Emma então foi até o banheiro, Ariel havia deixado as instruções de onde as toalhas e roupas estavam, assim ela já teria tudo ao seu alcance. A loira então pegou duas das quatro toalhas que estavam empilhadas sobre um balcão, pegou também um conjunto de abrigo além de suas roupas intimas, partiu então em direção ao banheiro. Parou em frente ao espelho, não tinha coragem de olhar o seu reflexo durante os dias que passou em observação no hospital, e finalmente resolveu enfrentar a sua angústia. Ela parou por fim em frente ao seu reflexo, notou mudanças no seu corpo, seu cabelo estava mais compridos, círculos escuros assombravam os seus olhos, e por fim seu olhar não era o mesmo.

Lembrou-se da última vez que havia tido a coragem de fitar o seu reflexo em um desses grandes espelhos, lembrou-se da última vez que esteve feliz.

FlashBack:

Era um dia ensolarado, uma garrafa de cidra de maçã estava jogada ao chão, o liquido que havia dentro da mesma já havia sido ingerido pelas duas mulheres, como elas estavam no quarto que Emma havia alugado elas sabiam, antes de começar por fim a beber onde aquilo acabaria.

Emma então acordou, o corpo que tão desejava estava estirado ao seu lado, dormia pacificamente, a loira sabia que para a morena todos os toques, beijos e juras poderiam ter sido apenas um erro, porém para a bela dos olhos verdes aquilo era como se fosse o céu, ela jamais se arrependeria dos acontecimentos daquela tarde.

Emma então se pôs de pé, sua cabeça latejava, e quando finalmente seus olhos encontraram a garrafa jogada no chão ela sabia que estava provavelmente de ressaca, moveu-se até o banheiro e lavou seu rosto, enrolou seu corpo ainda nu em um robe branco, e então voltou para o quarto, deparando-se com a morena de pé, em frente ao espelho. Ela não parecia triste, não parecia decepcionada, porém Regina estampava um pequeno sorriso nos seus lábios.

Vestia apenas uma camiseta - maior que seu corpo, provando então que havia pegado de Emma - e suas peças mais íntimas, seu cabelo estava bagunçado, e aquele sorriso não sumia da sua expressão, nem quando a loira chegou por trás de Regina entrelaçando seus braços na sua cintura. Ambas apenas encaravam o espelho, gravando aquele momento como se fosse único, e sim, ele era.

A morena por fim se desfez do abraço, de um jeito carinhoso e depositou um beijo nos lábios da loira, um beijo rápido e então a morena sumiu em direção ao banheiro com suas roupas em mão. Emma também se prontificou a se vestir, sua calça surrada e sua regata tão amada. A jaqueta vermelha, a jaqueta que trazia grande parte de sua história estava jogada no chão, se alguém chegasse no quarto diria que seria apenas culpa da loira, afinal não era muito organizada, porém as duas mulheres que estavam ainda dentro do pequeno cômodo alugado sabiam que havia uma história, mais um capítulo de um livro que há algum tempo havia sido esquecido em uma caixa, uma caixa cercada de espinhos, que ao toque apenas machucava, porém que nessas últimas semanas havia voltado á florir, matando todos os espinhos e raízes que por fim machucavam tanto as protagonistas da história.

Por fim, então a hora da despedida chegou. A morena saiu do banheiro, seu sorriso não havia desaparecido, muito menos o da loira. Elas se beijaram e sem mais palavras a morena apenas se foi, sumindo no final do corredor, deixando Emma sozinha no quarto, com um sorriso e vários pensamentos. Por fim a loira se dirigiu até o espelho, fitou cada centímetro do seu corpo e novamente se deitou na cama, e liberou sua mente para se lembrar de cada momento da tarde que havia passado com o seu grande amor.

~ FlashBack off.

Emma fechou seus olhos e deixou que as lágrimas que acompanhavam as memórias fluíssem pelo seu rosto, todas aquelas memórias permaneciam intocáveis na sua mente, não havia esquecido nenhuma delas, e lembrou-se de todos os momentos que havia passado com a mulher dos seus sonhos, por fim fitou novamente o espelho. Notou uma mudança no seu reflexo, não sabia o que era no início, porém parou para observar e viu por fim algo diferente em seu olhar. Um sentimento, melhor, uma mistura de sentimentos.

Amor, esperança e certeza... Certeza de que ela amava a morena mais do que tudo.

Sorriu satisfeita com a constatação, e então foi para o banho, lavou os cabelos longos, e deixou que a água que escorria pelo chuveiro levasse toda sua dor, e grande parte das lembranças, porém não as boas, sim as que estavam perseguindo sua mente. As que a perseguiam após o momento que acordou, após o momento que as vivenciou.

Enrolou os cabelos compridos em uma toalha, e o corpo em outra, pôs a lingerie e uma camiseta, a maior que tinha. Era uma camiseta de baseball, e então se deitou na cama, deixou que o cansaço consumisse seu corpo, e por fim caiu no mundo dos sonhos.

Ou no caso de Emma, o mundo dos pesadelos.

As agressões físicas que Daniel havia causado em Emma apenas pioravam, começou com o famoso "mano a mano" porém é claro, com Emma presa sem a possibilidade de lutar, então, insatisfeito com o estrago começou a usar artefatos como soqueiras, tacos e pedaços de madeira para torturar a loira.

Ela não sentia mais nada, seu corpo estava dormente de tanta dor, porém isso não era problema, apanhar todos os dias no seu físico era o que menos a perturbava. O grande problema chegava quando Daniel estava no seu espírito sádico, a tortura era muito pior.

Ele prendia a loira em uma cadeira, seus braços e pernas amarrados, e ela ficava sentada de frente para a cadeira em que o jovem se sentava, ele então começava a contar histórias, as histórias de como havia beijado, tocado e de eram suas noites com Regina. Essa sim era a tortura que Emma não aguentava, quando o homem notava o estado frágil que havia deixado a loira abandonava a sala, deixando que todas aquelas histórias navegassem os pensamentos de Emma, que estava perto de enlouquecer.

O sonho, melhor pesadelo da loira foi cheio das histórias contadas por Daniel, e enfim sua imaginação trabalhava para que as cenas contadas fossem arquitetadas em ações, e isso era o que fez com que Emma acordasse repentinamente, seu corpo todo suado e seus olhos lacrimejados.

Não ousaria voltar a dormir, não gostaria de ter todas aquelas cenas em sua mente novamente, então deixou seus pés tocarem o chão gélido e se dirigiu até o armário onde selecionou uma calça e uma camiseta, pegou também um casaco e as chaves do apartamento, escreveu um bilhete para Ariel, dizendo que caso ela tivesse acordado Emma estava com o celular que a ruiva havia também entregue a ela.

Então Emma saiu pelas ruas de Nova York, o vento batia em seu rosto, e essa pequena ação da natureza causou a mente e o coração da loira ficarem pacíficos, por fim os pensamentos e toda a dor causada pelo pesadelo haviam voado, para longe. A loira continuou a vagar por mais alguns minutos, ou seriam horas? Não sabia dizer, porém quando o cansaço tomou conta do seu corpo, fitou o céu, as estrelas contrastavam com a escuridão do céu, e então Emma se lembrou, da tarde, daquela tarde ensolada, do abraço em frente ao espelho. E se lembrou do brilho no olhar de sua amada.

Sorriu, e então fez seu caminho de volta ao apartamento, jamais deixando a cena que trouxe paz ao seu coração ir embora.