Vida De Monstro - Livro Três - A Guerra escrita por Mateus Kamui


Capítulo 20
XX - Michael


Notas iniciais do capítulo

Bem o capitulo ja está pronto a bastante tempo, mas os problemas durante a mudança de servidor do site vieram no mesmo dia em que iria postar o capitulo então esperei até hoje para finalmente poder entregar para vocês esse novo capitulo queridos leitores, a reta final do livro se aproxima cada vez mais por isso gostaria que vocês deixassem claro se o capitulo ficou confuso demais ou não para não atrapalhar no decorrer do final



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XX – Michael

Senti o sangue descendo pela garganta pela centésima vez só naquela noite, cem corpos estavam me rodeando e encarando com os olhos esbugalhados e sem vida. Observei de longe mais uma tropa de vampiros surgindo como se nunca tivessem fim, mas não importava quantos fossem ninguém passaria por mim e entraria na minha tribo.

Soltei algo devia ser um uivo e avancei com fúria, meus olhos brilhavam na noite junto daquela lua quase cheia. Sinto minhas garras rasgando três corpos ao mesmo tempo e então sinto algo que devia ser uma lâmina de ar cortando meus músculos e me jogando contra o chão. Levanto quase que no mesmo momento sem ferimento nenhum, vampiros se regeneravam mais rápido quando tinham acabado de se alimentar e isso também se aplicava a mim, já tinha bebido tanto sangue e durante tanto tempo que talvez mesmo se me decepassem talvez eu não morresse.

Toda a tropa recuou e abriu espaço para uma moça de cabelos loiros-prateados surgir na minha frente. O vento ao redor dela parecia formar um furacão ao seu redor e aquilo não me parecia bem, mas meus instintos de assassino queimavam me forçando a avançar e atacar mesmo sabendo que iria me machucar.

O ar me acertou e comecei a rodar pelo céu sentindo minha carne se rasgando e regenerando ao mesmo tempo, a sensação era terrível e só estava me deixando com mais raiva. Minha estava começando a ficar vermelha e quando percebo de alguma maneira consigo rasgar o furacão que me tirara do chão e caiu em cima de um vampiro rasgando a jugular dele e fazendo com que o sangue caia na minha boca.

Senti enquanto rasgava mais dois vampiros e andava rapidamente para a frente da vampira que de um instante para o outro parecia assustada como se estivesse com medo de mim, nunca tinha ouvido falar de um vampiro medroso que só sabia bater e depois sair correndo, mas parece que no final das contas eles existem porque aquela garota realmente deveria querer sair correndo dali se suas pernas já não tivessem falhado assim que ela sentiu meu bafo fedendo a sangue a poucos centímetros do rosto dela.

Ainda não conseguia decidir do que ela sentia medo, do bafo de sangue, dos olhos brilhantes, do meu rosto entre o humano e o lupino ou todo o conjunto, mas era fato que a coitadinha devia estar próximo de ter um ataque do coração se ela ainda fosse humana.

Antes que eu pudesse tentar qualquer coisa contra ela sinto uma estaca de gelo perfurar meu ombro e me jogar para trás com o impacto. Caminhando calmamente Drake surgia com os braços recheados daquele maldito gelo dele e vendo aquilo só sinto minha raiva e sede aumentarem.

Quebro a estaca com uma simples pressão dos meus músculos e corro na direção do vampiro que não parecia como eu me lembrava, suas veias e artérias pareciam inchadas, sua pele estava mais branca do que antes e uma aura azul sinistra cobria seu corpo, mas nada daquilo me fez parar até que nossos socos se encontrassem e o ar tremesse ao nosso redor nos jogando para cantos opostos:

–Não posso deixar você machucá-la Michael – observei o vampiro enquanto ele falava calmamente, como se não desejasse me machucar – Não quero você como meu adversário, mas sim como meu aliado, precisamos parar a guerra antes que seja tarde demais, meu pai e seu grande líder estão indo se enfrentar em campo aberto daqui a algumas horas enquanto você fica aqui defendendo esta tribo vazia

Senti algo queimar dentro de mim e não era raiva, mas sim dúvida, devia ouvi-lo e ir com ele ou ficar ali defendendo minha tribo do ataque de invasores que jamais respeitariam todos os objetos ali presentes, todas as lembranças ali criadas, deveria correr o risco e ouvir palavras de alguém que era meu adversário desde que nos conhecemos?

Enquanto pensava meu corpo voltava a lutar e simplesmente sentia como se tivesse perdido o pouco controle que tinha sobre meu corpo durante o tempo que passei pensando.

