Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 41
Capítulo 41 - Ultimato final


Notas iniciais do capítulo

MENINAS APENAS MAIS 2 CAPÍTULOS PARA A SEGUNDA TEMPORADA MUAHAHAHAHHAHA EBA! Estou tão ansiosa, mal posso esperar para ver a reações de vocês aos capítulos que ainda não foram lidos. Devo acrescentar que o romance de JakeNess ficará frio no decorrer dos capítulos. Devo-lhes dizer também que provavelmente demorarei um pouquinho mais para postar os próximos capítulos, estou tendo alguns problemas familiares e tudo mais. Para a segunda temporada farei outra capa (dessa vez uma descente) para a fic. Enfim boa leitura.



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-O quê disse? - Perguntou Alec, aproximando-se de mim silenciosamente. Jacob estreitou os braços em minha volta e tentou não encarar tão rudemente a pessoa que acabara de salvar nossas vidas. Engoli com dificuldade a bola presa em minha garganta e disse:
- Eu vi a mente dele Alec. Eu não sei como, mas vi. Por um momento meus pensamentos saltaram de dentro de mim e as memórias dele vieram. É tudo caótico, atemporal, nada tem coesão, mas eu senti... Eu não sei explicar como isso é possível, mas eu senti o medo dele, a aversão pelo fogo. - Enquanto falava, eu podia sentir os olhos de todos presos em mim, e o silêncio que era quebrado apenas por minhas palavras e pelos roncos grotescos da criatura que repousava num estado de inércia. O vento corria livre pela clareira, as árvores se agitavam acima de nós, encobrindo o céu claro e os raios de sol. Alec ouvia minhas palavras com olhos atentos, o rosto frio intransponível enquanto me olhava. Minhas palavras eram tão estranhas para mim quanto eram para os outros, mas eles não sentiram o que senti, eles não viram o horror e a escuridão que inundavam a mente daquele ser. Meu pai entenderia, ele saberia nos dizer o que aconteceu.
- Como isso é possível? - Ela nunca fez nada parecido antes... A voz de Jacob ressonou baixa às minhas costas, e quando olhei para ele, vi que encarava o rosto tenso de minha mãe.
Uma raiva súbita tomou conta de mim, e sem que eu tivesse a chance de me controlar, coloquei-me de pé e me afastei de Jacob e de seus braços protetores. Eu estava cansada de ser olhada daquele jeito, como uma aberração indefesa.
Os cortes nas costas de Jacob já haviam fechado, enquanto meus braços estavam apenas sujos e doloridos com as marcas rosadas das cicatrizes que logo sumiriam.
Ignorei os olhos atentos de minha mãe que me seguiam como fendas de calor, e caminhei até o corpo imóvel e grande da criatura. Enquanto me aproximava, eu tentava não me sentir culpada ou envergonhada pelo modo que eu vinha agindo, a raiva por ser protegida e vigiada por todos me pinicava por dentro, oscilando silenciosamente dentro de mim. Eu estava farta de ser salva por todos, de ser poupada sempre. Quantas vezes eu estive frente a frente com a morte? Mesmo assim, aqui estava eu; a aberração preferida das criaturas insanas. Primeiro Aro, depois isto? Pensei, encarando os olhos vidrados do lobisomem a minha frente.
- Ela pode estar certa. - Ouvi Benjamin dizer. Afinal, nós também não somos lá tão fãs de uma fogueira, certo?
 - Isso não é um vampiro Benjamin. É a droga de um monstro de mais de dois mil anos, nós não sabemos nada sobre ele, e pode ser que, assim como nossa espécie, ele fique mais forte com o tempo. Todos nós sabemos o que os anos fazem conosco. - Willian se aproximou de mim, suas palavras ecoaram pelas árvores e morreram no silencio do vento.
- Nós precisamos tentar. - Disse Jacob, ocultando sua nudez com uma camisa semi destruída.
- Se nós colocarmos fogo nele e não funcionar, eu não serei mais capaz de usar meus poderes para acalmá-lo. Esses são monstros controlados pelo ódio, quando estão enraivecidos, nada pode controlá-los. - A voz de Alec soava distante em meus ouvidos, e estranhamente, como num túnel, eu me vi afastando-me do grupo, sendo tragada por uma força invisível. Os olhos negros me fitaram, desprendendo-se da estagnação e do torpor, e quando o brilho selvagem faiscou em mim, eu senti a força atrativa que exerciam. Ele estava me puxando - como se usasse as próprias mãos para dentro de si. Um turbilhão de força chacoalhou meus pensamentos por um instante, e antes que eu sucumbisse novamente à mente obscura dele, eu gritei:
- Alec! - Senti o vulto negro passar por mim como um sopro de uma brisa gelada. Alec parou em frente a criatura, entre mim e aqueles olhos negros, e mesmo sem poder enxergar, eu pude sentir a força maciça de poder desprendendo-se dele, envolvendo a criatura como um casulo de fumaça e torpor.
- Não posso contê-lo por muito mais tempo.- Disse Alec, a voz entrecortada pela concentração intensa.
- E então, o que faremos? - Perguntou Benjamin, ansioso.
- Vocês vão para Volterra, as coisas podem estar piores lá. - Alec se moveu de forma que só seu perfil pálido ficasse visível para os demais. Por entre as sombras das árvores, eu pude ver os olhos vermelhos faiscarem no rosto disforme da criatura que se debatia freneticamente.
Os lobos... Resfolegou ele, enquanto tentava conter os espasmos violentos da criatura. Leve alguns para as montanhas. Jasper precisa de... Os urros furiosos impediam que Alec terminasse de dizer à Sam o que ele pretendia. Ele tremia, tentando manter os olhos fixos na fera. Os outros se afastaram, desviando dos destroços que eram lançados pelas patas do animal. Eu fiquei ali, um passo atrás de Alec, não podia deixá-lo enfrentar sozinho a ira daquele monstro.
