Não Há Quem Possa Ocupar Seu Lugar escrita por Amanda Catarina


Capítulo 17
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/33299/chapter/17

Capítulo 17 

Já era noite e não fazia nem um minuto que Rukia deixara a clínica para ir à procura de Inoue. Não somente porque estivesse angustiada com o ferimento de Ichigo, mas também por estar verdadeiramente preocupada com o estranho sumiço dela.

Sem imaginar que a companheira de Ichigo acabara de sair, Inoue entrou no quarto dele pela janela, cuidando de não ser vista por ninguém. O jovem estava desacordado e mesmo assim com a expressão de cenho franzido de sempre. Aliviada por Rukia não estar ali, a colegial levou a mão às suas presilhas invocando seu poder, não podia perder tempo.

– Conto com vocês, Ayame, Shun-o.

Enquanto a luz alaranjada do duplo escudo preenchia o quarto, ela reparava na gaze enrolada no pulso dele, imaginando a seriedade do ferimento, contudo levou apenas alguns minutos para que o dano fosse revertido por completo. Até ela mesma se surpreendeu com a rapidez, e entendeu que aquilo era o resultado de suas horas de treino com Uryuu.

Estava ao lado da cama, quando ouviu um resmungar. Arregalou os olhos, e esticando o pescoço, avistou a irmã caçula de Ichigo, adormecida junto à beira da cama. A ternura do quadro a fez sorrir.

­– Entendi... a Yuzu-chan e a Karin-chan vieram jantar aqui. Como o Kurosaki-kun esteve fora nos últimos dias, elas estavam com saudade e quiseram jantar no quarto dele.

No quarto dele... não era a primeira vez que ela entrava ali, tinha estado lá uns meses atrás para usar seu poder também, quando curou Rukia, na manhã seguinte ao aparecimento do primeiro hollow mutante. Porém, no presente momento, àquela hora da noite, na penumbra do quarto, e na certeza de estar incógnita pela pulseira, ela acabou enrubescendo.

– Tem o cheiro dele - disse baixo, olhando ao redor, ainda com a face corada.

Sem que pudesse se conter, olhou na direção do rapaz e, logo, seus olhos se fixaram nos lábios finos, entreabertos. Ponderou uns instantes e então, um impulso irresistível tomou conta de si, fazendo com que aproximasse sua mão da dele. Hesitou momentaneamente antes de tocá-lo, mas em seguida pousou os dedos sobre os dele.

A única coisa que conseguia pensar era que talvez nunca mais o visse, e isso lhe pareceu o bastante para que se permitisse conhecer a textura daqueles lábios, colando-os aos seus. Assim, foi curvando o corpo, apertando os dedos na palma da mão de Ichigo, e sua boca quase tocava a dele, quando a imagem de Uryuu, em desespero com seu sumiço, voltou à sua memória. Piscou e levantou a cabeça no mesmo instante, umas lágrimas sentidas escaparam de seus olhos graúdos, atingindo o rosto do rapaz.

– Céus... mas o que estou fazendo? - perguntou-se, muitíssimo corada.

Endireitando o corpo, ela se escorou na parede atrás de si. Balançou a cabeça para os lados num gesto de reprovação, e depois deu um soquinho no alto da cabeça.

– E não é hora de ficar chorando também... - disse, tentando não se desesperar com a possibilidade de ainda gostar de Ichigo daquele jeito. E pareceu falhar no intento, pois seu corpo todo se agitou com um tremor e um nó se fechou em sua garganta, obstruindo a passagem de ar.

Mas isso não durou muito, fechando os olhos, ela foi recobrando o controle. Claro que amava Uryuu, não tinha dúvidas, não estaria se enganando quanto a isso por tantos dias. Refletiu um pouco então, tentando entender o porque daquele impulso. A conclusão que chegou foi que sua razão entendia perfeitamente que o coração de Ichigo era de outra pessoa agora, mas seu coração... relutava um pouco ainda. Afinal, por dois anos foi apaixonada por Kurosaki Ichigo e aquele não era um sentimento que poderia simplesmente ser apagado de si.

– Sabe, Kurosaki-kun, tem um monte de coisas que eu queria fazer. Queria ser professora, astronauta, confeiteira também. Gostaria de ir numa doceria cheia de Donuts e dizer: “Quero todos!”, ou numa soverteria e pedir de tudo.