O vampiro tentava se defender dos meus ataques, mas ele não parecia estar dando o seu máximo, ele queria me machucar o mínimo possível, mas “eu” não parecia querer a mesma coisa. Senti quando algo como um tiro de ar penetrou bem na minha coluna e por alguns milissegundos não consegui controlar meus movimentos, aquele microscópico intervalo de tempo entre meu ferimento e minha regeneração foi mais do que o suficiente para Drake rasgar minha garganta, me jogar no chão e tentar congelar meu corpo com o meu próprio sangue que jorrava do ferimento.

Tentei me levantar, mas meu corpo parecia pesado demais e por algum motivo meu sangue vazava mais rápido do que deveria e acabei perdendo mais sangue do que deveria com o ferimento no pescoço. Estava fraco mesmo com meus ferimentos regenerados, precisava beber sangue para repor o que perdi, mas não conseguia me mover pelo gelo e pelo estranho peso extra que sentia em cima de mim:

–Você tem que me ouvir caçador! – o grito do vampiro foi alto e teria machucado meus ouvidos, mas o que mais doeu foi ele suar aquela palavra, caçador

Lembranças começaram a martelar a minha cabeça e antes que eu percebesse um nome ficou se repetindo... Ella.

Senti meu corpo regredindo a transformação e notei já estava completamente humano de novo:

–Por que só você ficou lobisomem? – perguntou o vampiro me encarando e levei um tempo até que o nome dela parasse de surgir e eu pudesse falar alguma coisa

–Eu tinha que ficar, cada tribo tem um guardião para protegê-la, podemos não mais utilizá-las durante a guerra, mas ainda assim existem coisas importantes a serem preservadas aqui e não podemos deixar que vocês as destruam

–Que seja, vocês lobisomens e seus costumes, só me prometa que não vai virar aquela coisa de novo e te solto daí e você vem conosco para o campo de batalha de verdade

–Não vou deixar a tribo, Drake, não para você e os seus destruírem-na

–Mesmo se Ferdinand estiver indo para o campo de batalha também?

Algo dentro de mim uivou de raiva, senti meu sangue correr mais rápido e a transformação querendo retornar com todas as suas forças:

–Isso é verdade? – eu tinha que ter certeza antes de tentar algo

–Sim, não sei o motivo, mas parece que finalmente os the killers vão começar a se mover, parece que depois de amanhã eles vão por seu plano em ação e o campo de batalha tem a ver com isso

Estava com um péssimo pressentimento sobre aquilo e antes que pudesse falar algo o gelo de Drake começou a se derreter:

–Precisamos de você lobisomem para parar esse combate estúpido antes que seja tarde, meu pai não é o seu maior problema, mas sim Caim

–O que o pai dos vampiros tem a ver com isso?

–Parece que ele se aliou aos the killers e vai vir junto com Ferdinand para o campo de batalha, isso vai ser um desastre se o demônio estúpido não aparecer e algo me diz que ele também está tendo seus problemas com os caçadores

–Explique-se maldito

–Você não soube ainda?

–Não vejo ninguém a dias, os vampiros que matei foram minhas únicas companhias esses tempos

–Então deixe lhe atualizar de algo, parece que os caçadores descobriram um local cheio de magos e começaram a atacar, não preciso dizer que a lesada da namorada do demônio está lá não é mesmo?

–Impossível, John jamais começaria um extermínio de magos logo agora e com a filha dele lá – senti algo ruim na barriga, como se algo terrível tivesse acabado de acontecer, alguém tinha acabado de morrer

–Isso é o que você diz, o que eu soube é outra coisa, não sei o estado atual da coisa, mas parece que eles não vão sair de lá até todos estarem mortos então ninguém além de nós pode parar o combate e por algum juízo na cabeça de nossos lideres

–Quanto tempo até o campo de batalha?

–Se sairmos agora chegamos lá pela manhã, sei que ninguém vai lutar até o sol sumir e a noite cair junto com o surgimento da lua então temos tempo para convencê-los

–Você realmente acha que isso é possível?

–Não – o vampiro abriu um sorriso, mas sabia que ele não queria sorrir – Mas como os humanos dizem “a esperança é a última que morre” e nesse momento nós só temos esperança e nada mais, lobisomem

Tinha que concordar com ele, mas no fundo que não queria que o plano desse certo, eu queria encontrar Ferdinand ali no campo de batalha e por a minha vingança em andamento:

–Não preciso dizer que se você está mentindo vou ter matar mesmo que tenha que morrer não é mesmo? – falei e o vampiro sorriu novamente

–Gostaria de ver você tentar lobisomem

Não demoramos para chegar ao nosso veiculo que nos levaria até o campo de batalha, um jato comercial. O veiculo estava parado no meio de uma planície um poço distante da tribo e não parecia caber todos que estavam ali:

–Não se preocupe lobisomem – disse Drake calmamente – Só eu, você e Anne iremos aqui

–Quem diabos é Anne?

