Gotas De Vinho escrita por Babs Toffolli


Capítulo 12
Conquista


Notas iniciais do capítulo

Heyy gente! Aqui vai mais um capítulo prontinho pra vocês, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/322096/chapter/12

      Eu estava saciada. Mas por quanto tempo? Quanto de sangue eu poderia acumular em meu corpo?

      Minha garganta não estava mais parecendo o Inferno, mas também não estava completamente fria. Minha sede havia apenas se abafado um pouco. Eu estava com medo de isto ser um problema. Precisava testar com alguém meu autocontrole - se eu tivesse um.

      Por precaução, não parei de caçar. Vaguei pela floresta encontrando mais animais para me alimentar. Eu estava ficando boa naquilo. Sem fazer tanta sujeira e sem muito desespero - dos dois lados. Eu preferia caçar mais, o quanto pudesse pois não sabia se eu poderia me controlar depois. Talvez, se estivesse perfeitamente alimentada e controlada eu poderia deixar Charlie voltar para casa. Mas se eu não conseguisse, ele voltaria e eu partiria, sem por a vida ninguém em risco.

      Jurei que se eu pudesse, pelo menos, conviver com vida humana, eu ficaria. Mas se começasse a ficar difícil de mais, eu deveria ir embora. Charlie entenderia quando eu contasse tudo à ele. De princípio ele provavelmente irá me achar louca, ou que estou delirando. Mas eu tenho inúmeras provas ao meu favor de que tudo isso é real.

      Acabei com minha quinta caça do dia - um grande alce macho - e corri de volta à casa. Não foi muito difícil encontrar o caminho, meu cheiro me ajudou a encontrar a trilha por onde vim. Quando cheguei em casa, ainda não queria ser vista na rua. Era a hora do crepúsculo e algumas pessoas ainda estavam voltando do trabalho ou indo dar um passeio noturno. Com a força que sentia em cada fibra do meu corpo, escalei a parede alta até a janela do quarto de Charlie - não deixei de ficar impressionada em como um pequeno salto rendeu a quase atravessar a casa. O cheiro de Charlie no quarto havia sumido completamente pela janela aberta. Isso era bom, me ajudava a me concentrar melhor.

      Fui para o meu quarto e me olhei no espelho. A mulher incrivelmente linda ainda estava ali, mas com algumas mudanças no visual, tendo seu cabelo embaraçado, seu vestido muito gasto e amassado e sua boca estava terrivelmente manchada de vermelho nos cantos. Eu parecia mesmo uma vampira. Uma vampira linda e muito perigosa. Será que Charlie vai me reconhecer quando me ver? Eu precisava tentar, mas não com ele. Ele não poderia ser me primeiro teste.

      Fui ao meu closet e achei roupas limpas, confortáveis e mais normais. Uma blusa marrom com uma jaqueta preta por cima - não que eu realmente precisasse de uma, pois não sentia mais frio -, jeans azul marinho e tênis. Depois de vestida, fui ao banheiro, joguei o vestido sujo e ensanguentado no cesto de roupa suja e me olhei no espelho mais uma vez. Com aquela roupa eu via um pouco mais de mim ali, o que era bom. Me limpei devidamente e penteei meus cabelos - agora lisos novamente. Desci as escadas e sai pela porta da frente. Já estava de noite e ninguém repararia em mim.

      Peguei as chaves e fui andando. Olhei minha picape e pensei o quão lento já andei com ela comparado ao que pude correr hoje. Andei pela rua de cabeça baixa - eu não queria que ninguém olhasse pra mim, não ia ser bonito se alguém me olhasse e visse a coisa de mais anormal no meu rosto: Meus olhos.

      O vento estava parado mas estava um pouco frio. Olhei casais na rua muito bem agasalhados, sempre com a respiração presa, porque eu não sabia qual seria minha reação ao sentir o cheiro de humanos em todos os lados ao redor e muito perto. Fui apenas caminhando e olhando para o céu. Já estava bem escuro e eu acho que já poderia ir à algum lugar distante que pudesse me servir de teste. Então fui andando para a parte norte da cidade, onde se encontravam alguma fazendas de cavalos com seus peões voltando para o estábulo. Não demorei muito para chegar lá e quando cheguei, puxei meu capuz da jaqueta por cima da cabeça e deixei a sombra invadir meus olhos, tornando-os completamente imunes à serem vistos por alguém assim.

      Me aproximei mais, tentando bolar um desculpa para ir falar com eles. Eu não vi nenhuma então decidi perguntar a coisa mais idiota possível.