Ainda recostada à parede, ela tinha um olhar perdido no nada, até que, por qualquer razão, olhou adiante e avistou um objeto encima da escrivaninha. Não sabia se aquilo tinha um nome específico, apenas que Ichigo o usava para separar sua forma shinigami de seu corpo físico.

Ficou observando aquele acessório, lembrando das imagens mostradas por Ulquiorra naquela manhã, quando Kurosaki, mesmo usando sua bankai, achava-se cheio de ferimentos, em apuros. Nem aquele poder tão grande parecia ser o bastante para enfrentar os tais Arrankar. Este fato a fez pensar no quanto Ichigo se arriscava. Ele era só um garoto, mas tinha a segurança da cidade nas mãos. Uma responsabilidade grande demais na opinião dela, por isso desejava, com todas as forças, dividir aquele fardo com ele, mas soube que, por hora, não havia nada que pudesse fazer além daquilo que já tinha feito.

– Bem que podíamos ter cinco vidas, não acha? Assim eu poderia nascer em cinco cidades diferentes; poderia me empanturrar com cinco tipos de cardápios; teria cinco carreiras, e também... – ela fez uma pausa, e tornou a olhá-lo, mas de um jeito fraterno – ...poderia conhecer os mesmos amigos de cinco formas diferentes.

Tocou o jovem no ombro, gentilmente, com um sorriso aliviado nos lábios, rogando que sua entrega voluntária pudesse evitar que não apenas ele, mas todos os outros, não precisassem entrar em confronto com os inimigos tão logo, e tivessem mais tempo para aprimorarem suas técnicas.

Tal perspectiva fez uma expressão esperançosa se desenhar em sua face, e pensou que, no fim, foi bom ter vindo até ali, pois pôde entender de uma vez por todas que apesar de não ter conquistado o amor dele, sempre teria sua amizade, e isso realmente bastava.

– Obrigada, Kurosaki-kun... Adeus.

ooo ooo ooo ooo

O dia amanheceu com um sol fraco, e um ar gelado mostrando que o inverno estava às portas.

Meio dormindo, meio acordado, Ichigo resmungava qualquer coisa até que, de repente, ergueu o corpo num impulso, mas então, simplesmente, caiu da cama, e de cabeça no chão!

– Mas o que? Droga... - disse se condoendo. – Depois de grande aprontando dessas - repreendeu-se, esfregando a mão pela cabeça. – Ai que dor... - dizia, mas então notou que aquele era seu braço machucado.

Vidrou os olhos por alguns instantes e depois desenrolou a gaze do pulso.

– Estou curado? Mas quem? - intrigado, concentrou-se ao máximo. – Essa reiatsu...

Antes que ele concluísse a frase, notou um vento agitar a cortina e depois ouviu uma voz séria, vinda da janela, dizer:

– Provavelmente é de Inoue Orihime.

– Toushirou?!

– Venha comigo, Kurosaki. Temos uma emergência.

Durante o caminho o capitão do décimo esquadrão não disse nada além, ainda que o adolescente tenha insistido. Então, cerca de alguns minutos, os dois chegavam à loja Urahara. Entraram numa sala, onde Ichigo nunca tinha estado, na qual havia um monitor, imenso e esquisito ao fundo.

– Rukia? - foi a primeira coisa que o adolescente falou, estranhando tudo aquilo.

Ela sustentou o olhar interrogativo dele por breves instantes, e então virou de lado, parecia bem preocupada. Além da nobre, Abarai Renji, Madarame Ikkaku, Yumichika Ayasegawa e Matsumoto Rangiku também estavam lá.

– Você por aqui, Renji? - comentou Ichigo. – O que se passa?

Urahara entrou na sala naquele instante.

– A interferência que impedia a comunicação foi anulada - anunciou ele. – Daqui a pouco estaremos recebendo a transmissão - disse, encarando o capitão presente, que fez um gesto de assentimento.

Precisamente alguns segundos depois, o monitor acionou-se sozinho e o grupo se defrontou com o capitão do décimo terceiro esquadrão.

– Ukitake? - Hitsugaya falou. – Não era pra ser o capitão-comandante?

Pedi para trocarmos.”

– Por qual motivo? - retrucou o baixinho.

