Olhos Negros escrita por Emma blue


Capítulo 24
Capítulo 24 -Homem em chamas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D
Escrito por Lhama Liú



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No capítulo anterior... "-Não chore -Disse Angel- Não quero me lembrar de você assim Tars, por favor fique bem.

Então ele se virou e entrou naquela grande besta de metal. O portal subiu. As portas se fecharam, e o aerodeslizador se foi, levando Társis e os amigos de Angel.

-Adeus...

Ela talvez nunca mais voltasse a vê-los...

-É hora de entrar anjinho –Disse Lótus, com uma expressão maliciosa- vamos começar a utilizar nosso longo tempo juntos."

Meus amigos se foram...

Estou sozinha agora...

Não há mais esperança...

Lótus a levou em silêncio pelo elevador até o ultimo andar da torre mais alta do Instituto.

Guiando-a pelo corredor, abriu uma silenciosa porta de ferro, revelando um grande e colorido quarto.

-Você ficará aqui e apenas aqui a partir de agora - Disse, num tom autoritário, ainda com a mão na maçaneta dando espaço para Angel entrar – Uma criada virá cuidar de você mais tarde –Fechou a porta atrás de si, deixando-a sozinha.

-Nada de anjinho... ou docinho... –Lótus estava estranhamente sério e duro, totalmente diferente do Lótus excitado pela vitória de minutos atrás. –Como alguém pode mudar de humor tão depressa?

Angel caminhou lentamente até a janela e abriu as cortinas de babados rosa claro. Deparou-se com grades de ferro quase da grossura de seus braços, queria sentir ar fresco em seu rosto, para confortar sua alma, mas tudo o que veio daquelas janelas foi um vento gélido, carregado da melancolia daquela imensidão cinzenta que era Wislek.

Angel bufou e fechou as cortinas. A sua direita havia uma cama grande e chamativa, com lençóis de cetim cor de rosa, flores bordadas em vermelho e babados por toda a parte. Era como a cama de uma princesa. –Uma princesa prisioneira...

Deitou-se, se enfiou debaixo das cobertas bufantes e fechou os olhos.

Mas não conseguiu dormir. -Tudo está tão quieto...

O vazio em seu coração começava a doer e a crescer, e crescia tanto que tentava libertar-se por seus olhos.

A imagem de Társis em lágrimas apareceu sem ser convidada em sua mente.

A ideia de que nunca mais o veria doía cada vez mais e a cada segundo parecia mais insuportável.

De repente todo o peso emocional que carregara sob suas costas desde que chegara a Wislek transbordou.

Angel sentou-se na cama, chorando e gemendo de uma dor que não era física... Grunhia, mandando-a embora, expulsando-a...

-Eu amo você Ange...

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Acordou muito antes de o sol nascer, passou a mão no rosto limpando as lágrimas secas, revirou-se na cama e pôs-se a observar a decoração pela primeira vez desde que entrara ali.

As paredes exibiam paisagens, à direita, via-se uma cachoeira se desmanchando em cascatas, não se via onde desaguavam, eram apenas longos véus de noiva com um belo e ensolarado céu de verão como fundo.

A parede da frente mostrava grandes montanhas verdes, com trilhas de flores cuidadosamente pintadas, e um belo castelo que brilhava realisticamente ao mesmo sol de verão da cachoeira ao longe.

Angel começou então a observar a paisagem retratada na parede esquerda...

Estranhamente familiar...

Mind Oklan! – Podia ver sua casa marrom amadeirada em contraste com os vastos campos verdes em época de colheita e o lago onde nadara livre durante tantas tardes, seus olhos seguiram a pintura para a direita, pelas montanhas proibidas, até encontrar a fonte rodeada por flores azuis do acampamento.

Angel levantou-se da cama e foi até a parede, ajoelhou-se e tocou a pintura... Era absurdamente nostálgico, seria capaz de abraça-la se possível.

Sabia por que aquela pintura estava ali, Lótus queria que acordasse todas as manhãs e desse de cara com tudo o que um dia fora seu. O que perdeu quando trocou sua vida pela de seus amigos... Queria que ela se arrependesse...

E deu certo... Por um tempo...

Deitou-se no chão de carpete bege, observando a pintura, o vazio em seu coração doeu novamente.

E ela começou a chorar.

Não se contorcia e berrava como antes, era uma dor diferente da memória de Társis, mais sutil, mais aguda, surgia tímida do fundo de seu coração e explodia silenciosamente por seus olhos.

Abriu as cortinas, ainda estava escuro, nuvens densas escondiam a luz da lua que poderia ser muito bela ali.