–É bom medir a forma como fala comigo saco de pulgas – disse a loira que quase matei pouco tempo atrás e rapidamente subiu no jato sem esperar por ninguém

Entrei no jato e sentei em um local qualquer, Drake fez questão de sentar do meu lado e voltou a sorrir enquanto abria uma garrafa de sangue, senti a sede me dominar por um momento, mas mantive meu pequeno autocontrole, não devia ser legal surtar e me transformar no meio de uma viagem de jato. Parecia que a tal de Anne era a pilota do jato já que não a vi mais desde que entrei e também não percebi mais ninguém ali dentro:

–Ela não vai precisar de um co-piloto? – perguntei tentando tirar a atenção do liquido escarlate que cheirava muito bem

–Ela sabe se virar sozinho, relaxe, vai precisar estar no seu melhor caso nosso plano dê errado, não gostaria de te matar se não lutasse com tudo

–Você é um piadista Drake – ele me encarou sem entender – Você falou como se pudesse me matar, mas se me visse lutando com tudo ia se arrepender de ter desejado isso algum dia

O resto da viagem foi silenciosa, durante alguns momento comi alguns mantimentos que haviam ali dentro e depois rapidamente cai no sono e como sempre lá vinha algum sonho estranho, só que esse já era conhecido.

O maldito campo de batalha cheio de corpos, um lobisomem e um vampiro lutando em uma colina sob a luz da lua cheia e então um ser surgindo de longe e para não perder o costume eu acordo depois disso.

Desço do jato o mais rápido que consigo e observo os vampiros se aproximarem:

–Venha lobisomem, é por aqui – disse Drake acenando para uma direção

Caminhamos por um pouco mais de tempo até que chegamos ao local chave, uma clareira com um pouco mais de cinco dezenas de corpos espalhados, todos os corpos eram de lobisomens, mas isso não significava que apenas eles tenham morrido, o motivo de só terem corpos de lobisomens ali era porque basicamente o sol que batia nos corpos dos vampiros mortos os queimavam reduzindo-os a miseras cinzas:

–Lembre-se lobisomem – disse Drake me dando as costas – Você tem que convencer seus lideres a parar isso ou será tarde demais, se já não for tarde demais

Segui o caminho contrario ao dele, não precisava mais que o vampiro me dissesse o caminho que devia seguir, podia sentir o cheiro de meus companheiros de tribo dali e era só disso que eu precisava. Sai da clareira e passei por um denso agrupamento de árvores que rapidamente sumiram revelando um amontoado de dezenas de barracas improvisadas, todos estavam ali se preparando:

–O que pensa estar fazendo aqui? – sinto alguém apertando meu pescoço com força, o mata-leão estava me deixando sem ar, mas em compensação minha raiva só aumentava e antes que pudesse me controlar sinto meu corpo jogando um outro para o chão

–O que você pensa estar fazendo me enforcando Hector? – pergunto observando meu líder se levantando do chão

–Eu disse para ficar na tribo, Michael

–Eu sei líder, mas eu tive que vir

–O que é mais importante que sua tribo, irmão?

–Talvez todo o planeta, irmão

–Onde quer chegar criança? – vejo o grande líder Miakoda se aproximando de nós, seus olhos brancos me encaravam

–Ferdinand está vindo grande líder, e ele não vem só – escuto uma espécie de grunhido vindo de Hector

–Deixe que o maldito venha – meu líder falava com raiva e podia sentir a tensão aumentando no ar

–Ele não vai vir sozinho líder, Caim vem com ele

–Caim... – as palavras do grande líder se perderam no ar e ele me encarou com ainda mais força – Você sabe que sua prima está em perigo, mas você continua conosco

–Ela sabe se cuidar e sei que enquanto aquele demônio estúpido estiver com ela nada de ruim vai acontecer

–Se você diz quem sou eu para contestar? Soube que este demônio ao qual se refere venceu o pai dos vampiros

–É, mas soube que não foi a mais fácil das vitórias

–Sim também escutei isso, preparem-se todos, se Ferdinand realmente está vindo com o pai dos vampiros então algo nem um pouco bom acontecerá

–Esse é o principal motivo deu ter vindo grande líder, parece que os the killers estão preparando algo grande e tem haver com a batalha que irá acontecer aqui

–É claro que tem garoto, o principal líder dos the killers é uma criatura imortal, uma fera que não conhece o medo a morte, aos mortos e nem a ninguém, tais criaturas são atraídas por sangue e muito sangue cairá nessa batalha

–Se o senhor sabe disso então por que não para isso?

