Feliz Ano Novo... escrita por André Tornado


Capítulo 1
Dia zero - 29 de dezembro.


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigas e amigos!
Tendo como desculpa a época de festas, a inspiração das musas e o agradável desafio da Izabela5star, escrevi esta fic que começou por ser um one-shot, mas como ficou um pouco extensa, acabei por dividir o texto em três partes, para ser mais simpático de ler - e até que ficou bem, por causa da cronologia da própria fic.
Então, divirtam-se!



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Fechei os olhos. Dentro do cérebro tinha um badalo a bater loucamente contra as paredes do meu crânio que pareciam revestidas de bronze, como um sino numa torre alta, cada badalada ressoando nos píncaros do insuportável, o eco deixando-me à beira de um ataque de nervos dos antigos, em que depois gritava mais alto, subia o ki e destruía tudo em redor só para ver um fogo-de-artifício bem sangrento!

Bulma gritava comigo como se estivesse possessa por um espírito das trevas, chamando-me de irresponsável, de egoísta, de estúpido, de raio de saiya-jin imprestável que não sabia fazer mais nada a não ser treinar dias a fio, de inútil, de projeto errado, de aberração. Bem, havia ali insultos novos, que ela nunca antes me tinha atirado à cara, pelo que estava mesmo zangada, acho que nunca tinha estado tão zangada comigo como naquele dia.

Entreabri uma pálpebra para espreitá-la, sem aguentar a dor de cabeça provocada pelos gritos dela. Mas eu só a tinha mandado passear, que não contasse comigo para preparar aquela maldita festa de fim do ano na Capsule Corporation. E ela desatara a berrar como um monstro desfigurado, a perguntar se havia algum problema com os amigos dela, com a festa dela, com Son-kun, se já não estava tudo esquecido depois de termos lutado um ao lado do outro contra Majin Bu, que eu era imprevisível, ingrato, insensível, insocial, animal, irresponsável, egoísta, malandro. Ah, mais insultos, cada um empurrando o badalo com mais força dentro do sino.

Son-kun? Mas que raio?... Ah, Kakaroto, lembrei-me entre uma badalada ensurdecedora e outra.

Aproveitei uma nesga de silêncio, em que ela tomava fôlego, para afirmar:

- Vou-me embora.

A boca dela abriu-se de uma forma tão redonda que quase me fez rir.

- Estou farto dos teus gritos. Se queres gritar… Fica aí a gritar sozinha, mulher irritante!

Voltei-lhe costas, afundando as mãos nos bolsos das calças de ganga. Ela protestou, numa berraria ainda mais escandalosa:

- Volta aqui, Vegeta! Ainda não acabei de dizer tudo o que precisas ouvir.

Errado. Eu não precisava de ouvir nada. Já tinha ouvido e aturado que chegasse por causa da porcaria da festa de fim do ano na qual eu me recusara a participar, nem na estúpida organização, nem na maldita festa propriamente dita e ela a gritar-me que precisava de ajuda, que se eu estava ao lado dela, como companheiro e, no fim de contas, como marido, que eu lhe devia apoio, compreensão. Ah, pois, e isso devia incluir gritos impossíveis de processar pelo meu sentido de audição demasiado apurado! Ela que fosse para o Inferno, juntamente com Freeza, Cell e Majin Bu! Estava farto dela até à raiz dos cabelos! O que queria ela mais de mim? Não estava ali, a ajudar a criar o pirralho dela, que também era meu filho, desde que nascera, maldição? E não tinha participado em todas as estúpidas festas de fim de ano desde essa data, durante dez longos anos? Ah, que fosse mesmo para o Inferno e disse-lho com todas as letras.

Depois, fui para o meu quarto – apesar de estarmos juntos, eu tinha o meu próprio quarto, gostava de ter um espaço só meu e quanto mais apertado melhor, pois passara grande parte da minha vida em naves espaciais minúsculas – fechei a porta com estrondo. Fumegava de tão irritado e tive de me controlar para não me transformar em super saiya-jin e rebentar com aquela parte da casa. Em vez disso, agarrei numa mochila, enfiei nesta algumas peças de roupa, a escova de dentes, corri o fecho, coloquei-a aos ombros. Agarrei no cartão de crédito e em alguns zeni que guardava dentro de um frasco de vidro numa prateleira. Abri a janela e voei dali para fora. Continuava a fumegar e devo ter deixado um rasto visível. Mas queria lá saber! Queria era distância daquela mulher e daquela vida que me estava a agoniar.

Aos poucos, o sino dentro da minha cabeça calava-se.

***

Podia ter continuado a voar, mas quis viajar como um normal terrestre. Comprei um bilhete de comboio, para um destino o mais longínquo possível de West City, frisei esse dado à mulherzinha que me atendeu na bilheteira. Dentro daquele meio de transporte ridículo e antiquado, atirei a mochila para a prateleira metálica que ficava por cima da fileira de cadeiras, ocupei o assento confortável, cruzando os braços, fechando os olhos. A cabeça ainda me doía.

