Nunca pensei que duas semanas pudessem passar tão depressa e ao mesmo tempo, tão lentamente. Finalmente – ou, infelizmente – chegou o primeiro dia de aula.

A escola era surpreendentemente enorme. Havia várias vagas para os alunos que tivessem carros pararem (o que não era o meu caso). Mas, por mais admirável que o colegio fosse, os alunos entravam nela como se fosse apenas mais um dia normal. Não havia aqueles abraços e aquela alegria de rever os amigos.

Dei de ombros. Deve ser coisa de cidade pequena. 

Honestamente, sempre pensei que as pessoas dessas cidades do interior, fossem mais receptivas, mas não era o caso dessa cidade. O professor me apresentou para a turma brevemente, mas pouco se importaram com a aluna nova. Alguns deram "oi", mas em tom de desprezo, como se eu estivesse os fazendo perder tempo, ou os atrapalhando de alguma maneira. 

Revirei os olhos. Sentei-me no meio, nem muito na frente, nem muito atrás, ao lado das janelas. Quando o professor começou a explicar, a classe ficou mais quieta, porém muitos continuaram conversando, principalmente quem estava lá no fundão.

Uma garota andou até a minha direção e eu a encarei, enquanto ela se sentava do meu lado. Ela parecia ser poucos centimetros mais baixa do que eu. Tinha cabelos loiros e curtos, na altura dos ombros, e os olhos eram bem arredondados, da mesma cor que mel. Ela tinha sardas nas bochechas e usava oculos enormes. 

Ela sorriu timidamente e disse "oi".

Sorri da forma mais simpatica que consegui (foi necessário uma tremenda força de vontade, acreditem), e respondi "oi". 

Seu nome era Megan Hordan, e logo pude perceber que ela não tinha muitos amigos. 

De repente, me peguei conversando como se fossemos amigas que a tempos não se viam. Conversavamos inicialmente, durante a aula,  sobre a materia, mas logo no intervalo, o assunto já era sobre nossas bandas preferidas. 

- Mas, então, por que abandonou a cidade grande pra vir pra cá? - Perguntou ela.

- Ahn... trabalho da minha mãe. Ela é historiadora.

Magan franziu a testa. 

- Estranho. Garanto que ela não vai encontrar nada aqui.

- É, acho que não, mas ela não me explicou direito. Na verdade, ela nunca explica nada mesmo. - Dei de ombros.

- E o seu pai? Veio junto?

Sorri, tentando esconder um pouco da dor, enquanto olhava pro chão. Já havia me acostumado com essa pergunta, então não deveria sentir essa dor ao mencionarem o meu pai. Afinal, eu nunca o havia conhecido mesmo. Mas, eu sentia.

- Não veio junto. Eu não tenho pai. Não sei se morreu ou se não me quis.

- Sinto muito. - Disse ela, como eu havia previsto.

As pessoas sempre "sentem muito". Era outra coisa da qual já estava acostumada também.

- Não tem diferença. Mas e você? Mora aqui desde sempre?

- Sim. Na verdade, eu nunca saí daqui. Meus pais são policiais daqui e nunca pensaram em se mudar ou tirar umas ferias deste lugar. Venha, vou te mostrar as pessoas daqui.

Ela me guiou até o campo de futebol americano, onde parecia que quase o colegio inteiro estava reunido lá. Eles se reuniam em grupos, e cada grupo ficava afastado um do outro. Havia o gupo dos skatistas, que ficavam andando de skates na parte cimentada, um pouco antes de começar a grama. Grupo dos Góticos, que usavam aqueles cabelos com mechas coloridas e eram cheios de piercings. Bem, havia grupos de todos os jeitos, para varios tipos de pessoas. Havia grupo até para quem não queria fazer parte de nenhum (achou estranho? eu também.) Mas tinha um que parecia se destacar. Eles estavam em uma parte das arquibancadas e os grupos pareciam querem ficar mais distantes deles do que o normal.

- Quem são eles? - Perguntei.

Megan mordeu os labios e disse:

- Venha, vamos nos aproximar um pouco, para você ver melhor.

Andamos um pouco, de forma que consegui vê-los melhor. Era formado por pessoas bem bonitas e muito bem vestidas.