Porque atendendo um pedido do Urahara-san, que chegou a mim graças a Yoruichi-san, eu estive ontem no Mundo Real, junto com o vice-capitão Abarai, e fomos nós que averiguamos o desaparecimento de Inoue Orihime.”

– Desaparecida?! A Inoue? - espantou-se Ichigo. Rukia só não ficou tão espantada quanto ele, porque já estava a par daquele fato, apenas ignorava os detalhes.

Segundo Urahara, ela desapareceu logo após a chegada dos Espada. E desde esse instante também, um tipo de interferência impediu todo e qualquer contato entre a Soul Society e o Mundo Real.”

– Imagino que tenha sido isso que fez um capitão de sua alçada vir até aqui... - comentou Hitsugaya.

Sim, tal fenômeno despertou mesmo meu interesse, pois jamais tinha visto nada parecido. De todo modo, quando eu e Abarai chegamos, de tarde ainda, encontramos um ínfimo resquício da reiatsu dela nas proximidades de um parque, bem distante do local onde as lutas aconteceram.”

– E o que mais, Ukitake-san? - Ichigo indagou, impaciente.

Bem, agora vem o mais complicado... como são poucas as possibilidades para que a presença de um ser humano seja ocultada de nossos rastreadores, e após a investigação, eu apenas consegui supor que, ou ela foi levada viva ao Hueco Mundo, ou talvez... esteja morta.”

– Capitão! - exclamou Rukia. – Mesmo que seja apenas uma suposição, dizer isso assim...

Sim, eu sei. Não queria ser eu a dizer tal coisa, mas preciso expor as possibilidades.”

– Deixa de brincadeira! Só porque ela sumiu, já diz que ela está morta?! Não diga coisas sem saber! - esbravejou Ichigo.

Rukia, ao lado do adolescente então, fez um gesto de cabeça, concordando com ele, enquanto os demais shinigamis o encararam apenas.

– Veja isso - disse ele, mostrando o pulso para o capitão. – Eu fui muito ferido na luta ontem. Tanto que ninguém aqui conseguiu me curar. Mas ao acordar hoje, vi que estava totalmente curado. Além disso, ainda sinto vestígios da reiatsu da Inoue no meu pulso! Mesmo assim você vai dizer que ela está morta?! - desatou muito nervoso.

Entendo. Isso é uma pena.” Foi a resposta que veio, não de Ukitake, mas do capitão-comandante Yamamoto Genryusai, que tomou o lugar daquele primeiro.

– Uma pena? O que quer dizer com isso? - Ichigo indagou, desconcertado.

Se isso é verdade, Inoue Orihime está viva. Mas, ao mesmo tempo, isso também significa traição.”

Tanto Rukia como Ichigo arregalaram os olhos de susto.

– Traição? - repetiu o rapaz.

Imaginávamos que sua amiga houvesse sido raptada pelos Arrankar durante o ataque, mas se fosse assim, ela não poderia ter vindo a seu encontro depois. Ou seja, se Inoue Orihime curou seu ferimento e tornou a desaparecer, isso significa que ela foi até os Arrankar por vontade própria.”

Estupefato, Ichigo vidrou ainda mais os olhos, simplesmente sem conseguir acreditar que tinha mesmo ouvido aquilo. Sua revolta foi tamanha, que foi impossível se conter:

– Desgraçado! - vociferou, com ímpetos de esmurrar aquele monitor, mas antes que fizesse qualquer coisa, Renji tocou em seu ombro.

– Se falar mais que isso, só vai piorar a sua posição - alertou ele, encarando o jovem com seriedade, depois voltou-se ao superior. – Compreendemos o que nos disse, capitão-comandante Yamamoto. Agora mesmo, eu, Abarai Renji, presente aqui por ordem do capitão Ukitake e vice-capitão do sexto esquadrão, irei ao Hueco Mundo para abrir os olhos da traidora Inoue Orihime.

– Renji? - falou Ichigo com certo assombro, e logo o amigo lançou-lhe um olhar de encorajamento.

A prontidão de Abarai cativou Matsumoto, e também a fez pensar, numa fração de segundo, que se fosse ao Hueco Mundo, talvez pudesse encontrar Ichimaru Gin e desvendar o mistério que o fez trair a Soul Society. Com isso em mente, ela falou:

– E eu, Matsumoto Rangiku, vice-capitã do décimo esquadrão, gostaria de ser escalada para auxiliar o vice-capitão Abarai.

