Acho que poderia ficar assim pra sempre. Não podia reclamar de nada, por mais que eu quisesse.

   Sinto seus lábios indo até meu pescoço. Aquilo não era normal, talvez não devesse ser. Meu coração bate tão forte que temo que Cato pudesse escutar.

   Ele volta aos meus lábios e depois paramos. Encosto sua testa na minha e ficamos olhando um para o outro por alguns instantes.

   -Vamos?-pergunta ele praticamente me acordando de volta a realidade.

   -Ah...claro.

   Ele começa a andar e eu fico observando. O que foi aquilo?

   -Clo? –chama ele olhando para mim.

   Sem pensar corro até ele. Seguro sua mão e andamos até nossos pais, que por sinal já estão bem longe, mas não estamos com muita pressa.

   -Por que demoraram?-pergunta Lucy quando chagamos.

   -Isso não faz diferença faz?-pergunta Cato ignorando.

   Contenho uma risada. Ele vai para perto de meu irmão. Lucy o encara até chegar lá, depois seu olhar pousa em mim, mas simplesmente ignoro. Ela logo para e vai para perto de meus pais, como a maioria das vezes que não tem nada para fazer.

   Encosto-me em uma arvore e não consigo conter um pequeno sorriso se formar em meu rosto. Que droga! Por que estou sorrindo?! 

   Isso não pode ter nada haver com Cato, não é? Por que seria estupidez... preciso falar com Fox agora!

   Arranco o celular de meu bolso e tento ligar, mas adivinha! Não tem sinal aqui! Ahh! Por quê?!

   Quase jogo meu celular dentro da porcaria do lago, mas felizmente consigo me controlar.

   -Cato, Jack, Clove venham aqui!-chama Lucy animadamente. -Tive uma ideia fantástica!

   Olho para meu irmão em desespero e ele também olha para mim do mesmo jeito.

   Uma dica: Quando Lucy tiver uma ideia, fuja para as montanhas!

   Olho para meus pais que sorriem, obvio Lucy é fofinha e burra, por que não sorrir quando ela tem uma ideia que pode tirar ela de seu pé?

   Ando até ela, pensando em um plano de fuga que não levante suspeitas. Ela está bem perto do lago, se eu a empurrasse ela poderia cair... é uma boa ideia! Mas meus pais me matariam, mas se fosse sem querer quem sabe?

   -Que ideia,Lucy?-pergunta meu irmão fingindo animação.

   -Que tal brincarmos de pega-pega?

   Pega-pega?! Sério?! Quantos anos ela tem?

   -Ah... o que acha Cato?-pergunta meu irmão, posso ver que está rezando para que ele recuse.

   -Por mim tudo bem.

   Lucy dá pulinhos de alegria.

   -Eu pego!- ela começa a correr atrás de nós.

   Corro. O terreno daqui não é o melhor para isso, mas fazer o que? Valeu mesmo Cato.

   Quase não tenho mais fôlego quando ela pego Jack. Ele sai correndo atrás de mim e de Cato, Lucy corre para o outro lado. Depois de um tempo ele pega Cato e eu corro para o outro lado, só depois percebo que estou muito perto do lado, me viro para dar meia volta mas Cato estava bem atrás de mim e caio para trás, dentro da porcaria do lado.

   -Tá tudo bem?-pergunta ele rindo e se ajoelhando na borda do lado.

   -Idiota. -também rio um pouco.

   -Desastrada. -ele estende a mão para mim. Eu a seguro e o puxo para dentro. Agora sou eu quem quase morre de rir. -Ah vai ter troco pequena!

   Não soa ameaçador. Ele ri enquanto fala então não me preocupo. Jogo água nele quando ele tenta sair. Ele faz o mesmo. Continuamos rindo quando saímos do lago.

   -Está tudo bem com vocês?-pergunta meu irmão.

   -Claro.-responde Cato.-Se não fosse a desastrada da sua irmã...

   -Dá um tempo, foi por sua causa que eu cai.-digo.

   -Tanto faz.

   Rio.

