Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 40
Capítulo 40 - Fogo


Notas iniciais do capítulo

Oi. Oi. Oi. Peço perdão mil vezes por ser uma escritora desmiolada que esquece de postar, não irei mentir meninas, eu estava me preparando para o projeto (e é decepcionante admitir que eu não consegui mais que alguns paragráfos). Onde minhas leitoras estão? Preciso ser motivada, onde estão os reviews?
Boa leitura
xoxo Isa



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Venha, venha. Chegue perto o suficiente para eu pôr minhas mãos em você. Eu quero sentir o gosto do seu sangue, filho da lua. Em minha mente, as palavras ecoavam como ondas que se erguem e se quebram na praia, transpassando o véu da minha visão e escorregando lentamente para ele. Eu vi os olhos da criatura fitarem meu rosto por dois ângulos diferentes. O quê era real e o que era imaginário se misturava em sua mente vazia, e meus pensamentos, naquele instante, eram também os pensamentos dele.
Ele correu e continuou a correr, avançando sobre as quatro patas e sem nenhum traço de lucidez, diretamente para mim. Uma breve hesitação retesou seu corpo esguio apenas por um segundo, e eu senti que ele podia me ouvir, de uma forma que eu não sabia explicar, eu sentia que minhas palavras mudas eram para ele como pontas afiadas que cutucavam seu corpo, uma fisgada no orgulho de quem jamais fora desafiado. Era difícil de entender, mas eu não o temia e naquele momento, não conseguia pensar muito bem sobre isso. Eu estava ali, olhando-o nos olhos, e o quê vi foi a crescente atração que minha súbita coragem provocava nele, mais irresistível que o sabor de meu sangue. O anseio dele me alcançava com imagens pálidas. Seus dentes perfurando minha pele e secando minhas veias, enquanto meu coração lutava para não sucumbir à morte, resistindo à ele como nenhuma outra criatura jamais o fez.
Meio segundo, talvez menos que isso... Enquanto eu era arremessada ao chão, minha mente se acendia para o entendimento de que aquela conversa não aconteceu realmente.
Senti o peso quente sobre mim, meus pensamentos se emaranhavam com os daquela criatura vazia – tão vazia que me fazia sentir frio, mesmo sob o corpo enorme que queimava contra minha pele. Meus pensamentos, os pensamentos dele. Fundiram-se naquele breve momento em que estive sob a mira de seus olhos mortos.
As folhas secas agarravam-se em minhas roupas como animais rastejantes. Mãos quentes me apertavam contra o chão. Olhei por sobre o ombro largo que me pressionava na relva úmida, os rugidos bestiais ainda ressonavam em algum lugar muito perto de mim.
– Jake, o quê você está fazendo? - Sussurrei trêmula em seu ouvido.
– Salvando sua vida. – Respondeu ele, a voz rouca presa na garganta, tentando escapar pelos dentes firmemente cerrados. Jacob rolou de lado, ofegando, o coração martelando freneticamente. Me apoiei nos cotovelos para olhar em volta e com um súbito estremecimento percebi o quão perto estive da morte.
– Jake, por quê você está nessa forma? É perigoso demais. – Balbuciei as palavras sem pensar muito no que estava dizendo. Meus olhos seguiam, vidrados, o esforço dos lobos para conter a criatura, enquanto registravam com uma pontada de culpa, os ferimentos que se abriam e sangravam entre seus pêlos espessos.
– Se eu tentasse te agarrar na outra forma, teria feito mais estrago que ele. – Respondeu Jacob, com um aceno soturno para a criatura.
– Eu vi a mente dele. – Sussurrei para ele, sem me dar conta, até aquele momento, do quê realmente havia feito. – Eu deixei meus pensamentos escaparem para fora de mim e de repente eu estava vendo coisas da mente dele. Eu sentia a sede dele, Jake... – Olhei para Jacob com uma pontada de medo crescendo dentro de mim, confusa e atormentada pelos breves momentos em que aquele monstro esteve dentro de mim. Jacob sustentou meu olhar, o rosto intransponível.
– JAKE! – Ouvi a voz de minha mãe gritar para nós de algum lugar que eu não podia ver, e no mesmo instante Jacob me envolveu em seus braços novamente, colocando seu corpo sobre o meu como um escudo humano. Por sobre o ombro moreno eu vi, horrorizada, a criatura se aproximar como uma sombra gelada. Quando os dentes pontudos faiscaram sobre nós, perto o bastante para nos matar, eu enlacei meus braços no pescoço de Jacob e fechei os olhos. Eu não deixaria ele morrer por mim, eu ficaria com ele até o fim, então nós dois morreríamos. Zero a zero.
Enquanto mantive os olhos fechados, eu pude vislumbrar novamente aquelas imagens distantes da mente dele. A sede eterna, um fogo consumindo seu corpo – meu corpo – eternamente. Mais imagens vieram, desgastadas, desconexas, cenas se apagando na escuridão, como velas num altar esquecido. A lua. Pálida e soberba, rasgando o céu como uma boca de luz incandescente, engolindo a noite, faminta, tão faminta... E o fogo, devorando a aldeia, perseguindo a escuridão da floresta com olhos brilhantes, um fantasma queimando as sombras e me queimando por dentro.