Hitsugaya não fez mais que arquear uma sobrancelha, enquanto o semblante de Ichigo se iluminou em ânimo, mas apenas por breves instantes, pois Yamamoto bateu seu cajado no chão e falou:

Negado. Agora que sabemos que os Arrankars estão prontos para a batalha, todos do Grupo de Expedição do capitão Hitsugaya e o vice-capitão do sexto esquadrão, devem voltar para se juntar à linha de defesa da Soul Society.”

Rukia se manifestou de pronto:

– Isso quer dizer que devemos abandonar Inoue Orihime, capitão-comandante?

Exatamente. Não há dúvida entre a escolha de salvar um só ser humano ou o mundo.”

– Com todo respeito... não aceitarei tais ordens! - exclamou sem esconder sua indignação e revolta.

Ichigo voltou-se a ela, enlevado com sua coragem, e balançou a cabeça num assentimento.

Como imaginei. Foi bom eu ter tomado providências no caso disso acontecer.”

No exato instante em que Yamamoto terminou de proferir essas palavras, um portal seikamon se abriu dentro ainda daquela sala, e por ele passaram para o Mundo Real o capitão do décimo primeiro esquadrão, Zaraki Kenpachi, ao lado do capitão do sexto esquadrão, Kuchiki Byakuya.

– Capitão? - exclamou Renji.

A expressão impassível de seu superior foi toda a resposta que obteve.

– É isso aí, cambada. Voltem todos! - intimou Kenpachi.

– Mas não podemos dar uma força para o Kurosaki, capitão? - retrucou Ikkaku, mas também só recebeu indiferença de seu superior.

Resignado, o calvo baixo a cabeça e silenciou. Também tinha certa estima pela humana, e não conseguia realmente acreditar que ela estivesse mancomunada com os inimigos, e o mais importante, apreciaria invadir aquele lugar e lutar ao lado de Ichigo, contudo, nem em sonho iria contra seu capitão.

Yumichika só lançou um olhar pesaroso ao colega de equipe, e nem ousou abrir a boca.

– Não resistam - Byakuya retomou. – Temos ordens de levá-los de volta, mesmo à força.

Renji e Rukia se retraíram feito dos filhotes diante da advertência do chefe do clã Kuchiki. Não poderiam desobedecê-lo, ao menos não naquele momento.

Cabisbaixo, Ichigo voltou a falar:

– Tudo bem... Já que é assim, não pedirei a ajuda da Soul Society, mas pelo menos me digam como chegar no Hueco Mundo. A Inoue é nossa amiga. Eu irei sozinho salvá-la.

– Ichigo... - balbuciou Rukia, ponderando na resolução dele, apreensiva.

Ele não se voltou a ela, mantendo o olhar fixo no capitão-comandante.

Negado.” - novamente foi a resposta de Yamamoto.

– Como é? - desacreditou o rapaz.

Seu poder é necessário nesta batalha. Não permitirei que aja por conta própria e nem que morra à toa! Fique de prontidão até receber novas ordens. Isso é tudo.”

Depois dessa enfática resolução a transmissão foi encerrada.

– Vamos. - chamou Zaraki.

O adolescente permaneceu no mesmo lugar, atônito, de costas para Rukia, que olhava em sua direção.

– Ichigo... - falou ela, alto bastante para que ele a escutasse - ...me perdoe.

Depois disso o grupo de shinigamis começou a se retirar. Toushirou e Rangiku foram os primeiros a adentrar o portal, seguidos de Ikkaku e Yumichika, depois Renji e Rukia, e por fim, os dois capitães.

Urahara, que ouvira toda a discussão do lado de fora da sala, já que, por qualquer razão, não parecia à vontade diante da presença do líder dos shinigamis, se aproximou de Ichigo e o tocou no ombro.

– Muitas vezes as decisões da Soul Society visam somente um bem maior... - elucidou, num tom ameno. – Você terá que aprender a lidar com isso.

– Me recuso a aceitar uma coisa dessa. - devolveu firme, apesar de baixo.

– Eu já imaginava... - falou como quem quisesse acrescentar algo. – Mas agora não é hora de pensar nisso.

O jovem o encarou nos olhos.

– O que quer dizer?

– Talvez não esteja sabendo, mas o Ishida-kun e a Inoue-san estão namorando.

