Eskalith escrita por haru


Capítulo 10
Alguma sensação


Notas iniciais do capítulo

Eu não faço ideia do que fazer com esse cap hahahh
Não pude posta-lo ontem, pois estava sem ideias.
Confesso que andei desanimando um pouco (ok, poucos reviews meio que contribuíram), mas eu realmente quero (E VOU) terminar essa fic .-.

(Longfic, aliais).



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"- Vejam, ele acordou!"

Por alguns segundos, esqueci completamente de tudo. Como se minha mente houvesse se tornado uma folha em branco, e era difícil até mesmo respirar e abrir os olhos. Os sons foram chegando até mim lentamente, até que uma luz invadiu o ambiente. Por uns instantes, eu podia jurar que era o sol, de tão fraca que minha vista se encontrava, e pouco a pouco pude ver a paisagem do apartamento se reconstruindo em minha volta.

Murmurei alguma coisa, mas novamente senti a sensação de garganta seca. Meus olhos ardiam um pouco, por causa da claridade direcionada a mim, mas minha cabeça já começara a parecer mais leve.

- Haruya, tudo bem?

Pisquei algumas vezes e vi o rosto preocupado de Shigeto logo acima do meu.

- On..onde eu estou? - perguntei, tampando a luz com o braço.

- No meu apartamento - ele falou.

Notei que havia outras pessoas ali, mas demorou um pouco para conseguir vê-las direito.

- Como eu vim parar aqui? - perguntei, tentando me sentar.

- Você desmaiou, e um amigo te encontrou - disse outra voz.

Olhei para o lado que ela vinha. 

Hiroto andou lentamente até a cama onde eu estava - que, no caso, era a de Shigeto- e parou me olhando. Ele usava roupas menos "formais", uma jaqueta fina de cor roxa com uma blusa laranja. Cores ficaram bem nele.

- Huh?

Olhei para a outra pessoa parada na porta. Era um aluno da mesma universidade que eu, mas nunca havíamos nos falado. Ele era meio baixo, e branco até os cabelos, que eram mais curto do que os de Suzuno e mais arrumados. Seus olhos eram meigos e tranquilos, e ele deu um leve sorriso simpático quando olhei para ele.

Usava um lenço branco, meio amarelado, e seu visual parecia levemente humilde. Mas era bem vestido, e muito bonito, diga-se de passagem.

- Shirou achou você caindo e me ligou - falou Hiroto - Shigeto me disse que você estava passando mal, porque não me ligou para ir te buscar? 

Hiroto parecia um pouco irritado.

Passei a mão na cabeça, e olhei para a cara de cada um deles. Ainda estava difícil pensar direito, e eu estava levemente tonto.

- Sorte sua que Fubuki te encontrou.. porque você não ficou na enfermaria? - brigava Shigeto.

- Eu achei que..estava tudo bem - falei, num tom abafado.

Hiroto voltou para porta, onde Fubuki Shirou estava.

- Obrigado de novo, Fubuki, como pode ver..ele já esta melhor - falou Hiroto, harmonioso - quer que eu te leve para casa?

Fubuki pensou por alguns segundos.

- Não precisa se preocupar - falou.

Sua voz era terrivelmente dócil, e soava meio dengosa, tranquila.

- Não não, tudo bem, seria uma forma de agradecer... você cuidou desse pateta até a gente chegar, isso foi muito gentil - falou Hiroto.

- Não foi nada - Falava sem jeito - eu não podia deixar ele sozinho na rua, não é mesmo?

- Realmente, mesmo assim.. deixe-me levar você, eu já estava seguindo por aquela direção de qualquer jeito - Hiroto insistiu.

Fubuki aceitou.

- Só espere um minuto.

O ruivo foi até Shigeto.

- Não deixe esse aí ir a escola amanhã, se ainda não estiver cem por cento, entendeu? - falou ele, com firmeza, como se Shigeto fosse seu irmão mais novo ou seu filho.

- Eu sei.. não se preocupa - falou Shigeto, um pouco ranzinza, me entregando um copo d'água - e você não vai agradecer não, Haruya?

Olhei para o estranho.

- Ah, não precisa disso - falou o albino - Eu só fiz o que era certo, tudo bem.. é melhor ele descansar.!

Não falei nada.

- Você é tão gentil, Shirou - falou Hiroto, colocando a mão em seu ombro - podemos ir agora..

Fubuki concordou com a cabeça e os dois saíram, deixando apenas o perfume doce de Hiroto no ar.

Shigeto sentou-se numa cadeira ao meu lado e suspirou.

