Olhos Negros escrita por Emma blue


Capítulo 23
Capítulo 23- Tortura


Notas iniciais do capítulo

Heey mozas :3 Um capítulo bem grandão pra compensar a demora... Esperamos que gostem ;)
Escrito por Lhama Liú



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/319655/chapter/23

No capítulo anterior... “Angel acordou em um quarto branco, tão branco que chegava a doer-lhe os olhos, ela estava deitada em uma cama igualmente branca que era o único móvel do quarto, tentou se mover, mas seus braços e pernas estavam amarrados com faixas de couro marrom afiveladas. Sua cabeça doía terrivelmente, não sabia o que havia acontecido, mas tinha medo de gritar por ajuda... Ela estava sozinha, e com medo, sentia-se uma criança novamente, quando se perdeu na floresta depois de levar o almoço ao seu pai, mas ela gritou e sua mãe chegou e levou-a pra casa... Mas dessa vez não seria assim, ela estava sozinha... Completamente sozinha.”

Angel perdeu a noção de quanto tempo ficara presa ali. A luz sempre estava acesa e não havia janelas pra que ela pudesse ver se era dia ou noite. Tudo o que ela podia fazer era ficar ali deitada, esperando até que alguém chegasse e finalmente a matasse... Era o que ela dizia a si mesma, mas no fundo do coração Angel sabia que Lótus não simplesmente a mataria, ele era cruel e sádico, ela temia que toda essa demora fosse recompensada com uma prolongada sessão de tortura para ‘diverti-lo’.

Ela esperou... Chorava por horas e depois adormecia, e quando acordava, estava tudo do mesmo jeito. Foi assim por dias e noites, mas depois os dias pareceram se tornar semanas, Angel não podia erguer a cabeça ou se sentar, ou virar para o lado. No início seu corpo formigava, implorando por um pouco de movimento, mas algum tempo depois ele paralisou completamente, ela não sentia suas pernas nem os braços, muito menos seu pescoço e até mesmo suas nádegas.

Angel não entendia o que estava acontecendo, parecia estar ali à muito tempo, devia estar faminta, mas não estava, não sentia nada, nada além do desespero crescendo em seu íntimo. Uma sensação incômoda começou em seu coração, e depois cresceu até tomar seu peito, seu estômago, sua cabeça, sua mente, e todo o seu corpo. Angel começava a ser tomada pelo pânico. Não queria gritar, não queria que soubessem que estava com medo, então apenas chorava silenciosamente, se perguntando se seus amigos estavam em melhores ou piores condições que ela.

--------------------------------x----------------------------

Angel podia apenas viajar em pensamentos, ela se imaginava novamente em Mind Oklan -o que teria acontecido se Áquil não tivesse me levado para o acampamento? - Se agora fosse noite, ela estaria festejando na taberna, bebendo hidromel e dançando com Colinne e quem sabe poderia estar namorando com Jordan -todas as moças da aldeia me invejariam por isso...

–Clap!- Um som sutil a despertou de seus sonhos, ela ouviu passos vindo em sua direção, seu coração começou a bater descontroladamente... Estava com medo.

Sentiu uma mão fria tocar delicadamente seu pescoço, a mão desatou sua coleira e depois desceu até seu pulso, desatou as faixas ali também, Angel se sentou tão depressa que ficou totalmente desnorteada, e sua cabeça voltou a doer muito, a essa altura a mão misteriosa já havia desatado as amarras de seus pés. Suas pernas foram puxadas cuidadosamente para o lado da cama, deixando-a sentada na horizontal, com as pernas livres.

Sua cabeça ainda doía e não conseguia abrir os olhos de tão zonza, seu corpo sentia os efeitos da movimentação repentina e um ruído desagradável martelava nos seus ouvidos. As mãos frias tocaram as laterais de sua cabeça, massageando gentilmente para aliviar sua dor, então uma voz falou:

 -Espreguice-se, vai ajudar.

A mão se afastou e ela alongou os braços, esticou as pernas para frente, bateu as asas algumas vezes e remexeu o tronco com vários ‘cracks’. O ruído no ouvido passava e quando ela ia abrir os olhos a voz a impediu:

-Não abra os olhos ainda, desça da cama e fique em pé.

Angel obedeceu, tinha algo de autoritário naquela voz, e ela tinha uma impressão de que a conhecia de algum lugar, por mais que se esforçasse não conseguia lembrar.

Ela pulou da cama, mas suas pernas cambalearam e Angel caiu no chão, só agora percebeu que era estofado, como o chão de um hospício. As mãos seguraram seus braços ajudando-a a se por em pé, eram mãos pequenas, porém firmes...

-Agora abra os olhos.

Angel abriu-os... Mas se arrependeu de fazê-lo, o dono das mãos gentis era ninguém menos que...