Estava a fugir, a afastar-me. Estaria a abandoná-la? Não pensei muito nisso. Estava zangado e palpitava-me que iria ficar assim durante muito tempo. Provavelmente, até depois da infame festa de fim do ano. Não iria aparecer durante meses, durante anos!

O comboio iniciou a marcha.

Ah, que Bulma fosse mesmo para o Inferno!

Com esse pensamento azedo, deixei-me dormir.

***

Não fui até ao destino longínquo que me permitia o bilhete que tinha comprado. Quando anoitecia, desci na primeira estação que apareceu. Eu e uma família de campónios, com uma ninhada de cinco filhos barulhentos atrás.

Olhei em volta. Achei que estava no fim do mundo, mesmo sem ter chegado ao destino que me caberia quando a linha terminasse e o meu bilhete também. Era uma estação tosca de uma cidadezinha de província, com poucos habitantes que se deviam dedicar à agricultura ou algo semelhante, sem vestígios de tecnologia e da agitação cosmopolita à qual me habituara em West City. Estava morto de fome e procurei por um sítio para comer. Entrei numa taberna com aspeto envelhecido, pouco frequentada e sentei-me ao balcão, pousando a mochila a meus pés.

Comi uma panela inteira de feijoada com carnes e pedaços gordurentos de enchidos, para acalmar o estômago e a dor de cabeça. O taberneiro ofereceu-me uma garrafa de vinho tinto que bebi inteira a acompanhar o jantar rústico, pelo gargalo, sem usar copo. Até já estava a imaginar a Bulma a gritar-me aos ouvidos por estar a portar-me sem maneiras, quando uma mulher sentou-se no banco alto ao meu lado direito, a puxar uma passa de um cigarro recentemente aceso. Espreitei-a pelo canto do olho, a mastigar a última porção de feijoada.

- Olá, forasteiro.

O que queria aquela intrometida?

Engoli o que mastigara com o último gole de vinho tinto. Não lhe respondi. Pousei a garrafa e empurrei o prato para fazer espaço, assentei os cotovelos no balcão, pressionando os dedos nas têmporas. A cabeça continuava a doer-me.

- Não me pagas uma bebida?

Suspirei.

- Pede o que quiseres – disse eu, sem largar as têmporas.

- Estás muito longe de casa, não estás?

Ela ia insistir naquela conversa. Mas não lhe podia dar um murro nos dentes, apesar de me estar a apetecer descarregar a tensão daquele dia demasiado longo naquela mulher intrometida. Espreitei-a outra vez. Sorria-me como uma idiota. Usava os cabelos vermelhos apanhados num carrapito, até que tinha uma cara aceitável, com grandes olhos castanhos, as bochechas sarapintadas de sardas e uma boca carnuda. Via-lhe os seios que espreitavam do decote do vestido tão curto que, se me inclinasse um nadinha para trás, conseguia-lhe ver a cor das cuecas.

Larguei as têmporas.

- Porque é que dizes isso, que estou longe de casa?

- Menino de cidade. As tuas roupas denunciam-te. Desgosto de amor, aposto.

Corei como um estúpido de um terrestre amansado, encolhendo-me todo. Precisava urgentemente de bater em alguém, mas iria substituir essa necessidade acompanhando a mulher atiradiça na bebida. Estalei os dedos e chamei o taberneiro. Ela pediu um whisky e eu pedi outro. Quando levantei o copo de vidro com um líquido amarelo com um cheiro intenso – acho que havia uma qualquer raça alienígena cujas tripas cheiravam da mesma maneira – ela chocou ao de leve com o copo dela no meu dizendo:

- Aos corações partidos.

- Cala-te! – Ordenei irritado e ela riu-se.

- Os homens são todos iguais… – murmurou.

- E as mulheres também – resmunguei.

Ela chamou pelo taberneiro e pediu a garrafa. Comecei a sentir-me encurralado. Ela queria ficar ali a noite toda, a beber aquele líquido amarelo com cheiro de tripas e que tinha um sabor forte que me ardia na boca e me desentupia as narinas.

Concordei. Estava demasiado irritado para me importar com o que quer que fosse. Ela manteve-se em silêncio acabando com o seu líquido amarelo, bebendo-o de um trago. Agarrou na garrafa, encheu o meu copo e voltou a encher o dela.

Nem olhei para a mulher. Não lhe iria ligar a mínima, para ver se ela desistia e se me deixava sozinho a curtir a minha irritação. Mas desconfiava que aquela noite iria ser muito longa e que ela não se iria embora assim tão facilmente e seguramente nunca antes de terminar primeiro o cigarro e, depois, o líquido amarelo da garrafa.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Primeiro dia - 30 de dezembro.



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