Abri os olhos. Por um segundo eu esperei ver o céu – ou o inferno. Me senti secretamente feliz por ter encontrado a morte depressa, sem dor, e com ele em meus braços. Eu estava me sentindo quase feliz... Mas aquele rosto, aquela forma imóvel e esguia estava realmente ali? Aqueles olhos me seguiriam até na morte? Eu deveria estar no inferno, revivendo todas as coisas ruins que fiz, recebendo o castigo por desejar dois caminhos que jamais poderiam se cruzar. Sim, esse é o inferno, mesmo sendo tão bom poder olhar para ele novamente, enquanto tinha o outro em meus braços, esse decididamente era meu inferno, minha perdição eterna. Alec, Alec... Por quê você veio até aqui para me atormentar? Ou será você o anjo da morte, trazendo dor e incerteza para meu coração, toda vez que me deixa?
– Você está bem? – A voz de Jacob me alcançou no turbilhão de pensamentos que se misturavam em minha cabeça. A lua...a lua crescendo sobre mim...
Não! Aqueles não eram meus pensamentos, não eram minhas lembranças, eu precisava impor algum sentindo em minha mente. Olhei para o rosto pálido e suado de Jacob, pairando sobre mim com tanto cuidado, os olhos negros me encaravam, examinando meu estado, como se eu fosse uma peça de porcelana. O hálito quente em meu rosto, o cheiro da pele, do sangue... Era tudo bem real, por um momento minha cabeça girou e meus olhos ganharam foco novamente, como se uma névoa espessa tivesse se dissipado. O cheiro do sangue de Jacob me despertou, tão doce e forte, tão quente... Escorria em linhas finas sobre mim, traçando um caminho lento por seus ombros e braços, ensopando minha roupa, gotejando sobre meu rosto imóvel. Olhei em minhas mãos, tremendo, e havia tanto sangue.
Meu sangue, o sangue de Jacob... se misturando, nos envolvendo como um manto.
– Jake. – Sussurrei, ofegando, o desespero ganhando partes de mim.
– Shhh, eu estou bem. – Disse ele afagando meu rosto com as mãos grandes demais.
Olhei em volta. Por quê Alec estava aqui? Ele não estava aqui um segundo antes, não até que fechei meus olhos.
Eu não podia ver a criatura, não podia ver os outros tampouco, embora as vozes me chegassem próximas, claras como cristal.
– Você está bem? – Perguntou Alec sem desviar o olhar de algum ponto a sua frente.
– Estou ótimo, foi só um arranhão, graças a você. – Respondeu Jacob fitando meu rosto.
Diante de mim havia apenas o corpo trêmulo de Jacob e a silhueta imóvel de Alec, mas eu sabia que os outros estavam ali, podia senti-los.
– Ness, deixe-me ver isto. – Disse Jacob, colocando-me sentada enquanto me aninhava em seus braços e examinava preocupado os profundo cortes em meus braços, que vertiam sangue livremente.
– Já está fechando, eu estou bem. – Respondi, desviando minha atenção para as palavras rápidas de Alec. Tentando entendê-las em meio aos zumbidos que insistiam em sussurrar em meus ouvidos, vozes que me chamavam de dentro das memórias que não eram minhas.
– ...alguém precisa ir ajudar Edward e Carlisle. Eles precisam de mais ajuda que eu. – Disse Alec, respondendo à alguém.
– Onde eles estão? – Mesmo dalí eu pude sentir o desespero de minha mãe enquanto se dirigia, aflita, até Alec.
– Seguimos Aro até Volterra. Eles estão lá, e acredito que ainda estejam. Mas Bella... leve mais alguém com você.
– Eu vou. – Falou Zafrina. – Não estou ajudando em nada aqui.
– Eu também irei, se estiver tudo bem. – Disse Benjamin, lançando um olhar atribulado para mim.
– Você pode ir Benjamin, mas preciso de Willian aqui. Além disso, nós temos outro problema. – Alec deu alguns passos cautelosos, contornando um rochedo e um agrupamento de árvores, onde uma trilha de sangue se arrastava até perder-se na relva. Ele olhou para o alto do rochedo e seguindo seu olhar, eu pude ver a figura obscura o encarar, os olhos negros sob um domínio tênue. – Jasper está precisando de ajuda nas montanhas, e talvez devamos mandar os lobos para lá. Eu posso acalmar o filho da lua por algum tempo, mas não é muito. Ele agora não está sentindo dor, mas a raiva ainda está nele, eu posso sentir. Ele vai atacar novamente, e quando ele o fizer, nós precisamos estar prontos.
– Como matamos o desgraçado? Amun não te contou nenhuma história sobre isso Ben? – Disse Willian, aproximando-se de Alec.
– Desculpe, ele não disse nada, ou talvez eu tenha deixado de prestar atenção em suas histórias. – Respondeu Benjamin taciturno.
Eu ouvia tudo num silêncio distante, com minha mente trabalhando depressa, com aquelas imagens pálidas sobre a vida daquele ser incompreensível, enquanto me obrigava a manter meus pensamentos nesse plano, em minha própria vida, participando de meus próprios pesadelos. Pensei na dor que Alec mencionou, e imaginei que tipo de dor ele sofria, Jane estava bastante longe para não o fazer mal. Eu sentia que entendia aquilo, embora não o fizesse conscientemente. Uma dor tão antiga quanto seu próprio sangue, tão parte dele quanto a sede abrasadora. Sim, eu podia entender por que provei aquela pequena parcela de suas lembranças, tão saturadas de dor que me faziam arder sob aquelas imagens.
Fogo. Fogo consumindo meu próprio ser, incinerando cada ínfima parte, ofuscando meus olhos naquela escuridão eterna.
Por sobre as ondas incertas que se debatiam em minha mente, esse pensamento se desprendeu, e sem que eu me desse conta, as palavras formaram-se em minha cabeça e simplesmente escaparem pela minha boca.
– Fogo. O Filho da lua deve morrer pelo fogo.


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