Vida De Monstro - Livro Três - A Guerra escrita por Mateus Kamui


Capítulo 19
XIX - Amy


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo saindo fresquinho para meus queridos leitores, esse saiu bem mais rápido do que eu previ (bem mais rápido mesmo), talvez até para compensar o longo tempo sem postar nada.
Capitulo cheio de história e criando mais enigmas sobre o passado do que resolvendo e acho que foi necessário ser assim.
Esse foi o melhor começo que consegui para a reta final da história e espero que gostem



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Os tiros estavam cortando o ar e por mais que diversas barreiras dos mais diversos tipos estivessem sendo erguidas elas pareciam completamente inúteis contra as balas. Quantos jovens magos já haviam caído? Quantas pessoas que eu nunca nem mesmo havia tido a chance de conhecer jaziam mortas a poucos metros atrás?

Dava para escutar o barulho da marcha perfeitamente sincronizada, a disciplina e obediência de um caçador para com os seus superiores era diversas vezes maior do quem um soldado por seus generais, um fiel para com seus deuses, os caçadores eram quase uma seita que reverenciavam os três grandes lideres das três grandes famílias e eles tinham bons motivos para isso. Os três grandes líderes eram tão bons que diziam nem mesmo serem humanos e a um bom tempo a idéia de que eu não era cem por cento humana queimava os meus neurônios.

Não demorou para que fossemos forçados a recuar novamente e mais passos da marcha foi escutada. Quando os caçadores se reuniam daquela forma não havia monstro que sobrevivesse, a perfeição de cada sequencia de tiros, de cada ataque, de cada movimento era tão grande que Sun Tzu, Alexandre da Macedônia e outros grandes estrategistas se remoíam nos túmulos toda vez que aquela formação era executada.

Senti quando um tiro passou raspando pela minha testa fazendo uma pequena linha de sangue escorrer. Aquilo não estava ficando nada bom e a pior parte era que eu ainda não havia descoberto como os caçadores haviam descoberto a localização da cidade de Magicka e como eles conseguiram entrar, mas alie estavam eles dizimando todos os magos que haviam no caminho.

Conseguia ver meu pai bem na linha de frente e ao seu lado estava seu grande amigo Dylan Grimm, o líder da família Grimm, uma das grandes famílias de caçadores. Dizem que sempre que a lendária formação de investida é criada os três grandes líderes deviam liderar a formação sozinhos na linha de frente, mas ali só haviam dois deles, pois o terceiro e último líder estava morto, George Helsing. Havia crescido conhecendo Dylan e George quase como se fossem meus tios e quando soube da morte de George fiquei abalada e sabia que papai e Dylan também haviam ficado, na verdade deviam estar mais do que eu.

Os olhos do meu pai se cruzavam com os meus diversas vezes e a única coisa que eu via ali refletido era pura raiva. Mais tiros cortaram nossas barreiras e eu ainda não entendia como, era quase como se nossas barreiras não existissem.

Vi o céu se tornar vermelho e então uma enorme bola de fogo começou a cair do céu, olhei em direção ao castelo onde minha mãe estava e poda vê-la em uma das janelas apenas observando tudo. Aquela magia só podia ter sido invocada por ela, mas antes mesmo que a bola de fogo chegasse ao seu alvo vi meu pai erguendo sua Winchester 22 e atirando para cima três vezes e quando os três tiros acertaram seu alvo a bola se desfez.

Estava simplesmente assustada com tudo aquilo, mas Morgana parecia muito calma para o meu gosto, era quase como se ela já esperasse que tudo aquilo fosse acontecer.

Quando notei estava de costas para a entrada do castelo e ao meu lado estavam meus dois avatares e duas pessoas, Felícia junto de seu gato das sombras e a senhora Emily Beautygardy. Procurei pelo irmão dela que era uma pessoa muito mais agradável, mas não o achei:

-Meu irmão está morto – disse a velha sem nem mesmo olhar para mim, senti mais tristeza ir crescendo dentro de mim, mas não dava tempo para pensar nessas coisas, eu tinha que sair viva dali o mais rápido possível

Quando pensei que ia bater contra o portão do castelo percebi que não havia mais portão nenhum ali. Nós três corremos para dentro do castelo e então quando olhei para trás o portão havia reaparecido, queria descobrir como Morgana tinha feito aquilo, mas acho que ia ter que controlar a curiosidade por hora.