–Porque não é o meu destino criança, é o de outra pessoa

Sinto as memórias do sonho voltando e a criatura surgindo com suas asas abertas me encarando:

–Você deve encontrar a si mesmo antes que a lua de sangue surja Michael, foi isso que o espírito do grande lobo me disse – o grande líder falava agora com um tom quase de funeral, era quase como se seus olhos tivessem visto algo que eu não vi

–O que o senhor quer dizer com lua de sangue?

–Você não deve fazer essa pergunta para mim rapaz, mas sim para o espírito do grande lobo, só ele tem a resposta e só você pode achá-lo

–Onde ele está grande líder?

–Ele nunca fica parado no mesmo local, mas soube que dessa vez ele fez uma pausa considerável e está onde a realidade não passa da maior das ilusões, onde o impossível e o possível se invertem, um local em que nem os deuses mandam mesmo com todo o seu poder

–Onde?

–No Sonhar – o rosto dele parecia dizer que aquilo era obvio, mas eu não era como ele e minha irmã que sabiam dessas coisas malucas

–O Sonhar? A suposta dimensão dos sonhos?

–Não é a suposta dimensão dos sonhos criança, é A dimensão dos sonhos e só você pode ir até ela e achar as respostas que tanto precisa

–Como posso chegar lá?

–Como eu posso saber tal coisa? Não sou eu o filho do Sonhar, agora vamos comer rapaz, uma grande luta se aproxima e um homem não pode lutar até morrer sem estar de barriga cheia e com um sorriso no rosto

Caminhamos até uma mesa cheia de pessoas e comida, sorrisos cobriam o rosto da grande maioria das pessoas, mas ainda assim havia aqueles que não conseguiam sorrir naquela situação, eu estava entre eles. Algo muito ruim estava se aproximando e sabia que eu era a parte mais importante naquele conflito mesmo sem entender o motivo e qualquer decisão errada a partir de agora seria a morte de todo mundo, realmente não dava para sorrir.

Agarrei um pedaço do que quer que fosse a comida servida e sai da mesa, não conseguia olhar na cara de ninguém ali sabendo que todos poderiam estar mortos no dia seguinte. Parei embaixo de uma árvore qualquer e observei o céu pensando se Drake teria tido algum sucesso e algo dentro de mim dizia que não, vampiros e lobisomens eram parecidos em uma coisa e era logo na teimosia.

Terminei de comer o que quer que aquilo fosse e me ajeitei sobre a árvore para tentar dormir. Será que havia jeito mais obvio de ir parar no mundo dos sonhos sem ser dormindo?

O sono não demorou a bater e não sabia se aquilo era bom ou ruim, só sabia que estava de volta ao campo de batalha. Os corpos dos vampiros e dos lobisomens agora me pareciam ainda mais reais do que antes, dava para sentir o fedor deles no ar, dava para sentir o frio da noite e dava para escutar o barulho causado pelos golpes dos dois que lutavam no topo da colina.

Avanço na direção dos dois que lutavam e pouco antes deu chegar até eles aquela coisa monstruosa surgi voando e me encara com seus olhos. Trocamos olhares por um longo tempo e quando observo ao meu redor os dois lutadores estavam estáticos como se fossem duas estátuas antigas e não guerreiros no meio de uma guerra.

A criatura me observa e toca o chão em pé ficando a poucos metros de mim, podia sentir a respiração pesada e gelada dele, podia sentir a raiva e o desespero que o dominavam e eu não entendia o porquê, era quase como se ele estivesse no lugar errado e só agora notasse isso.

Sinto a mão do monstro apertando minha garganta, o movimento tinha sido tão rápido que nem tinha notado quando ele me pegou. Senti o ar começando a faltar e algo me dizia que se não fizesse algo eu realmente morreria ali. Olhei para a lua cheia que brilhava lá no alto e pensei que talvez, só talvez, aquele brilho que me parecia tão real e tão poderoso fizesse eu me transformar mesmo durante um sonho. Foi exatamente isso que aconteceu.

Em poucos segundos sinto minhas garras rasgando o braço dele e fazendo-o soltar meu pescoço ou perderia o membro. A criatura grunhiu e me encarou com raiva, eu fiz o mesmo e quando notei já estávamos nos batendo com todas as nossas forças.

Meu sangue começava a sair pela boca e por pequenos cortes e isso só me deixava com mais e mais raiva. Começo a sentir meu lado vampiro aflorar e minha sede explode de uma vez fazendo com que eu avance sem nem pensar duas vezes contra a criatura e quando noto sobra apenas um corpo morto no chão e com o pescoço espirrando sangue pelos buracos causados pela minha mordida.

