Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 30
De carro na estrada.


Notas iniciais do capítulo

Eu ando testando algumas coisas. Uns jeitos diferentes de escritas, cês devem ter percebido. Talvez eu só esteja perdendo a mão, não sei, ando bem perdida ultimamente. De qualquer modo, fiz aniversário nessa quarta, e senti falta de todos vocês, então pensei que devia postar algo, qualquer coisa. Percebi que a fic está no ar há mais de um ano. Logo fará dois. E ai me senti no direito de estar mudando, porque esse tempo significa aproximadamente 10% da minha vida. 20% da minha vida desde que eu comecei a escrever. Tempo pra caralho, com o perdão da palavra. Por isso o texto de hoje é esquisito, como o último, mas de um jeito diferente. Eu ando meio esquisita, de qualquer jeito. Mas vou parar de falar agora. Até lá embaixo.



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A ponta do nariz ardia, e as bochechas ardiam, e o sol ardia, a areia de beira de estrada grudava na panturrilha quando o sapato a jogava para trás. O asfalto ardia, e ardiam os olhos. O sol ardia, o tempo todo, sempre, e a estrada não tinha fim. Vinha a curva, e eu me curvava procurando na mochila o protetor solar. Lá atrás tinha um carro, eu pedi carona, e ele já estava lá na frente, mas diminuiu a velocidade, eu corri, ele parou, e me deixou entrar, então eu entrei.

Era uma moça, e ela sorriu, me ofereceu água, e perguntou meu nome. Eu aceitei a água, minha garganta ardia, e disse meu nome porque era educado dizer. Prazer, ela disse, eu também. “Pra onde você vai?”, ela perguntou, e eu não sabia, só ia indo, indo, até onde tivesse estrada, e sempre tinha, e eu nunca parava, então disse: “Pra onde você for.” Ela me olhou, apenas me olhou, os olhos iguais aos de minha mãe, ou não, já não me lembro.

O carro ia longe, o sol ardia, e eu tinha achado meu protetor. Íamos mudas, eu e ela, talvez o rádio estivesse ligado, eu não ouvia, não queria ouvir, já não me lembrava o que era música, mas ela girou o botão, eu ensurdeci, gritei, e ela não se assustou, ela nunca parecia se assustar, só pisava no acelerador, não tinham mais curvas.

O sol ardia, mas já não queimava a ponta do meu nariz, porque eu tinha passado fator 50, e porque lá dentro estava frio, uns 15 graus, no marcador, e meu corpo esfriava, aquietando os pensamentos, então resolvi falar, mas não soube o que, as palavras morrendo na língua. Foi ela quem disse, ia longe, não pararia, eu não me importava, nem ela, íamos juntas, não sei para onde, nem ela sabe, não importa, vamos indo.

Ela encostou o carro, sem desligar, só desceu, remexeu o porta-malas, me trouxe uma blusa, bolachas, perguntou quando foi a última vez que comi, que dormi. Eu não lembrava, mas comi as bolachas, e perguntei a data, para que pudesse responder quando me perguntassem “Quando foi que comeu?”.

Meus olhos ardiam, não mais pelo sol, mas pelo sono, então encostei no vidro, e questionei se ela se importaria, mas não, ela não ligava, eu poderia adormecer. Quando acordei não sei se era dia, nem noite, não sei, tinha uma luz voltada para o meu rosto, e eu olhei para o lado, a moça assustada, pisou no freio, girou o volante, ela tinha medo, pela primeira vez, então temi, e o carro bateu. Capotamos.

Lembro-me de ter pensado que o sol não ardia, e que a areia ainda estava grudada em minha panturrilha, e que de carro eu chegaria mais rápido. De carro, na estrada, até a morte chegava mais rápido.


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Notas finais do capítulo

Não sei se vocês repararam meu lance com as cores. Cores, olhos, tempo... Minhas obsessões quanto à escrita. Aparecerão sempre. Gente, sério, comentem aqui. Eu venho sendo honesta com vocês durante todo esse tempo. Sejam honestos comigo, mesmo que seja para dizer o quão perdida eu estou, para dizer que o caminho não é esse, que é melhor dar um tempo. Eu confio em vocês. Juro.
Nos vemos nos reviews. Comentem, mesmo que seja só para dizer "Parabéns, idiota!"



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