Segredos escrita por Laura


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/310503/chapter/1

Faltavam duas semanas para começarem as aulas. Um novo ano em um colégio novo de uma cidade nova. Nunca fui muito de fazer amizades, mas logo agora que eu consegui me entrosar – depois de dois anos – minha mãe decide mudar novamente de cidade. Ótimo.

            Talvez eu não pudesse culpá-la, já que seu trabalho exigia que estivéssemos sempre nos mudando ou viajando pelo mundo. Carmen Lopes – minha mãe – era historiadora e, como eu não sabia quem era meu pai, tinha que viajar com ela. Antigamente costumava ser legal, sair por aí e conhecer o mundo, mas hoje em dia já é algo exaustante.

Dessa vez, íamos para uma cidadezinha do interior. O que ela ia fazer lá? Não tenho nem ideia, mas não é algo que eu realmente esteja interessada em saber.

Olhei-me uma última vez no espelho, antes de pegar as malas e ir para o carro. Minha aparência costumava a ser melhor, quando eu era criança. Fiz uma careta. Eu tinha a pele clara e meus olhos eram castanhos amendoados. Os cabelos, que estavam presos em um rabo de cavalo, eram castanhos, com algumas mechas naturalmente ruivas, e eram enrolados nas pontas. Eu tinha 1,70 de altura, o que significa que eu deveria ter puxado essa parte do meu pai, pois minha mãe era bem baixinha.

Minha mãe nunca falava dele ou me mostrava uma foto. E eu também não perguntava nada, não mais. Nunca tive muito o que conversar com ela, e quando o assunto era o papai... Bem, simplesmente esse assunto não existia. Eu não sabia, por exemplo, o pôr que dele não estar com a gente, ou se algum dia ele já me viu, ou se ele simplesmente sabia da minha existência. Não sabia nem da aparência dele. A única coisa que eu sabia era seu primeiro nome: Henry.

            Andei em direção ao carro, desanimada e sem pressa, enquanto surpreendentemente minha mãe fazia o mesmo. Ela sempre me animava quando tínhamos que nos mudar.

            - Mãe? Aconteceu alguma coisa? – Perguntei.

            - Não Lisa, eu só estou pensando. – Respondeu.

            Depois disso quase não nos falamos mais até chegar ao aeroporto, e, durante o vôo de duas horas, ela dormiu a viagem inteira.

            A pequena cidade onde íamos ficar não era lá grande coisa. As pessoas daquele lugar pareciam ser calmas, e parecia que nada de interessante realmente acontecia ali.

            Nossa nova casa não era também tão bacana quanto o nosso o apartamento na antiga cidade. Essa casa não era muito grande. Ela tinha dois andares e, por fora, era pintada de marrom com alguns detalhes brancos. Havia uma janela do andar superior bem em cima da porta de entrada.  

            Logo passando pela entrada da casa, do lado direito, tinha uma sala com móveis antigos e empoeirados, e no lado esquerdo tinha uma cozinha que não era muito moderna. Parecia mais ser uma casa de gente velha.

            - Embaixo da escada tem um banheiro. –Disse minha mãe, sem emoção na voz.

            - Hum...

            - Este lugar está precisando de uma reforma... Começando pelos móveis.

            - É... – Concordei.

            - Bom a gente pode começar amanhã, hoje a gente descansa. Leve a sua mala lá pra cima, seu quarto é o da esquerda.

            No meu quarto tinha apenas uma cama, um guarda-roupa, uma escrivaninha e uma estante, todos eles empoeirados, com exceção da cama, que estava sem nenhum lençol. As paredes eram brancas, mas estavam ficando amareladas e precisando ser pintadas novamente. Havia duas janelas, uma do lado da escrivaninha e a outra do lado do guarda-roupa. Tinha também um quadro, ao lado da cama, de uma menina pequena, usando vestidos antigos. Algo naquele quadro me deixou triste, pois a menina, por meio do olhar, parecia estar gritando por socorro, apesar de estar sorrindo.

- Tá legal, você vai sair daí já. - Eu disse para o quadro.

- Pode colocar isso na sua cama, por favor? - Minha mãe disse, entragando-me os lençois.

- Aham. Mãe, tem como você se livrar disso, por favor? - Perguntei, entregando o quadro.

Ela deu de ombros.

- Mãe?!

- Sim?

- Por que a gente veio pra cá? Sério.

- Tenho que resolver umas coisas aqui. Você vai adorar essa cidade, filha. Acredite em mim.

- Mas aqui é praticamente o fim do mundo. Não tem nada aqui.

Ela ficou de costas pra mim e disse, em voz baixa, antes de ir embora:

- Talvez tenha mais coisas do que você imagina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segredos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.