 

- Maçã? – ofereceu ela, olhando para uma bandeja cheia de maçãs verdes sobre a mesa.

 

- Desculpe amor, mas você ofereceu para o homem errado, – disse ele, debochado, mas mesmo assim pegando uma maçã da bandeja e dando uma generosa mordida na mesma – o Zumbi Amotinado é que tem uma tara por maçãs. – continuava ele, parando de mastigar por um instante e fazendo cara de quem estava refletindo sobre algo – Aliás, você tem alguma idéia do por quê disso?

 

- Como? – perguntou ela, confusa, mas ainda assim sorrindo.

 

- Ah, esqueça! Você não vai entender! – respondeu ele, abanando a mão e jogando o resto da maçã para trás, fazendo-a rolar no chão, e Katherine o olhar, zangada.

 

- Você sabe que você vai juntar, não é? – perguntou ela, levantando a sobrancelha, e vendo que ele não fez nada, prossegui autoritária – Agora!

 

- Sinto muito em estragar suas expectativas, querida, mas não acontecerá! – disse ele, olhando firmemente em seus olhos, deixando-a confusa – Eu sei que sou irresistível e que deves estar lutando intimamente para não se jogar aos meus pés, mas devo lhe informar, Katherine, que meu único amor sempre foi e sempre será o mar! – completou, com um sorriso malicioso nos lábios, e ainda olhando-a profundamente.

 

O homem havia se levantado, e ela havia feito o mesmo. Estavam a se encarar, cada qual do seu lado da mesa, com ambas as mãos espalmadas no tampo da mesa e com os corpos inclinados um em direção ao outro. Pretos encaravam azuis, que reluziam, como se sorrissem. Os rostos estavam perto de se tocarem, e suas respirações mesclavam-se, como se fossem uma só.

 

- Como você pode saber, Jack? – perguntou ela, inclinando sua boca sobre a dele, para então recuar levemente.

 

Ele não respondeu, estava mais ocupado em beber suas palavras, o calor e o gosto que emanavam dos lábios e hálito dela, mesmo que eles não o tocassem de fato. Jack ainda sorvendo das palavras dela voltou seu olhar para os lábios que as haviam proferido. Eram lábios doces, suaves, sedutores, pensava ele, enquanto levava sua mão esquerda para próximo ao rosto dela, e passava levemente seu dedo pelo lábio inferior dela. Inclinou-se para beijar aqueles lábios, mas algo o prendia. Dois olhos azuis faiscantes, sorrindo para si, desafiando-o, enquanto o resto de seu corpo encontrava-se entregue a ele.

 

- Como pode dizer que nunca se apaixonará, Jack? – perguntava ela, sussurrando, enquanto dava passos para o lado, sendo acompanhada por ele, como se estivessem fazendo o jogo de pés de uma luta de espadas – Como pode dizer que nunca se entregará a uma mulher?

                          

Jack sorriu malicioso perante a última frase dela, e ela o percebeu, acompanhando-o naquele sorriso, enquanto chegava à ponta da mesa, e contornava-a, parando na frente de Jack. Ela inclinou seu corpo para próximo ao dele, e colocou uma de suas pernas por entre as pernas de Jack, enquanto inclinava-se cada vez mais em direção ao mesmo, fazendo com que ele acabasse inclinando-se um pouco sobre a mesa, e ela ficasse quase sobre ele.

 

- Não estou falando disso, Jack. – disse ela, sorrindo – Bem, não estou falando apenas disso. Eu estou falando, de entregar-se de corpo e alma a alguém. Você sabe o que é isto, Jack?

 

Ele não respondeu. Por mais que ela estivesse prensando-o contra a mesa, e estivesse sussurrando-lhe sensualmente, mesmo assim ele não a agarrava. Ela o prendia, os olhos dela o prendiam, e o impediam de simplesmente agarrá-la e fazer com que ela calasse a boca, e parasse de lhe falar asneiras e lhe provocar.

 

- Eu poderia lhe beijar agora, Jack. – disse ela, colocando sua boca muito próxima a dele, - E seria bom, - continuou, agora quase fazendo seus lábios tocarem-se, – muito bom! – para então recuar, sorrindo maliciosa como ele fazia – Mas não chegaria nem perto do que seria, se um dia, eu lhe beijasse com sentimento. Você nunca teve isto, não é mesmo? Ninguém nunca o beijou com sentimento, - continuava ela, séria, agora com o rosto mais afastado do dele – não com amor, amor de verdade.