- Você realmente não tem noção - comentou, parecendo cansado - não sabe como eu fiquei preocupado contigo, seu idiota.

- Exagero.

- Fubuki é tão legal - falou ele, olhando para onde o outro estava a instantes atrás - eu nunca imaginei que ele entraria na minha casa..

- Você o conhecia?

- Somos da mesma classe de sociologia, não contei? - Shigeto olhou para o teto - ah, Suzuno é dessa classe também, mas ele nunca frequenta.

"Ah, então é essa a classe que Suzuno sempre cabula para fumar... Sociologia". Pensei para mim mesmo, ainda achando que isso era estupidez da parte dele.

- Espero que ele não pense coisas erradas - Shigeto continuava falando - sobre você...e sobre esse lugar horroroso que a gente mora.

- Você realmente se preocupa? 

- É claro que sim!

-Porque? Gosta daquele cara?

Shigeto deu um tapa na testa.

- Não é isso! Ele é um cara legal, do tipo que é bom agradar, eu acho.. não quer dizer que eu queira alguma coisa com ele, se é isso que você pensou.. - Shigeto se levanta - Vou fazer um chá.

Voltei a deitar.

- Reze para Hiroto não voltar essa noite, tenho certeza que ele só não te passou um sermão porque Fubuki estava aqui - disse ele, sumindo para a cozinha.

Deixei um suspiro escapar. O quarto de Shigeto estava aquecido, mesmo que aquela fosse uma noite fria. Me senti confortável, e meus olhos já haviam se adaptado a luz da lâmpada amarelada no centro do teto.

Enquanto Shigeto estava ocupado, eu acabei voltando a adormecer.

Eu podia jugar que cochilei por mais 30 minutos. Um sono rápido e sem sonho, mas, quando abri os olhos, percebi que o dia já havia amanhecido.

A sensação que eu tive foi a de ter perdido alguns dias da minha vida sem perceber. Como se um vazio surgisse sem motivo dentro de mim. Olhei para um relógio velho na cabeceira da cama. Já passara das 10.

Me levantei sem jeito, e me arrastei para fora do quarto. Só me toquei que ainda estava no apartamento de Shigeto quando entrei no banheiro e vi que havia bagunças que não eram minhas.

Peguei as roupas que ele havia deixado na pia e as joguei no chão, para lavar meu rosto.

- Shigeto - chamei o outro.

Ninguém respondeu.

-Shigetooooo ? Você esta ai? - chamei de novo.

Silêncio novamente.

Sai do banheiro enfezado. Claro, Shigeto devia ter ido trabalhar e nem se preocupou em me acordar. Fui até a cozinha. A mesa estava limpa e ele havia feito chá, aquela manhã - era a única coisa que ele realmente sabia fazer - mas não parecia ter nada para comer. Fucei a dispensa e só havia algumas caixas de cereais baratas, das quais eu não tive coragem de comer.

Só então que vi um bilhete na geladeira.

"Haruya, fui trabalhar, claro. Não tem nada para comer, a não ser que você curta cereal com gosto de nada.. liguei para a loja e avisei que você estava doente. Por favor não fique no meu apartamento, e quando sair, tranque a porta."

Arranquei o papel e joguei no chão, abrindo a geladeira e pegando a caixa de leite. Tomei um cole, pela caixa mesmo. Não parecia estar azedo, mas senti meu estomago se revirando, por algum motivo.

Peguei minha mochila e meu tênis - que aparentemente haviam sido jogados atrás da porta do quarto quando me carregaram para a cama- e sai do apartamento de Shigeto, em direção ao meu.

Eu ainda estava meio zonzo e com vontade de dormir AINDA MAIS, e acabei tropeçando e esbarrando numa garotinha.

- Ooh..foi mal.. - falei, enquanto juntava a mochila que eu havia deixado cair.

Ela pareceu não ter sentido muito tal impacto, apenas parou e me olhou. Foi então que reconheci os cabelos laranjados amarrado em um coque.

- Ah, você é amiga de Suzuno - falei, me reerguendo e a encarrando.

Kurione Yuki, era seu nome. Baixa e um pouco..sinistra.

Me aproximei, sem esperar qualquer resposta dela, e me inclinei para olhar bem para sua cara.

- Eu nunca vi você por aqui - falei, dando um tom sugestivo e desconfiado em minha voz - O que esta fazendo aqui?

Ela não olhou para meus olhos. Continuou calada enquanto eu a fitava. Seu rosto exibia-se arrogante e um tanto grosseiro, e fria, o que me tirava dos nervos... ah, sim, ela tinha traços faciais muito parecidos com os de Suzuno Fuusuke.