- Olá - Pela primeira vez naquele dia, eu falei. E só então percebi que minha voz estava diferente. Mais aguda, cristalina. Como um leve tocar de sinos de vento. Como uma canção de ninar. O homem com quem falei se assustou.

- Oh! - Um dos fazendeiros pulou ao me ver. E quando cruzou o olhar pelo pouco do meu rosto que não estava coberto, arregalou os olhos.

- Pode me ajudar? - Perguntei com meu tom de voz duvidoso. Ele olhou pra mim e sorriu.

- Bom, depende do que você procura, linda. - Brincou ele.

- Bom, é que eu vim andando mais cedo, mas acabou escurecendo e eu me perdi. Como faço pra voltar pro centro? - Perguntei voltando meu corpo pro lado oposto do de onde vim.

      Ele me deu instruções claras, mas que eu não me importei muito. Ainda estava sem respirar e estava sozinha com ele. Se eu o atacasse, poderiam dizer que foi algum animal na mata. Mas eu não atacaria, eu não podia atacar! Precisava ter controle sobre mim e tinha chegado a hora de testar. O vento soprou contra mim e eu soltei o ar que estava prendendo. Respirei minimamente e o cheiro invadiu minhas narinas, ascendendo minha garganta. 'Não, Bella, controle-se!', eu dizia a mim mesma, 'Você não quer matar este pobre homem.'

      Ele devia achar que eu deveria ter algum tipo de problema, pelo jeito que franzi a cara pra ele. Por isso tentei demonstra um pouco de naturalidade e relaxei enquanto aprendia a conviver com o cheiro. Era difícil, mas se eu quisesse eu conseguiria. E eu queria! Afinal, esse era o único jeito de ter meu pai de volta em casa e comigo em sua vida.

- Bom, obrigada, então. - Agradeci antes mesmo de ele terminar. Mas eu estava bem - muito bem na verdade. Eu consegui resistir ao desejo aquele tempo todo e consegui. Se eu pude me controlar com um estranho, eu conseguiria com meu pai com certeza.

      Fui caminhando não sabendo se estava indo pela direção em que me foi instruída, porque estava muito feliz. Eu podia me controlar e não mataria meu pai! Quando cheguei em casa, me lembrei do bilhete que havia pedido que ele deixasse na bancada da cozinha.

      Disquei o número do telefone que foi atendido ao primeiro toque.

- Alô - Era a voz de meu meu pai.

- Pai! - Me desesperei, emocionada com a descoberta que tive e descobrindo que estava com muitas saudades dele.

- Bella? - Ele soava confuso.

- Sim pai, sou eu.

- Sua voz está diferente. - Disse desconfiado.

- Ah, é, eu sei - Tentei explicar - Mas eu estou bem, e acho que você já pode voltar pra casa, já está tudo sob controle.

- O que aconteceu, Bella? - Quis saber.

- Vou lhe contar tudo quando chegar. Eu prometo.

- Tudo bem, chego ai em uma hora. Tchau. - Desligou.

      Cruzei os dedos para que desse certo. Tinha que dar certo! Eu consegui com o homem na fazenda. Conseguiria com Charlie também.

      Olhei as horas no relógio e imaginei que Charlie chegaria com fome, então resolvi preparar um jantar de boas-vindas à ele. Fiz uma lasanha pequena - eu sabia que nunca mais iria querer comer comida humana - e coloquei no forno para assar.

      Olhei-me no espelho mais uma vez. Não que eu estivesse me tornando fútil com minha nova aparência, mas porque eu ficava encantada em como eu havia mudado em apenas alguns dias e em como eu estava quase irreconhecível. Parei de pensar nisso quando comecei a ouvir um som de carro conhecido. Um carro envelhecido mas bem cuidado. A viatura de meu pai. Ele estava chegando.

      Pulei para o andar de baixo e comecei a retirar a lasanha. Ele entrou na hora em que eu estava pondo a mesa de costas pra ele. O cheiro me atingiu rapidamente e minha garganta coçou. 'Calma, Bella, você não está caçando!' ordenei a eu mesma. Me virei, preparada para a rejeição.

- Oi, pai - Suspirei, triste.

      Sua reação foi um tanto cômica. Seus olhos se arregalaram, ele começou a suar frio e as batidas do seu coração se intensificaram. Opa.

- Bella? - Disse apenas mexendo os lábios, em desgrudar os olhos, quase saltando da cara, de mim.

- Sou eu.

- O que aconteceu? - Ele estava preocupado.

      Eu tinha que contar, não havia outra maneira. E eu devia isso à ele, eu havia prometido. O problema era que eu não sabia em como começar sem que ele tivesse um ataque do coração ou quisesse me internar num sanatório. Optei por começar pelo começo, óbvio.

