A Dustland Fairytale escrita por Olivia Hathaway, Laradith


Capítulo 5
V - And everybody needs you


Notas iniciais do capítulo

Bom, tenho uma ÓTIMA notícia pra vocês: ainda teremos +1 capítulo e um epílogo! Lá nas notas finais eu explico =)

Ok, título sem graça, me perdoem D:



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"Você não está falando sério"

Dimitri nem sequer sorriu. Tinha aquela mesma máscara de mentor linha-dura que ele usava comigo durante os nossos treinos em St. Vladmir. Aquela mesma máscara que me fazia querer socá-lo em muitos momentos. Mas eu tinha certeza de que ele estava se divertindo com aquilo tudo. "Eu estou falando sério. Ou você dá as dez voltas na quadra, ou não teremos treinamento"

Ele mal falou isso quando seu celular começou a tocar. Dimitri fez um sinal e se afastou para atender, interrompendo os protestos de Viktoria.

"Rose" Viktoria pegou minha mão. Eu podia ver o desespero na sua voz. Ela parecia uma criança que estava implorando alguém convencer seus pais para dar algum doce para ela. "Por favor, mande ele parar de brincar comigo! Isso não tem graça"

Eu abri um sorriso triste para Viktoria. "Infelizmente, ele está falando sério. Mas não se preocupe, ele vivia fazendo isso comigo nos nossos treinos. Você ainda está tendo sorte"

"Ele era tão carrasco assim?" perguntou, lançando um rápido olhar para Dimitri, que estava do outro lado da varanda, falando animadamente no celular. Eu segui seu olhar, analisando Dimitri por um breve momento. Eu nunca me cansava de achá-lo lindo. Ele usava jeans e uma camiseta branca de manga, que dava uma boa visão dos seus braços musculosos. Seu cabelo marrom estava preso naquele usual rabo de cavalo, e algumas mechas tinham escapado, caindo teimosamente no seu rosto.  "Rose?"

"Huh?"

"Dimitri era pior com você? Eu acho meio difícil acreditar nisso"

Novamente, eu tive que morder o lábio para não rir. Memórias da nossa antiga vida na Academia voltaram com força. "Isso não é nada. Espera só até ele começar com as lições de vida zen e mais um monte de conselhos chatos. E é claro, as perguntas absurdas. Tinha horas que eu queria ter nascido surda"

"Eu ouvi isso" rosnou ele.

Eu decidi continuar a provocá-lo. "Fora que ele literalmente me matava nos treinos. E ele era sempre severo. Não era a toa que também o chamavam de anti-social"

"E eu me pergunto como você aguentou ele depois de tudo" disse Viktoria, entrando na brincadeira.

"Isso é simples" Dimitri disse, se aproximando de nós. Ele tirou uma mecha do meu cabelo e sorriu para mim. "Meus conselhos zen são irresistíveis."

Suspirei. "Uma pena que seus ensinamentos sobre controle não deu muito certo. Mas pelo que me lembre, você não estava querendo que eu aprendesse isso" Viktoria arfou, entendendo o que eu quis dizer. A mão de Dimitri que estava brincando com o meu cabelo congelou. Rindo, eu me estiquei e beijei seus lábios levemente. Achei que ele iria recuar, já que ele não era muito de mostrar nossa relação publicamente, ainda mais quando se tratava de beijos. Mas ele não o fez. Muito pelo contrário, aquilo só o fez se aproximar mais. Eu apertei seu nariz. "Você anda convencido demais. Acho que preciso chutar a sua bunda para te colocar no seu lugar"

"Isso!" exclamou Paul, se aproximando de nós. Eu nem tinha visto que ele tinha saído. Seus olhos brilhavam de pura excitação. "Lutem! Queria muito ver vocês dois lutando. Todo mundo fala que vocês dois são fodas. E que foi o tio Dimka te treinou"

"Foi ele mesmo" falei, dando um tapinha no ombro de Dimitri. "E seu tio meio que tem uma reputação de deus lá."

