A cidade, de alguma maneira, estava e surpreendendo. Apesar de não haver nunca alguma novidade, eu estava me adaptando com mais facilidade do que qualquer outra escola, de qualquer outro lugar em que eu já estudei. 

Megan era minha melhor amiga da escola, e estavamos sempre juntas. Era engraçado imaginar como nós nos damos tão bem, sendo tão diferentes.

- Aquele ali não é o Jordan? - Perguntei para Meg, enquanto andávamos, sem destino certo, pelas ruas desertas da cidade. 

- É sim. - Respondeu, ajeitando os óculos. - É estranho vê-lo sozinho, não acha? Quero dizer, ele está sempre acompanhado.

- Onde será que ele vai?

- Ih... não sei Lisa, mas acho que não é da nossa conta. 

- Você tá com medo do que?

- Medo?! Nada.. Ele deve estar indo encontrar alguém... Lisa, peraí, onde você vai?

Revirei os olhos. Andei rápido, seguindo Jordan. Já estava há uns quatro metros longe de Meg, quando ela decidiu me acompanhar.

Seguimos-o por 10 minutos, aproximadamente, até que ele entrou em uma casa de madeira, que parecia estar bastante movimentada, o que era estranho. Ela era a única casa que havia naquela região, e ficava no meio de mato, quase na saída da cidade. 

- Isso é mal! É bem mal! O que ele está fazendo aí? - Perguntou Megan, arregalando os olhos.

- O que?! O que é mal?

- Ele entrar aí. É o bar da família Clark.

- Burrice fazer um bar no meio do nada, não acha? Mas, o que é que tem?

- Não é só um bar qualquer. Ninguém da cidade vai aí, bem, ninguém que queira arranjar problemas. Dizem que tem todo os tipos de pessoas aí: pedófilos, psicopatas, ladrões, bêbados, viciados, etc.

- Alguma chance de Jordan ser um desses? 

Megan fez uma careta e respondeu, sem perceber que eu havia falado em tom de brincadeira.

- Acho que não...

- Não está curiosa pra saber o que ele vai fazer aí?

- Você prestou atenção quando eu disse "pedófilos, psicopatas, ladrões, bêbados, viciados, etc"? 

- Claro que sim.

- Pois é, não vamos entrar.

- Você pode ficar aqui fora, se quiser. - Dei de ombros.

Ela me olhou nos olhos e pude perceber seu desespero, como se eu estivesse em um ataque de loucura. Mas sabia que ela estava certa, era insanidade de minha parte querer entrar neste lugar, só que, por algum motivo tolo, eu sentia que isso era o que eu tinha que fazer.

- Está bem, - Disse ela, nervosa. - o que pode aconteceu? Bem, eu poderia fazer uma lista do que pode acontecer, mas...

- Meg, se acalma. Vai ser rápido, é só entrar e sair.

Ela acenou com a cabeça e então nós entramos. O bar estava lotado de gente. Tive a impressão de estar em um lixão: havia vidros de garrafas quebradas pelo chão, bebidas caídas por todos os lados, de modo que meus sapatos ficavam grudando. Grande parte das pessoas ali, estavam bêbadas (99% dessas pessoas eram homens). Estes gritavam, faziam gestos obscenos. As outras pessoas, eram mistoriosas: sussurravam no ouvido para se comunicar com alguém e olhavam para desconhecidos com desconfiança. 

- Olá, princesas. - Disse um homem gordo, com uma caneca de cerveja na mão e fedendo a álcool. Sua blusa era nojenta, mal cabia, fazendo sua barriga grande ficar aparecendo e era toda suja, como se não fosse lavada há dias.

Senti vontade de vomitar. Olhei para Megan, mas ela olhava para outro lado. Acompanhei seu olhar: Jordan, no final do bar, com outro cara, muito parecido com ele e apenas poucos anos mais velho.

- Quem será? Irmão?

- Não sei. Parando agora pra pensar, nunca vi a família dele, nem em reuniões da escola ou no dia dos pais. - Respondeu.

- O que vão beber? - Perguntou o barman, um homen alto, com longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo. Vestia uma blusa branca de manga curta,  onde dava pra ver uma tatuagem que lhe cobria o braço direito, podendo até fazê-lo parecer assustador, se não fosse extremamente magro. Na camisa branca, tinha uma plaquinha dourada com o seu nome: Tayson Clark.

- Somos menos de idade, não podemos beber. - Disse Meg, horrorizada.

- Se não vão beber nada, o melhor que podem fazer é cair fora. - Ele suspirou. - Este lugar não é seguro para duas garotas desacompanhadas. O que fazem aqui?

- Estávamos andando pelas ruas antes de encontrarmos esse lugar. Entramos por aqui só por curiosidade. - Falei.

- Querem um conselho? - Perguntou Tayson, mas não esperou por nossa resposta. - Saiam daqui antes que algo aconteça. Aqui, é cada um por si.

Olhei novamente para onde Jordan estava. Pisquei. Ele não estava mais lá. Devia ter ido embora enquanto eu me distraí com Tayson. Droga..

- Ótimo conselho, já estamos indo! - Disse Meg, me puxando pelo braço.

- É, estamos indo.

Andamos rapidamente até a saída, quando o mesmo cara gordo e bêbado que falou com a gente quando checamos, parou em frente da porta e disse, com um sorriso maldoso:

- Onde pensam que vão, gracinhas? A diversão ainda nem começou...

Outros homens começaram a nos cercar, rindo. Megan colocou as mão na cabeça, quase chorando.

- Deixem ela em paz. Estão comigo. - Disse Jordan, aparecendo do nada.

De onde ele veio? 

Os homens bufaram, impacientes, mas deram passagem para nós e voltaram para suas mesas.

- Não devia deixá-las sozinhas, senhor Bouvier. - Disse Tayson. - Nós não nos responsabilizamos...

- Pelo o que acontece aqui. Conheço as regras. Não vai acontecer de novo. - Respondeu, friamente. 

Nós três saímos lentamente, eu e Meg de cabeça baixa andando na fente e ele andando atrás de nós.

Eu queria dizer algo, agradecer, pedir desculpas, ou qualquer coisa, mas quando olhei nos olhos dele, senti medo.

- Jordan, obrigada e desculpe por.. - Começou Megan, antes de ser interrompida por Jordan.

- Eu não quero saber o que passou na cabeça de vocês duas. Aliás, nem sei o que passou na minha. Agora Tayson sabe quem vocês são e sabem que são responsabilidade minha. Nunca mais apareçam lá, ou vou acabar sendo expulso do bar, e vocês... Bem, já dá pra ter uma ideia, não é?

O pior de tudo, é que ele havia dito olhando pra mim, como se soubesse que a ideia foi minha. Jordan, assim que terminou de falar, ele voltou para o bar, deixando nós duas lá no escuro, e sem olhar pra trás.