Jogou as cobertas e almofadas no chão e aconchegou-se, ainda observando a pintura.

Podia sentir sua mãe afagando seus cabelos e cantarolando sua canção de ninar naquela casa amadeirada. Seus olhos entreabertos viam seu sorriso tranquilizador.

-Boa noite meu anjo

-Boa noite mãe...

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Ela despertou com mãos frias tocando seu rosto. Foi virada bruscamente de bruços e em segundos estava nua, praticamente sendo arrastada em direção á parede da cachoeira.

As mãos tocaram um ponto na parede e uma porta que Angel jurava não estar ali antes se abriu. Ela foi solta no chão e seguiu cambaleando a pessoa a sua frente, a porta dava para um banheiro.

-Sua água está pronta senhora, entre na banheira –Virou-se na direção da voz e descobriu que seu carregador era uma mulher.

-É você quem vai cuidar de mim? –Não sabia por que perguntara aquilo, soara de modo tão infantil... Mas estava desesperada por ter alguém com quem conversar, mas a resposta direta logo acabou com suas esperanças.

-Não, o Senhor Lótus ordenou que a cada dia um criado diferente lhe servisse. Sinto muito.

A mulher tentava soar firme, mas Angel captou gentileza em sua voz.

-É claro que sim... Ele nunca me deixaria ter alguém...

Sem resposta, Angel se dirigiu há banheira dourada mais a frente.

A água estava pelando, mas era uma sensação boa e revigorante. A criada a seguiu com um balde prateado e panos úmidos, e começou a limpar suas asas cuidadosamente.

-Obrigada –sussurrou Angel, sorrindo pela primeira vez em meses.

-É apenas meu trabalho senhora.

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Uma travessa enorme com carne, queijo, pães e bolos de semente a esperavam na mesa de vidro do quarto, só percebeu o quanto estava faminta quando devorou tudo. Ao terminar, a criada retirou a travessa e a serviu com vinho adocicado.

Vestiu-se com um vestido simples que a esperava no trocador ao lado da cama. Era amarelo claro com uma faixa mais escura amarrada na cintura, magistralmente sob medida, até mesmo os buracos pra passagem das asas.

Olhou-se no espelho da parede da cachoeira. Estava doentiamente magra e pálida. Mas o mais próximo do sol que ela chegaria provavelmente seria nas pinturas.

-Precisa de mais alguma coisa senhora?

-Nada que você possa me dar eu receio.

-Sinto muito.

-Eu sei.

Com um sorriso melancólico, a criada se foi pela porta da parede do castelo.

Angel nunca mais a viu.

E de repente todo o alívio provocado pela companhia se foi, dando lugar ao ar de melancolia que parecia transpor as cortinas.

Arrumou a cama e se enfiou embaixo das cobertas novamente, não tinha coragem de olhar Mind Oklan. Ainda tinha medo do que sentiria, então fitou o teto prateado onde podia ver seu reflexo embaçado.

Não haviam passado 5 minutos da saída da criada quando a porta se abriu novamente. Dessa vez era Lótus, ainda monótono e sério. A expressão ilegível.

-Venha comigo.

Seu tom não era de quem deveria ser desafiado, Angel saltou da cama e o seguiu pelo corredor.

Ele a levou até o topo da maior torre do instituto, seu quarto ficava a uns dois andares mais abaixo. O chão era feito de ônix e rocha, negro como a primeira e frio como uma rocha pode ser. Haviam pequenas colunas pontudas nas extremidades, como num castelo medieval. Era assustadoramente alto e grandioso. Esmagador. Exatamente como o humor atual de Lótus.

Lótus caminhou até uma das colunas e virou-se na direção de Angel.

-Venha cá

Ela caminhou até seu lado e se apoiou na coluna. Evitando seu olhar, observou a paisagem onde pode ver o labirinto de casas ao longe. Tudo era imenso e silencioso. Vazio... Uma aura aflitiva pairava sobre a cidadela desabitada.

Lótus estava virado para as escadas, mas ainda a observava descaradamente. Angel tomou coragem e o encarou de volta. Arrependeu-se. Seu olhar era frio. Tenso. ilegível. Havia um tipo de chamas naquele olhar negro como o chão sob seus pés. Como se estivesse ardendo por dentro, se contendo por algum motivo desconhecido.

Lótus era agora um homem em chamas.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi reescrito umas 30 vezes no mínimo, por isso demorou tanto, mas a Lhama achou melhor adiar as revelações e acontecimentos bombásticos para os próximos capítulos, que virão mais depressa pois já estão escritos. Espero que tenham gostado, deem reviews, comentem, divulguem e blablabla. Façam uma escritora feliz :D