- Ness, saia daqui. Vá com eles para Volterra, não é seguro... - Gritou Alec por sobre o ombro.
- Alec, você tem que se afastar. Você não vai conseguir segurá-lo por mais tempo. - Minhas palavras confundiam-se com os rugidos que rachavam nossos ouvidos. Enquanto eu me obrigava a pensar num modo de tira-lo dalí, eu novamente me surpreendi olhando para a criatura. Dessa vez porém, eu ouvi sua voz, e o quê ele me disse naquele momento, me seguiria por toda minha vida.
- Pare com isso! - Gritei, levando as mãos aos ouvidos. Senti uma leve agitação a minha volta, mas não podia saber quem era, embora tivesse uma turva sensação de que alguém gritava para mim. Minha mente era bombardeada por imagens perturbadoras e vozes que se misturavam à minha própria voz num turbilhão desesperado que engolfava meus sentidos. Os gritos desesperados de um homem ensurdeceram meus ouvidos, rasgando meus pensamentos como garras afiadas, e através de meus próprios olhos, eu me vi indo ao encontro dele. Alguém estava morrendo, eu podia sentir o cheiro de sangue no ar. O cheiro queimava meu corpo como se o próprio fogo estivesse vertendo de dentro de mim. Não era nada como o sangue dos aldeões, que misturava-se como sal e ferrugem, quente e viscoso, mas sangue é sangue, e eu estava faminto. Uma criatura gelada se aproximou de mim, e tinha um cheiro terrível, adocicado, tão forte que fazia minha cabeça doer e minhas narinas arderem. Ele trazia nas mãos um coração ainda pulsante, e através da escuridão e da dor que rachava minha cabeça, ele lançou o coração ainda quente para mim. Eu o engoli inteiro, rugindo com a fome abrasadora, enquanto ouvia os risos cortantes daquela coisa morta e gelada que me observava com olhos vermelhos. Por entre as grades que me enclausuravam eu vi o rosto imóvel da criatura que perdeu seu coração para saciar minha fome.
 - Pare, pare! - Minha voz parecia longínqua embora eu estivesse gritando a plenos pulmões. E não importava o que eu fizesse, o rosto de Nahuel ainda permanecia ali, sob minhas pálpebras, como se eu mesma estivesse assistindo Aro arrancar seu coração e jogá-lo para a criatura, eu senti o gosto enquanto ele engolia o órgão ainda quente.
 - Ness, pare com isso! - Alguém gritava para mim, eu não sabia se era real, mas a voz dissolveu a escuridão daquela cena terrível e logo eu pude ver Alec, jovem e humano, correndo por um caminho de pedra, sorrindo sinceramente sob a luz de um dia quente, e uma garotinha vinha logo atrás dele, e ela sorria também, os cabelos dourados ficavam ainda mais claros na luz. Seus grandes olhos azuis seguiam o pequeno Alec onde quer que fosse, e ele sabia que ela queria ser tão rápida e esperta quanto ele... Mas então o céu escureceu, e tudo em volta se tornou sombrio, os irmãos já não estavam mais ali. Grandes árvores ameaçadoras se fecharam sob mim, e em algum lugar eu podia ouvir passos leves e velozes sobre a relva baixa. Então eu vi três mulheres grandes e morenas correrem por entre as árvores, a primeira delas conduzia as outras por entre a escuridão e sem que pudessem perceber como, um bando de homens encapuzados saiu de dentro da escuridão, eles agarraram as três mulheres. Elas não conseguiram lutar, eles eram muitos, a primeira delas gritou de dor enquanto assistia as outras duas serem destroçadas, e antes que pudessem acender as piras para queimar seus restos, os homens levaram a mulher da selva pela escuridão adentro. Zafrina chorava sem lágrimas enquanto era levada pelo exército Volturi.
- Façam ela parar!- Gritava alguém repetidamente, enquanto um turbilhão de outras vozes e imagens rodopiavam em volta de mim. Eu não sabia mais aonde estava, eu estava perdida? Impossível, esse era o caminho, o mapa dizia exatamente a mesma coisa. Olhei em volta novamente, e com grande alívio eu vi a nossa campina se abrir diante de mim, um lugar de magia onde eu sempre poderia ir para encontrá-lo uma vez mais. Era lindo, a relva coberta por flores silvestres, o sol se pondo e o crepúsculo tingindo o céu, mas eu, estranhamente, a achei tão vazia e desoladora quanto um deserto estéril. Ele não estava ali, ele não voltaria jamais. A campina sem ele era nada mais que um amontoado de mato.
Essa será a última vez que você me verá...
Oh Deus, doía, como doía. Minha cabeça girava e era espremida por uma onda incessante de imagens e lembranças que se alternavam tão rapidamente que não me deixavam espaço para saber que era eu. Eu era o monstro comedor de corações? Era o pequeno Alec? Ou era Zafrina? Poderia eu ser Bella, abandonada por seu amor numa campina esquecida? Quem? Quem era eu nesse mar de memórias?
Uma torrente de imagens me envolveu e eu senti que elas me envolviam como fumaça, e eu estava sufocando. Senti que estava caindo, alguém comprimia meu tronco, um abraço gelado me envolvendo, uma película de luz caindo sobre mim como água fria.
- Ness, Ness... Volte para mim. Volte para sua mãe querida. - A voz suave soprava em meus ouvidos, e enquanto eu tentava alcançá-la, eu via mais e mais rostos e imagens passarem por mim. - Eu te amo Lavínia, e não vou te condenar a mesma maldição que me cerca.-