Eu podia jurar que Dimitri tinha revirado os olhos. "Menos, Rose"

"Mas é isso o que ouvimos sobre vocês dois" Paul disse.

"Então vamos fazer o seguinte" começou Viktoria. Todos nós olhamos para ela. "Rose e Dimitri lutam. Se a Rose ganhar, eu não preciso correr essas dez voltas. Se Dimka ganhar, bem... eu corro"

"E sem reclamar" completou Dimitri, desdenhoso. Eu olhei para ele, confusa. Era isso mesmo? Eles tinham acabado de fazer uma aposta, uma que me envolvia, e ele tinha aceitado?

Viktoria apertou a mão dele. “Aceito" seus olhos caíram em mim, e eu sabia que ela ficaria muito, mas muito desapontada se caso eu acabasse perdendo.

Pigarreei. "Vocês nem ao menos perguntaram se eu topei com isso. E sério, Dimitri, você quer mesmo lutar?"

Ele deu de ombros. "De qualquer modo, foi você mesma que disse mais cedo que queria me colocar no meu lugar. A não ser que você tenha desistido disso"

 “Nunca,” respondi imediatamente, e um segundo depois percebi no que tinha realmente me metido. Segui Dimitri até o jardim.

A ideia de lutar com Dimitri de novo era muito tentadora. Quando treinávamos juntos, era como se só existisse nós dois naquele lugar – embora nosso nível de atenção aos arredores aumentasse – e tudo, qualquer movimento, era considerado uma ameaça. Havia algo nos nossos treinos e lutas que era puramente animal, e nos controlava assim como a nossa paixão. Portanto, voltar àquela situação agora, dentre todos os lugares, era ... inesperado.

Mas, claro, novamente Rose Hathaway nunca sairia de um desafio. “Ok, então,” eu disse, me movendo e ficando de frente a ele. “Isso vai ser divertido.”

Viktoria e Paul perceberam imediatamente que eu e Dimitri havíamos começado a observar o outro de um modo diferente – avaliando as forças e fraquezas um do outro – e saíram do caminho, se sentando em um banco do outro lado do jardim.

Agora só havia e eu e Dimitri. Foi como se fôssemos transportados de volta para St. Vladmir, um rodeando o outro, com a guarda levantada... Me lembrei de todas as nossas lutas e treinos, e de seus golpes. Ele aparentemente estava fazendo o mesmo, e ninguém queria desferir o primeiro soco.

“Como nos velhos tempos,” eu disse.

“Ah, isso vai ser muito melhor que nos velhos tempos,” ele murmurou, me dando um meio sorriso. Percebi que ele havia deixado seu lado direito aberto, e aproveitei a oportunidade. Desferi um chute lateral esquerdo com pouca força, e ele imediatamente se defendeu.

Havia começado.

Dimitri se aproximou e desferiu uma rápida combinação de socos e chutes, que só conseguiram me deixar na defensiva. Levei um dos chutes no quadril, mas meu nível de adrenalina estava alto demais para sentir dor. Bloqueei-o como uma profissional e, usando meu tamanho como vantagem – uma de suas primeiras lições – tentei deslizar um soco por baixo da sua guarda para distraí-lo. Quando ele se moveu para me deter, sai do seu alcance e desferi outro golpe na lateral do seu rosto, com a outra mão.

O movimento tinha sido rápido demais para ele se prevenir, mas eu também não consegui colocar tanta força por trás dele. Nós nos conhecíamos bem demais. Toda vez que ele tentava alguma coisa, eu reconhecia seus golpes e combinações e o bloqueava facilmente – isso quando eu não simplesmente o evitava – e eu era quase rápida demais para ele bloquear. Infelizmente, ele também me conhecia tremendamente bem em batalha, e conseguiu me impedir na maioria das vezes.

