Eu estava no Aeroporto Internacional de Los Angeles, aguardando Alice vir me buscar. A viagem tinha sido tranqüila, sem problemas. Assim que o avião começou a sobrevoar o Estado da Califórnia, meu primeiro pensamento foi “Uau!”. Eu sobrevoei quase o estado inteiro antes de chegar à Los Angeles, e fui babando do começo até o pouso.

Meus pais haviam me pedido para ligar assim que desembarcasse. Eu usei o telefone público do Aeroporto, contando os detalhes da viagem. Minha mãe me perguntou onze vezes em 4 minutos se eu estava bem. Eles estavam lidando bem com a minha partida e me desejavam sorte. Dentre os meus amigos, o mais resistente foi Jacob. Ele ainda não conseguia acreditar que eu o “abandonara, destruíra seu coração em mil pedaços” e o estava obrigando a se “atirar num poço para não sofrer de saudade.” Dramático que só ele...

A maior dificuldade que tive ao chegar ao aeroporto foi carregar as malas. Eu estava com duas malas de roupa (uma enorme nas costas e uma de rodinhas maior ainda), uma nécessaire com meus produtos de higiene pessoal e mais uma bolsa imensa com todos os meus livros, CDs e DVDs. Além de todas as malas, ainda tinha o meu violão, que estava pendurado nas minhas costas. Pode parecer que não, mas estava pesado pra caramba!

- BELLA!!!!!!

Me virei, imaginando um assalto ou uma invasão de uma manada de elefantes. Quando olhei para a entrada do aeroporto, vi Alice correndo em tal velocidade que, se eu continuasse parada ali carregando todas aquelas malas, nós duas iríamos pro chão. Na mesma hora, soltei todas as malas no chão – menos meu violão, que coloquei com carinho por cima das malas – e corri ao seu encontro, com uma expressão do tipo “eu-já-to-indo-então-pare-de-correr-sua-doida”.

- Bella, Bella, Bella, Bella, Bella! – ela disse, me grudando em um abraço mais apertado que espartilho – Eu não acredito que você chegou, meu Deus! Quanto tempo não te vejo!

Alice manteve o cabelo curto e espetado de sempre. Suas roupas, como sempre, eram simples, mas magníficas: um jeans folgadinho, sapato de boneca e uma batinha verde.

- Eu também estava morrendo de saudades, amiga! – Minha voz estava rouca por causa das lágrimas que não consegui segurar. Eu me soltei do abraço para olhar para seu rosto. Ela estava chorando também – Meu Deus, Alice! Me diga, como você está? Você está bem?

- Em casa, Bella! Eu te conto tudo! Jasper está nos esperando, vamos!

Ela limpou as lágrimas e me ajudou a carregar as malas. Nós atravessamos o aeroporto e saímos para o sol quente da manhã de Califórnia. Eram 11h da manhã e eu já estava morrendo de fome. Um Volvo prata estava nos esperando na entrada do aeroporto. Encostado nele havia um homem alto, com o cabelo loiro escuro bagunçado pelo vento, mais ou menos musculoso, pele pálida e lindo de morrer. Ele abriu um sorriso enorme e simpático ao nos ver e se aproximou para ajudar com as malas.

- Olá! – sua voz era grossa, música para os ouvidos – Você deve ser a Bella!

- Sim. E você deve ser o Jasper?

- Sim, sim. – e dirigindo-se a Alice – Amor, eu disse para você me deixar pegar as malas! Estão pesadas! Deixe de ser teimosa! – ele a repreendeu de um jeito tão doce e tão meigo que lembrava meus pais. Ele começou a guardar as malas maiores no porta-malas.

- E perder a chance de encontrar a Bella no aeroporto? Nunca! Bella, me ajude a colocar as malas no banco do passageiro.

Malas arrumadas, partimos com o carro. Nós passamos perto de praias maravilhosas e prédios imensos. Parecia um sonho! Alice não parava de falar. Falava das praias, do trabalho novo, do hotel, das festas, dos amigos novos, perguntou de Forks (nem esperava a resposta e continuava falando o quanto estava morrendo de saudade), falou do seu namoro com Jasper, etc., etc., etc...

- Jasper nos deixará em casa – Alice disse quando nos aproximávamos do prédio. – e voltará para o trabalho. Ele está no seu horário de almoço.