Senti o sangue do monstro escorrendo pela minha garganta e então começo a vomitar, era quase como se meu corpo rejeitasse aquilo, era quase como um veneno e eu tinha bebida muito dele. Quando notei tudo a meu redor parecia se dissolver e quando percebi todo o cenário havia se convertido em um punhado gigantesco de areia dourada cintilante que começou a rodar ao meu redor e rapidamente tomou uma nova forma, a forma de um castelo.

Eu agora estava no centro de um enorme salão que pertencia a algum castelo de paredes brancas feito mármore. O salão era um circulo perfeito e no chão estava representado um desenho perfeito da terra só que no centro do mapa estava representado um ponto no meio do que Oriente Médio, mas não é era bom em geografia a ponto de dizer em que país o centro do mapa ficava:

–Vai ser ai que o reino de Babalathe será refeito, aonde ele um dia foi feito a muitos milênios atrás – disse uma voz atrás de mim

Virei bem rápido e me preparei para um ataque, mas a única coisa que vi foi um homem vestido com uma longa túnica negra se aproximando, sua pele era pálida e seus olhos brilhavam como se fossem estrelas, não precisava ser um gênio para saber que ele não era humano ou qualquer outra criatura que eu já tivesse visto. A aura que aquela coisa emanava era tão sinistra que o chão aos seus pés tremia revelando a areia dourada de antes:

–Quem é você? – perguntei sentindo que meu corpo não estava mais transformado, algo me dizia que não deveria lutar com aquele cara sem estar transformado ou podia acabar bem ruim para mim

–Sou o senhor dessas terras em que pisa rapaz, eu sou o Lorde dos Sonhos, Dono do Sonhar, pode me chamar pelo meu nome grego, Hypnos

–Hypnos? – a que ótimo eu estava frente a frente com um deus! – O que um deus ia querer comigo?

–Sua alma, seu poder mais especificamente

–O que quer dizer com poder? Eu não tenho poder nenhuma além de virar um lobo perturbado toda lua cheia

–Não se faça de tolo, você pode não entender toda a extensão do seu poder, mas você entende muito bem que não é um simples lobisomem

–Você parece saber mais sobre mim do que eu mesmo

–Eu sei de tudo rapaz, os sonhos são reflexos de memórias já feitas, sendo feitas e que serão feitas, não é a toa que eles são reflexos de seus donos e do próprio futuro

–Então me diga tudo que eu preciso saber, me diga a resposta pra todas as minhas perguntas sobre o meu passado droga! E me explique esse maldito sonho!

–Eu não dou as respostas rapaz, já fiz demais mostrando aos seus amigos aquele sonho, mas eles não me agradeceram, nem mesmo compreenderam o porquê deu ter lhes dado tal dádiva, você vai precisar da ajuda deles para impedir a carnificina, sozinho e sem entender seu poder você é inútil

–Então me explique

–Não é este o meu trabalho, meu trabalho é matá-lo e pegar seu poder, nas mãos corretas como as minhas eu talvez ainda consiga impedir o retorno de Babalathe

–Deixa só eu adivinhar algo, pra você pegar meu poder vai ter que me matar?

–Não é obvio? Só sua morte pode libertar sua alma e seu poder

–Então acho que não posso deixar você fazer isso, eu tenho que volta, tenho uma guerra para parar

–Você não pode me vencer no meu reino, Filho do Sonhar

–O que quer dizer com filho do sonhar?

–Você é ignorante garoto e essa será sua maior falha

Toda a construção pareceu se transformar naquela areia dourada de novo e quando percebi dezenas de lâminas vieram na minha direção. Esquivei por pouco e fiquei cheio de cortes e minha perna esquerda tinha sido machucada, mais especificamente uma espada tinha perfurado a minha tíbia. Sentia o sangue descendo pela perna, o ferimento estava doendo muito mais do que deveria, era quase como se eu tivesse tomado um tiro de fuzil a queima roupa e não uma espadada na perna:

–Você não pode me vencer nas minhas terras – dizia Hypnos se aproximando

Puxei a espada e apontei para ele, mihna regeneração não estava funcionando e isso não era nada bom:

–Você não está mais nas terras carnais e os poderes da carne não podem mais auxiliá-lo – o deus falava e caminhava de um jeito tão arrogante que só fazia minha raiva aumentar, ele podia dizer que meus poderes não funcionavam ali, mas meu corpo dizia o contrario

Lembro da lua de pouco tempo atrás e como eu consegui me transformar naquela hora, se eu podia me transformar então também podia me regenerar. Pensei cada vez mais na lua cheia e senti o chão tremer sob os meus pés a areia dourada começava a subir pela minha perna e quando percebi parte das espadas começaram a se transformar em areia também.