-Annet!!?

-Eu não sou mais a mesma que você conheceu no acampamento Angel, então não aja como se me conhecesse.

Angel não precisava que ela dissesse isso pra perceber a mudança, Annet estava muito pálida, com olheiras quase tão negras quanto seus olhos, seus lábios estavam secos e ela não tinha expressão, era como um zumbi. Angel sentiu uma pena enorme da amiga, queria perguntar por que ela estava fazendo aquilo, mas já sabia a resposta. Ela estava sendo controlada por Lótus, a única chance de salvar Annet, era derrotando-o, a pergunta era como.

Annet amarrou as mãos de Angel e a guiou pela porta até um longo corredor, que se estendia à direita e a esquerda, elas foram pela direita e seguiram até o fim do corredor. Pararam em frente a uma espécie de porta de aço, com vários botões coloridos em forma de quadrado na parede branca, Annet foi para frente e tocou um pequeno botão vermelho, a porta de aço se dividiu abrindo caminho para uma salinha minúscula também de aço, elas entraram e a porta se juntou e se fechou. Angel nunca tinha visto nada parecido.

-Se chama elevador - Disse Annet- É parte da tecnologia maravilhosa que o Senhor Lótus trouxe para nossas vidas, ele só quer o nosso bem Angel, você vai ver.

Angel não sabia se ria ironicamente ou chorava, Lótus realmente tinha feito uma lavagem cerebral em Annet, o resultado conseguia ser pior do que foi com Góor.

-Pra onde nós estamos indo? –Perguntou Angel

-Senhor Lótus quer te mostrar uma coisa.

Isso não pode ser bom- pensou, desolada- Será que agora, minha verdadeira sessão de tortura finalmente vai começar?

A salinha de repente começou a se mover, sutilmente, Angel se assustou e apoiou-se na parede fria atrás de si, até que depois de alguns momentos houve um estrondo e a porta se separou novamente e se abriu, mostrando uma enorme sala, cuja decoração diferia de tudo o que Angel tinha visto em toda a sua vida.

Três das paredes tinham uma leve cor creme, a quarta, na extremidade oeste da sala, era negra, com finas listras verticais brancas revestidas de delicados desenhos de flores com pétalas cor de rosa. Haviam quadros e espelhos circulares de diversos tamanhos nas 4 paredes, todos revestidos de trabalhados adornos dourados formando espécies de ondas. Na parede norte, havia uma enorme janela francesa mostrando a paisagem horrível e cinzenta de Wislek. Angel estava onde pensava estar, no Instituto Ascek. Abaixo da grande janela se estendia uma cama trabalhada em ouro, coberta por lençóis de cetim vermelho e travesseiros brancos com flores cor de rosa bordadas. A cabeceira tinha a borda dourada entalhada com desenhos ondulados e era revestida por um estofamento branco com leves detalhes em baixo relevo. Na parede oeste, havia um longo sofá do mesmo cetim vermelho dos lençóis da cama, e sentado nele, com as pernas cruzadas e postura reta, estava Lótus, sorrindo diabolicamente como sempre fazia.

-Sentiu minha falta anjinho?

-Guarde seu cinismo pra você! –Angel estava furiosa, só agora percebeu isso- Quanto tempo eu fiquei presa?

-Você descansou por cinco semanas meu docinho, e você está horrível! Annet, busque comida para a minha hóspede.

Annet se retirou da sala e entrou no elevador e a porta se fechou atrás de Angel, deixando-a sozinha com Lótus.

- Nervosismo e medo não nos deixam sentir fome, o corpo fica tenso demais pra ter outra necessidade além de sair da tal situação ruim, é por isso que você dormiu tanto, e não sentiu fome. - Lótus se levantou e andou até Angel- Eu observei tudinho, você tem muito autocontrole pra alguém com tão pouca idade, mas entenda minha cara, se há algo que eu sei reconhecer é medo. –Murmurou sorrindo, enquanto pegava uma mecha dos cabelos de Angel e cheirava – Não precisa sentir medo, não se me der o que eu quero...

-Não me toque! –Ela se afastou até suas asas tocarem a gelada porta de aço- Onde estão meus amigos? Me deixe vê-los, você já me tem aqui, liberte-os!

Lótus olhou-a friamente. Por um momento até seu sorriso se foi, mostrando um rosto duro e cruel.

-Quer mesmo vê-los? –Disse, voltando a sorrir.

-Sim.

-------------------------------------------------x---------------------------------------------

Era uma sala com paredes prateadas de ferro, com uma fileira de retângulos luminosos que transmitiam imagens com sons em tempo real. Mais uma coisa que Angel nunca vira na vida.

Porém todo o esplendor da novidade foi abafado com as imagens que os ‘retângulos’ transmitiram...