Ichigo se surpreendeu, apesar de já suspeitar daquilo, principalmente depois do dia em que os dois foram juntos a sua casa, sob o pretexto de levar a matéria da aula. E não entendeu o porque deles mesmos não terem lhe contado a nova.

– Realmente, eu não estava sabendo...

– Ele está arrasado - contou Urahara. – E não sabe de nada disso que acabamos de ouvir. Você precisa conversar com ele.

– Eu?

ooo ooo ooo ooo

Desde a tarde do dia anterior, Tatsuki esteve procurando por Orihime, pois ficou preocupada quando voltou a sentir a presença de Ishida, mas não a dela. Tentou contatá-lo de todas as formas, mas assim como ela, o colega de sala parecia ter evaporado.

Não era a primeira vez que Inoue escondia as coisas dela, e compreendia que ela fazia isso para protegê-la, já que não tinha poderes com os quais pudesse enfrentar os bizarros monstros que apareciam em Karakura. Mas sua intuição lhe dizia que havia algo diferente daquela vez. Todos estavam lá, menos Orihime.

Correndo afoita pelas ruas da cidade, ela foi até confeitarias, restaurantes, soverterias, lojas de roupas, de utensílios, o shopping, realmente em todos os lugares que frequentavam juntas, e nada.

Procurou pela amiga até o anoitecer e do alto da colina onde costumavam contemplar a paisagem da cidade, ela se convenceu que algo muito sério havia acontecido. Voltou para sua casa, exausta, achando que fosse conseguir dormir, mas por volta da meia-noite, teve certeza de que sua amiga não estava mais naquele mundo, e essa convicção a fez correr até o apartamento de Orihime, mesmo àquela hora da noite.

Lá, teria arrombado a porta se não tivesse percebido que a mesma só estava encostada. Entrou trêmula. Tudo estava bem arrumado e sobre a mesa baixa da sala havia um caderno aberto. Nele, uma mensagem escrita.

Não passava de umas recomendações que ela deixara a Ishida, certa de que ele cuidaria de seu apartamento. Evidentemente, era uma prova inegável de que Orihime, de fato, partira para outro lugar, além disso tinha um tom de uma contrariada despedida.

Segurando heroicamente as lágrimas, Tatsuki arrancou aquela folha e deixou o local, sem rumo, sem saber o que fazer ou a quem recorrer. E assim, nem viu quando a noite deu lugar ao dia, muito menos a manhã passando. Estava numa praça qualquer, ainda com as mesmas vestes do dia anterior, quando, saindo do horrível estado de torpor em que se achava, lembrou-se de Ichigo.

– Claro... ele deve saber de alguma coisa. Afinal, toda essa loucura que a vida dela virou é culpa dele! - disse, cerrando os punhos, dominada pela raiva. – Talvez ele apareça no colégio. Preciso ir pra lá agora mesmo!

ooo ooo ooo ooo

Ichigo teve que amargar a mofa da professora que resolveu implicar com ele só por ter chegado um bocado atrasado. Que encheção... foi uma daquelas manhãs em que as horas teimavam em se arrastar, mas finalmente o sinal do almoço soou.

Que estupidez minha achar que ele teria cabeça pra vir pra escola...” pensou, imaginando que teria que encontrar Uryuu seguindo a reiatsu dele, mas ao deixar a sala foi capaz de perceber, para seu alívio, que o colega estava próximo dali, no entanto, foi Tatsuki, que acabava de chegar também, quem encontrou o jovem quincy primeiro.

– Seu irresponsável! - vociferou ela, apontando o dedo a ele. – Por onde esteve todo esse tempo?!

– Procurando a Inoue-san...

– Ela não está mais aqui! Não está! - gritou e agitou o pedaço de folha de caderno perto do rosto dele.

Bem depressa Ishida agarrou aquele papel e correu a vista pela mensagem, mas ao terminar ficou ainda mais perdido que antes. Ao menos foi um alento saber que ela ainda estava viva.

– O que significa isso? Responda! - ela não baixava o tom. – Que lugar é esse que ela foi onde não posso sentir sua presença?!

Diante do estado de transtorno de sua colega, Ishida achou que perdesse o pouco ânimo que lhe restasse, e não pôde deixar de pensar que irresponsável era uma palavra ideal para defini-lo então, tanto que nem encontrou nada que pudesse dizer em sua defesa.

