POV Bella

Assim que alcancei o portão do estacionamento – aproximadamente 10 minutos depois – ouvi gritos vindos do fundo, atrás de todos os carros.

- Oh, não... – eu comecei a correr – Oh, não... Alice! Alice, onde você está?

- Me solte, sua louca!! – Eu ouvia berros e barulhos de alguém sendo jogado no chão – Eu vou chamar a segurança!

- Cala a boca! – SLAP.

Ouch. Aquele tapa deve ter doído. E conhecendo a força de Alice, Lauren não esqueceria dele tão cedo.

- Por que você não me deixa em paz?! – Lauren continuava gritando – Volte pro seu empreguinho de terceiro mundo com a sua coleguinha sem sal!

Sem sal?!

- Vai, amiga! Acerta ela! – me ouvi gritando antes que pudesse me refrear.

Alice olhou para o lado e sorriu ao me ver chegando, antes de voltar sua atenção à Lauren. Ela estava sentada em cima dela, com cada perna de um lado do corpo de Lauren e imobilizando seus braços com os joelhos.

- Vamos ver por onde começamos... – Alice dizia– Onde está aquele canalha do Mike?!

- Eu não sei... – Lauren chorava.

SLAP.

- Eu não sei! – ela gritava – Eu o larguei semanas depois do que aconteceu... Eu não sirvo pra ficar em escritórios, tendo um chefe como aquele idiota... E ele ficou ainda mais idiota depois de você!

- Você o deixou? – Ela agora ria, completamente fora de si. Estava me dando medo. – Acho que deveria parar de te bater por causa disso. Você é uma vadia de primeira.

- Pare de reclamar! – Lauren se contorcia – Ainda não superou ele ter escolhido uma mulher de verdade ao invés de você?

- Acho que mudei de ideia.

Mais um SLAP.

- Alice, já foi o suficiente – tentei amenizar – Seja racional...

- Ah, eu estou sendo racional, Bella – Alice continuou – Apenas vim agradecer Lauren por tudo que a vadiagem dela me deu. Muito obrigada, Lauren – SLAP – Por ter me dado um namorado perfeito – SLAP – Um trabalho perfeito – SLAP – Amigos perfeitos – SLAP – E por ter me feito merecedora disso!

Eu olhava abobalhada. Alice se levantou, deixando Lauren e seu nariz ensangüentado no chão, e veio até mim, me guiando de volta pro Café. Ela não estava nem mesmo cansada da tentativa de assassinato. Não sabia se estava assustada ou orgulhosa.

- Você foi... surpreendente – consegui dizer. Ela começou a rir – De onde surgiram aquelas caras de malvada que você fazia?

Ela revirou os olhos.

- Fiz teatro minha vida inteira, não lembra? Uma hora ele teria que servir pra alguma coisa.

Assim que chegamos ao Café, a imprensa inteira estava saindo da sala, inclusive Jasper, acompanhado de Edward e Laurent. Me virei pra Alice, primeiro pra desviar minha atenção de Edward, e segundo porque estava realmente preocupada.

- O que você vai dizer ao Jasper? – perguntei, enquanto colocava meu avental outra vez.

- Nada. – Ela estava lavando as mãos e secando-as no avental – Eu já tinha contado pra ele que não conseguiria me segurar caso a encontrasse na rua. Ele provavelmente adivinhou o que aconteceu quando ouviu o nome dela... Ei, o que é isso?

Havia algo grudado no avental de Alice. Parecia uma pequena bolsa.

- Ah, droga! A bolsa daquela cretina ficou grudada no meu avental! – Alice falou, e começou a abri-la.

- Alice! O que você está fazendo? – eu perguntei – Pare de mexer nas coisas dela!

- Estou sendo legal, ok? Se tiver algum documento, ou algo importante, eu devolvo pro Edward e peço pra ele devolver. Senão, nem me dou ao trabalho...

Ela tirou algumas moedas, uma caixinha de lenços de papel, um bilhete escrito “Não esquecer o Ted” e uma carta da revista Teentação, que Alice já estava abrindo.

- Alice, pelo amor de Deus, pare com isso!

-Ah, meu Deus... – Alice me olhou, com um sorriso malvado no rosto – Acho que tenho a vingança perfeita!

- Do que você está...

- Escute isso! – ela me interrompeu.

“Querida Lauren,

Muito obrigada pelas fotos de Edward e Rosalie chegando ao hotel de madrugada. A empresa que vocês me indicaram conseguiu aproximar os dois na foto, de acordo com o que você tinha sugerido, então as coisas pareceram mais reais. Você realmente leva jeito pra esse trabalho!