Essa dança continuou até Paul começar a reclamar da falta de ação – e alguns vasos pequenos terem sido quebrados. Eu estava suando e usando toda a minha concentração para me manter longe de Dimitri – para variar – mas isso não era o bastante para Paul. Ele queria uma luta de verdade.

Como último recurso – e procurando animar Paul, sem duvida – Dimitri usou a força bruta contra mim. Quando me esquivei de outra combinação complexa de chutes, ele simplesmente veio para cima de mim, agarrou o meu braço, e me levou para o chão. Na minha visão periférica, vi Paul se levantar.

Rolamos pelo jardim algumas vezes, e Dimitri subiu em cima de mim. Ele tentou prender meus pulsos com suas mãos, mas uma rápida cotovelada no seu queixo o fez hesitar, e eu aproveitei a brecha em suas defesas para reverter nossas posições. Agora em cima dele, era difícil manter a ofensiva com a diferença nas nossas alturas e pesos – ser mais leve e rápida foi ótimo no inicio da luta, mas agora era uma séria desvantagem.

Ele acabou ganhando a liderança de novo, mas antes que pudesse me imobilizar, rolei para a direita rapidamente. Peguei a única coisa que estava ao meu alcance – uma caixa de papelão cheia de grãos – e joguei-a em cima de Dimitri, que havia se levantado para um segundo assalto. Ele se assustou quando centenas de grãos crus explodiram no seu rosto, e a cena teria sido engraçada se ele não tivesse escorregado em uma poça de lama.

Vi minha chance quando ele perdeu o equilibro, e, com uma rápida movimentação de pés, dei uma rasteira nele. Dimitri caiu no chão, sem ar, e cheio de grãos em cima dele. Foi cômico.

Me ergui, e caminhei até o seu lado. Paul havia começado a gritar de entusiasmo com a nossa luta, e até Viktoria parecia entretida. Eu só podia imaginar como devia ter sido para eles.

“Exatamente como nos velhos tempos, hein?” provoquei, com um sorriso debochado no rosto.

Não é a toa que dizem que quanto mais alto se sobe, maior a queda.

Nesse caso, a queda foi na lama.

Eu devia saber que Dimitri nunca se daria por vencido. Copiando meu ultimo golpe, ele passou uma rasteira em mim tão rápido que mal tive tempo de reagir. Eu cairia de bunda no chão se ele não estivesse ali. Assim, eu só cai em cima dele, o que, convenhamos, não foi tão ruim assim.

“Se eu me lembro bem,” ele disse, “você costumava perder.”

“Só porque você era mais experiente que eu.”

“Era?” ele disse, erguendo uma sobrancelha para e mim – juro por Deus – me dando um olhar que não tinha a nada a ver com luta.

"Vocês dois acabaram de arruinar quase metade do meu jardim. Isso sem falar que os dois estão sujos!"

Eu olhei para cima para encontrar Olena nos olhando com desaprovação. Mas ainda sim, havia um brilho de diversão nos seus olhos. O momento entre Dimitri e eu havia sido quebrado – infelizmente – então dei um selinho nele, e me ajeitei no chão. Devolvi o sorriso, e soltei as mãos de Dimitri.

"Desculpe, Olena, mas é que eu tive que lembrar Dimitri do seu verdadeiro lugar"

Ouvi um grunhido debaixo de mim, mas aquilo estava mais para uma risada.

“Pelo o que eu vi,” Viktoria disse, se aproximando de nós, “Rose claramente ganhou a aposta.”

“Que aposta?” Olena perguntou.

“Uma coisa boba,” Paul disse. “Mas que foi muito legal.”

Olena balançou a cabeça novamente. “Vocês dois vão acabar se matando um dia. Só não vou pedir para limparem meu jardim porque provavelmente vão acabar sujando-o mais ainda.”

“Acho que é melhor eles irem tomar um banho” Viktoria adicionou.

