Nossa Eterna Usurpadora escrita por moonteirs


Capítulo 76
Trégua


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores, desculpem a demora, minha meta agora é postar um capitulo novo a cada sábado ♥
Esse capitulo é em comemoração de três coisas: O aniversário de 3 anos da fic que foi semana passada, o dia do Spanicfan que foi dia 09 (ehhba parabéns pra gnt), e a 23º recomendação, mesmo não sabendo o nome da pessoa que o fez, eu agradeço muito.
Enfim, boa leitura ♥



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— Sim, Carlos Daniel, eu tenho certeza! - Paulina disse se desvencilhando daqueles fortes braços.

A forma fria como ela o fez, assustou Carlos Daniel. Diferente do ocorrido ainda naquela manhã, na biblioteca da casa de Paulina, naquele momento ela não deixou-se vencer pelo desejo ou saudade. Sua pele não se arrepiou, sua voz não se perdeu, o contato visual dele não a hipnotizou e a proximidade de seus corpos pareceu não a afetar. A semente do rancor que antes parecia ter desaparecido, voltou a crescer com a acusação de traição feita por ele. Aquelas poucas palavras ditas no calor do desespero fizeram com que ela voltasse a enxergar seu objetivo de vingança e ódio contra seu ex-marido. Paulina o amava com a mesma intensidade que o odiava.

Carlos Daniel preferiu não mais provoca-la ou perguntar o porquê daquele comportamento, ele sabia muito bem qual era o motivo. O único problema era que ele também estava magoado com a possibilidade em que acreditava. Sua mente desesperadamente procurava arquitetar outros caminhos para Fernando ser filho de sua amada, mas todos eles o guiavam para a infidelidade. Infelizmente, em sua cabeça, aquela loucura seria possível, ainda mais por lembrar dos momentos que passaram separados na época que Paulina pensou que ele a havia traido com a irmã. “É possível, é possível sim. Quando nos reconciliamos, a Gabriela tinha meses e aquele Maldonado vivia rondando a Paulina” “Sim, o Maldonado, se for pensar bem, o Fernando se parece com ele” “É, ela não pode negar, eles são quase idênticos, ela me traiu”. Ainda mais revoltado, ele seguiu andando no caminho com a cara fechada e sem cogitar a idéia de pedir desculpas. Como pedir desculpas se o orgulho e voz malvada na mente falam mais forte?

Eles seguiram andando por mais algumas horas sob o sol quente e sem trocarem ao menos uma palavra. Paulina e Carlos Daniel estavam certos de que eram as vitimas de suas histórias, e o orgulho que sentiam confirmava ainda mais essa certeza. As poucas vezes que eles olharam uns pros outros aconteceram de forma rápida e com a mirada carregada de rancor, nada se pareciam com o casal que trocava beijos e caricias horas antes naquela manhã de domingo.

Já se passava das três da tarde, duas horas depois do começo da caminhada, quando a sede, fome e o calor excessivo começaram a incomodar mais do que o normal. Mesmo sentindo seus corpos implorando por descanso, eles não pararam e com apenas diminuindo a velocidade de seus passos, eles seguiram no caminho de terra. Carlos Daniel acabou por caminhar um pouco mais a frente que Paulina, não muito, apenas alguns passos, mas uma distância suficiente para manter a greve de silêncio que havia entre os dois. Sem olhar para trás e atento a qualquer coisa que pudesse indicar o acampamento ou alguma alma viva por ali, ele seguia reto quando ouviu algo que não esperava.

— Carlos Daniel... - A voz de Paulina não estava mais carregada de prepotencia ou irônia, estava fina e quase parecia sem forças.

Mesmo tentado a responder ou se virar, o orgulho foi mais forte, e ali ele decidiu fingir que não tinha ouvido nada, apenas ignorou o chamado dela e seguiu adiante.

— Carlos Dan... - A voz com tom de sussurro se perdeu no ar antes que Paulina pudesse completar todo o nome de seu ex-marido.

Aturdido pela fraqueza na voz dela, ele se virou a tempo de ver o corpo de sua amada desfalecendo. Com uma rapidez que nem ele entendeu, Carlos Daniel chegou até Paulina, mas não antes que seu corpo chegasse ao chão. A pegou no colo e tentou desesperadamente fazer com que ela recuperasse a consciência.

— Paulina! Paulina! Acorda, Paulina! Por Favor, acorda!