Revoltada com a inércia dele, a jovem não conseguiu se conter, e dando vazão ao desespero que a consumia, desferiu um soco potente contra a face de Uryuu.

Ele poderia ter se esquivado facilmente, mas não o fez, recebeu o golpe em cheio, e a força foi tamanha que fez um filete de sangue escorrer pelo canto de sua boca.

– Diga alguma coisa seu miserável! - ela gritava, prestes a ceder as lágrimas novamente.

O quincy abaixou a fronte.

– Se eu soubesse de seu paradeiro não estaria aqui servindo de saco de pancadas... - falou com amargura.

– Seu... - esbravejava pronta a acertá-lo novamente, mas dessa vez seu pulso foi agarrado por alguém.

– Deixa disso, Tatsuki.

– Ichigo?! - exclamou ela.

Uryuu ergueu a cabeça no mesmo instante.

– Kurosaki?

– Ishida, eu preciso falar com você.

– Se tem a ver com a Orihime, nem pense em me deixar de fora, Ichigo! Senão vou socar você também! - ameaçou histérica.

Como os gritos de Arisawa podiam ser ouvidos a metros dali, Keigo e Mizuiro se aproximaram depressa do trio, e logo estavam estarrecidos com o estado de sua colega de sala, que se apresentava toda desalinhada e com olheiras fundas. Não ousaram dizer nada, mas ficaram atentos à conversa.

– Tem a ver sim com a Inoue, só que não é da sua conta, Tatsuki... - Ichigo anunciou com extrema frieza.

– Como é que é seu miserável?! - gritou ainda mais alto, e teria voado no pescoço do ruivo, se não tivesse sido impedida pelos recém chegados.

Curioso pela afirmação de Ichigo, Uryuu não hesitou em usar seu poder espiritual para atordoar Arisawa, que atingida por uma onda de energia, tombou sem sentidos.

– Cuidem dela - falou ele aos dois rapazes que a sustentavam.

Ichigo se sentiu péssimo por Tatsuki, contudo, apenas ficou olhando os colegas a levarem dali, afinal a situação já era preocupante o bastante para que também ela fosse envolvida.

– Diga de uma vez o que sabe! - exigiu Uryuu, encarando-o com notória aflição.

– Aqui não é um bom lugar, ainda mais depois dessa gritaria toda.

Após dizer isso, Ichigo foi andando rumo a saída do prédio. Ishida o seguiu, caminhando um tanto mais atrás.

Os dois chegavam à área das quadras quando Uryuu se impacientou:

– Kurosaki!

Ichigo voltou-se a ele e anunciou sem mais delongas:

– Inoue está no Hueco Mundo.

O moreno encarou momentaneamente o outro, atordoado com a notícia.

– Impossível!

– Não, não é. Essa é razão pelo qual não sentimos mais sua presença. Mas eu posso te assegurar que ela está viva.

– Mas como você pode ter certeza disso?

Ichigo escolheu bem as palavras, pensara a manhã inteira em como contar aquilo sem que ele pensasse mal de Orihime.

– Ontem eu tinha um ferimento muito grave no pulso e hoje amanheci totalmente curado. Com certeza isso foi coisa da Inoue.

– Como é que é?! - desacreditou o quincy. – Mas quando ela teria feito isso?!

– Nessa noite que passou... - ele tentava passar imparcialidade, apesar de estar meio embaraçado com a situação.

– Sem chance! Eu a procurei pela noite inteira, se ela estivesse aqui e ainda usando seus poderes eu teria notado!

– Ishida, isso é o de menos agora. Ela me curou, isso é um fato. Só que isso também causou um grande... mal entendido.

– Do que raios está falando?

– Então né... parece certo que ela foi capturada quando os Arrankar chegaram, mas por ela ter me curado bem depois disso, a Soul Society acha que ela foi com eles de livre e espontânea vontade... cogitaram que ela se aliou ao tal do Aizen.

Uryuu deu um forte sobressalto.

– Mas isso... - balbuciou atônito - ...isso é um absurdo! - vociferou, e agarrou Ichigo pelo colarinho da blusa. – Está insinuando que Orihime se aliou aos inimigos?! Vou fazer você engolir essa lorota!

Fitando o moreno nos olhos, com uma seriedade rara, Ichigo segurou e afastou o punho cerrado dele.

– Lógico que eu sei que isso é um absurdo! - exclamou convicto e alto.