“Concordo” eu disse. Paul e Viktoria ficaram encarregados de cuidar do jardim, e antes de Dimitri e eu entrarmos na casa, troquei um olhar com ela. Havia uma questão em seus olhos, portanto dei-lhe um pequeno sorriso e assenti.

Eu claramente havia ganhado a luta.

Mas não significava que Viktoria não sofreria.

***

Tive que sair enrolada em uma toalha do banheiro porque havia esquecido de pegar minhas roupas. Dimitri tinha tomado banho primeiro, já que ele estava mais sujo do que eu.

Eu o encontrei sentado na beirada da cama, falando no celular. Seu cabelo ainda estava molhado, e tinha pingado algumas gotas na sua blusa. Ele levantou o olhar quando saí do banheiro, me estudando brevemente. Ele parecia ter perdido a linha de pensamento por um momento quando seus olhos passeavam por toda pele que a toalha não tinha coberto. 

E antes que eu pudesse provocá-lo, a pessoa do outro lado da linha voltou a falar com ele. A expressão de Dimitri se enegreceu e ele respondeu rispidamente. Ouch, coisa boa não deveria ser. Parecia que ele estava passando ordens para quem quer que estivesse do outro lado da linha.

Silenciosamente, comecei a vestir uma bermuda. Por mais que eu não entendesse nada do que eles estavam falando, eu estava atenta as emoções de Dimitri. E curiosa para saber sobre o que se tratava. Eu estava terminando de fechar o sutiã quando ouvi Dimitri mencionar o nome de Andrey. Meus dedos congelaram por um momento.

Porque agora tudo fazia sentido. Era por isso que ele estava nervoso. Uma parte de mim me perguntou por que eu não tinha suspeitado que ele iria fazer algo assim, para ter certeza de que seu pai ficaria o mais longe o possível da sua família.

Quando Dimitri desligou o celular, eu estava terminando de abotoar minha blusa. Ele passou a mão no cabelo, um tanto nervoso. Eu caminhei até ficar na sua frente. "Eu meio que deveria ter suspeitado que você fosse fazer isso. Mesmo que eu ache que Andrey não é louco o suficiente para voltar aqui"

"Eu precisava me certificar disso. Você não deveria me olhar com essa cara" Seus lábios se torceram um pouco, quase em um sorriso seco. "Não é como se você também não tivesse sua cota de segredos sujos. Eu ouvi sobre Tarasov."

Sim, ele provavelmente sabia alguma coisa sobre o incidente em Tarasov, onde eu, Lissa e Eddie nos infiltramos e tiramos o nosso maior inimigo de lá, Victor Dashkov. Ele era um Moroi da realeza que tinha torturado Lissa para curá-lo de sua doença no passado, e usado um feitiço de luxúria que fez Dimitri e eu sucumbirmos aos nossos desejos um pelo outro. Uma distração para que seus planos com Lissa dessem certo. O plano falhou, óbvio, e ele foi sentenciado á prisão perpétua. Ele ainda estaria lá, pagando por seus crimes, se eu não precisasse saber como restaurava um Strigoi. Ele também provavelmente ainda estaria vivo. Eu não o teria matado por causa da escuridão do espírito alguns meses atrás.    

"Eu fiz aquilo porque era a única maneira de descobrir a cura" falei. Nossos olhos se encontraram. Calor se propagou entre nós. "Não importa o quão sujo foi aquilo. Eu precisava saber como te trazer de volta. Ver se aquilo não era apenas um sonho.  Foi por isso que invadimos a prisão."

"Foi você?" sua voz saiu alta. Ele parecia chocado. E com raiva."Você se pôs a esse nível de perigo? com sua Moroi?" Sua voz se exaltou "Acho que foi a maior imprudência que você pôde fazer!"