 

- Eu estou muito feliz com as coisas do jeito como estão! – disse ele, fazendo pouco caso da situação, como sempre fez.

 

- Não, você não está. – disse Katherine, lhe sorrindo tristemente, poderia não parecer, mas ela sabia que estava certa, e não era só quanto a Jack que ela estava certa – Você tem é medo Jack, mas não lhe tiro a razão. Amar é para os tolos, para os fracos!

 

“E eu nunca fui uma pessoa forte!” pensou ela, com uma ironia amarga.

 

- Eu não tenho medo de amar, Katherine! Só não sou homem destas coisas! – respondeu ele, de seu jeito sempre característico.

 

- Então tens medo do quê, Jack? – questionou ela, erguendo uma das sobrancelhas – Tens medo é das mulheres? Mas por que? – continuava ela, tirando-lhe sarro, para então fazer uma cara de chocada, e parar de olhar para os negros olhos de Jack, e olhar em direção as partes íntimas dele – Oh não! Não me digas que é eunuco!

 

Ela se afastou, com ambas as mãos na boca e olhando diretamente para um pouco abaixo da cintura de Jack, com os olhos arregalados e cara de chocada.

 

- Não teve graça, amor! – disse ele, meio emburrado, e lhe sorrindo falsamente enquanto que ela gargalhava – E o posto de eunuco é do Will, coitado do rapaz.

 

- Will? O marido de Elizabeth?– perguntou Katherine, não mais fingindo-se de chocada e nem mesmo gargalhando, no que Jack confirmou com a cabeça após fazer uma careta ao ouvir a palavra “marido” – Bem, não acho que ele seja eunuco. E se o for, fizeram o trabalho muito mal, já que Elizabeth está grávida!

 

- Grávida? Do eunuco? – perguntou Jack, agora sendo sua vez de arregalar os olhos, mas no seu caso, ele estava verdadeiramente chocado.

 

- Da cegonha é que não é, Jack. – respondeu Katherine, secamente – Mas por que o espanto? Eles são, casados, afinal.

 

- Mas, uma criança? – continuava a perguntar Jack.

 

- Não, é um golfinho. Você sabe, com isso de Will ficar embaixo da água... – disse ela, debochadamente, para então completar de forma ácida – É claro que é uma criança!

 

Jack lhe deu as costas e pegou a garrafa de cima da mesa, para então beber um generoso e merecido gole de rum. Era muita informação para uma única pessoa. Primeiro lhe aparecia aquela louca, linda, mas louca. Depois ele percebia que estava nas mãos dela, e estava dentro de seu amado Pérola, mas não podia ser nem ao menos o único Capitão de seu próprio navio. E agora aquilo, Elizabeth estava grávida. Ela e Will além de casados, iriam ter um filho, seriam uma família.

 

- Como você sabe disso? – ele perguntou, quando voltou a olhar para ela.

 

- Como você acha que eu lhe achei, Sparrow? – ela respondeu, com outra pergunta, então lhe sorrindo marota.

 

- Oh, é claro! Você disse que era prima dela, não imaginei que estivesse falando sério. – disse ele.

 

- Deveria aprender a confiar no que eu digo, Jack. – falou Katherine – Ou não! – terminou, semicerrando os olhos e sorrindo, sendo acompanhada por ele.

 

- Ela nunca falou de você. Por que será? Problemas de família? – Jack sorria, tentando irritá-la.

 

- Isso não me surpreende, ela jamais falaria de mim. – Katherine sorriu, um sorriso pequeno e sem graça – Eu devo ser a “ovelha negra” da família, ou qualquer coisa do tipo. Mas quem se importa? Eu é que não me importo com isto!

 

Jack abriu a boca para falar algo, mas não havia nada a ser dito ali, eles sabiam. Katherine lhe sorriu amigavelmente, e ele lhe retribuiu, girando seu dedo no ar, apontou para a porta da cabine, no que ela confirmou com a cabeça e sorriu em agradecimento. Jack saiu da cabine, e a deixou a sós.

