Quando acordo Cato não está mais aqui. Escuto barulhos vindos do andar de baixo, provavelmente todos já estão acordados. Levanto-me preguiçosamente e vou me arrumar.

   -Bom dia.-diz meu pai quando eu desço.

   -Bom dia.- respondo.

   Todos tomam café da manha, mas eu realmente não estou com muita fome. Vejo que há uma cadeira vazia ao lado de Cato. Sento-me lá.

   -Oi.-digo timidamente.

   -E ai?-responde ele.

   Vejo que Lucy me olha de uma maneira estranha. Ignoro-a como sempre.

   -E então.-diz ela.-Algum plano para hoje?

   -Acho que sim.-responde o pai de Cato.

   -Estávamos planejando de ir até o lago hoje.-continua minha mãe.

   Ah não o lago!

   Lucy sorri.

   -Seria divertido!-diz ele animada.

   Olho de relance para meu irmão que faz o mesmo. Nós dois tínhamos um ódio especial pelo lago. Principalmente de Lucy e o lago. Como tinha dito antes, Lucy é burra, e tipo burra ao extremo mesmo. Sabe quantas vezes ele inventava brincadeira idiotas e acabávamos caindo naquele lago estúpido?! Bom não foi poucas vezes, não foi mesmo.

   -O que acham?-pergunta meu pai.

   Eu e meu irmão falamos alguma coisa que pareceu com um “pode ser”.

   -Por mim tudo bem.-responde Cato.

   E é obvio que Lucy concorda.

   -Muito bem! –fala minha mãe.-Iremos sair as três.

   Depois do café. Meus pais e os pais de Cato ficam conversando na cozinha, Lucy e Jack ficam vendo TV e eu vou para o quintal.

   -Ei Clo! –escuto Cato me chamando. Viro-me e vejo que ele vem até mim. –Desculpe por ter ido embora sem avisar, é que eu ouvi nossos pais chegarem e acho que não seria muito legal eles nos encontrarem... você sabe.

   -Ah claro, não tem problema.-uma parte de mim ficou aliviada por saber que ele só saio por nossos pais terem chegado.

   Continuo andando e ele me segue, o que eu acho um pouco estranho.

   -Pareceu um pouco nervosa quando seu pai falou do lago.-ele observa.

   -Você percebeu?

   -Acho que só eu percebi.-diz ele.-Seu irmão também, tem alguma lembrança ruim daquele lugar?

   -Lucy.-respondo.

   -Ah... agora entendi.

   -Como assim?-pergunto confusa.

   -É que eu meio percebi que ela não é a pessoas mais esperta do mundo.

   -Descobriu quando? Quando vocês dois estavam...

   Deixo a frase no ar, mas ele sabe como ela termina.

   -Você...soube?

   -Sim.-digo olhando para o chão.

   -Olha eu não queria que soubesse. -diz ele.

   -Por quê?Queria me fazer de idiota?-pergunto olhando finalmente para ele.

   -Não. -responde ele.-Por que foi um erro.

   -Um erro?

   -Sim, eu não gosto de Lucy e também cansei de usar as pessoas desse jeito.

   -Ah sei. –digo começando a andar mais rápido.

   -Não.-diz ele me alcançando.-Juro pra você que me arrependo.

   Ele segura meu braço.

   -Por que sempre faz isso?!-pergunto.

   -Por que você sempre foge. -responde ele.-Olha se você me escutar e não fugir eu prometo que não seguro.

   -Tem um minuto. -digo e ele solta.

   -Ta... Clove eu não queria, mas Lucy me convenceu.

   -Isso é o melhor que consegue?-pergunto.

   -Se eu falar mais vai achar que eu estou mentindo.

   -Não eu ou achar que você está mentindo você falando muito ou não.

   -Você consegue ser mais chata a cada dia, sabia?

   -Sim eu sabia.-concordo, achei que isso ia o deixar irritado, mas ele continuou do mesmo jeito.- Já posso ir?

   -Pode fazer o que quiser.

   Não esperava essa resposta. Volto a andar ainda um pouco relutante. Dessa vez queria que ele segurasse meu braço e não me deixasse ir. Inconscientemente paro. Escuto Lucy correndo em nossa direção, na direção de Cato pra ser sincera.

   -Não.-digo.

   -Não o que?-pergunta Cato.

   Viro-me para ele rapidamente, vejo Lucy vindo e não penso duas vezes. Me jogo nos braços de Cato que me pega confuso, e o beijo. E ele retribui o que eu realmente achei que não fosse acontecer.

   Meus olhos estão fechados, mas mesmo assim posso sentir Lucy nós obsevando. Ele me segura mais forte do que as outras vezes, e acho que eu também. Meu coração bate forte e tenho medo que ele o escute.

   Quando ele me solta, olho para Lucy que está com lagrimas nos olhos.Cato também olha para ela, depois volta pra mim.

   -Desculpe. -sussurro.

   -Fez isso só por causa dela? Clove você é...

   Lucy sai correndo. Cato olha para mim com raiva, mas corre atrás dela. Quando faz isso sinto como se alguém tivesse me dado uma facada. Me arrependo de tê-lo usado, agora tenho certeza que ele nunca mais vai olhar na minha cara. Lagrimas escorrem pelo meu rosto e eu me jogo no chão.

   -Clove?-escuto a voz de Jack. Não está carregada de ódio como tem sido, isso me reconforta um pouco.-Clove o que aconteceu?

   Agora ele está ao meu lado. Ele se senta no chão junto comigo.