Espero que Edward acredite que vocês estavam tentando salvá-lo... Não posso perder minha melhor espiã! Lembre-se de guardar essa carta e apresente-a à minha secretária. Ela fará o pagamento, conforme tínhamos combinado: a metade é sua.

Meus sinceros agradecimentos,

Charlotte.”

Eu estava estupefata. Paralisada. Não conseguia acreditar que aquela vagabunda estava enganando Edward daquela maneira!

- Você reparou que estava escrito vocês? Quem será que... – eu comecei, mas Alice estava guardando a carta no meu avental, pois Jasper estava chegando. Eu tentei protestar, mas ele estava próximo demais.

- Oi, amor... – ele chegou, dando um beijo rápido em Alice. – Eu sei que você foi atrás dela, assim que Edward falou “Lauren” na entrevista. Espero que você tenha pelo menos deixado-a viva.

- Me diz se não tenho o namorado mais fofo do mundo? – ela respondeu dando uma piscadinha pra ele – Sei me controlar, meu amor.

Virei as costas, evitando assistir à cena. Realmente, eles formavam o casal perfeito. Alice e Jasper: assassinos profissionais.

- Bella, mesa 3 – Jasper disse, chamando minha atenção de repente. Olhei para a mesa 3: Edward e Laurent.

- Por favor, Jasper – tentei, desviando os olhos da mesa – será que você poderia...

- Pare de fugir – ele me interrompeu – Está na hora de encarar isso, Bella.

Encarei Jasper, tentando achar coragem, e depois Alice. Respirando fundo, segui até a mesa 3 como se nada estivesse acontecendo.

- Boa noite, rapazes – eu disse, com um sorriso no rosto.

- Boa noite, Bella! – Laurent respondeu. Edward apenas me olhava com cara de “me-perdoe-eu-ainda-te-amo”. Desviei meus olhos dele para não perder o foco.

- Por que não estão rodeados de flashes hoje? – perguntei à Laurent.

- Bom... – ele respondeu – Nós dissemos que Lauren, Emmett e Rosalie responderiam por nós hoje – ele riu e Edward o acompanhou. O som do seu sorriso me fez perder o foco outra vez... Balancei a cabeça e afastei o som da minha mente.

- Então, o que vão querer?

- Apenas um Cappuccino, por favor – Laurent falou. Então eu tive que fazer a pergunta inevitável.

- E você, Sr. Cullen? – disse, sem olhar pra ele.

- Quero falar com você.

Respirei fundo, sem encará-lo.

- Isso não está no cardápio.

- Bella, por favor...

Não consegui me refrear: encarei seus olhos verdes. Neles havia tanta paixão que eu não consegui desviar os olhos – nem falar. Continuei parada, muda, até Laurent me despertar.

- Eu... – Laurent pigarreou – Eu vou até o balcão fazer meu pedido.

- Não é necessário, Sr. Brandom – desviei meus olhos de Edward, encontrando minha voz outra vez.

- É sim, Bella – Laurent me encarava. – É indelicado escutar a conversa dos outros.

Ele saiu, deixando Edward e eu sozinhos. Puxei a cadeira em que Laurent estava e me sentei. Na mesma hora, um flash me pegou. Fingi não ter visto aquilo.

- Fale – eu disse, sem olhar pra ele.

- Gostaria de me explicar, já que você ainda não me deu essa chance.

- Não é necessário – respondi, deixando toda a mágoa transparecer em minha voz – O que eu ouvi foi suficiente.

- Olhe pra mim, Isabella – ele pediu. Não olhei. – Bella... – ele tentou de novo. Se eu olhasse em seus olhos, me perderia neles. – Por favor, Isabella... Olhe pra mim.

Quando finalmente olhei pra ele, imediatamente o muro da minha fortaleza desmoronou.

- Bella, eu não quis dizer aquilo...

- Ah, não quis? – interrompi – Então qual era o significado escondido em “eu não me importo com ela”?

- Não era sobre você...

- E sobre quem era, Edward? – eu estava com raiva, e segurando as lágrimas. Elas não iriam me entregar agora.

- É uma história longa, e complicada, mas era sobre uma amiga de escola... Rosalie me enche com esse assunto desde que tínhamos dez anos de idade, mas não era pra você ter escutado isso, era...

- Por que não?

- Era só pra você me ver com Rosalie no trailer dela!