Não demorou para acharmos minha mãe, ela estava parado em pé no centro do enorme desenho que havia no salão do castelo, o desenho que representava o Primeiro Mago enfrentando seu inimigo desconhecido. Tentei falar algo, mas ela simplesmente ergueu o indicador apontando para as escadas:

-Vão, todos os que estão vivos estão lá em cima – ela falou aquilo de uma maneira tão calma que estava ficando assustada, não tinha como ela estar confiante ao ponto de ficar calma numa situação daquelas

-Você não vai subir com a gente? – eu tinha que perguntar, algo ali não me soava nada bem incluindo a invasão

-Não posso mais fugir do passado querida – ela disse suspirando

-O que quer dizer com isso?

-Só suba logo, não se preocupe comigo e nem com os outros, ninguém mais vai se machucar hoje além de mim e de quem realmente merece, John não permitiria mais do que isso agora suba de uma vez, ele está vindo...

Olhei ainda para ela por alguns segundos até que escutei o barulho de passos, passos de uma única pessoa. Corri para as escadas com Lua ao meu lado, mas deixei Sombra lá embaixo escondida nas sombras e observando minha mãe sem que ela soubesse.

Não demorei para chegar no quarto onde todos os sobreviventes estavam, Thales, sua mãe, Felícia e a senhora Beautygardy, só quatro pessoas entre todos os magos. Quatro.

Fui para o canto do local sem falar nada, ninguém ali estava com animo para falar qualquer coisa que fosse, estavam todos sofrendo em silêncio pelos mortos.

Comecei a me concentrar e fechei meus olhos fingindo que iria dormir, mas na verdade estava incorporando lentamente meu avatar Sombra. Não demorou para que começasse a enxergar pelos olhos do corvo e vi o exato momento em que alguém chegou ao salão e parou a poucos metros da minha mãe, meu pai. Os olhos dele estavam absurdamente calmos, muito mais calmos do que eu jamais imaginaria que estivessem:

-Somente alguém que utilizou alguma magia poderia adentrar o castelo, não me diga que voltou as origens John? – minha mãe sorria, mas meu pai continuava serio

-Sim eu voltei as origens, as verdadeiras, as origens do código dos caçadores que me dizem para matar todo o e qualquer mago avistado sem exceções e eu já deixei muitos deles me escaparem no passado

-Sempre soube que isso aconteceria, Arthur sempre me disse que você seria a nossa ruína um dia, mas ele sempre acreditou que algo deve cair para que um novo maior surja e por isso sempre gostou de você e tentou ser seu amigo

-Eu adorava seu irmão, como também os seus pais, a prova disso foi todo o tempo que eles viveram desde que me encontraram e teriam vivido ainda mais se eles não tivessem se metido na vida dos lobisomens

-Acho que foi melhor eles terem morrido naquela época, meus pais morreriam de desgosto se vissem o que você fez à sua cidade amada e meu irmão não gostaria de saber que sua pior visão do futuro se concretizou

-Que seja, agora não é o momento para reviver o passado

-Esse é o melhor momento para isso John, dizem que quando morremos vemos toda a nossa vida passar diante de nossos olhos então por que não me permiti reviver toda a minha vida antes de fazer aquilo que veio fazer?

-Sabia que nunca gostei de você, John? – do nada uma enorme pira começou queimar e então se desfez revelando uma pessoa que eu nunca gostaria de rever, Robert Flamel – Agora sei o porque maldito Winchester

-Não se intrometa Robert – disse minha mãe encarando o mago com raiva e meu pai também estava com raiva

-Deixe que ele se intrometa Morgana, deixe que ele fique aqui, na verdade ele é o único mago que sempre quis matar desde que conheci – os olhos de meu pai brilhavam de ódio e Robert fazia o mesmo

-Acha que tem chance contra mim traidor?