A primeira foi Serena, amarrada em uma cadeira de aço, com vários fios, agulhas e esparadrapos espalhados pelos braços, ela estava pálida e muito mais magra, e com uma expressão abatida que Angel nunca tinha visto em seu rosto antes, parecia frágil... Como se apenas um sopro lhe derrubasse, e de repente...

Ela começou a se contorcer na cadeira, a gritar e chorar.

-PARE! POR FAVOR! PARE! ESTÁ DOENDO, POR FAVOR! –Ela gritava, mas não paravam, ela continuava a levar choques e choques, se contorcia e chorava...

As telas ficaram pretas.

Angel gritou.

-Não reaja ainda anjinho, ainda faltam os outros 9...

Angel congelou.

Estava em choque. Acabara de ver sua melhor amiga ser torturada. E ainda restavam 9. Ela não aguentaria... Não. Que ele me prenda novamente no quarto branco, mas não me obrigue a ver seus amigos sofrendo. Não...

Logan foi o segundo. Os retângulos transmitiam imagens dele de diferentes ângulos, e assim como Serena, ele estava amarrado na cadeira de aço.

Ele fechou os olhos, e os punhos, se contorcia levemente, mas era visível que fazia um esforço enorme para não chorar de dor.

Telas pretas novamente.

Angel levou as mãos ao rosto e caiu sobre os joelhos, sentia uma dor terrível no peito e um nó crescendo na garganta.

-Pare... –Sussurrou, com a voz embargada pelo choro iminente- Por favor, eles estão sofrendo...

O terceiro foi a gota d’água.

Társis apareceu em todos os retângulos luminosos, o cabelo negro agora crescido, pendia sob seus olhos, escondendo as lágrimas que saíram sem permissão.

As poucas veias visíveis de seus braços estavam agora saltadas pela pressão dos punhos cerrados, Angel podia ouvi-lo chorar... E isso doía fundo em seu coração.

Társis estava sofrendo, e Angel era a única que podia liberta-lo... E ela sabia como.

Se levantou, enxugou as lágrimas e desviou os olhos de seu homem torturado.

-Liberte-os.

-E por que eu faria isso meu anjo?

-Se liberta-los em segurança, deixar de controlar Annet e Góor, e devolver as lembranças que você apagou... Deixarei que faça comigo o que quiser. Sem reclamar. Nunca. –murmurou, pausadamente.

Lótus a olhava de centelha, sorrindo vitorioso. Ele estava prestes a pular de empolgação, Angel fez exatamente o que ele previu que ela faria, e isso o deixava extasiado.

-O que eu quiser? –Disse, com a voz aguda pelo êxtase.

-Sim, eu não farei nenhuma objeção. Prometo. Liberte-os, por favor, senhor... Lótus –Era o jeito que Annet o chamava, Angel previu que ele gostaria de ser chamado assim, já que ele controlava a mente de Annet.

Lótus se permitiu dar um ultimo sorriso vitorioso a Angel, então foi até um objeto pontiagudo sobre a bancada abaixo dos retângulos luminosos, apertou um botão e disse:

-Acabou a diversão.

----------------------------x-----------------------------

Annet chorava como uma condenada, e Serena a consolava com uma expressão tão triste quanto a dela. Todos estavam tristes –Não entendo, por que estão tão abatidos? Eles estavam sendo torturados, deviam estar felizes por serem libertados! Por que agem como se fosse um preço muito alto? Eu não entendo... Não entendo...

Góor foi a primeira a entrar no aerodeslizador, logo após trocar um olhar culpado com Angel. Depois dela foram Lissa, Áquil, Serena e Annet com Falco logo atrás, Éris, Dylan e Logan, e a pobre Ranny, que quebrara o braço quando um irredut resolvera ‘brincar’ com ela.

Társis ficou um bom tempo olhando fixamente para Angel, em uma comunicação silenciosa. Seus misteriosos olhos negros transbordando, escancarando suas emoções.

-Eu amo você Ange –murmurou- eu não vou te abandonar, eu nunca mais vou esquecer você.

-Não chore -Disse Angel- Não quero me lembrar de você assim Tars, por favor fique bem.

Então ele se virou e entrou naquela grande besta de metal. O portal subiu. As portas se fecharam, e o aerodeslizador se foi, levando Társis e os amigos de Angel.

-Adeus...

Ela talvez nunca mais voltasse a vê-los...

-É hora de entrar anjinho –Disse Lótus, com uma expressão maliciosa- vamos começar a utilizar nosso longo tempo juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tenso né? Ainda tem muuuito mais BWAHAHAHAHA...Pra quem teve dificuldade em imaginar o quarto do Lótus, já que a Lhama é um desastre em descrições, é um quarto Vitoriano.