Eu segurei uma risada. Dimitri apenas me encarou com aquela expressão que dizia que ele não estava achando nada engraçado. "Estou surpresa, camarada. Achei que você teria percebido isso quando leu que os guardiões tiveram uma estranha dificuldade em se lembrar do ocorrido. Que tudo era um borrão para eles. E bem, situações insanas são comigo mesmo."

"Eu sabia que você estava envolvida. Mas não tão diretamente." Ele balançou a cabeça, ainda incrédulo e xingou algo em russo. "Não acredito" ele levantou seu olhar para o meu. Havia desaprovação lá. Eu sabia que ele não iria gostar. "Você arriscou sua Moroi e outro guardião. Você ao menos pensou nas consequências se caso vocês fossem descobertos?"

Eu apenas encolhi os ombros como resposta. Ele rosnou e agarrou a minha cintura. "Nunca mais, Rose. Nunca mais faça uma  coisa dessas. Não importa o motivo, não cometa outra loucura dessas."

Eu olhei nos seus olhos. "Não me arrependo pelo que fiz. Valeu a pena. Porque você está aqui, vivo e comigo. Não me importaria em fazer isso de novo. Não quando essa seria a consequência."

Seus dedos apertaram meu quadril. Eu sabia que ele estava absorvendo minhas palavras. Aquela intensidade aumentou."Poderia ter acarretado outros tipos de consequências. Do tipo que poderiam ter prejudicado sua carreira como guardiã"

Sorri, e coloquei meus braços em cima dos dele. "Mas elas não aconteceram. E essa é a outra parte boa"

Ele apenas ficou me olhando, e eu achei que ele estava prestes a continuar com o sermão. Mas me surpreendi quando ele me puxou para baixo, para seu colo. Nossos lábios se encontraram em um longo beijo, que se tornou feroz poucos segundos depois. Uma de suas mãos se prendeu no meu cabelo, enquanto a outra tinha entrado por debaixo da minha camiseta, deixando claro quais eram as suas intenções. E admito, eu queria muito aquilo novamente.

Ele já tinha acabado de desabotoar minha camiseta quando uma batida forte na porta, seguindo pela voz da pessoa que eu mais temia nessa casa, fez Dimitri parar.

Yeva gritou algo em russo que parecia como um sermão. Eu congelei na cama, me sentindo envergonhada por ela saber exatamente o que estávamos prestes a fazer. Dimitri, ao contrário de mim, parecia perfeitamente calmo. Ele respondeu Yeva em russo, e pela sua voz, ele não parecia muito feliz por ter sido interrompido.

Eu, por outro lado, só queria cavar um buraco para enfiar a minha cabeça. Por Deus, por que essas situações constrangedoras só aconteciam comigo?

***

Dimitri estava no processo de me mostrar os livros da família quando Viktoria nos chamou para mais uma conversa.

Eu nunca imaginaria que fosse gostar tanto de livros antigos sobre mitologia e história, mas eles acabaram sendo muito interessantes – principalmente porque foi Dimitri que me mostrou tudo aqui, mas deixei esse detalhe de lado.

Olena, Dimitri e principalmente Karolina também tinham um grande amor por literatura clássica. Finalmente consegui decifrar os livros na estante dos Belikov – novamente, por causa de Dimitri. Ele ia traduzindo os nomes das obras conforme iam passando, e me surpreendi com a escolha de alguns, como O Conde de Monte Cristo, Os três Mosqueteiros, As Viagens de Gulliver, contos de Christian Hans Andersen ... tudo isso só me dizia mais sobre essa família, e embora não fosse exatamente do meu gosto, ou livros que eu pegaria num dia qualquer para ler, ainda era adorável admirar os volumes nas estantes.

O que mais me interessou, porém, foi um livro que tinha contos russos. Mais especificamente o conto de Vassilissa, um pequeno volume de menos de cinquenta páginas, com grandes ilustrações – e, aparentemente, o favorito da infância de Dimitri. Segundo ele, a história era similar à da Cinderela, nos países ocidentais.

