Capitulo VII

“Over Again”

-Hey Jude, can we start over again? – Nico cantarolou no meu ouvido.

-Sim. – sorri para ele.

Nico me abraçou fortemente girando-me no alto. Ele me colocou no chão depois de receber um olhar mortal de Ares. Di Ângelo ainda estava sorrindo, por que essa alegria toda?

Ah Judeth você está assim também, cale a boca. – pensei.

Encarei novamente aqueles mais belos olhos negros que eu já havia visto e sorri para o dono deles.

-Acho bom você não me decepcionar. -disse.

-Eu vou fazer de tudo para isso não acontecer. – ele disse e eu sorri recebendo um beijo na testa que me causou arrepios. –Seu pai, quer dizer, Ares esta querendo falar com você. Vejo-te amanhã?

-Até amanhã.  – disse e ele saiu.

Virei-me para trás e me deparei com o deus da guerra selvagem.

-Oi filha.

-Eu já disse que não tenho pai. – falei tentando não gritar.

-Judeth! Quero que você converse comigo.

-Eu estou ótima, obrigada por perguntar.

-Filha conversa comigo.

-Eu não vou conversar com você, Ares. Não me interessa se você é um deus ou meu pai biológico, você me abandonou. Some da minha vida! – disse gritando.

Caminhei até Jason que me olhava um pouco triste. Peguei em sua mão sorrindo e a entrelacei na minha fazendo-o sorrir também. Ele colocou sua outra mão na minha cintura e me puxou para ele. Coloquei minha cabeça em seu ombro.

-Desafiar minha irmã não foi muito legal. – ele disse e eu ri. –Mas eu gostei.

-Que bom. Sua irmã é uma mala, desculpe.

-No fundo ela é legal.

-Vamos mudar de assunto?

-E se não falássemos nada? – ele roçou a boca na minha e eu me afastei.

-Não to com clima.

-O que foi?

-Eu só não estou com clima. – falei um pouco alterada

-Jude foi sobre o negócio de compromisso sério? – continuei calada. – Você ta gostando de outro?

-Eu já disse que eu não estou com clima. Da pra parar de falar?

-Jude!                                  

-Desculpa! – disse saindo.

Andei apressadamente para fora daquele local. Eu havia sido um pouco fria com o Jason, mas porra o garoto quer ter um relacionamento sério comigo e não nota que eu to mal? Bufei pensando nisso. Cheguei até uma área um pouco isolada onde havia uma imensa grama verde e aonde dava para ver todas as estrelas.

Sentei-me em uma das pedras e comecei a chorar. Ares era meu ponto fraco em relação a essa máscara que eu uso. Ele partiu meu coração sendo que ele deveria cuidar de mim. Eu não conseguia perdoá-lo. Sequei as lágrimas e olhei para as estrelas que estavam lindas.

- Hey, Jude, don't be afraid. – cantarolei.

-Jude?

Ouvi uma voz conhecida e virei-me. Era Nico.

-Oi. – disse e ele sentou-se na pedra ao meu lado.

-O que esta fazendo aqui?

-Pensando.

-Você tava chorando? – ele colocou a mão no meu rosto que devia estar vermelho e eu assenti com a cabeça. –Vem cá. – ele me abraçou.

Sinceramente, eu sentia milhares de arrepios cada vez que Nico tocava em mim.  Por que eu tinha que sentir isso? Diga-me!

-O que aconteceu? – ele perguntou ainda me tendo em seus braços

-Ares. – disse com a voz um pouco falha, mas mantive a postura de fria.

-Jude você pode tirar a máscara comigo.

-Só se você também tirar a sua, Di Ângelo. – disse colocando minha cabeça em seu ombro.

- We can both remove the masks. – ele disse dando um beijo no topo de minha cabeça.

-Estamos melosos. – disse.

-É bom de vez em quando. – ri. – Além do mais, nós somos amigos.

-Eu não tenho essa intimidade com os meus amigos.

-E o Jason? Ah esqueci que ele não é só um amigo. – Nico disse sério.

-Ciúmes, Di Ângelo?

-Não começa a se achar. – ele me deu língua e levantou.

-Acho que esta ficando tarde. Leva-me até meu chalé? – disse esticando as mãos.

-Folgada.

-Como é que é? – disse dando um tapa no braço dele.

-Ta, eu levo. – ele me pegou no colo.

-Não precisava disso.

-Se reclamar vai a pé.

-Ficarei quieta. – ele riu

Todos do acampamento pareciam estar nos seus chalés. Nico me colocou no chão quando chegamos à porta do chalé cinco. Despedimo-nos com um abraço e ele me deu um beijo na bochecha.

Vamos relatar os fatos: Eu senti arrepio por qualquer toque do Nico e esse arrepio era mil vezes maior do que o Jason me proporcionava.

Entrei no chalé e coloquei uma camisola preta de cetim no banheiro. Saí e me deitei na minha cama abraçando meu javali de pelúcia. Mordi o lábio inferior pensando em Nico Di Ângelo. E talvez, talvez mesmo ...

Pov Nico

E talvez, talvez mesmo, eu estivesse gostando dela de verdade.

Ela era diferente de qualquer garota. Falava o que pensava, não levava desaforos, tinha uma opinião sobre tudo, era fria com as pessoas, mas eu pude conhecer a verdadeira Jude hoje à noite. Uma Jude que pouquíssimos ou ninguém deve conhecer.

Cada vez que me aproximava ou a tocava sentia um arrepio muito bom.  Quem diria que o “ódio” e a irritação eram um ... amor? Dormi pensando novamente na linda garota de olhos azuis acinzentados.

