Feliz Ano Novo... escrita por André Tornado
Despertei com um sabor amargo no fundo da garganta. Levantei-me tonto e atirei-me à sanita enfiando a cabeça lá dentro em desespero, despejando tudo o que tinha no estômago. Maldição! Nem tão cedo me metia noutra igual. Tudo por culpa daquele líquido amarelo pestilento!
Saí a cambalear da casa de banho daquele sítio que eu não reconheci de imediato. Era um quarto, com uma decoração pirosa, estreito, com cortinas grossas a combinar com coisa nenhuma a tapar a luz de uma magnífica manhã ou tarde – nem me conseguia situar temporalmente, maldito álcool terrestre – e havia um odor desconhecido. Farejei o ar como um cão, à procura de um indício odorífero que me resolvesse o mistério e descobri-a a olhar para mim com a cabeça assente numa mão, cotovelo apoiado na cama, de cabelos vermelhos desalinhados, sorrindo de maneira lasciva. Estava completamente nua debaixo do lençol que a cobria até ao peito, exibia as curvas do seu corpo cheio deitando-se de lado, meneando as ancas e as pernas, imitando uma serpente.
A mulher da noite passada!
Entrei em pânico.
– Por todos os demónios, o que raios significa isto?!! – Exclamei indignado.
Reparei que eu vestia apenas as calças de ganga com que saíra de casa, exibia o torso nu, os pés descalços e começava a sentir uma vergonha imensa por ter feito uma coisa daquelas.
Mas, ao certo, o que tinha feito?
– Oh, garanhão… Não te lembras de nada do que aconteceu na noite passada?
Corei como um adolescente, enredado numa teia imaginária que me apertava os membros e me tolhia os músculos. Eu tinha feito… Eu tinha traído Bulma? A minha honra desfazia-se em cacos a meus pés… Senti-me indigno e sujo.
– Não te lembras?
– O que é que fazes nessa cama, mulher? Dormiste aí?
Ela revirou os olhos, suspirando alto. Confessou, abandonando a pose sensual, atirando a cabeça para o travesseiro.
– Precisamente: dormi aqui. Não aconteceu nada entre nós, descansa. Ou melhor, tentei dormir aqui, porque tu levaste a noite inteira a ressonar como uma locomotiva. Se queres beber para ficar mais… desinibido, tens de aprender a controlar primeiro o álcool que ingeres, lindo. Foi demasiado. Apanhaste uma bebedeira que te deixou inconsciente. Assim que chegámos ao quarto, ainda me deste um sorriso quando despi a minha roupa. Arranquei-te a blusa, tu descalçaste as botas e tiraste as meias. Depois… Puf! Caíste para trás, para a cama e adormeceste como se te tivessem dado um murro no alto da cabeça. É que nem sequer um beijo, lindo!
Senti-me aliviado. Não tinha acontecido nada que me pudesse envergonhar. A honra continuava intacta. Reparei na blusa sobre a cómoda, para onde tinha sido atirada por aquela maluca. Ela voltava a sorrir-me.
– Mas agora já estás mais desperto… E com o estômago menos pesado, pelo que consegui ouvir. Podemos recomeçar e fazer de conta que não caíste para trás. Vem, entra aqui na cama e podemos divertir-nos. Aliás, até gosto mais de fazê-lo de manhã, pela fresquinha, do que à noite.
– Não deves estar boa da cabeça – cortei ríspido. – Veste-te e some-te daqui. Quando voltar, não te quero ver na minha cama.
Entrei na cabina de duche e abri o chuveiro. Apoiei as mãos na parede de azulejos, deixando a água a ferver cair-me na nuca e escorrer-me pelas costas, queimando todos os restos da noite passada, limpando-me de memórias humilhantes e desnecessárias.
Estava a ser um idiota e tinha quase deitado tudo a perder.
O que fazia eu tão longe de casa?
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Próximo capítulo e assim se encerra esta fic:
Último dia - 31 de dezembro.