   -Fala, o que aconteceu?-pergunta ele novamente.

   Não consigo, nem sei o que responder, então continuo ali chorando feito uma idiota.

   -Foi Cato não foi?-ele insiste.-Foi não foi? Responde!

   -Não.-consigo responder.-Quer dizer... eu não sei...desculpa...eu...eu...

   -Shh ok ta tudo bem. -ele me abraça.

  Eu acho que nunca me senti tão horrível! Tudo bem Lucy pode ser uma puta, chata, idiota e perigosamente burra, mas mesmo assim não foi legal eu ter feito aquilo com Cato na sua frente...e muito menos ter feito isso com Cato, não deveria tê-lo usado, por mais que ele tenha me usado, não sou igual a ele não deveria ter sido tão baixa!

   Escuto passos se aproximando, rezo para que não sejam meus pais, ou os de Cato. Odeio quando os adultos começam a perguntar o que aconteceu, principalmente no meu caso agora. Tipo o que eu poderia falar? Nem eu sei direito o que está acontecendo agora!

   -Seu idiota!-xinga Lucy passando por nós, seguida por Cato.

   -Lucy por favor me escuta!-eles somem pra dentro de casa.

   -Foi você que fez isso?-sussurra meu irmão.

   Não respondo, mas sei que ele sabe que foi só espero que não saiba como eu fiz.

   -Não quero nem saber como.-ele dá um risinho quase mudo, se levanta e vai embora. Algo me diz que nossa pequena “trégua” acabou.

   No carro indo para o lago provo minha teoria.Jack nem ao menos olhou na minha cara,  muito menos Lucy.Acho que Cato explicou pra ela que fui eu que o beijei e ela provavelmente quer me esganar agora...mas dane-se! Lucy é a única pessoa desse carro que eu realmente quero que não fale comigo. Meus pais parecem nem perceber a tensão entre nós, como eles conseguem? Realmente não sei. Tipo quem não perceberia?

   Ele estacionam o carro e eu olho pelo janela.Havia algum tempo que não vínhamos aqui, Jack e eu sempre convencíamos nossos pais,mas agora tenho certeza que eles não iriam deixar. Olha para o bosque que fica antes do lago, e estremeço.

   -Vamos crianças!-diz meu pai animado, saindo do carro.

   Sigo-o relutante. Os pais de Cato e o próprio, já estavam nos esperando. Como eu imaginava Cato não olha pra mim em nenhum momento.

   Começamos a andar mata adentro em direção da porcaria do lago. Nossos pais ficam na frente, Lucy vai logo atrás deles seguida de Jack, Cato vai um pouco atrás deles e eu fico no final o mais distante possível. Não é uma boa ideia, as chances de eu escorregar e quebrar uma perna são muito grandes, mas olhe pelo lado positivo se isso acontecer eu posso ir embora. Sim eu prefiro quebrar a perna a ter que ficar nesse lugar até o Natal.

   Nenhum deles parece perceber a que distancia eu estou. Menos ele. Cato. Ele olha para trás a cada cinco minutos. Tenta disfarçar, mas sei que ele olha para mim e não para qualquer outra coisa que tenha aqui.

   Tento ignora-lo. Não sei se dá muito certo, mas como sempre me distraio com outra coisa. Mas daí, eu caio. Por que eu sempre tenho que fazer isso?

   -Tá tudo bem?-pergunta ele vindo até mim.

   -Claro que sim.-digo um pouco seca, por que no fundo sei que ele não se importa. Ele estende a mão e me ajuda a levantar.-Obrigada.

   -Não foi nada.-ele se vira novamente, vejo que Lucy, Jack e o resto já estão bem longe.

   -Cato espera.-digo colocando a mão em seu braço.

   Ele para e olha pra mim.

   -O que foi?

   -Me desculpa ok? Eu...eu não pensei no que eu fiz aquela hora.-falo.-Eu acho que a Lucy sempre conseguia o que queria...e eu queria que pelo menos uma vez na vida não conseguisse.

   -Tem inveja dela?

   -Não! Não... qo eu eu com inveja da Lucy? Nunca.

   Ele cruza os braços e levanta uma sobrancelha.

   -Ta ta, olha eu posso ter um pouquinho, mas bem pouquinho mesmo de inveja dela.-admito.-Mas não pelo o que você imagina.

   -Sei.

   -É serio! Eu só tenho inveja de quando tudo acontece como ela quer...os pais dela fazem tudo e dão tudo a ela o tempo todo, e isso me irrita.

   -E é só por isso que tem inveja dela?

   -Sim, a maioria das vezes.

   -Vou acreditar dessa vez, mas só dessa vez ok?

   -Só dessa vez. -repito e ele sorri.

   -Vamos então?-diz ele apontando para o caminho que os outros foram.

   -Hum podemos esperar um pouco, eles não vão sentir nossa falta até chegarem ao lago.

   -Tem razão.- concorda ele.- E ai o que vamos fazer?

   -Sei lá. Podemos até segui-los, mas bem devagar...

   Cato ri.

   -Ok, bem...devagar.

   Começamos a andar um pouco, tropeço em uma raiz e quase caio novamente, mas cato estava na minha frente e acabo caindo em seus braços.Que vergonha!

   -Cuidado ai pequena.-ele sussurra.

   -Ah... desculpa.

   Por algum motivo ele não me solta, mas sinto seu rosto se aproximar.

   Ah não!

   Faço o mesmo. Nos beijamos.

  Sem Lucy ou qualquer pessoa para nos interromper. E o pior, nós fizemos isso por vontade própria.