“Seu livro favorito era um conto de fadas?” eu perguntei, mais curiosa do que sarcástica.

Ele sorriu, seus olhos em outra época. “Eu era uma criança sonhadora, e minha mãe contava essa historia toda noite para Karolina. Às vezes ela usava as ilustrações do livro. De tanto que ouvi, comecei a amar esse conto quase tanto quanto Karolina.”

Tentei imaginar Dimitri, com uns cinco anos de idade, se esgueirando na cama da irmã para ouvir um conto de fadas da sua mãe. A imagem era tão fofa que tive vontade de abraçá-lo – mesmo sabendo que havia uma diferença bem grande do Dimitri bebê e do homem que estava na minha frente agora.

Eu ainda estava tentando tirar essa imagem da cabeça quando Viktoria chegou, e muito sutilmente, nos disse que gostaria de fazer umas observações – em outras palavras, conversar conosco.

“Se isso é sobre o treinamento, Dimitri já te concordou comigo sobre as dez voltas,” eu disse a ela.

“Não é sobre isso,” Viktoria disse. Ela parecia animada, mas ao mesmo tempo receosa. “Eu queria só te agradecer por ter ganhado do meu irmão, e... bem... você foi muito boa, Rose.”

Suspirei. “Bajulação não é um dos seus fortes, Viktoria.”

Dimitri quase revirou os olhos. “Vá direto ao ponto. O que você quer?”

Ela parecia um pouco desapontada por ter sido interrompida, mas rapidamente se recuperou. “Nada, de verdade. Só queria perguntar se vocês já se cansaram do ambiente rural e gostariam de um pouco mais de emoção, sei lá.”

Sorri. “Já tivemos emoções demais nessa vida, Viktoria. Mas estou ouvindo. Qual é a sua proposta?”

“Vou sair hoje com meus amigos até uma danceteria-“ ela não queria usar a palavra boate na nossa frente, obviamente, “- e gostaria de saber se vocês não poderiam me levar até lá.”

“Oh?” Dimitri perguntou, cruzando os braços. “Mama e Karolina estão em casa. Por que você não pediu a elas?”

“Porque senti sua falta,” ela disse. “E queria sair um pouquinho com vocês dois.”

“Aham,” eu disse, com um sorriso se formando no meu rosto. “Quer dizer que o fato de Baia inteira nos tratar como deuses por tudo que fizemos não tem nada a ver com isso, é claro.”

“É claro,” ela repetiu. Dimitri só ficou encarando-a, e eu sabia por experiência própria que era impossível ficar normal sobre aquele olhar penetrante. Ela começou a se remexer, desconfortada, mas finalmente desistiu e suspirou alto. “Não consegui dizer não a eles!”

“Eles?” Dimitri perguntou. “E o que exatamente te pediram?”

“Meus amigos,” Viktoria disse. “Eles me pediram – imploraram, na verdade – para eu levar vocês dois. Eles querem muito te conhecer. É mais uma coisa de adoração mesmo, e respeito. Eles são legais, sério. Se vocês-“

“Calma, criatura,” eu disse. “Se acalme. Eu não me importo em te levar até a boate, Viktoria, e dizer um oi aos seus amigos, mas...”

“Você não pode estar considerando isso,” Dimitri se virou para mim, surpreso. “A festa já foi agitada o bastante. Não quero ser tratado como um herói e um rato de laboratório de novo.”

“Eles não são assim,” Viktoria disse com veemência. “Só pediria isso a vocês se fosse realmente importante. Por favor, Dimka. Você é o meu irmão mais velho.”

Eu podia ver como Viktoria pedir algo a ele tendia a amolecer Dimitri – afinal de contas, ele era o irmão mais velho dela – mas ao mesmo tempo, ele não queria se submeter àquilo de novo.