Pov Jude

Acordei de manhã cedo, levantei da cama devagar e fiquei pensando na conversa com Ares, eu devia dar uma chance? Bufei e fui em direção ao banheiro. Joguei uma água no rosto e respirei fundo. Ainda tinha outro problema: Jason.

Bufei novamente e fui tomar banho. Após deixar a água levar meus pensamentos para longe, saí do banheiro enrolada numa toalha e peguei uma muda de roupa.

O povo estava começando a acordar. Vesti-me rapidamente colocando um short neon vermelho e uma blusa branca simples. Calcei meu Nike vermelho, prendi o cabelo num rabo de cavalo alto, passei meu lápis e estava pronta.  

Saí do banheiro, vi Clarisse e os nossos demais irmãos prontos. Abri a porta e deparei-me com um dos meus problemas, Jason. Olhei para Clarisse e sai com ele dali. Fizemos outro caminho para o pavilhão até agora em silencio.

-Da para falar alguma coisa? – disse

-Desculpa por ontem.

-Desculpa também.

Ele me deu um beijo na testa e entrelaçou sua mão na minha. Chegamos ao pavilhão e ele me beijou na bochecha. Seguimos para nossas respectivas mesas. Comi meu café da manhã e joguei o que sobrou para meu avô. Voltei à mesa e Clarisse me olhava tensa.

-O que ta acontecendo?

-Ares vai vir hoje. Ele nos visita, Jude.

-Ah que bom para vocês. – disse irônica e fui em direção ao treinamento.

Cheguei até a área das espadas, acionei meu colar e comecei a dar golpes em um boneco que havia lá. Após realmente detonar todos os bonecos que havia lá, eu senti na grama e larguei minha espada.  Depois de alguns segundos fitando o chão uma sombra surgiu na minha frente e eu peguei minha espada.

-Você me assustou. – disse a Nico.

-Desculpa. – larguei minha espada no chão. – Como você ta?

-Bem e você? – sentamos na grama e ele colocou a mão na minha cintura.

-Para de mentir para mim. – ele disse

-Nico ... – olhei para ele

-Olhando nos seus olhos eu sei que você esta mal. - me arrepiei quando ele disse isso. – O que houve?

-Ares vai vir aqui hoje.

-Ele estava procurando você.

-Que? Onde?

-No seu chalé. -bufei

-Ótimo não vou para lá tão cedo. – Nico arregalou os olhos e me abraçou.

-Você não é a única que tem problema com seu pai, Anjo.

-Anjo? Isso é um apelido?

-Sim. – sorri. -Voltando ao assunto, você tem que tentar falar com ele.

-Mas ele me abandonou. – disse com lágrimas nos olhos

-Todos eles fazem isso.

-Como vocês conseguem perdoá-los?

-Nem sempre nós perdoamos Anjo. Apenas tentamos compreender.

-Eu não consigo.

-Tenta, vai te fazer bem. – ele beijou minha testa. – Vai lá.

Sorri para ele e levantei pegando minha espada. Caminhei até meu chalé devagar com o coração a mil. Chegando lá Ares estava sentado na sacada me olhando com os olhos pegando fogo. Ah agora ele ta bravo? Eu que tenho que esta brava.  Bufei. Subi as escadas e ele pegou no meu braço.

-Oi para você também. – disse irônica.

-Oi Judeth

-Finalmente aprendeu.

-Podemos conversar?

-No momento eu vou tomar banho, depois quem sabe? – entrei no chalé.

Tomei um banho relaxante, me enrolei na toalha, procurei uma roupa e achei. Vesti uma calça jeans preta, sneakers brancos, uma blusa preta e um casaco preto com a estampa de um javali por cima.  Sentei-me na cama e lembrei-me das palavras de Nico.

Nem sempre nós perdoamos Anjo. Apenas tentamos compreender.

Bufei pensando nisso e sai do chalé. Ares ainda estava lá me esperando, ele ainda não tinha me visto, percebi que o deus da guerra cantava a minha música. Bati a porta fazendo-o me ver.

-Vamos logo com isso. – disse e ele se levantou.

E puxa, ele era bem mais alto do que eu.

-Judeth eu disse que não iria desistir.

-O que você quer aqui?

-Seu perdão.

-Por que eu deveria aceitar? Você me abandonou e todos os outros seus filhos quando nós éramos bebês. Eu precisei que você estivesse do meu lado. Eu nunca tive um pai para me proteger, para me levar para passear, para me ensinar as coisas ... Minha mãe teve que me criar sozinha, Ares.  – disse com a voz falha

-Eu sempre estive do seu lado.

-Eu vi você como motoqueiro e entregador de pizza.

-Eu sempre tentei estar presente na sua vida.

-Mas não esteve.

-Judeth nós podemos começar de novo.

-Como eu vou saber que você não vai me abandonar? - gritei

-Confiando em mim.

-Você partiu meu coração, Ares. Você devia cuidar de mim e não ir embora. – gritei mais ainda chorando. – Eu jogava aquele jogo estúpido de mitologia e chorava por que não tinha a miniatura do deus da guerra. EU MAL SABIA QUE VOCÊ ERA MEU PAI. EU ME CORTEI POR SUA CULPA! – mostrei as marcas e ele chorou. – E você sabia de tudo e não fez nada.

-Eu juro que não sabia desses cortes, Jude. – ele disse segurando meu braço. –Eu não sabia minha filha.

-Não me chama assim. – disse com lágrimas saindo do meu rosto.

-Me deixe tentar.

-Por que você não desiste?

-Porque eu preciso de você e você precisa de mim. – ele me abraçou e por um momento de fraqueza eu deixei. – And anytime you feel the pain, Hey, Jude, refrain, don't carry the world upon your shoulders.

E assim ficamos abraçados no meio da sacada tentando recuperar o que o tempo poderia ter levado.