 

Katherine caminhou até a cama de casal que havia na cabine, e sentou-se nela, apoiando os cotovelos em seus joelhos e segurando a cabeça com as mãos, assim ficou por cerca de dez minutos, quando seu olhar foi atraído por uma maçã verde jogada ao chão, com uma mordida na parte que estava virada para cima. Sorrindo levemente, Katherine levantou-se e juntou a maçã, então voltou para a cama, e sentou-se no mesmo local.

 

- A ovelha negra da família, só queria ser livre! – disse ela, tristemente – Mas parece que a liberdade não é para todos! – completou, com amargura, logo após soltando um “Hunf!” e um sorriso sarcástico, e mordeu a maçã, no mesmo local onde já havia uma mordida. Junto ao gosto doce da maçã, um gosto mais forte e alcoólico se fez presente, o gosto do rum. E Katherine sorriu, não sabendo se o gosto era de sua boca, ou da boca daquele que havia mordido a maçã antes dela.

 

E pensando nisto, Katherine deitou-se na cama, ficando meio sentada e meio deitada, com os braços abertos e a maçã em uma das suas mãos. Alguns minutos depois, segundos antes de adormecer e acabar por deixa a maçã cair no chão, a última coisa que Katherine lembrava, era de um par de doces olhos verdes, e o sorriso malicioso de um pirata que tinha um beijo com gosto de rum.

 

Muitas milhas longe dali, um navio muito parecido com o Pérola Negra, mas tendo sua madeira em tom mais avermelhado, próximo ao tom das madeiras de lei, com a qual eram feitos os móveis mais ricos da Europa, navegava próximo a águas Inglesas.

 

- Capitão, soube que viram ela em Tortuga. Deveríamos ir para lá? – questionou um homem alto, porém magro e muito sujo, havia uma cicatriz que lhe cortava o rosto, começando um pouco acima do olho direito e terminando abaixo de seu lábio inferior, seus olhos castanhos refletiam maldade, e seus cabelos loiros estavam negros de fuligem.

 

- Acalme-se, Sr. Stuart, faremos tudo a seu tempo. Primeiro, deixemos que ela ache Sparrow e que faça seu jogo com ele. – respondeu o Capitão do navio, virando-se de costas para seu imediato, e pondo-se a analisar o mar, com um sorriso maldoso nos lábios.

 

- Sparrow? O informante falou sobre este Sparrow? – voltou a perguntar o outro homem, Peter Stuart.

 

- Jack Sparrow! Ele falou sobre o Pérola Negra! – voltou a responder o homem de cabelos pretos, que estavam presos em um rabo de cavalo, muito bem alinhado. Cuspindo ao mar, como em prova de sua repugnância por aquela mulher e por seus atos, virou-se para seu imediato, e seus olhos azuis, extremamente claros como o céu em um dia ensolarado, reluziram em ódio e malícia – É lá que ela está, meu caro. E eu não preciso ficar a seguindo pelos sete mares, não quando eu sei exatamente para onde ela vai!

 

O imediato sorriu, dava-lhe um prazer imenso ouvir aquilo. Não via a hora de ter aquele pescoço alvo sobre suas mãos, para que pudesse torcê-lo, mas não antes, é claro, de fazê-la pagar com o corpo, aquilo que ele pagara com sangue.

 

- Vamos para onde, Capitão? – perguntou Peter.

 

- Vamos para mares próximos à Flórida, Sr. Stuart. – disse o homem, tendo seu olhar atraído novamente pelo mar – Sabe o que é irônico, Peter? – perguntou ele, mesmo que não estivesse ligando para se o imediato prestava atenção no que dizia ou não – Ela terá seu fim, naquilo que acreditava poder lhe dar a liberdade!

 

Peter sorriu ao ouvir aquilo, e então começou a dar ordens para os demais marujos. O homem de cabelos negros e olhos azuis, voltou a olhar o mar, amaldiçoando ao mesmo por isso, mas acima de tudo, amaldiçoando a ela.

 

 


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Notas finais do capítulo

N|A: Desculpem a demora, mas minha vida esteve um caos. Tentarei atualizar mais rápido, prometo. Ah, mudanças estão por vir, aguardem. Obrigada a todas as reviews!