Uma eternidade ou alguns instantes, o tempo parecia pregar uma peça na angústia de Carlos Daniel, que desesperava-se a cada segundo por ver Paulina desfalecida em seus braços sem dar sinais de reação. Ele olhava para os lados com a esperança de ver alguém para pedir ajuda, mas era em vão, não havia sequer uma pessoa por ali. Carlos Daniel não era apenas dominado pelo desespero, mas também pela culpa. Ele se sentia culpado por te-la ignorado, por ter brigado com ela, pelo silêncio, por tudo que seu orgulho o fez fazer.

— Paulina, amor, acorda! Por favor, não faz isso comigo. Vamos, acorda! Acorda pra dizer que eu sou um idiota, pra me mandar calar a boca, pra me bater, qualquer coisa, só acorda, minha vida.

Os segundos que passavam eram como inimigos crueis para a esperança de Carlos Daniel. Infelizmente, o corpo de Paulina não esboçava nenhum tipo de reação, e o desespero que ele sentia por não poder fazer nada o consumia ainda mais. Os dois estavam perdidos no meio do nada, com um carro já distante e sem gasolina, sem sinal telefonico e sem perspectiva de encontrar alguém para pedir ajuda.

— Vamos, Paulina! Vamos!! Você sempre foi forte, não faça isso comigo agora! Por favor, reage, minha vida.

Sem saber mais o que faze ou o que pensar, ele decidiu toma-la em seus braços e a levar para baixo de uma pequena árvore que havia na encosta do caminho. A ideia não era entrar na mata, isso poderia complicar mais a situação da localização, mas pelo menos ali naquela pequena sombra, Paulina poderia ficaria longe do calor infernal e assim reagir.

Levantando-se e levando consigo o corpo palido da mulher em seus braços, ele a olhou por um breve instante e pediu a Deus para que nada de mal a acontecesse, ele não suportaria. Carlos Daniel percorreu os poucos metros até a pequena árvore o mais rápido possível, infelizmente, tudo parecia em camera lenta para ele. Sua mente fora invadida por pensamentos ruins, as possibilidades negativas vagavam por sua cabeça e a esperança estava se perdendo, assim como a lágrima que escorreu por seu rosto.

— Carlos Daniel...

O chamado foi breve, fraco e baixo, mas para Carlos Daniel foi como um grito de alivio. Interrompendo seus passos, ele a olhou ali em seus braços, com a face sem cor e com os olhos pouco abertos. Sua fragilidade o atormentava, sua Paulina não estava bem, mas aquela reação foi a esperança que ele precisava para lutar contra os seus temores. Ignorando o passado, as discussões e tudo o que envolvia seus problemas atuais, ele permitiu-se abraça-la.

— Lina! Graças a Deus!

Ele terminou o abraço, a olhou mais uma vez para confirmar que ela havia realmente despertado e seguiu em direção ao refugio do calor de modo ainda mais rápido.

— O que aconteceu? Para onde você me leva? - O tom baixo da voz se confundia com um sussurro.

— Você desmaiou, meu amor. Estamos indo para aquela sombra, ali você vai poder descansar.

Ela não brigou com ele, nem o contrariou, apenas permaneceu com os olhos entre abertos e assentiu com a cabeça.

Carlos Daniel chegou até o seu destino e com todo o cuidado ele a colocou deitada no chão. A árvore não era suficientemente frondosa para cobrir os dois, o chão era coberto por algumas pedras e sem grama, apenas a terra prevalecia ali.  Não era o lugar mais comodo que existira, mas era com o que eles teriam que lidar. O receio pela reação negativa dela, não o impediu de puxa-la para cima de si após ter se sentado ao seu lado. Ignorando o olhar contrariado que sua Lina lhe lançava, ele a acomodou em seu colo de modo que os dois ficaram abrigados pela pequena sombra daquela vegetação.

— Pronto, assim está melhor! - Ele disse ao contornar o corpo dela com seus braços.

Em um primeiro instante, a fragilidade de seu corpo a impossibilitou de reagir a aquele contato tão próximo. Por um tempo, Paulina apenas permaneceu quieta e com os olhos fechados, deixando-se recuperar com o afago das mãos de Carlos Daniel em seus cabelos. Entretanto, conforme o tempo passava e sua energia voltava, ela foi se dando conta da situação e da real posição em que estavam.

— Carlos Daniel...eh...eu já estou me sentindo melhor, você pode me soltar.

O fato era que Paulina ainda sentia-se fraca, mas seu mal estar não lhe importava tanto quanto aquela perigosa proximidade com ele. Como manter vivo o recentimento e o ódio se ela estava em seus braços, em seu colo mais precisamente, sentindo seu calor e aquele perfume inebriante que continuava emanar de seu corpo mesmo suado?