Hypnos me encarou com raiva e vi parte das espadas rapidamente se juntarem atrás dele e se transformarem em um enorme leão que avançou na minha direção. O leão me acertou em cheio e quando percebi estávamos bolando pelo chão com os dentes dele presos no meu braço esquerdo, já estava vendo a hora do meu braço ser arrancado por aquela poderosa mordida quando sinto um arrepio cruzando a minha espinha, era a energia da lua cobrindo o meu corpo.

Com um forte soco fiz com que o leão voasse para longe levando um pedaço do meu braço com ele. Antes que pudesse reclamar da dor e do sangramento meu braço já estava se regenerando, o ferimento na perna já estava fechado e podia sentir minha transformação retornando aos poucos.

O leão se desfez em areia assim que tocou o chão, mas o pedaço do meu braço permaneceu lá. Aquilo não me agradou nem um pouco, mas não ia reclamar agora que estava tomando a dianteira na luta:

–Você acha que só por que criou uma lua no céu pode me derrotar? – o deus soltou um longo riso que ecoou por todo o castelo – Nem sua irmã que era muito melhor do que você poderia me vencer e você acha que consegue só com isso?

–Eu não preciso de nada mais que isso otário

Avancei na direção do deus com um soco preparado, mas antes que pudesse acertá-lo uma enorme parede de concreto surgiu na minha frente, bela tentativa idiota. Minha mão atravessou a parede facilmente e agarrei o que estava atrás dela, o problema era que não a cabeça de Hypnos. Meu corpo foi jogado para trás com força e quando notei havia um enorme monstro na minha frente, talvez o maior que eu já vi.

Aquela coisa era tão grande que não devia ter menos do que uns nove metros de altura se estivesse em pé. A criatura tinha uma enorme placa marrom-escura que cobria quase todo seu corpo marrom-claro, sua cauda tinha uma espécie de clava cheia de espinhos na ponta e ele soltava um urro monstruoso, mas aquilo não era um animal carnívoro, pelo menos eu não lembrava de nenhum Anquilossauro que não fosse herbívoro, mas a minha memória sobre coisas do colégio é uma merda então não confie nela.

O dinossauro avançou balançando a cauda espinhenta na minha direção e me esquivo para o lado. Aquela coisa era rápida demais para um bicho que devia ter algumas toneladas, mas não cegava nem perto da minha velocidade. Pulei para cima do réptil gigante e cravei minhas garras na placa protetora dele e tive a prova de que aquilo era realmente duro, e tinha que ser para suportar uma mordida de tiranossauro e só o idiota aqui que não se lembrou disso.

O anquilossauro me jogou para longe dele com um forte movimento da cauda e quando cai no chão percebi minha mandíbula e parte do meu ombro direito destroçados. Lembrei que o único ponto do bicho que não tinha a “armadura” era a sua barriga então me preparei para atacá-lo por baixo.

Corri o mais rápido que pude e senti o poder da lua só me deixar cada vez mais forte. Assim que o dinossauro se preparou para me acertar a sua cauda eu me esquivei rolando por baixo dela e corri abaixado em direção a sua enorme e vulnerável barriga. Não tinha nem chegado no centro dele quando reuni toda a minha força e fúria e cravei um gancho nele.

Uma coisa que aprendi hoje, mesmo transformado não era tão fácil assim erguer um bicho de algumas toneladas. A cauda da criatura veio na minha direção de novo e dessa vez tentei segurá-la com o máximo de força que consegui e impedi que saísse voando para longe, mas em troca desloquei o ombro esquerdo. Tentei colocar o ombro no lugar o mais rápido que pude e observei o dinossauro me encarar com muita raiva.

Olhei para Hypnos que parecia apenas se divertir com aquilo e senti minha raiva aumentar e minha transformar ir cada vez mais longe. Naquele momento eu devia estar algo parecido com um lobo, só que bípede e com algo que devia ser uma par de asas brotando das minas costas. A lua que eu havia gerado parecia mais forte do que a lua normal e unindo isso a minha raiva parecia ter me feito chegar a outro nível de poder.

Tentei bater as asas e estava conseguindo, mas não estava confiante se seria capaz de voar ainda. Hypnos continuava apenas observando o combate e então olho para a lua e lembro como a fiz surgir apenas querendo aquilo e desejei algo que pudesse matar logo aquele dinossauro maldito e que pudesse como bônus acertar o deus arrogante. A areia dourada começou a me rodear e quando percebo tenho em mãos uma enorme espada que era bem maior do que eu e tinha uma lâmina muito mais larga do que a minha mão.