- E você não devia estar trabalhando? – perguntei, me lembrando que Alice e Jasper trabalhavam no mesmo lugar. Jasper estacionou o carro perto da entrada.

- Não, eu tirei o dia de folga! Venha, vamos subir com as malas.

O prédio era enorme. Alice me dissera que era um dos mais baratos da região, mas ainda assim era perfeito. Era de frente para a praia e, pelo que ela me dissera, perto de supermercados, farmácia e todas as coisas que precisávamos.

Uma vez dentro do elevador, me livrei de todas as malas que estava carregando. Deixei-as no chão, aproveitando o descanso que havia dado para minhas costas. Subimos até o 9º andar – Alice ainda falava sem parar – e saímos do elevador com todas as minhas coisas. Paramos diante da porta de número 95 e Alice tirou a chave do bolso para abri-la.

O apartamento era incrível: as paredes eram de um tom claro, iluminando o interior da sala e da cozinha. Não era muito grande, mas era perfeito para duas garotas morarem. Os móveis eram de um tom mais escuro, contrastando com a cor da parede. Havia apenas um balcão do lado esquerdo, separando a sala da cozinha, onde um azulejo branco brilhava na luz da manhã. Do lado direito havia um pequeno corredor onde viam-se três portas. A parede dos fundos da sala, logo atrás da TV, era de vidro, tampado apenas por uma cortina bege. Atrás da cortina, além da parede de vidro, havia uma porta que levava a uma varanda, de frente para o mar. Eu atravessei a sala e abri a porta, ainda sem conseguir dizer nada, e saí na varanda sentindo o vento no meu rosto. A vista era ainda mais maravilhosa do que eu imaginava. Além do mar, eu conseguia ver um pedaço da cidade, mais ao longe, com seus prédios imensos que queriam alcançar o céu. Eu estava vivendo um sonho!

Me virei para dizer a Alice o quando aquilo era maravilhoso e a vi se despedindo de Jasper. Eles deram um beijo rápido e sussurraram algumas poucas palavras, mas o contato visual que mantinham era tão intenso que eu achei que nem eram necessárias palavras. Jasper se virou para mim, acenando com a mão:

- Tchau, Bella! Aproveite a estadia!

- Obrigada, Jasper! E tenha um bom trabalho!

Ele fechou a porta, deixando eu e Alice sozinhas. Nós nos olhamos por alguns segundos, uma lendo a expressão da outra, um sorriso crescendo devagar nos nossos lábios.

- AAAAAAAHHHHHH!

Nós duas gritamos juntas e nos abraçamos. O grito foi tão alto que ouvimos alguns murros na parede, vindo do apartamento ao lado.

- Ah, meu Deus, Alice! Eu não consigo acreditar que finalmente estou aqui! Me conte, o que aconteceu nesse tempo que ficamos sem nos ver?

- Ah, Bella – ela me guiou pro sofá. – Tudo que eu te contei por telefone. Aquele sacana do Mike me trocou pela Lauren, filha de uns amigos ricos da família, que o pai dele queria tanto que ele conhecesse. Ele disse que não podia me manter mais perto dele na empresa e que o apartamento em que morávamos seria da Lauren. Dá pra imaginar como eu fiquei, não é? Ser despedida e despejada ao mesmo tempo. Ele me deu dois dias para arrumar minhas coisas, procurar um lugar pra morar e sair de lá. Uma amiga do escritório, Emily, me passou o endereço desse prédio, me dizendo que havia alguns apartamentos para alugar. E aqui estou eu!

- E o emprego no Café, como é?

- Perfeito, Bella! Perfeito! – ela abriu um sorriso imenso. Ela estava feliz aqui, logo percebia-se isso. – Assim que me mudei pra cá, comecei a procurar emprego. O Café fica a duas quadras daqui. Vamos comigo amanhã? Assim eu posso te apresentar ao resto do pessoal, eles são super gentis! Você vai amar a Esme, minha chefe, ela é uma mãe pra gente. Meu Deus! – ela disse, olhando no relógio de pulso – Já é meio-dia? Me desculpe, Bella, você deve estar morrendo de fome!

Assim passamos o resto do dia. Falamos sobre os novos costumes, sobre seu namoro com Jasper – e como ela estava feliz com ele. Ela me perguntou de Forks, de La Push, pediu para que eu retribuísse o beijo de Jake quando telefonasse, etc. Ela me ajudou a guardar minhas coisas no armário novo. Meu quarto, a segunda porta do corredor, fora pintado de lilás. Os móveis ali eram brancos, desde a cama até meu armário. Havia também uma cômoda, perfeita para que eu guardasse minhas coisas pessoais e meus livros. A noite chegou e Alice me levou para conhecer as ruas mais movimentadas do bairro.