— Eu não vou te morder não, amor. - Ele percebeu o nervosismo dela e decidiu provoca-la. – Bom, a menos que você queira.

— Idiota. - Ela rolou os olhos ao ver o sorriso debochado dele.

— Sabe que depois do susto que você me deu é até bom ouvir você me xingar? O que te aconteceu, meu amor? O que você sentiu?

Paulina decidiu fingir não ter ouvido o “meu amor” e o respondeu de modo curto e frio.

— Eu me senti fraca, minha vista ficou escura e o resto eu não me lembro.

— Você desmaiou e ficou um tempo desacordada. Você não imagina o meu desespero quando vi seu corpo caindo no chão, você não despertava e eu me senti a pior pessoa por não conseguir te ajudar ou pedir ajuda. A culpa foi toda minha, me desculpa, meu amor, eu não deveria ter insistido nessa estrada, mas você me conhece, eu sou orgulho demais pra aceitar que tinha errado o caminho. Foi tudo minha culpa, se alguma coisa te acontecesse eu não sei o que eu faria, eu não posso te perder de novo, não posso. Então, nunca mais faça isso comigo, amor, por favor.

Ele falava com convicção, sem desviar seu olhar do dela e com a voz firme, mas um pouco embargada por um choro que ele insistia em guardar. Paulina percebeu que aquilo não tratava-se de algo para irrita-la ou engana-la, ela viu em seus olhos a verdade de suas palavras. A certeza da preocupação dele derreteu a frieza que começava a dominar seu coração novamente. Sem pensar mais, ela sorriu e lhe tocou o rosto.

— Ei, não se preocupe, não farei.

Vendo o sorriso dele aumentar consideravelmente com o seu ato, ela deixou-se guiar pela razão e pelo orgulho novamente. “Para, Paulina, você ainda o odeia, ele cuidou de você, mas era o mínimo que ele podería fazer, você é a mãe dos filhos dele, nada mais que isso”. Com esse pensamento ela retirou rapidamente a mão do rosto de Carlos Daniel e tomou um impulso para sair de seu colo.

Em um piscar de olhos, ele viu sua doce Paulina deixar lugar para uma mulher que tinha fúria no olhar. Ela tinha todos os motivos para o odiar, ele compreendia isso, mas não desistiria de lutar pelo seu amor, mesmo que para isso ele tivesse que passar por cima de seu próprio orgulho. Quando Carlos Daniel a viu tentando sair de onde estava, a abraçou mais fortemente e assim a impediu de se levantar.

— Me larga, Carlos Daniel!

— Não.

Ela dizia com firmeza e ele calmamente, o que a fez se irritar mais ainda.

— Como assim não? Você pretende me forçar a ficar aqui?

— Eu nunca te forçaria a nada e você sabe, você esta aqui em meus braços porque quer, eu não estou te impedindo.

— Idiota mentiroso! Claro que você esta me impedindo, a cada vez que eu tento me levantar você me abraça mais.

Ela não desistia de sair do colo de Carlos Daniel, a todo momento Paulina tentava tirar os braços dele de perto do seu corpo e assim tomar impulso para levantar, mas não adiantava. Já ele, aproveitando-se da posição em que estavam, aproximou ainda mais do corpo dela e falou sussurrando ao seu ouvido. 

— E vai me dizer que você não gosta? Você estava gostando lá na biblioteca.

O sussurro ao pé do ouvido, a proximidade e a barba dele que roçava em seu pescoço, fizeram Paulina se arrepiar e involutariamente fechar os olhos.

— Aquilo na biblioteca nunca aconteceu. - Ela falou baixo e com a voz entrecortada.

— Vai me dizer que esqueceu dos meus beijos, dos nossos corpos colados, do desejo que nós dois sentimos? Vai me dizer que esqueceu da minha mão na tua cintura e da trilha de beijos que deixei no teu pescoço? Vai me dizer que não sentiu meu corpo despertar em contato com o teu? Diga, não se lembra, meu amor?

— Eu...eu...eu...

Uma ajuda dos céus para Paulina e um verdadeiro inferno para Carlos Daniel, o destino mostrou suas artimanhas em forma de gotas. Uma a uma, elas foram caindo e de um instante pro outro deixaram de ser inofensivas para se transformarem em uma tempestade. A chuva que chegou sem avisar tratou de jogar um balde de água fria no clima que se formava entre os dois e os obrigou a sair da posição em que estavam.

— Isso só pode ser brincadeira! - Ele esbravejou.

