Apenas Chame Meu Nome... escrita por ViQ


Capítulo 7
C6 - Dor escarlate




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Karin guiava Chou pela mão, estavam subindo lentamente o pequeno morro até a última casa da vila. O garoto loiro já via perfeitamente bem o portal vermelho com as cordas desbotadas. O silêncio era lúgubre, não havia animais cantando na floresta, nada se mexia nas casas da vila. O único som que podia ser ouvido era dos passos dos dois garotos e os soluços incontroláveis de Karin. Chou segurava forte a mão do loiro. A dor nos olhos estava mais forte do que nunca agora... Ouvia o outro chorar, mas não podia fazer nada para confortá-lo.

— Chou, cuidado... Vamos subir a escada.

Isso significava que estavam perto. Se sentia estranho, inquieto. Apesar do que o loiro disse, que seria seguro passar a noite na última cabana, não conseguia acreditar nisso. Algo lhe dizia que deviam parar o que estavam fazendo e esperar até o amanhecer...

— Chegamos.

Ouviu a voz trêmula de Karin falar e parou. Sentia muito frio, ali devia ser o ponto mais alto da colina onde se encontrava a pequena vila da mansão. O outro garoto largou sua mão e pôde ouvir alguma porta ser destrancada, logo depois sentiu a mão do loiro voltar a segurar a sua e guia-lo para dentro da casa.

Assim que pôs os pés ali quis voltar. Parou na entrada e ouviu a porta se fechando com um baque surdo, o que era estranho pois Karin estava segurando sua mão logo á frente... Soltou a mão que estava segurando e deu dois passos para trás.

— Karin ? Você tá aí ?

— Estou. — A voz vinha logo atrás de si. Tateou de encontro á parede até que sentiu a madeira da porta.

— Onde você tá ? Não consigo... — O desespero na sua voz era crescente. — Me diz que você não está pra fora...

— Chou... Ela vai cuidar de você... E você vai sair daqui, okay ? Vai dar tudo certo... — a voz do garoto do outro lado da porta começava a falhar.

— VOCÊ DISSE QUE NÓS IAMOS SAIR! — Chou perdeu o controle. Começou a bater e chutar a porta de madeira. — ME DEIXA SAIR! DROGA! KARIN!

— Sinto muito por você não poder ver... Nunca mais... Sinto muito...

— ME DEIXA SAIR, AGORA!

— Adeus.

— NÃO! — Ouviu os passos do lado de fora se afastando. — KARIN! NÃO ME DEIXA SOZINHO! — Esmurrou mais a porta de madeira. — Não... Por favor...

Chou se deixou cair no chão de madeira, seus olhos ardiam, lágrimas e sangue se misturavam e escorriam pelo seu rosto. Estava tudo escuro... E Karin... Tinha certeza que nunca mais o veria. Sentiu algo se mexer na cabana. Dois braços gélidos o envolveram e o puxaram para trás. Não tentou se desvencilhar do abraço... Não importava mais.

• •

Karin descia as escadas em silêncio. Era acompanhado por um mar de espectros luminosos e pela garota de kimono branco, Sayuri. Uma grande passeata fúnebre que parou no pátio vazio onde Chou ficou preso. Agora, bem no seu centro havia uma espécie de relevo redondo onde cinco cordas esperavam junto á cinco pequenas rodas.

O loiro se deitou no relevo de madeira e seu pescoço, pernas e braços foram presos ás cordas pelo espírito de Sayuri. Enquanto o garoto chorava, a garota sorria. Quando as cordas estavam postas em seus lugares, Karin viu Sayuri se aproximar de seu ouvido e sussurrar:

“ Não se preocupe, ele vai gritar o seu nome...”

• •

Eram gritos insuportáveis. E Chou sabia que eram de Karin. Assim que começaram se levantou, vagueou até a porta e começou a gritar junto batendo e chutando a madeira. Depois de meia hora daquela tortura começou a implorar para o que quer que estivesse ali com ele fizesse parar.

“ Ela precisa ser livre... “

A voz feminina infantil falou calmamente. Logo sentiu os braços frios lhe envolverem novamente, se deixou ser arrastado para o chão. Soluçava, sentia o sangue escorrendo pelo seu rosto e caindo na sua roupa. Os gritos eram agudos... Toda aquela dor...

— Faz parar... Por favor... Salva ele... Karin...

Seus ouvidos foram tampados, mas se esforçasse ainda podia ouvir os gritos. Não podia mais aguentar aquilo, se deixou levar pelo cansaço e pela tristeza. Adormeceu murmurando o nome dele repetidas vezes, como se aquilo pudesse trazê-lo para perto.

• •

Quando acordou ouviu os pássaros da floresta cantarem. Se levantou rápido do chão de madeira, havia sol, podia sentir o calor dos raios entrarem por algum lugar. Além disso não sentiu mais nada por perto... A presença que estava no cômodo noite passada havia sumido. Os gritos haviam parado.

Tocou o próprio rosto. A máscara havia sumido, mas quando seus dedos foram aos olhos... Nada. Tentou alcançar seus globos oculares, porém não conseguiu... Seus dedos afundaram dentro da carne e a dor foi alucinante.

Seu coração batia descompassadamente, só conseguia pensar em uma coisa.

— KARIN! — gritou aflito.

Começou a correr até bater de encontro á parede, tateou até achar um vão e descobriu se tratar da porta. Saiu devagar e sentiu o calor do dia. Tentou correr, mas tropeçou nas escadas e caiu rolando até chegar no solo de terra. Sentiu algo pingando em seu rosto, encostou o dedo na gota que havia caído na sua bochecha e levou aos lábios para identificar o gosto. Era um sabor metálico... Sangue...

— Ka... Karin... ? Não... Por favor... Não...

• •


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