   Quando voltamos para casa vou diretamente para o banheiro. Estou simplesmente nojenta. Estou coberta de terra, grama e sei lá o que, graças às brincadeiras de Lucy. Não foram tão ruins quanto as que ela fazia quando era pequena.

   Deixo a água morna escorrer pelo meu corpo. De estranha forma gostei desse dia...não, não foi por causa de Cato. Por que seria?

   Pensar nele faz com que eu feche imediatamente os olhos. Seu sorriso, seus olhos, seu cabelo, seu corpo... que droga! Não posso pensar nisso. Não nele, não aqui, não, não, não...

   Percebo que havia prendido a respiração, solta-a pesadamente. Isso é tão confuso! O que está acontecendo comigo?! Pensar em Cato, aqui, tipo no banho, deve ser a coisa mais retardada que já fiz em minha vida.

   Não quero ser igual as outras garotas e gostar dele por ser forte,rico, popular, e sei lá por quais outros motivos que as pessoas gostam dele. Eu sou uma das que mais tem que odia-lo, afinal, olhe pra tudo que ele fez comigo! Ele é idiota! Ele me odeia!

   Penso nas coisas que nós fizemos. Destruímos relacionamentos, como o de Delly, colamos em provas, invadimos a sala do diretor, mentimos, enganamos, nos abraçamos, rimos, brigamos, nos beijamos, e resistimos a tudo que nos falavam ou o que sussurravam a nosso respeito. Os boatos idiotas sobre eu e Cato estarmos saindo ou coisa parecida, sempre fingíamos que não escutávamos, nunca nem comentamos isso um para o outro, mas sei que ele sabia.

   -Clove!-escuto cato me chamando. -Vai demorar muito ai?

   Desligo o chuveiro.

   -N-não! Já estou saindo.

   Saio de dentro do Box e me enrolo em uma toalha. Me seco rapidamente e visto a roupa que tinha trazido para cá.

   -Clove.-reclama Cato.

   -Já to indo!

   Saio sem secar meu cabelo mesmo. Cato está na porta esperando. Todos os meus pensamentos sobre ele passam pela minha cabeça, mas esqueço de tudo ao olhar para seus olhos. Não falamos nada. Ele continua olhando para mim. O que ele poderia estar pensando? O que eu estou pensando?

   Desvio o olhar para o chão e começo a andar.

   -Clove.-chama ele.

   Paro e olho para ele.

   -O que foi?

   -Ham...eu...-ele parece pensar por alguns instantes.-Não é nada, esquece.

   -OK.-digo voltando a andar.

  Escuto a porta do banheiro de fechar e sinto que parte de mim acabou de desaparecer. Alcanço meu quarto pego meu celular e ligo para Fox. Quando ela atende, algo me diz que tenho que ficar calada sobre o que aconteceu entre eu e Cato hoje. É o que eu faço. Nossa conversa em nenhum momento Cato é mencionado. Quando desligo já é um pouco tarde e imagina que todos já estejam dormindo.

   Saio de meu quarto tentando fazer o mínimo de barulho possível. Sigo em direção da cozinha. Mas paro ao passar pela porta de Cato. Está meio aberta. Deveria ter continuado a andar, mas não consigo. Espio lá dentro, Cato não está deitado como eu imaginava. Ele olha pela janela. Como está escuro, vejo apenas a silhueta de seu corpo. Contenha a vontade de ir até ele e fico apenas o observando.

   -Clove, por quê?-o escuto sussurrando.

   Meu corpo parece ter virado gelo quando ele fala isso. Por um instante penso que ele me viu, mas percebo que ele estava simplesmente falando sozinho.

   -Eu odeio você, espero que saiba disso.-continua ele.- Como consegui fazer isso?

   Não tenho ideia do que ele esteja falando, mas uma parte de mim não quer saber. Sem pensar volto correndo para meu quarto. Sento-me na cama e percebo uma lagrima escorrendo pelo meu rosto.

  Por que ele me odeia?! Eu o odeio!

  E percebo uma coisa. Resistimos novamente.