- Não, não, por favor. Amun, não me deixe aqui, leve-me com você, eu quero ser seu filho, por favor... - 

-Eu nunca vou me perdoar por ter feito isso com você Emily. Eu te amo-

-Renesmee, eu sempre te amei... -

- Ness!- Gritou minha mãe. Abri meus olhos, sem saber que eles estavam fechados. Eu ainda podia sentir o poder do escudo dela me envolvendo. Minha cabeça latejava de forma violenta, eu me sentia com a disposição de quem acaba de se lançar de um prédio de vinte andares. Olhei em volta, tentando me situar, tentando descobrir onde eu estava e quem eu era. Sim, eu era Renesmee, e estava bem aqui, no meio do pesadelo. Me sobressaltei ao ver que todos os lobos estavam em suas formas humanas, cambaleando entre os outros que colocavam-se eretos com alguma dificuldade, todos pareciam ter acordado de um desmaio.
- O quê eu fiz? - Sussurrei, e minha mãe apertou minhas mãos entre as suas. Jacob, que estava mais próximo de mim, olhou-me consternado.
- Agora está tudo bem querida, não se preocupe.- Minha mãe afagou meus ombros enquanto nos colocávamos de pé.
- Não, não está nada bem. - Zafrina se aproximou, seus olhos grandes faiscaram em meu rosto por um momento. - Bella, ela deve saber e compreender o que fez, ela quase matou a todos nós. - Me sobressaltei ao ouvir aquilo. - Ness, como fez aquilo? - Disse ela segurando-me pelos ombros e me lançando um olhar perscrutador.
- Eu... eu não sei. Eu estava olhando para a criatura e de repente ela olhou pra mim e a mente dele... Era como se ela me puxasse para dentro, e eu vi... -
- Você viu Aro matando Nahuel e alimentando a fera com seu coração. Todos nós vimos Ness, é isso o quê você fez. Você roubou as lembranças de todos nós e espalhou pelas mentes ao seu redor. Você plantou pensamentos roubados em nós. - Enquanto Zafrina falava, eu via passar em minha mente rápidos fleshs, mas apesar de entender o que eu havia feito, eu não conseguia acreditar que aquilo pudesse ter matado alguém.
- Por quê você diz isso Zafrina? Por quê acha que eu iria matar a todos? - Minha voz tremia, eu sentia o olhar de todos caindo sobre mim. Zafrina ponderou por um momento e disse:
- Eu não sei se teria nos matado, mas Ness, desde a minha transformação eu não sinto uma dor tão abrasadora quanto essa que você nos impôs. Era como sentir o cérebro rachar ao meio e se incendiar a partir do centro. Eu não teria suportado mais um segundo daquilo. - De um em um, eu fitei os rostos em volta da clareira, e ao pousar meus olhos em Alec perguntei:
- Onde está o filho da lua? - Ele se aproximou, seu rosto transparecendo uma preocupação muda.
Fugiu, se embrenhou no vale. Ele sentiu a dor também, e acredito que tenha visto tudo que vimos. Assenti sem dizer nada, enquanto sentia um medo soturno crescer dentro de mim. Eu estava me tornando algo que nem mesmo eu sabia o quê era. Reuni o pouco de orgulho e caráter que ainda restavam em mim e, sentindo meu rosto corar, disse:
- Peço desculpas a todos vocês. Eu não... não sabia o quê estava fazendo. Não pude controlar, embora isso não desculpe o fato de tê-los exposto dessa forma. - Todos permaneceram em silêncio, o quê aumentou gravemente minha humilhação e vergonha. Eu não conseguia olhá-los de frente.