- Não vai dizer nada?- perguntei, irritado-me.

Ela finalmente me olhou.

- Não é da sua conta - falou, quase num sussurro.

"Ela só pode ser algum parente.. ou uma espécie de clone feminino baixinho e meio ruivo de Suzuno" Pensei comigo mesmo.

Bufei e dei de ombros, seguindo meu caminho. Claro que tive vontade de perguntar a ela sobre Suzuno.

Qual era a relação dos dois; onde ele poderia ter ido ontem a noite; Onde ele morava... qualquer coisa. Mas é claro que eu não ia ser gentil com ela apenas para isso, naquele momento eu só queria achar alguma coisa para comer e esperar que ficasse disposto para ir para faculdade mais tarde.

De alguma forma, pude sentir Kurione me olhar até que eu entrasse em meu apartamento.

As horas se passaram rápido e eu não tinha certeza se estava bem ou não. Mas pensar em ficar em casa me deixava agoniado. Eu não queria dormir mais, eu já estava cansado disso.. não havia nada para fazer em meu apartamento. 

Shigeto voltou as 12, e parece ter corrido direto para ver se eu não estava passando mal ainda.

- Você não pretende ir estudar hoje não, né? - ele perguntou - você sabe que sua cabeça pode doer e você perder os sentidos ou essas coisas.

- Eu estou bem - eu dizia, apertando os botões do meu celular freneticamente e sem nenhum motivo - ficar em casa só me deixaria pior.

- Ora, durma um pouco ou sei la - ele tentava me convencer.

- Já estou cansado de dormir e não fazer nada.

Estávamos sentados na mesa ao centro da cozinha. Era uma coisa velha e pequena, mas se forrasse uma toalha agradável ninguém notaria como estava velha. Infelizmente, eu não possuía nenhuma toalha bonita.

- E todos já estamos cansados de sua teimosia - falou Shigeto, bravo - fique em casa, pode usar meu computador ou sei la..

Olhei para ele.

- Hã? Vai me deixar usar seu laptop? 

- Claro que não! Estou falando do outro computador.. eu vou traze-lo aqui, esta bem? Melhor assim?

Pensei um pouco. Eu tive que confessar que por várias vezes eu pensei em negar e ir para a faculdade, falar com Suzuno. Eu estava realmente interessado em saber o que diabos ele havia feito para mim na enfermaria. Claro, só aquele início de tarde, quando eu estava me sentindo melhor - mentalmente - que eu comecei a pensar nisso.. a pensar muito nisso.

Aqueles dedos finos apertando meu pescoço. Doía um pouco, mas, aquela sensação.. era algo que realmente me deixou intrigado. A forma como ele, do nada, resolver fazer aquilo comigo. "Porque?" eu me perguntava.

"– Você vai mudar de ideia."

Sua voz passou a ecoar na minha cabeça. Um sussurro longo e provocante. A memória de ver seu rosto logo acima do meu, me olhando nos olhos.. com seus olhos azuis secos, vazios. Como seu cabelo caia em seu rosto, e como a luminosidade parecia estar contra mim, deixando boa parte de sua expressão nas sombras. Mesmo assim, ainda pude ver um breve sorriso sedutor nascendo em seus lábios.

Eu não poderia dizer se o que me mobilizou naquele momento foi seu peso sobre mim e suas mãos me estrangulando pouco a pouco, ou o fato de eu estar tão surpreso e exitado com a situação. Eu me sentia estranho por lembrar disso e desejar que tudo acontecesse de novo.

- Então, pode ser? - a voz de Shigeto me trouxe de volta a realidade, como se ele tivesse jogado um balde de água fria em mim.

- Ah, sim, tudo bem.. eu fico hoje - gaguejei.

Shigeto se levantou e saiu. Algum tempo depois ele voltou carregando uma CPU.

- Onde diabos eu vou colocar isso? - perguntou ele.

Corri para tirar a louça suja que se acumulara na mesa onde estávamos, fazendo um gesto para que ele o deixa-se ali, em qualquer lugar.

Depois ele trouxe o monitor, e o teclado.

Shigeto tinha um emprego melhor, e podia comprar um computador, enquanto eu precisara vender o meu.

- Por favor, não baixe um monte de besteiras.. eu não quero vírus e nem coisas suas salvas ai - falou ele, procurando uma extensão para plugar as tomadas.

Eu fui mais rápido e a peguei numa gaveta em minha comoda, do quarto.

