A preocupação de Morgana aumentou e junto com ela um comichão de algo que não sentia há tantos anos que não conseguia ter certeza de que era  aquele sentimento, ciúmes, algo que havia sentido uma vez e que não quisera admitir, afinal Gwen era sua amiga e o rapaz apenas um servo que trabalhava com o médico da corte, não cabia a uma Senhora se portar como uma serva apaixonada, mas quando ela soube que Gwen o havia beijado, seu peito pareceu rachar em dois.

Mas agora Gwen era rainha e sua inimiga e o servo estava aos seus pés como nenhum homem jamais ficara, e ao contrario dela, havia trocado muito mais do que um simples beijo roubado pelo êxtase do momento com o rapaz e muitas vezes mais.

- Merlin, sou eu, Morgana – falou com calma, tentando despistar seus sentimentos – você está bem? - a mão correu por sua testa para medir se tinha febre, mas não havia nada.

- Morgana – chamou enquanto agarrava-se em seu pescoço em um abraço protetor – Como você chegou aqui? – perguntou ainda fora do ar.

- Eu moro aqui Merlin – ela falou devagar, sabia como agir com a loucura e agora já tinha uma ideia do que havia acontecido, Merlin havia tentado quebrar o feitiço e a mandrágora reagiu, enlouquecendo-o.

- Como eu cheguei? – Perguntou ele devagar.

- Os mercenários o trouxeram, não lembra? – Merlin negou com a cabeça e então ela notou que o feitiço deveria ser quebrado – Fique clamo, tudo vai fazer sentido – ela passou a mão por seus cabelos e se inclinou para beija-lo, mas ele a repeliu.

- Eu não posso perdê-la Morgana, se Uther ou um de seus homens me pegar lhe beijando eu vou lhe perder e eu não aguentaria.

- Apenas fique calmo – repetiu – você cumpriu bem seu papel, agora é hora de se acalmar – ela o pressionou com o corpo, nunca tirando os olhos do rapaz que não relutou em se deitar.

- Morgana – suspirou – Isso é errado.

- Pshiu – repetiu com dois dedos em seus lábios – tudo vai ficar bem – ambos tinham os olhos fechados e colisão foi rápida.

Merlin a segurou pela cintura e pela nuca a puxando de leve para aprofundar o beijo, Morgana nunca havia se sentido daquele jeito, ela estava no comando, ela havia decidido o início e decidia a intensidade do beijo e Merlin a seguia com prazer.

Suas mãos agarraram o inseparável lençol e o retiraram do pescoço dele e ela fez questão de descer os beijos até ali, ela ainda tinha marcas da festa que ele fizera certa noite, agora era a hora da vingança.

Ele gritou enquanto tentava assumir o controle, mas agora ele deixaria de ser seu subordinado, era certo ela aproveitar os últimos momentos, mas estes foram menores do que esperava, Merlin retirou força de Deus sabe lá onde e a atirou para o lado na cama, ele se sentou com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça entre eles, o feitiço estava desfeito.

                                                   ~~X~~

Ele parecia ter cordado de um pesadelo, sua mente se lembrava de coisas que jamais deveriam ter acontecido, não com quem aconteceram, não com Morgana.

Aquilo o estava torturando, como ele havia chegado tão longe com ela, ele havia colocado as mãos por dentro de suas saias, sentido a aspereza dos calções que usava por baixo, sabia que há alguns anos haviam sido de linho, tão finos e leves quanto uma Senhora merecia, mas agora era de um tecido grosseiro com costura a mão, mas por que seus pensamentos estavam presos naquilo? O pior fora ter visto Freya, era ela, em Morgana, ela tinha estado ali, cuidando dele, o embalando, mais tarde a imagem mudou para Morgana, não o monstro que estava o mantendo ali, mas a Morgana doce. Não a bastarda de Uther, mas sim sua ala.

Quando isso aconteceu, ele se viu nas câmaras da Senhora, imaginou que por um ímpeto, seus pés o houvessem levado direto a ela, para que ele pudesse falar tudo o que estava sentido e pedir para que ela não o deixasse, quando ela falou sobre mercenários, pensou que talvez houvesse sido encontrado desacordado e levado de volta a cidadela e então Morgana o teria visto, de qualquer forma precisava falar, e foi o que fez. Agora se sentia um idiota, como poderia ser tão imbecil ao ponto de contar tudo a ela?

Morgana se aproximou de joelhos e o abraço pelas costas, os dedos roçaram levemente o lugar onde antes havia chupado e beijado lhe trazendo de volta a mesma sensação que sentira enquanto ela o dominava.

- Precisamos conversar – ela falou com a voz sedutora, ele se virou para encara-la, agora sua mente não estava mais nublada e ele falaria umas boas verdades, mas ver uma marca semelhante a que provavelmente estava em seu pescoço o fez perder a coragem, ele havia feito aquilo com ela. – Mas não agora, agora você precisa se acalmar e descansar.- Morgana falou algumas palavras no antigo idioma celta e ele sentiu seus olhos pesarem.

- Você... – ele sussurrou – Vai me pagar.

- Eu sei, mas não hoje – ela falou passando dois dedos por sobre suas pálpebras o enviando para a terra dos sonos.

Morgana agora precisava se acalmar também, ela não sabia o que ela havia sentido quando Merlin começou a delirar, ela devia ter achado outro meio, mas foi difícil demais vê-lo maluco e pior ainda ouvi-lo chamar por outra mulher, talvez houvesse perdido a cabeça no tempo em que ele estava envenenado.

Parecia uma eternidade desde que o colocara para dormir, andava de um lado para o outro em seu quarto, buscando em seus livros algo sobre a poção, sabia que a mandrágora poderia levar qualquer um a loucura, mas isso não fazia parte do feitiço que ela havia imposto ao Merlin, ela procurava por um feitiço qualquer que pudesse modificar o efeito da planta gritona, mas por mas que buscasse não conseguia encontrar nada.

Até que no fim do rodapé em uma das páginas de contra feitiços ela encontrou uma que cortava qualquer efeito da planta, mas se Merlin tivesse usado um simples feitiço de mentalização com meia dúzia de palavras fáceis de lembrar ele não teria enlouquecido e sim quebrado o feitiço, precisava se lembrar de perguntar o que havia acontecido.