Rodei a espada pelo ar e ela era tão leve que mais parecia feita de papel e não de aço. Apontei aquela coisa para o anquilossauro e então o réptil avançou com velocidade ate mim. A cauda do dinossauro vinha na minha direção então comecei a concentrar toda a minha força e antes que a clava da cauda pudesse sequer chegar perto de mim eu ataquei.

A espada rasgou tudo na sua frente que era basicamente o dinossauro, além disso, emitiu uma poderosa rajada de ar que terminou de rasgar o bicho e avanço com potencia e velocidade tão grande que pegou Hypnos de surpresa. O deus rodou para o lado quando a rajada de ar acertou em cheio seu braço esquerdo fazendo com que todo o membro caísse no chão e começasse a se transformar em areia dourada:

–Pensei que você fosse igual a mim – falei observando a areia dourada retornar para o deus e formar novamente seu braço – Mas você também é feito dessa areia

–Tudo no Sonhar é feito de areia rapaz, tudo sem exceção, só você é diferente você não é feito da areia do Sonhar, mas também não é feito de carne, você é quase como um amontoado de energia espiritual que por algum motivo se reuniu aqui, isso te dá benefícios nesse reino, benefícios que nem eu como deus possuo, mas isso também permiti que você possa ser morto

Hypnos moveu seu braço e então uma enorme katana se materializou nas suas mãos. Observei aquela arma e espada que tinha em mãos começou a tremer como se reconhecesse a outra lâmina e quisesse destruí-la, como se elas tivessem uma rixa pessoal que transcendia as dimensões. Antes que percebesse o deus já estava na minha frente e sua katana iria me partir em cheio se não tivesse conseguido colocar minha espada no caminho do ataque com um reflexo movido por puro instinto.

As espadas se chocaram e um amontoado de areia voou para longe, dava para sentir o universo tremendo onde as espadas se encontraram enquanto o deus recuava e me observava com fúria:

–Você realmente é um empecilho problemático – disse o deus rodando sua katana – Você até mesmo conseguiu invocar uma arma capaz de rivalizar com a minha Masamune, mas será isso o suficiente para fazer um homem vencer um deus?

O deus iria avançar novamente, mas antes dele sequer pensar em tal possibilidade eu já tinha pensado em atacar e então meu corpo se moveu naquela dimensão tão rápido quanto um pensamento era capaz. Hypnos me encarou assustado quando nossas armas se encontraram e não foi por um ataque dele. Estava me sentindo cada instante mais forte e só agora percebia que talvez não fosse graças a falsa lua, mas sim porque ali eu não tinha nenhuma limitação que tinha na terra, ali meu espírito era livre, as únicas limitações estavam na minha cabeça.

Comecei a trocar ataques cada vez mais velozes e o deus mal conseguia acompanhar. A areia dourada começava a se reunir ao nosso redor como se fossem atraídas pelos ataques, mas algo dentro de mim dizia que elas não eram atraídas pelos ataques, outra coisa os atraia e era a minha vontade, minha vontade de partir aquele deus ao meio.

Depois de um incontável número de ataques Hypnos vacilou e minha espada foi em direção ao peito dele para parti-lo ao meio, só que o desgraçado tinha feito aquilo de propósito. Antes que eu pudesse acertá-lo algo me acertou em cheio na cara e me fez sair bolando pelo chão. Quando levantei olhei por cima do ombro do deus não vi nada então olhei novamente para sua mão e vi na lâmina da katana um pouco de sangue, sangue que acho só poder ter vindo do corte que tomei e que já estava regenerado. Como esse maldito tinha feito aquilo eu ainda não sabia, mas logo iria saber, por bem ou por mal.

Ataquei de novo, mas antes mesmo que pudesse chegar perto sinto algo surgindo próximo da cintura do deus e me acertando bem na perna. Não tive nem chance de ficar em pé e antes de cair no chão já sentia um poderoso soco me jogando para trás. Lado ruim, eu estava machucado, lado bom, com a raiva excessiva foi quase como se eu pudesse enxergar o que ele fez.