-Traidor? O homem que prendeu um espírito na minha filha e que auxilia a décadas os the killers me chama de traidor?

-Você é um merda maldito sabia John? Desde quando sabe sobre isso?

-A muito tempo Robert, mas não pense que minha investida a Magicka foi por você, se fosse teria ido direto a sua casa e sozinho, o motivo pelo qual vim para cá foi a morte de meu amigo e quase irmão, George Helsing

-O que a morte de um idiota tem a ver com isso?

-O idiota a que você se refere foi o homem mais sábio e de bom coração que já conheci, ele sabia que nunca teria chance contra um deus, mas lutou até o fim só para conseguir a informação que precisávamos, um bravo homem que morreu bravamente e não vou aceitar que o ofenda novamente

-E o que vai fazer contra isso John?

Meu pai simplesmente puxou sua Winchester 22 e coloco-a calmamente no chão , estralou o pescoço e suspirou:

-Uma disputa magicka entre nós dois Robert, até a morte

-Você realmente acha que tem chances contra mim John?

Meu pai não falou nada, apenas continuou encarando seu adversário que sorriu aceitando o combate. Minha mãe rapidamente se afastou e parou ao lado de Sombra, ela encarou meu corvo e apenas sorriu para ele, ela tinha me percebido, mas não havia se importado.

Robert estalou os dedos e suas mãos começaram a pegar fogo, mas não eram chamas comuns, mas sim chamas negras iguais as de Will:

-Com aprendeu a criá-las Robert? Apenas os demônios sabem produzi-las, e poucos são eles – disse meu pai calmamente como se aquilo não fizesse diferença

-Meu senhor Zan gratifica bem aqueles que merecem, ele me deu de presente o dom de invocar essas chamas

-Como Zan sabe produzir essas coisas? Quem diabos é esse maldito?

-Ele é aquele que se ergue tão alto quanto os deuses, ele é um verdadeiro imortal, ele será aquele que trará o maior dos deuses de volta

-Babalathe jamais voltara, eu não permitirei

-Você é um tolo John, já é tarde demais, vocês caçadores até auxiliaram no processo

-Aonde quer chegar?

-Existem certos feitiços que nem Morgana conhece, feitiços que jamais foram gravados na biblioteca mágica da cidade, feitiços que nem mesmo existem na biblioteca de Caim, mas que meu senhor conheci e o maior deles é o feitiço da Lua de Sangue

-Lua de sangue? George me falou algo sobre isso antes de morrer, ele dizia que devíamos impedir a lua de sangue a qualquer custo, mas não me falou como

-Na verdade é bem simples, a lua de sangue surge quando muito sangue é derramado, muito sangue mesmo, uma quantia que só é derramado em uma grande guerra

-Mas então por que Zan já não a invocou antes quando ocorreram as duas grandes guerras?

-Porque era necessário um elemento que nunca esteve presente antes em nenhuma guerra, sangue

-Sangue sempre há em guerras

-Mas não o sangue necessário, o sangue do mais velho dos vampiros, pois o sangue dos vampiros tem forte ligação com a morte; o sangue do mais velho dos lobisomens, pois lobisomens são ligados fortemente aos espíritos e quanto mais velho maior a ligação; o sangue da rainha das fadas, pois as fadas são criadoras do Feé e o seu sangue apresenta sua maior concentração e o Feé mais puro é o da rainha; o sangue de um nobre demônio com seus poderes no ápice, pois os demônios nobres são vindos do próprio inferno e seu sangue carrega os poderes infernais; o sangue de um dragão, pois os dragões são os Primeiros e seus poderes são primordiais; e por último muito, muito sangue vindo de magos, pois os magos distorcem a realidade como deuses, mas os deuses não sangram, pois são feitos de éter e o que sai deles é éter puro

Sinto Morgana tremendo ao meu lado como se entendesse o que estava se passando e meu pai também parecia rapidamente entender:

-Meu senhor precisava então que os vampiros lutassem com lobisomens e ele conseguiu fazendo com que um lobisomem desertado recuperasse sua marca mística utilizando magia antiga e então começasse um extermínio de vampiros, meu senhor precisava de sangue de fadas então armou todo um falso conflito ao lado da rainha das fadas para que elas voltassem para a Terra, meu senhor precisava de sangue de um nobre demônio então fez com que ele perdesse os poderes trazendo de volta sua amada foi mortal por seres místicos dentro de uma biblioteca antiga, depois fez com que ele voltasse para o inferno e trouxe de volta o primeiro deus sendo um deus do inferno que acabaria com tudo se pudesse, então fez com que o demônio se encontrasse com o único da sua espécie que ainda sabia como criar as chamas negras para que treinasse e fizesse com que seus poderes alcançassem o patamar de um deus, meu senhor precisava do sangue de um dragão então fez com que um dragão-rei lutasse contra um certo demônio e se afeiçoasse a ele lhe entregando o último ovo de dragão e o chocasse levando-o para várias batalhas, meu senhor também precisava de sangue de magos então fez com que um caçador fosse morto pelas mãos de um deus que foi trazido de volta a vida por magia fazendo com que um velho mago-caçador entrasse em fúria e viesse matar seus velhos amigos em busca de vingança pelas suas falhas de outrora, meu senhor precisava de uma Guerra e foi isso que ele criou

Naquele momento os olhos de Flamel brilhavam de prazer vendo as caras que meu pai e mãe faziam. As chamas negras se espalharam parecendo dois pilares negros, mas meu pai não estava surpreso com aquilo, ele tomou uma feição neutra e observou o crepitar das chamas como se elas fossem pequenas brasas inúteis:

-Seu mestre é assustadoramente genial e isso não posso negar – disse meu pai calmamente ainda observando as chamas – Uma pena que ele não tenha bons olhos para escolher seus seguidores

-Aonde quer chegar com isso John? – Robert não conseguia controlar sua raiva e suas chamas começaram a tomar uma estranha forma, lembrava uma serpente, mas era deformado demais para eu ter certeza

-Quero chegar ao ponto em que digo que você é um imprestável inútil Robert, não acho que você se lembre o dia em que Morgana foi escolhida a líder dos magos ou se lembra?

-Claro que lembro, ela foi escolhida por ser a mais forte, mas isso já é a passado e agora com meu novo poder eu sou invencível

-Você está errado Robert, eu fui escolhida porque era a mais forte presente – minha mãe corrigiu o homem e olhou para meu pai com um sorriso – O verdadeiro mago mais forte havia a poucos dias desertado de seu titulo de mago e havia retornado as suas origens enquanto o segundo mais forte havia ido viver com os lobisomens para morar com sua amada, eu só era a numero três na época e atualmente ainda sou a numero dois

-Que bom que assume que não pode me derrotar – disse o homem com escárnio

-Eu não me referia a você Robert, me referia ao desertor, o homem conhecido como maior mago desde o Primeiro Mago, chamado pelos caçadores e inimigos como o Exterminador, o homem que roubou meu coração desde que o conheci e o pai da minha filha

-Pare com a bajulação Morgana e diga logo que sou eu – pensei que meu pai soaria arrogante e orgulhoso falando aquilo, mas ele parecia calmo e sem um pingo de arrogância, como se tudo aquilo fosse a coisa mais obvia do mundo e que não se orgulhasse por isso – Está na hora deu lhe ensinar a diferença entre nós Robert

-Então venha John – a estranha serpente flamejante de Robert já ia avançar contra o meu pai quando ele apenas ergueu o dedo médio para as chamas e então elas sumiram – O que você acabou de fazer?

-Como acha que nossas balas mataram os magos tão facilmente? Não gostaria de soar arrogante, mas sem mim aqui talvez nós não tivéssemos nem passado do portão da frente, você sabia que todo mago nasce com algum dom secreto dentro de si?