“Vamos fazer isso,” eu disse a Viktoria. Dimitri novamente parecia surpreso. “Mas se você estiver nos usando para ganhar popularidade com um bando de babacas, então saiba que não vamos hesitar em interferir. Encare desse jeito, camarada. Vamos poder dar uma olhada na companhia que Viktoria mantém.”

Ele ainda parecia indeciso, então apertei sua mão. “Vai ser divertido,” completei. “E se você se sentir mal, mato eles antes que possam pronunciar outra palavra. Aí sim, as crianças vão ouvir falar de nós.”

Minha piada sem graça teve o efeito desejado. Dimitri olhou para mim por alguns segundos, assentiu levemente e finalmente se virou para Viktoria. “Tudo bem,” ele disse.

Ela deu um gritinho de felicidade e se jogou nos nossos braços.

***

Como Viktoria tinha nos falado, seus amigos estavam ansiosos para nos ver. Dava para ver em suas expressões assim que viram quem tinha acompanhado Viktoria até a boate - eu agradeci mentalmente por não ser aquela que eu tinha ido com ela na minha visita anterior. Por mais que Viktoria e eu tivéssemos nos acertado, ainda era um tanto doloroso para mim lembrar da nossa briga. E eu não queria encontrar Rolan por lá outra vez.

Reconheci Nikolai entre os dhampirs amigos de Viktoria, o que era uma surpresa. Quando eu o conheci, Viktoria não tinha nenhum interesse por ele. Nikolai, por outro lado, era apaixonado por ela. Dava para ver isso em seus olhos. E agora, olhando para sua expressão, ele ainda estava claramente caidinho por ela.

"Rose, bom ver você aqui!" ele disse, me dando um abraço apertado. Eu retribui.

"O mesmo para você! Não esperava te encontrar por aqui" falei, sorrindo.

"Bem" ele passou a mão no seu cabelo louro. "Nós estamos de férias. E a minha família mora aqui. Fiquei surpreso quando soube que você e Dimitri estavam aqui."

Viktoria nos apresentou o restante dos seus amigos, que nos olhavam como se Dimitri e eu fôssemos como deuses ou algo do tipo. Eles estavam ávidos com a nossa presença e começaram a despejar perguntas sobre a nossa vida na Corte, sobre nossas lutas e é claro, sobre como Dimitri havia voltado a ser dhampir.

Em algum momento da conversa, Dimitri ficou distraído. Para qualquer outra pessoa, ele provavelmente só estava observando o ambiente, mas eu o conhecia bem o bastante para perceber que sua mente estava em outra coisa completamente diferente. E baseado no fato da nossa conversa ter ido na direção de estilos de luta e movimentos que se pode fazer em uma emboscada, eu estava surpresa pela reação de Dimitri. E realmente curiosa.

Tentei mascarar minha curiosidade lançando olhares sutis a ele enquanto um dos amigos de Viktoria  falava, mas ele sequer olhava nos meus olhos. Depois de um tempo, percebi o quanto estava ignorando o pobre dhampir  e decidi que lidaria com os problemas de Dimitri mais tarde.

O "mais tarde" acabou chegando depois de Viktoria ter nos arrastado para dentro do clube e ter ido dançar com Kastya. O resto do pessoal se dispersou para pegar bebidas e dar uma olhada na boate - o que, obviamente, era uma desculpa para dar uns amassos.

Dimitri e eu ficamos brevemente sozinhos, e finalmente me virei para ele e perguntei, "E então?"

Ele olhou para mim brevemente, mas tornou a olhar para algo atrás de mim. Me virei e percebi que Dimitri estava observando a portaria, que não ficava muito longe de onde estávamos.

"E então o que?" ele perguntou.

"Se um Strigoi te atacasse agora, você provavelmente começaria a babar, de tão distraído que está. Vai me contar o que está acontecendo ou preciso te ameaçar com alguma coisa?"