- Ah, claro! – usei meu estoque de ironia – Era tudo uma armação minimamente planejada! Ela sabia que eu chegaria ali exatamente naquela hora, e iniciou um assunto sobre uma colega de escola intencionalmente, esperando que você dissesse as palavras que me machucariam. Não é?

- Não exatamente, mas Rosalie pretendia...

- Não sou idiota, Edward!

- Me escute! – ele falou mais alto – Não era uma armação, mas tudo aconteceu como se fosse armado... Você chegou na hora errada, ouviu as coisas erradas... Rosalie não presta, Bella! Por favor, acredite em mim!

- É difícil... – respondi quase chorando.

- Por favor, Bella... – ele também estava prestes a chorar. Uma maldita lágrima escapou dos meus olhos e eu a sequei rapidamente.

- Não é tão simples... Eu não consigo.

- O que eu tenho que fazer pra te convencer, Isabella?

Olhei em seus olhos verdes, agora lacrimejantes. Eu queria muito acreditar em suas palavras, tê-lo em meus braços outra vez, mas ainda conseguia ouvi-lo gritando dentro da minha cabeça. Essa explicação não era convincente. Como eu podia ser tão azarada a ponto de ouvir justamente o que eu não podia ter ouvido? E obviamente não era nenhuma armação. Rosalie não tinha como controlar uma conversa para me fazer ouvir exatamente o que ela queria. Mas eu sentia tanto  a falta dele! Ele parecia estar sendo sincero, mas... e se não estivesse? Como podia confiar nele novamente?

Respirei fundo antes de responder à sua pergunta.

- Mereça meu amor, Edward Cullen.

Me levantei da cadeira, antes que eu perdesse o controle das minhas palavras e dissesse tudo que estava sentindo.

- Ah... – tirei a carta de Lauren do bolso – Achamos isso perto do carro de Lauren, depois que Alice teve uma conversinha com ela... Ela achou que talvez isso interessasse a você. Você confiava nela?

- Sim, mas...

- Bem, então espero que goste do desapontamento.

Entreguei o papel a ele e saí, sem olhar pra trás.

XXX

POV Edward

Falsa. Mentirosa. Cretina.

Vasculhei minha mente buscando outros adjetivos piores. Então Lauren estava crescendo às minhas custas. Por que eu tinha a mania de acreditar nas pessoas erradas?

Eu sabia que ela estava no estacionamento, e segui direto pra lá. Emmett estava voltando do estacionamento e colocou as mãos em meus ombros, me obrigando a parar.

- Aonde vai, Edward? Já vai embora? – ele perguntou, confuso.

- Não... Preciso resolver umas coisas.

- Que coisas? O que essa sua cara de poucos amigos quer dizer? – ele perguntou, ainda mais confuso.

Respirei fundo, controlando a raiva.

- Lembra-se das fotos que foram parar nas revistas do país, dizendo que Rosalie e eu estávamos juntos?

- Sim, claro que me lembro.

- Lauren armou isso. Ela contratou o fotógrafo, disse onde estaríamos e depois vendeu as fotos para várias revistas.

Ele parou para me olhar. Seu rosto passara de confuso a decepcionado.

- Ta brincando... Não, cara, não é possível...

- Infelizmente. Alice e Bella me contaram. Ela não pode sair impune, Emm. Ninguém se aproveita de mim sem receber o troco.

- Edward, se acalme. Acho que ela já recebeu o que merecia – disse, e percebi que ele tentava não rir. Foi minha vez de ficar confuso.

- Do que você está falando?

- Consequências da conversa de Lauren com a amiga da Bella. Logo você vai ver. Encontro você no hotel.

Entrei no estacionamento assim que Emm saiu. Lauren estava nos fundos, perto de sua Lamborghini, rodeada de jornalistas.

- Com licença, senhores – eu disse, passando pela multidão de fotógrafos e recebendo vários flashes. – Preciso falar com a minha agente.

- Edward – ela falou baixo. Percebi que seu olho estava roxo por baixo da maquiagem e seu lábio inferior sangrando um pouco. Imaginei que tipo de conversa Alice havia tido com Lauren. – Achei que você queria fugir deles, pediu para que eu os despistasse... O que você está...

- Lauren, você gosta de ler? – eu a interrompi.

- Sim, claro, mas o que isso tem...

- O que você mais gosta de ler?

- Ahn... – ela estava confusa. – Não sei... Romances, jornais, revistas...

- Revistas! – falei mais alto, erguendo as mãos e olhando pros fotógrafos – E que tipo de revistas você lê, Lauren?