Levantei e olhei para o deus, meus ferimentos já estavam fechados, mas isso não diminuía em nada a minha raiva e a minha transformação. Ataquei mais uma vez e senti quando algo me perfurou por cima do ombro e então concentrei toda a minha força em contrair o músculo acertado. Hypnos me encarou frustrado ao perceber que a sua katana estava presa no meu ombro:

–Você percebeu? – perguntou o deus me encarando e então sua espada começou a se desfazer e aos poucos surgir na sua mão

–Você simplesmente fica desfazendo essa coisa e então a refaz ainda mais rápido onde desejar, você é o deus do Sonhar então acho que deve saber fazer isso tão fácil quanto um ser humano sabe respirar

–E como os humanos que devem apanhar para aprender o que fazer eu também tive minha dose de sofrimento Michael – o deus falou com tamanha calma e pesar na voz que me parecia outra pessoa – Além de mim apenas meu senhor Babalathe sabe manipular alguma outra coisa que não seja o éter do que os deuses são feitos, é por isso que ele tão forte, é por isso que ele é invencível e se voltar nada nem ninguém poderá pará-lo, eu preciso do seu poder humano ou então não haverá esperança para ninguém

–Desculpe cara, mas minha vida e meu poder pertencem apenas a mim

O deus suspirou e avançou, mas dessa vez sem a espada. Tanta a arma dele quanto a minha se desfizeram e então começamos a trocar socos, golpes pesados e dolorosos que faziam meus músculos latejarem e a figura de areia do deus tremular. Nossos socos pareciam estar fazendo toda a dimensão tremer e eu poderia passar dias fazendo aquilo, mas não tinha tempo para isso, tinha que descobrir a verdade antes que fosse tarde demais.

Sinto a lua no céu aumentar de tamanho e em algum sonho sobre um submarino cruzando milhares de léguas submarinas o mar se torna ainda mais forte e uma criatura gigantesca e a muito adormecida ataca o local sendo acordada pela mudança brusca das marés. A lua manipulava as marés e os lobisomens e podia sentir meu poder aumentar quase como uma explosão e então explodo um soco no rosto de Hypnos que voa para longe.

Areia dourada se espalha ao nosso redor e o deus se ergue como se não tivesse sofrido nada. Seu rosto desfigurado começou a re-moldar e então o suposto senhor do Sonhar fechou o rosto numa expressão de ódio. O golpe final estava vindo.

Nossos corpos começaram a correr um na direção do outro e por mais que meu punho esquerdo estivesse erguido na direção da cara do deus meus olhos encaravam um outro local não tão distante. A areia ao nosso redor tinha formado novamente a colina coberta de corpos e a lua gigante nos cobria só que dessa vez no lugar de surgir a fera de antes surgi um enorme lobo de pelos prateados e olhos brancos me encarando.

Eu não sei bem o que aconteceu a seguir, só lembro de ouvir o uivo do lobo e então algo dentro de mim explodiu. Asas gigantescas brotaram das minhas omoplatas, meus ossos pareceram se esticar, meus músculos inflaram e então meu punho destroçou o braço de Hypnos e minha mão rasgou seu peito e agarrou seu coração. O uivo do lobo ainda ressoava nos meus ouvidos e então um novo uivo cortou o ar e sinto minhas mãos estourando o coração de areia que se desfez liberando areia dourada e chamas negras pelo ar:

–Maldito seja o grande lobo – a voz do deus do Sonhar saia tão fraca que por um momento me pareceu que ele iria morrer e no momento em que seu corpo começou a se desfazer eu tive a certeza disso, eu tinha matado um deus e não tinha a mínima idéia de como fiz aquilo – Por que você se intrometeu? Ele não iria me vencer se mover não tivesse se intrometido

O lobo não respondeu nada, apenas ficou me encarando e sinto meu corpo regredir a forma humana e a areia sob meus pés começaram a se juntar ao redor do meu corpo:

–Ele não é o senhor daqui, eu sou! – o grito de Hypnos sumiu sendo levado pelas areias – Eu mando no Sonhar, eu!

Acertei um soco de leve na cara do deus que fez sua cara se dissipar em forma de areia e volto a encarar o grande lobo como se esperasse alguma resposta, mas ele apenas uiva de novo e sinto aquilo sendo um aviso para ir, estava na hora de ir embora:

–Você pelo menos vai me dizer o que significa a lua de sangue?

A areia dourada que me rodeava começou a se espalhar pelo céu e começou a formar uma frase, como se ele estivesse tentando responder a minha pergunta e então lembro da frase de Hypnos... sonhos eram reflexos de seus donos e do futuro... o Sonhar tinha a resposta que eu precisava e não o grande lobo, ele só estava aqui pra me dar um motivo para vir.

A frase escrita no céu dizia apenas uma simples frase que me fez acordar de uma vez, não precisava dizer mais nada, meus instintos de lobisomem, mago, vampiro e o que mais eu fosse queimavam dentro do meu corpo me dizendo o quão ruim aquilo era... A lua de sangue é o ingrediente final para a criação de um novo Deus.


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Notas finais do capítulo

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