-Claro que sei, mas nem todos são capazes de despertá-los não importa o quanto tentem, isso é o básico John

-Exato, dizem que os dons mais raros são o dom da premonição e o do entendimento, mas isso não é verdade, existe um dom ainda mais raro que é o meu

-E qual seria esse dom tão raro que você carrega Winchester?

-Um dom que me pareceu perfeito já que sou um caçador, um dom que algo me diz ter a ver mais com o meu sangue do que penso, o dom de negar

-O que você quer dizer com negar?

-Eu posso negar qualquer magia idiota, magia é o dom de manipular a realidade, mas eu posso trazê-la de volta ao normal simplesmente querendo que isso aconteça por isso não existe magia que eu não posso desfazer, proteção que não sucumba ante a minha presença, ilusão que não se desfaça ao meu tocar, com exceção da magia da imortalidade de Zan que por mim ainda é uma incógnita

-Está querendo me dizer que magia é inútil contra você?

-Exatamente

-Ridículo, não existe tal poder

-Que seja, não me interessa o que você acredita, no fim você vai morrer de qualquer forma

-Calado John! Você me força a ter que chamá-lo

-Não me diga que finalmente vai trazê-lo?

-Sim eu vou, meu adorado avatar e sem duvidas um dos mais poderosos que alguém pode invocar

O chão começou a tremer e novamente uma pira flamejante surgiu e depois se desfez. No lugar da pira estava o ser que pensei ser uma estranha serpente e também entendi porque achei tão estranho, o corpo da criatura era de serpente, mas ela era mais grossa que uma serpente comum, suas escamas eram de um verde-escuro pegajoso e sua cabeça não lembrava a de uma serpente, mas sim a de algum tipo de dragão, além de ter oito patas.aquela criatura era uma das mais perigosas de todo o universo e poucos eram os seres que ousariam enfrentar um bicho daqueles de frente, um basilisco:

-Está é minha adorável e mortal Medusa, mas acho que vocês já se conhecem

-Sim claro que conheço, até zombei da sua cara quando pôs o nome de uma das górgonas como o nome de seu basilisco só por terem o mesmo poder

-Você vai me pagar por todo o passado John

-Você não passa de um pirralho amargurado que só cresceu em tamanho Robert

 O basilisco ainda estava de olhos fechados e rezava para que ele continuasse assim, o olhar de um basilisco é capaz de transformação qualquer criatura em pedra como se fosse uma górgona além de serem capazes de expelir um veneno mortal pelas suas presas capaz de matar em menos de um segundo uma baleia-azul mesmo acertando de raspão a mordida.

Mesmo observando um dos seres mais mortais do universo, meu pai preservava sua calma absurda. Ele andou calmamente até sua Winchester 22 e a apontou para o monstro que continuava estático:

-Não me diga que está pensando em enfrentar meu basilisco com essa arma ridícula John? – o senhor Flamel riu como se aquilo fosse uma piada, ele nunca então devia ter visto meu pai usando aquela arma, a arma que o conferiu o titulo de o Exterminador por um bom motivo

A criatura soltou algo que deveria ser um bocejo e abriu a boca mostrando uma fileira de dentes enormes e amarelos que escorriam um pegajoso liquido verde. Meu pai então simplesmente observou a criatura e agiu mais rápido do que um pensamento. A bala rasgou o ar, mas não achou o basilisco, o tiro passou pela criatura e acertou o senhor Flamel bem no centro do esterno fazendo-o cair para trás, mas continuava vivo:

-Então você percebeu seu maldito? – disse Robert levantando e tirando da blusa um colar feito de platina com algo que devia ser uma pedra no centro, mas aquela pedra exalava uma terrível energia, uma energia que não pertencia ao nosso universo

-Como não iria perceber? Sou o maior exorcista da atualidade por um bom motivo imbecil, essa maldita pedra vinda do inferno exala tanta energia demoníaca que seria impossível para alguém como eu não perceber e quando você me disse que seu mestre havia lhe conferido o poder sobre as chamas negras associei logo a algum item infernal

-Você é bom, mas vai precisar melhorar muito para me vencer

O basilisco ergue a boca e cuspiu um longo filete de liquido verde na direção de meu pai que simplesmente rolou para o lado com calma. A Winchester 22 foi automaticamente apontada para a cabeça da criatura e a bala foi disparada com precisão bem no meio da testa da criatura, só não acertou.