- O que é isso, Edward?

- Por favor, nos responda! Todos queremos conhecer a verdadeira Lauren.

- Ora, várias... – ela deu uma risadinha sem graça, mas não se negou a responder – Os 10 Mais, Top Teen, America’s Choice, The Best One...

- Você lê a Teentação, a que publicou meu suposto namoro com Rosalie Hale?

Ela tinha ficado paralisada.

- S-sim, todos viram, não é...?

- E você sabe o significado da palavra “traição”, Lauren?

Seus olhos já estavam vermelhos.

- Edward, e-eu não sei do que...

- Não sabe? – eu disse mais alto. Minha raiva era tão grande que eu mal conseguia me controlar – Então leia meus lábios pra você descobrir do que eu estou falando: DE-MI-TI-DA.

Me virei e comecei a andar, dando as costas a ela e aos fotógrafos.

- Edward! Edward, pare! Você não pode...

- Não posso? – me virei outra vez, ficando de frente pra ela – Posso sim! E eu tenho a prova dessa traição bem aqui!

Balancei a carta no ar pra que ela visse, depois joguei-a perto do seu carro. Ela correu para pegar o papel e o abriu, chorando ao ver seu castelo ruir. Fiquei ali, parado, apreciando a cena. Ela me olhou com raiva e, quando eu me virava para ir embora, ela me chamou outra vez.

- Espere! – ela estava mexendo numa pasta que havia tirado do carro. – Eu não vou me ferrar sozinha! Tome! – Ela tinha pegado uma folha e atirado na minha direção. Lauren estava em lágrimas.

Eu olhei o papel. Era um contrato com uma empresa de fotografia, em nome de Rosalie Hale.

- Mas o que é...?

- As fotos que a Teentação pegou tinham o Emmett no meio! Eles precisavam excluí-lo da foto, então Rosalie contratou essa empresa, que alterou as imagens! Ela estava por dentro disso, a idéia foi dela! Ela sabia de tudo!

Lauren estava destruída - a ponto de levar outros com ela. Se eu não sentisse tanta raiva, sentiria pena.

Dei as costas a ela, ignorando-a, e corri para o meu carro do outro lado do estacionamento, antes que os jornalistas resolvessem me seguir. Assim que cheguei, encontrei Laurent encostado no seu, que estava estacionado na vaga ao lado da minha.

- E então, como foi com Bella? – ele perguntou.

- Ela não acredita em mim. – respondi. Minhas sobrancelhas franziram-se involuntariamente, e a tão conhecida pontada de dor se fez presente. Reconquistá-la parecia agora uma meta inalcançável.

- Dê um tempo a ela, Edward. É a primeira vez que vocês se vêem desde que brigaram. Ela precisa de tempo para entender o que sente.

Senti meu rosto corar levemente.

- Não foi a primeira vez. Não para mim. – Laurent tinha uma interrogação estampada no rosto, então completei: – Eu a vi há alguns dias, enquanto desmontavam o Café no set. Tentei falar com ela, mas... Não consegui, Laurent. Ela estava chorando muito... Eu simplesmente não consegui suportar aquilo.

- Ela não o viu?

- Não – respondi simplesmente, desejando que minha resposta fosse diferente. Me odiava por não ter tido coragem suficiente para falar com ela, tocá-la, pedir desculpas... Me odiava por ser um fraco.

O silêncio que havia se formado foi quebrado pela horda de jornalistas que se aproximava. Haviam desistido de perseguir Lauren e agora se dirigiam a nós.

- Acha mesmo que amanhã vai dar certo? – perguntei a Laurent.

- Creio que sim, já está tudo pronto!

- Mas você acha que vai funcionar?

Ele riu, enquanto abria a porta do carro e entrava.

- Faça o que tem de ser feito, e deixe o amor cuidar do resto.

- Sempre romântico... – ri também e, depois de quase ser esmagado pelos jornalistas que chegaram, entrei em meu carro.

- Senhor Cullen, o senhor pode explicar o que aconteceu com Lauren Thompson?

- Como Rosalie Hale foi parar na história?

- Ela será condenada?

- Quais serão as implicações à Lauren? Ela será demitida?

- É verdade que sua mãe será sua nova agente?

- Quem é Ted?

- Fale conosco, Sr. Cullen!

Acelerei o carro, fazendo barulho, pra que eles saíssem da minha frente. Eu não estava com cabeça para responder perguntas, e não queria ter que atropelar vários deles. Iria direto para casa, esfriar a cabeça e me preparar para amanhã.