Merlin acordou exasperado, precisava saber o que havia acontecido entre ele e Morgana, se lembrava de algumas coisas, mas nem mesmo sabia se eram verdades, pelo menos pareciam irreais demais, pois Morgana jamais se entregaria a ele, mesmo que para simples beijos.

Merlin não teve muito tempo para pensar, fora arrastado para fora da cela, até um lugar mais abaixo, mais quente, lá seu pequeno dragão estava acorrentado, sabia que nada havia sido verdade, Morgana não era capaz de amar nada nem ninguém, mesmo que esse dependesse dela, agora tinha sérias duvidas se ela realmente si amava.

Ele tocou o focinho de Aithusa, gélido como tudo por aquele lugar, ele pensava o que poderia ter acontecido com o dragão, como havia chegado lá, ele tinha certeza que as respostas estavam ali, só... perdidas, envoltas em uma nuvem de confusão que Morgana provavelmente havia posto em sua mente.

Ele estava conectado com o dragão agora, uma pequena voz sussurrou em sua mente “pai”, Aithusa o estava chamando ficou tão perdido naquele momento que não notou quando Morgana entrou arrastando as saias negras atrás de si, era como uma loba, silenciosa, pegava a presa despercebida quando tinha a melhor oportunidade e se orgulhava de ser o último rosto que sua vitima via.

Ela havia percorrido todo o caminho sem capa, tremendo com o frio, mas nada a fazia parar, precisava tirar umas respostas de Merlin, as perguntas martelavam em sua mente, precisava saber, a cima de tudo quem era Freya.

Seus pés não foram perdoados também, correram todo o caminho batendo diretamente contra a pedra fria do castelo de gelo, e só agora no subsolo pela forma que eles pareciam queimar sobre a pedra um pouco mais aquecida via como estavam gelados.

Estava agradecida de ter chegado lá, mas as perguntas desapareceram de sua mente, já não sabia mais o que fazer, nem o que falar, Merlin estava lá acariciando Aithusa, o que estaria pensando agora? Em Freya? Não sabia ao certo o porquê daquele nome a incomodar tanto no fim das contas, não era nada pra ela, era menor que um inseto, um ser repugnante no qual poderia dar cabo a qualquer segundo, no momento que desejasse.

Não, não podia pensar desse jeito, era certo que Merlin era apenas um estorvo, mas, por hora ele era valioso e teria de aturá-lo se quisesse sua Aithusa com força total e ela necessitava do dragão, não só para o ataque a Camelot, como também para seu próprio conforto e para sua sanidade.

“– Agora eu estou aqui, você não está mais sozinha.” Foi o que ele disse naquela noite, ela havia precisado de muito autocontrole para não se render a ele, mas havia conseguido, agora ela parecia não fazer falta a ele.

- Eu tive que mantê-la presa – ela falou friamente se aproximando do animal e do dragonlord – Eu não tive escolha, ela prefere ficar comigo a ficar aquecida.

- Às vezes fazemos por amor que nos cortam o coração. – os olhos do homem se encheram de lágrimas, talvez ainda houvesse uma esperança, talvez ela estivesse começando a entender, só talvez tudo houvesse sido real e ele havia convencido Morgana a voltar para o seu lado.

- E às vezes apenas por puro egoísmo. – ela não o olhava nos olhos, não era preciso, sabia que ele a tentaria convencer que tudo o que havia feito era para o seu próprio bem. – Sabe, às vezes pensamos que estamos fazendo o bem, mas o medo nos cega, nos deixa fracos e acabamos agindo pensando apenas no que é melhor para nós, porque é difícil ver os outros quando o medo está em nossos olhos.

- Eu conheço suas escolhas Morgana e sinto muito, se você... – Merlin sabia que não funcionaria, mas precisava tentar, mesmo que tudo desse errado.

- Não termine essa frase, a única pessoa que fez escolhas erradas aqui foi você Merlin, você me traiu, você prometeu que eu podia confiar em você e me virou as costas quando eu mais precisei. – Morgana parecia forte como uma pedra, mas seus olhos estavam de cinzas e coberto por lágrimas, ele só se lembrava de vê-la assim quando ela acordava de seus pesadelos ou quando ia até o túmulo de Gorlois.

- Não me culpe Morgana, era o certo, eu lhe salvei – ele respondeu – Eu dei a Morgause o antidoto que te trouxe de volta a vida.

- Você é um grande herói Merlin, parabéns,- ela bateu palmas uma, duas vezes antes de continuar - Acontece que não preciso de você.

- Então por que ainda não me matou? – Morgana odiava isso, Merlin a deixava tonta e a fazia esquecer qualquer forma de vida que houvesse por perto.

- Porque Aithusa precisa, depois você pode queimar nesse inferno de gelo sem fim, que pra mim não faz diferença.

Ela rodopiou as saias e saiu pela porta, precisava pensar, se controlar, agora era muito mais difícil conter-se depois de ter feito daquele homem seu confidente e seu amante, depois de se deixar enganar pela sua própria ilusão, agora teria de conviver com seu inimigo e pior reaprender a odiá-lo. Precisava tirar o controle de sua boca do seu coração.

Merlin a assistiu sair, o corpo perfeito sendo exibido a cada passo que dava até a porta se fechar, ” Às vezes fazemos por amor que nos cortam o coração”. Como ela podia falar de uma vez que não via as verdadeiras razões para o que ele fez, porque ela não via? Como ela podia falar que ele havia feito às escolhas erradas, quando lhe deu tantas chances de se redimir? Como ela podia simplesmente chegar e mexer tanto com ele? Como ela podia jogar tudo aquilo em sua cara como se ele não houvesse pensado em tudo milhões de vezes, perdendo o sono por tanto se culpar?

Merlin esfregou um pouco mais as mãos nas escamas ainda opacas do dragão, não era hora pra pensar em Morgana, era momento de se concentrar em Aithusa, seu bebe dragão não estava nada bem e talvez se o ajudasse ele se voltasse contra o sedutor demônio de olhos verdes que a bruxa havia se tornado.