O enorme lagarto cuspiu novamente e seu veneno acertou a bala com tamanha força e precisão que pareceu absorver o projétil e voltá-lo contra o meu pai que novamente rolou para o lado escapando do liquido mortal. Novamente meu pai atirou, mas dessa vez foram três tiros e dessa vez o basilisco não cuspiu o veneno, ele simplesmente abriu a boca e mordeu com precisão os três tiros esmagando as balas entre os dentes como se fossem docinhos.

O avatar de Robert era realmente uma criatura assombrosa, a precisão, o raciocínio e as habilidades do basilisco eram muito superiores ao de vários monstros e tudo aquilo não era obra de feitiço algum, o bicho era forte e inteligente por conta própria. Mas isso não seria o suficiente para vencer meu pai e de alguma forma Medusa sabia disso e por isso lentamente começava a abrir seus olhos pra revelar sua cartada mais perigosa.

Meu pai ergueu a arma e observou o basilisco enquanto ele abria os olhos, assim que os dois cruzassem olhares a morte era instantânea então não entendia porque ele não parava de encarar o bicho. Antes que os olhos do basilisco abrissem por completo um total de três tiros foram emitidos e novamente o lagarto abriu a boca e mordeu as balas com precisão, mas antes que ele pudesse sequer se vangloriar de tal ato ele grunhiu de dor. Seus olhos estavam sangrando.

Observei o cano da arma do meu pai e ela estava esfumaçando, tentava entender o que tinha acontecido e o Flamel também só que diferente de mim ele demonstrava seu espanto:

-O que você fez com meu avatar?! – gritou Robert e antes mesmo de ouvir a resposta começou a ver Medusa começar a se dissolver como se fosse feita de gelo seco – O que você fez?!

-Foi algo bem simples – meu pai suspirou e observou a criatura se desfazer no ar – Eu atirei cinco vezes, mas utilizando uma simples ilusão fiz vocês verem e escutarem apenas três tiros e até mesmo o basilisco caiu nessa, ele então mordeu as três balas e deixou as outras duas acertarem em cheio seus olhos

-Isso não explica onde ele está

-Isso é ainda mais simples, lembra-se qual é o meu dom? Eu posso negar magia e você sabe o que são os avatares? Magia pura e condensada

-Está querendo me dizer que você simplesmente a “negou”?

-Sim,  mas não é tão simples quanto parece, não posso simplesmente negar uma forma de vida como um avatar a não ser que eu o toque diretamente e não seria tolo a ponto de querer tocar um basilisco então recorri a outro método, usei Orihalcon  

-Orihalcon? O lendário metal que dizem ser o melhor condutor de todos e ainda seria capaz de conduzir magia?

-Sim o próprio, o metal que brotava aos montes nas minas de Atlântida e que teria desaparecido quando a cidade afundou, mas as três grandes famílias de caçadores preservaram o que sobrou e fizeram balas com eles, três para cada família totalizando nove balas

-Eu não vi você recarregando sua arma então quer dizer que...

-Quer dizer que eu já previ que acabaria precisando usar minhas balas em algum avatar ou feitiço poderoso demais então as deixei como as últimas do meu pente porque jamais precisaria usar todas as minhas balas se meu adversário não fosse bom o suficiente

-Eu te odeio John!

-Eu sei Robert e te entendo perfeitamente, eu também me odeio

O último tiro do pente cortou o ar e acertou o Flamel bem no coração fazendo o homem cair e dessa vez não se levantar. Sangue começava a formar uma poça aos poucos e meu pai caminhou a passos curtos até o corpo, no caminho pegou as duas balas que mataram o basilisco e então parou em frente ao corpo de Robert:

-Eu vou ficar desse jeito? – perguntou mina mãe encarando meu pai com calma e até pena

-Não, de você não vai sobrar nem o corpo – ele disse de uma maneira tão fria que aquilo tinha que ter algo muito grande por trás, não podia ter sido só a morte do George que criara tanta raiva, ela só libertou o que já havia

-Que assim seja então

-Não vai tentar lutar? – meu pai enfiou a mão no peito de Robert e arrancou facilmente a bala cheia de sangue

-Não teria lógica, eu perderia de qualquer forma e se for para morrer não gostaria de morrer te machucando

-Porque você já me machucou demais enquanto estava viva não é mesmo?