Ao som da palavra "Strigoi", Dimitri realmente olhou na minha direção, como se estivesse me vendo pela primeira vez nos últimos quarenta minutos.

"Isso não está muito longe de acontecer," ele murmurou, quase muito baixo para meus sentidos. Com a música alta e a faladeira ao nosso redor, era difícil discernir suas palavras. Mas eu havia entendido o bastante. E quase derrubei meu copo.

"O que?" eu disse. Dimitri se inclinou para frente e cobriu minha mão com a sua.

"Mantenha sua voz baixa," ele disse. "Eu não sei o que tudo isso significa."

"Isso tudo, o quê?"

"Há uns quarenta minutos, vi uma pessoa entrar pela portaria. Uma pessoa que nunca achava que veria novamente, e que pudesse estar aqui, dentre todos os lugares."

"Quem?" eu perguntei. Ia fazer uma piada sobre ex namoradas ou algo do tipo, mas a expressão no rosto de Dimitri me assustou. Ele não estava distraído, percebi. Estava preocupado e tão concentrado na portaria que não estava ouvindo o que estávamos conversando. Se alguém o atacasse agora, tinha certeza que ele defenderia em meros segundos.

"Vlad" ele disse. "Um capanga altamente especializado. Tão sádico que seus amigos-" ele disse a palavra como se fosse veneno, "gostavam de chamá-lo de Vlad, o Empalador, em homenagem ao Vlad original. Isso porque ele era tão cruel e criativo em suas torturas quanto o primogênito."

"E você acha que ele está aqui?" perguntei. Olhei para as pessoas ao nosso redor com outros olhos. Poderia alguém naquela multidão ser um assassino?

"Eu o vi entrar por aquela porta. A menos que esteja ficando louco, era ele. E essa não é a pior parte," ele disse.

"Tem uma parte pior que essa?" a expressão dele se tornou mais negra ainda.

"Capangas são contratados, Rose. E Vlad sempre andava com o seu chefe."

"Então isso quer dizer-"

"Que não um, mas vários Strigoi podem estar aqui."


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Notas finais do capítulo

Oi genteee!
Primeiramente, queria agradecer a recomendação que recebemos da Laka! Sério, foi uma surpresa DAQUELAS que me deixou de queixo caído! Sério, Laka! Não sei te dizer o quanto nós estamos felizes por causa dela *--------------* Estamos tão felizes! Não sabe o quanto isso significa pra gente ♥ ♥ (ok, me desculpe!! não sou boa para expressar meus sentimentos em palavras!).
Segundo, desculpa a demora! Mas é que meio que nos enrolamos aqui, ainda mais a Bia por causa dos estudos. Espero que tenham gostado desse capítulo! Não foi um dos meus preferidos, mas né... qualquer coisa se tiver uma merda nos avisem que a gente reescreve ^^
E aí, gostaram da notícia? É que a gente não conseguiu resumir o próximo capítulo para encaixar nesse, porque ele estava grande demais. E sinto que não teria o mesmo efeito se tivéssemos cortado parte dele. Agora é oficial: próximo capítulo é o último e depois vem um epílogo que promete muito pra vocês! Ok, vou parar de falar sobre o epílogo aqui hehe :3
Gente, mais uma vez obrigada por todos os comentários ♥ já disse que vocês são uns amores? Amamos saber a opinião de vocês sobre o capítulo e suas ideias! E por falar nisso, queria agradecer a Denise por ter sugerido uma conversa entre Rose e Dimitri sobre o lance do Victor porque ficou muito mal explicado no livro! (ok, mesmo que aqui também tenha ficado bem breve essa conversa) Espero que tenha gostado, Dê *-*
Bom, acho que é isso! Acho que semana que vem já terminaremos a fic, ou até mesmo no feriado... vai depender do quanto escrevermos! Estou triste com isso, mas né :'(
Obrigada por tudo, pessoal!!!
Beijos ;*
— Anita H.