- Alice, – eu perguntei, enquanto caminhávamos pelas areias quentes da praia – é verdade que “Sangue e Coração” está sendo gravado aqui?

- Você e seus vícios, não é, Isabella Swan? – ela riu antes de responder. – Sim, sim, é verdade. As gravações estão sendo feitas perto de casa – eu arregalei os olhos – mas o set é fechado, eles não permitem a entrada de fãs. – ela me disse, quebrando meu barato – Além disso, eles estão constantemente rodeado de seguranças. Rosalie, Edward e Emmett já apareceram no Café na hora do almoço, mas ultimamente tem sido difícil eles comerem sossegados, tantas são as fãs que os importunam. Mas pro Café está sendo bom... Traz movimento.

- Sim, sim, mas e o Brandom?

- Quem? – Ela me olhou confusa.

- Laurent Brandom, o autor de “Sangue e Coração”! É dele que eu preciso saber, não de Edward ou Emmett...

- Ah, sim, o Laurent... Nosso freguês mais simpático. Ele vive no Café com um notebook nas mãos. Mas ele não é tão importunado, afinal os atores estão fazendo mais sucesso que ele, não é...

- Por enquanto, Alice! Eu preciso muito conhecer esse cara! E Rosalie, você já a viu?

- Infelizmente...

- Como assim? – agora eu estava confusa.

- Bella, reze para nunca cruzar com ela na rua. A simpatia dela só é ativada com um flash, e se extingue no momento em que eles acabam.

Impossível. Rosalie não era assim, Alice deve ter conhecido-a num dia muito ruim.

- Mas ela vai ao Café? – perguntei.

- Ia. Geralmente com Edward e Emmett.

Eu não podia acreditar... Esse lugar não podia ser mais perfeito!

Eu estava morando no paraíso, dividindo o apartamento com minha melhor amiga e ainda tão perto de Laurent Brandom e do elenco de “Sangue e Coração”!

Nós voltamos pra casa e eu dei uma ligadinha para minha mãe.

- Alô? – minha mãe atendeu.

- Mãe?

- Bella, querida! Como estão as coisas?

Ao longe eu ouvi um “mande um beijo pra ela, querida!”

- Tudo ótimo, mãe. Alice tirou o dia de folga pra me ajudar a guardar as coisas. O lugar é um espetáculo, você precisava estar aqui.

- Oi, tia Renée!! – ouvi Alice gritar da cozinha.

- Diga a Alice que estou mandando um beijo pra ela! E seu pai está te mandando um beijo!

- Mande outro pra ele. Só um momento, vou passar o recado. – me virei para Alice na cozinha e gritei – Minha mãe disse que você é louca de ficar gritando desse jeito!

Ela apareceu atrás do balcão, me mostrando a língua.

- Bella! Não diga isso! – minha mãe disse rindo.

- Ela sabe que é brincadeira... Eu já vou desligar, mãe. Preciso descansar um pouco, o dia foi longo.

- Tudo bem, meu amor. Te ligo no fim de semana.

- Tchau, mãe.

Eu desliguei o telefone e fui tomar um banho rápido. Assim que coloquei meu pijama, me joguei na cama. Alice veio no quarto me falar boa noite.

- Bells, vou trabalhar amanhã, mas qualquer coisa me ligue, ok?

- Obrigada, Alice. Na verdade, eu precisava falar com você sobre o pagamento, as contas...

- Amanhã, Bells. Agora descanse! Boa noite.

- Obrigada, amiga... Pra você também! – Ela saiu, fechando a porta – E bom trabalho amanhã! – eu gritei, e ouvi um “obrigada” abafado.

Eu deitei na cama, olhando o clarão que a enorme janela do meu quarto fazia na parede lilás. As luzes da praia refletiam no armário e na cômoda, deixando um brilho bonito no meu quarto. Eu comecei a acompanhar o trajeto que as luzes faziam e o sono foi chegando. A última coisa que vi foi meu livro em cima do criado-mudo, quando me virei de lado me aconchegando na cama. Eu me deixei levar pela inconsciência e em segundos estava mergulhada num sono sem sonhos.