-Exatamente

-Você se lembra por que eu te odeio tanto?

-Não teve um único dia que não lembrasse e saiba que concordo com você

-É claro que concorda, você só é uma traíra desgraçada de duas caras, mas nunca foi burra – eu queria entender sobre o que os dois falavam,  mas por mais que soubesse que tinha tudo a ver comigo eu não entendia nada – Sabia que quando matei ele me senti absurdamente feliz?

-Suspeitava, você sabia que não precisava ter desertado não é?

-Sim sabia, mas não podia mais olhar na sua cara e na de todos os outros depois do que aconteceu, principalmente na sua cara

-Meu irmão me deu um tapa quando descobriu e minha mãe chorou de vergonha enquanto me xingava dos piores nomes, hoje em dia acho que para os jovens isso é tão comum que eles nem devem mais estranhar

-Pois é os tempos mudam e raramente é para melhor Morgana

-O que você sentiu quando lhe entreguei Amy aquele dia?

Meu pai parou por um momento, limpou a bala, guardou-a no bolso junto das outras duas e olhou para o céu. Muitas lágrimas caiam dos seus olhos e por um momento o grande Exterminador me pareceu uma criança:

-Quando te vi senti todo o meu ódio voltar como uma explosão – ele disse depois de muitos minutos de silencio e lágrimas – Mas quando você me entregou aquela coisinha tão linda tudo pareceu sumir, nem mesmo me perguntei se ela poderia ser filha dele e não minha, somente a agarrei com todas as minhas forças e a amei o máximo que eu pude, ela foi minha base quando meu mundo ia desmoronar

-Bom saber – era o momento de minha mãe chorar e aos poucos meu pai preenchia a Winchester 22 com as três balas de orihalcon que havia guardado nos bolsos e mirava para minha mãe com seus olhos vermelhos – Eu nunca a deixei de amar, sempre estive olhando para ela enquanto crescia, vendo nas sombras ela se tornar uma linda mulher

-Uma linda mulher como a mãe, mas que não trai aqueles que ama

-Isso é verdade, no começo não queria ensiná-la magia, queria que ela vivesse longe desse mundo, mas depois que soube que ela sozinha tinha aprendido a usar seus poderes e tinha lutado contra os the killers na biblioteca de Caim não consegui me controlar e tive que treiná-la, treiná-la para que se tornasse a pessoa que nunca fui e que ela pudesse usar com sabedoria seus poderes para o bem de todos, mas só então percebi o obvio

-Que obvio?

-Que ela já havia sido muito bem treinada na vida pelas mãos do pai dela, nunca tenha dúvidas John de que você é o pai dela – minha mãe deixou que uma última lagrima caísse antes que meu pai mirasse bem no seu coração

-Suas últimas palavras Morgana?

-Eu só quero que você saiba que somente amei duas pessoas em toda minha vida, você e ela John, só vocês e ninguém mais e que se pudesse mudar uma única coisa do meu passado teria sido nunca ter te traído com ele e com ninguém

-Que seja...

Soltei um grito e quando percebi estava no meu corpo de novo, lágrimas desciam dos meus olhos, mas não me importei, simplesmente abri a porta ignorando a reação dos outros e corri em direção ao salão como se algum ser humano pudesse percorrer toda aquela distancia mais rápido do que uma bala pudesse acertar um alvo a poucos metros.

Antes mesmo que eu desse o primeiro passo no corredor eu escutei o barulho do tiro, e ele não veio só. Mesclado ao som do tiro veio o barulho de uma parede desabando.


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Notas finais do capítulo

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