— Pare de reclamar, Carlos Daniel, temos que procurar abrigo.

— Abrigo onde, Paulina? Não tem nada por aqui.

— Vamos entrar na mata, quem sabe tenha uma árvore maior mais adiante.

— O que? Ficou louca? E arriscar a ficarmos perdidos? Não, nem pensar.

— Se não é isso o que vamos fazer? Ta caindo o mundo, já estamos completamente ensopados e se não procurarmos abrigo nós vamos acabar pegando uma doença grave.

— Não, Paulina, pode ser perigoso, é melhor ficarmos aqui.

— Olha, se você não quiser ir, tudo bem, eu vou só.

Paulina entrou na mata sem nem ao menos olhar para trás, deixando um Carlos Daniel desacreditado no que ela havia acabado de fazer. Apesar de achar a idéia uma verdadeira burrice, ele não poderia deixa-la andar sozinha pelo meio do mato e a seguiu. “Se é pra se perder, que seja nós dois juntos”.  

— Ué, não entendi, não era você que iria ficar lá?

— Queria que eu te deixasse ficar perambulando pelo mato sozinha? Você nem sabe para onde esta indo, Paulina, além de burrice é perigoso.

— Eu não sou nenhuma donzela indefesa não, Carlos Daniel, posso muito bem me virar sozinha!

— Ah pode?

— Claro! E além do mais, acho que você se esqueceu que diferente de certas pessoas aí, eu não nasci em berço de ouro. Sei muito bem me virar.

— O único problema é que isso aqui não é Cancun, você ta adentrando em uma mata que não conhece, pode se perder, não sabe que tipo de animal pode ter aqui, esta chovendo e começando a ficar escuro, para de ser imprudente!

— Faça-me um favor, Carlos Daniel, volte pra sua plantinha e me deixe em paz.

— Paulina!

Carlos Daniel acelera o passo e se prosta na frente de Paulina, a obrigando a seguir em frente. Segurando firme nos braços dela, ele a olha direto nos olhos e fala em tom sério.

— Paulina, me escuta, só me escuta! Temos que parar com essas brigas desnecessárias, isso não vai adiantar em nada. Vamos encarar os fatos, estamos no meio da mata, está chovendo e se não nos unirmos, essa “aventura” pode ficar perigosa. Eu sei que você é forte e independente, sei que você sabe se virar, mas não estamos no litoral e muito menos na cidade, estamos no meio do nada. Ainda há pouco você desmaiou e levou muito tempo pra reagir, me entenda, eu não posso correr o risco de te perder outra vez. Então, queria você ou não, eu vou ficar aqui ao teu lado, nós dois juntos vamos achar abrigo e juntos vamos sair dessa. Mas por enquanto, vamos dar uma trégua nessas provocações, chega de discursos de ódio, eu quero te dar amor e não discutir contigo. Então, o que me diz? Paz? - Ele termina seu discurso estendendo a mão para ela.

Entendendo o que ele falava e a verdade dos fatos, Paulina suspirou e apertou a mão de seu ex-marido.

 – Tudo bem, sem mais brigas, pelo menos por enquanto.

Ela sabia que Carlos Daniel estava certo e sabia que estava sendo guiada pelo orgulho, a verdade era que ela estava cansada de brigar, mas não conseguia parar, em sua cabeça era melhor estar em guerra com ele do que permitir que seu coração tomasse as rédeas da situação. Paulina temia por si mesma, o medo de deixa-se cair novamente naquele braços fortes a aterrorizava. Ela o amava, mas devia o odiar, e em certos momento, sim, o fazia, mas quando aquele par de olhos castanhos encontravam a mirada dela, ela sentia-se perdida e totalmente vulnerável. Durante 15 anos, ela treinou-se para ser fria e imune a ele, mas tudo caiu por terra no primeiro momento em que ela o viu. Como era possível um amor permanecer vivo mesmo depois de tudo? Como era possível ela o amar como se ainda fosse aquela jovem que entrou em sua vida através de uma usurpação? Como era possível ele ainda ter seu coração em suas mãos? Como era possível estar presa por um amor e sentir-se livre pelo mesmo? Como era possível o odiar e o amar na mesma intensidade? Como era possível não conseguir lutar contra esse sentimento? A razão não tinha as respostas, as julgava como frutos de uma loucura, o que não deixava de ser verdade. Amor não é racional, amar não é uma opção e negar que se ama é mentir para si mesmo.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem por o capitulo não ter ficado tão bom quanto eu queria, mas eu estava com um bloqueio critivo horrivel :( O próximo vem melhor
@deafmonteiro