      Comecei contando de quando saí da festa, e em como Jessica estava sem condições de dirigir. Contei que a Sra. Stanley me ofereceu carona, mas eu havia recusado e escolhido ir sozinha pra casa. Depois contei sobre o belo e jovem rapaz parado bem aqui na frente de casa, dizendo coisas estranhas, e depois me carregou para dentro do bosque. Contei em como ele me surrou e me quebrou toda e depois contei que ele me mordeu o pulso e em como eu achei que aquele seria meu fim. Então cheguei a parte que inexplicavelmente ele me soltou e saiu correndo, me deixando com uma dor que queimava. E então falei sobre a parte que ele já sabia porque ele havia visto. Eu me arrastando pela quintal e quase derrubando a porta da frente aos socos e gritos. Contei à ele as histórias que Jessica sempre me contava de brincadeira, mas que me ajudaram muito até aqui para consegui sobreviver por um dia.

      Em todo esse tempo, meu pai apenas me encarou, sem demonstrar nenhuma expressão sequer. Apenas ouvindo o que eu tinha para lhe dizer, e quando eu toquei no assunto que eu havia me transformado eu uma vampira, ele não quis acredita em mim. Então eu abaixei o capuz da jaqueta da minha cabeça, revelando meu novo rosto branco como cera e meus novos olhos, vermelhos como o próprio sangue.

- Pai, você tem que acreditar em mim. - Eu insisti - É verdade! Já não basta esse meu rosto?!

      Ele olhou meu rosto mais atentamente e ficou em silêncio por um tempo.

- Bom, Bella... Eu não sei como deveria reagir a uma situação como essa... - Tentou persuadir.

- Eu sei, mas nada mudou. Eu continuo sendo sua filha, não vou embora enquanto achar que posso ficar e não lhe darei nenhum trabalho com mortes e nem nada disso, acredite.

- Como assim? Você não mata pessoas? - Então comecei a contar sobre a caçada daquele dia. Sobre como era bom sentir o vento soprando meus cabelos para trás e em como me esforcei para me manter sem sede durante todo o dia. - Animais?

- Sim, foi o jeito que encontrei. Não quero ser uma assassina, pai.

- Que bom, Bella. Que bom. - Ele ficou em pé, balançando-se em seus calcanhares. Eu queria da um passo à frente e abraça-lo, mas não sabia se era seguro, então resolvi ficar paralisada no chão como uma estátua. Percebi em como eu ficava imóvel facilmente.

- Então o senhor acredita em mim? - Eu queria confirmar. Estava com um medo tremendo de ele estar querendo curtir com a minha cara.

- Bom, Bella, você sempre foi uma adolescente séria. Nuca vi você inventar nada desse tipo e também sei que você nunca faria se não fosse verdade. Mas eu prefiro que você não toque muito neste assunto. Vamos agir como se nada aconteceu e você está apenas aproveitando suas férias de verão antes da faculdade. Se você é mesmo o que diz que é, fiquei a vontade para ficar em casa e caçar na floresta. Mas vamos fingir que nada disto acontece aqui em casa, combinado? - Ele estendeu a mão em um convite.

- Combinado. - Levei minha mão até a sua e apertei levemente, sem querer machuca-lo. A pele de Charlie era muito quente e macia. Ele tremeu um pouco quando sentiu minha pele gelada e mortificada.

      Depois disso, observei Charlie jantando e conversamos um pouco. Ele contou que não foi muito longe. Apenas foi a um rio em que costuma ir pescar e levou um kit de acampamento com um pequeno celular para emergências.

      Depois que ele acabou de jantar - sem nunca me perguntar porque eu não comi também -, eu o ajudei a lavar o prato e os talheres e guardei as sobras da lasanha na geladeira.

      Charlie disse que estava cansado e que ia dormir. Eu não me sentia nem um pouco cansada - constatei que não precisava dormir -,  e disse que ia dar uma volta - já que agora a coisa mais perigosa nessa cidade agora devia ser eu, já que - na minha cabeça - aquele vampiro maluco se mandou sem nem sequer me dar uma explicação. Charlie concordou sem eu precisar dar todos esses detalhes.

      Quando Charlie dormiu, fui ao meu quarto e respondi alguns E-mails que minha mãe me mandou ao longo dos três dias - como pai disse que havia sido -  que fiquei "indisposta". Depois chequei se havia alguém na rua e me atirei pela janela do meu quarto e saí pela noite. Sem rumo e sem companhia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então pessoal, o que acharam? Bem diferente de tudo que já vimos até hoje nesses 5 anos de saga hehe. Comentem o que acharam! Até o proximo capítulo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gotas De Vinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.