- Esse é grupo dos popularzinhos – Disse Megan, lentamente. – Entre eles estão, é claro, o time de futebol inteiro e as lideres de torcidas... E algumas pessoas riquinhas que se acham superiores. Eles não costumam se misturar. Está vendo a loira? Aquela com a tiara pink? Seu nome é Estela Piper, ela é líder do grupinho de torcida e é realmente muito mimada. Destrói qualquer um que tenta cruzar seu caminho. É ambiciosa e completamente falsa. 

Megan tentava disfarçar a raiva a voz, mas dava para ver que ela realmente não gostava da menina loira. Olhei para a garota. Ela não parecia ser tudo isso, de verdade. Parecia ser uma garota meiga e delicada. Seus cabelos eram dourados, e tinham, além da tiara pink na cabeça, delicadas tranças que pareciam ter sido cuidadosamente feitas. Os olhos, não pude ver a cor, mas pareciam ser claros. Estela Piper parecia ser uma Barbie da vida real. Estava usando calça jeans em tom azul claro, uma blusa branca, casaco rosa e cachecol lilás. Nos pés, usava botas brancas. 

- Você parece conhecê-la bem. – Comentei.

- Ah, por favor, - Ela revirou os olhos. - eu estou junto com ela nesse colégio há anos. Alias, com todos eles. Conheço as pessoas daqui. Então, um conselho: não cruze o caminha dela e você será feliz aqui. Agora, vamos mudar de assunto. O garoto, moreno e bonitão que está ao lado da Estela, vê? Seu nome é Jordan Bouvier, é capitão do time de futebol. Além de ser um ótimo jogador de basquete também. E é um sonho para todas as garotas do colégio. Eu pessoalmente não vejo nada demais nele. Ok, ele é moreno, tem lindos olhos verdes, deixa o cabelo dele todo bagunçado pra fazer charme, é atlético, o sorriso dele é de tirar o fôlego...

- Tá legal, esse papo de “eu pessoalmente não vejo nada demais nele” não colou. – Eu disse, rindo.

- É, ele é um sonho mesmo. – Ela deu um sorriso amarelo. – Mas, o que eu quero dizer é que não vou ficar babando por ele. Além do mais, Estela praticamente voa em cima de qualquer garota que fique de conversinha com ele.

- Eles namoram?

- Sim, mas ele não sabe disso, se é que você me entende. Digo, namoram, mas na cabeça dela, apenas.  Estela é louca por ele. Eles ficam, as vezes, mas o Jordan não quer nada sério, pelo menos não com ela. – Megan fez uma pausa. - Vamos, vou te apresentar o resto do pessoal.

Fomos até o grupo que não queriam fazer parte de nenhum grupo. Na minha opinião, era o mais legal. Tinham pessoas de quase todos os tipos, menos skatistas ou populares. Fui bem recepcionada lá, e de repente, notei que faria parte daquele grupo. Então sorri. Acho que o ano não seria tão ruim.

- Como foi o primeiro dia de aula? – Perguntou minha mãe, quando eu cheguei em casa, sem tirar os olhos do seu notebook.

- Normal. – Respondi.

- Fez alguma amizade?

- Bom, acho que sim. O nome dela é Megan, Megan Hordan. E outras pessoas também, até que hoje foi melhor do que eu esperava. 

- Hum...

Essa foi a única resposta que tive, depois disso, subi para meu quarto.

Minha mãe nunca foi muito boa para conversas. 

- Linda? Talvez. Não gosto dela. Não vejo beleza nela. Tudo que eu vejo é uma piranha usando uma tiara rosa, que se acha a pequena sereia da escola. – Disse Megan, pelo telefone.

- Você realmente não gosta dela, percebi. Mas o que ela te fez? – Perguntei.

Ela pensou antes de falar com calma.

- Lisa, ela humilha as pessoas. Isso já é suficiente para que eu não goste dela.

- Ela já fez algo para você?

- Não... Quero dizer,... é complicado...

- Por que?

Megan riu.

- Você até que é bem curiosa hein?! Hum... Amanha te explico. Lisa, acho que vou desligar.

- Ok. Tchau.

Mas eu sabia que ela não ia explicar.