- Não vou fazer nada demais.. só ver um filme eu acho - falei, desanimado.

- Nada de pornografia.

- Porque? - dei uma risadinha - Você nem saberia..

- É nojento pensar nisso, cale a boca.

E logo, eu estava sozinho de novo.

Enquanto o dia parecia tão azul e aquecido lá fora, no meu apartamento parecia tudo chato e sem vida.

Liguei o computador e não demorou muito para ele carregar suas aplicações. Shigeto cuidava bem dessas coisas, e provavelmente não teria me deixado fuçar neste pc se realmente não estivesse preocupado com o risco de eu desmaiar na escola.

Mesmo com tal maquina, eu estava completamente entediado. Fiquei um bom tempo olhando para a tela, sem saber o que fazer, enquanto balançava na cadeira. Várias vezes levei meus dedos ao teclado e não sabia o que digitar.

Suspirei, olhando para o teto, como se ele pudesse me dizer alguma coisa. Novamente a imagem de Suzuno a cima de mim me veio a cabeça. O teto da enfermaria.

Eu não podia resistir em pensar no assunto. Como eu queria que ele tivesse me beijado em meio aquela situação. Como eu queria ter controle sobre meu corpo e poder segura-lo por mais tempo, aperta-lo contra mim, enquanto o acariciava. 

Senti uma certa carência tomar conta de mim, ao mesmo tempo que uma ansiedade em meu estomago, enquanto coisas estranhas se passavam pela minha cabeça.

Eu queria tanto toca-lo. Era como se eu estivesse começando a perder a razão, pensando no que fazer a próxima vez que eu o visse. Por mim, eu avançaria nele, lhe beijando e abraçando forte. Pegando-o e trazendo para casa, para minha casa.. apenas para mim. Eu podia arrancar dele mais um daquele sorriso.

Senti um certo desconforto de repente. Cocei a cabeça e me senti ruborizar ao ver como meu corpo estava reagindo aos meus pensamentos.

"Não, eu não vou fazer isso" pensava para mim mesmo, enquanto tentava me acalmar, respirando devagar.

Me levantei e fui até o banheiro, lavar o rosto.

Minha expressão era vergonhosa, diante do espelho. Eu estava vermelho e o fato de eu me ver assim me fez ficar ainda mais corado. Dei um leve tapa em meu próprio rosto e tentei espantar tais pensamentos, esperando que aquilo que estava começando a me incomodar entre as pernas se aquietasse. Lavei o rosto e suspirei alto, voltando para o computador.

"Chega de pensar nisso.." Falei para mim mesmo, puxando o teclado.

Olhei para tela mais uma vez. A página de pesquisa estava aberta.

Digitei Suzuno Fuusuke.

Vários resultados foram exibidos. Notei que Suzuno não parecia um sobrenome tão incomum quanto eu imaginada. 

Cliquei em algumas páginas, por curiosidade. Não havia nenhuma rede social ou coisa do gênero, apenas algumas noticias sobre algumas empresas.

Eu não tinha certeza se isso tinha algo haver com o Suzuno que Eu conhecia, até que encontrei uma foto.

Parecia ter sido tirada em alguma espécie de evento. Podia-se ver algumas pessoas e vultos no fundo da paisagem, onde uma família estava pousando para a câmera. 

Um homem alto de cabelos castanhos, pele amarelada e olhos azuis-petróleo, dava um sorriso grandioso para a o fotografo. Ele estava ao lado de uma mulher muito atraente. Sorriso tímido e olhos claros. Seus cabelos eram lisos e pareciam chegar até a cintura. Eram brancos como a neve. Lábios finos, rosados, e um vestido gracioso. Ela estava grávida.

Um belo casal, eu diria. Porém, minha atenção foi tomada para o outro membro da família. O garotinho postado na frente dos dois. Olhos brilhantes e azuis sorriam para a câmera. Ele tinha cabelos brancos, rebeldes e o vento parecia gostar muito deles. Ele apertava a mão de sua mãe.

" Empresário Suzuno Akira e Família, novembro de 2000 " Dizia a legenda.

Passei uns longos minutos olhando para a foto. O garotinho.. ele possuía os olhos do pai, mas o resto era idêntico a mãe. Ele era Fuusuke. Feliz, sorrindo, como uma criança normal.

"Quantos anos ele tinha? 8? 9?" Eu me perguntava. Era como estar olhando para outra pessoa..

"O que aconteceu com você?" Perguntei para a foto.

O silêncio pareceu me torturar.


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Notas finais do capítulo

u3u obrigado por ler (quem leu) ♥