Ishida se retraiu por uns instantes.

– Então por que não disse isso a eles?! - rebateu, indignado.

– Acha que não falei?! Não só eu, Rukia, Renji, até o Ikkaku, todos teriam ajudado não fosse... - ele silenciou com a zanga que voltou a sentir de Yamamoto.

– Não fosse? - desesperou-se Uryuu.

– Não fosse aquele velho da Soul Society nos obrigar a abandoná-la, com um papo irritante de que é muito mais importante defender a cidade do que se arriscar por uma só pessoa.

– Que?! - exclamou a beira de um colapso. – É assim que você pensa?

– Dá um tempo! Claro que não estou de acordo com isso. Acha que vim aqui só pra te inteirar do babado? Nada disso! Vim te chamar pra resolver a questão. A Inoue tem que ser salva!

Uryuu estremeceu, doido de ciúmes ao ouvi-lo dizer aquilo. Talvez pelo cansaço ou simplesmente por insegurança, não conseguia olhar para Kurosaki como seu amigo, e sim como um rival. Além disso, sentia-se um tanto magoado com o fato de Orihime ter arranjado tempo de ir curá-lo, ao passo que a ele só deixou uma mensagem sem nexo.

Ichigo o encarou com pesar. Tinha uma ligeira ideia do que ele estaria passando. Ligeira porque nos últimos dias se viu forçado e estar afastado de Rukia, mas a diferença em relação à situação enfrentada pelo amigo era exorbitante.

O silêncio que se estendia entre os dois foi quebrado pelo quincy:

– Então ela está no Hueco Mundo? Muito bem, era só o que eu precisava saber - disse, e dando as costas ao ruivo, foi caminhando na direção contrária.

– O que vai fazer?

– Eu vou salvá-la.

– E posso saber como pretende chegar no Hueco Mundo?

– Isso não é da sua conta. Além do que se os shinigamis conseguem, um quincy muito mais.

Ichigo bufou.

– Conversa... - desdenhou ele.

– Pode pensar o que quiser. Eu juro pelo meu orgulho de quincy que irei trazê-la de volta.

– Olha aqui - começou o ruivo –, o sumiço da Inoue é da minha conta sim, porque goste você ou não, ela ainda é minha amiga. E nada me fará virar as costas pro meus amigos!

O moreno deteve as passadas.

– Onde quer chegar com esse falatório?

– Eu pretendo salvar a Inoue. Se você também quiser isso, vê se engole esse teu orgulho e venha hoje à noite até a casa do Urahara-san. Ele sabe um jeito de chegar no Hueco Mundo. Eu e o Chado já estamos decididos.

Uryuu vidrou os olhos, desconcertado. Então olhou para o outro, por sobre o ombro.

– Sado? - indagou descrente.

– É, ele também esteve treinando muito nos últimos tempos, eu vi com meus próprios olhos o quanto ele evoluiu...

Ishida apertou os óculos e inspirou pesadamente, mas o bom senso começava a voltar ao seu devido lugar. Continuou parado ali, e logo foi Ichigo quem passou por ele.

ooo ooo ooo ooo

Rukia fechou o pequeno monitor a sua frente e se ergueu da mesa baixa. Acabara de ler uma breve mensagem enviada por Urahara dizendo que Ichigo partiria ainda àquela noite para salvar Inoue.

Suspirou fundo, apoiando a cabeça numa das mãos.

Desde que voltara, algo dentro de si estava inquieto com um certo ciúme, por causa do modo impulsivo com que Ichigo enfrentou o capitão-comandante. Mas tratou de afastar aquilo da mente. Também gostava muito de Inoue e não podia permitir que aquele sentimento egoísta arranhasse sua amizade com ela.

– O que importa agora é que Ichigo não pode invadir aquele lugar sozinho! - afirmou a si mesma e saiu correndo rumo à sede do sexto esquadrão, em busca de alguém que sabia não deixaria de ajudá-la numa situação como aquela: Abarai Renji.

CONTINUA...

ooo ooo ooo ooo

E esse foi o penúltimo capítulo! Espero que tenham gostado. E deixo uma sugestão, assistam os episódio 141 e 142 para verem as diferenças entre a fic e o anime. 

Agradeço por todos comentários, e por favor, não deixem de comentar! Beijão pra todos! =^.^=


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!