- Todos nós perdemos o controle às vezes. - Disse Jacob, e percebi quando ele lançou um olhar atravessado a Sam. - Ninguém aqui pode te culpar por perder o controle, ainda mais quando estamos numa situação como esta.
- Ele está certo. - Disse Willian, aproximando-se de mim. - Mas agora não importa mais. Precisamos ir atrás daquele monstro e queimá-lo de uma vez, não há tempo para considerações e cautela. Se não atacarmos agora, ele pode sumir, ou pior, pode nos caçar como...
- Como humanos? - Interrompeu Sam. Um esgar sombrio cruzando suas feições
- Como cachorros. - Provocou Willian, sustentando o olhar soturno de Sam.
- Sam, os outros precisam da sua liderança agora, você é o Alpha.- Falou Jacob. - Vamos seguir o plano anterior. Bella, Zafrina e Benjamin irão para Volterra, você deve mandar um bando para as montanhas...
- Eu sei o quê devo fazer Jake. - Resmungou Sam e com um tremor violento, o corpo moreno explodiu num lobo negro. Seguiram-se então mais quatro transformações, Paul, Embry e Quil se afastaram com Sam até a orla de árvores e um minuto depois se lançaram em uma corrida silenciosa pela floresta. Sam contornou o tronco de um abeto e de lá saiu caminhando na forma humana.
- Eu vou ficar, já que Seth está ferido e Leah terá de cuidar dele. - Olhei por sobre o ombro de Sam, onde, entre as arvores, Leah mantinha o corpo de Seth apoiado em seu colo. Seth tinha as duas pernas quebradas e várias costelas fraturadas, mas estava consciente e nos observava de longe.
-Acha que pode cuidar disso? - Ouvi minha mãe perguntar a Alec discretamente enquanto mais planos eram traçados por Zafrina e Willian.
-Ele não deve estar longe, só precisamos chegar perto o bastante para que eu o desoriente por um momento, e então, acendemos a pira.- Minha mãe assentiu, silenciosa, enquanto lançava um olhar ininteligível para mim. Ela não estava questionando o poder de Alec de deter a criatura, mas sim de lidar comigo e com esse novo e incontrolável poder que estava brotando em mim, se desenvolvendo tão rapidamente, que eu não tinha tempo sequer de percebê-lo se manifestar. Vendo que eu a observava, ela não voltou a falar e simplesmente veio até mim e me beijou na testa, dizendo:
- Você devia vir comigo.-
- Eu logo estarei com vocês novamente. Preciso fazer isso, prometo que vou ter cuidado. - Eu não queria fazer nenhum tipo de promessa ou dizer que ficaria tudo bem, mas o quê mais eu poderia dizer a minha mãe quando ela me olhava daquela forma? Ela ponderou por um momento, e eu cheguei a achar que ela tentaria me levar com ela de qualquer forma, mas ela nada disse ou fez.
 - Cuide-se e volte para mim assim que puder. - Disse ela, enquanto se afastava e seguia com Zafrina e Benjamin para as ruínas de Volterra.
- Ness, precisamos nos apressar. - Disse Jacob, colocando a mão em meu ombro. Respirei fundo o mais discretamente que pude e disse para mim mesma que eu me manteria sob controle. Estava temerosa, e receava que aquela não seria a última vez que eu me veria perder o controle de minha própria mente. Enquanto caminhava silenciosa ao encontro dos outros, ouvi Sam dizer á Leah:
- Você vai ficar bem? Já mandei Jared vir para cá para ficar com vocês, ele chegará em breve. Se cuide Leah, e cuide de Seth por mim.- Me sobressaltei ao ver Sam acariciando o rosto de Leah, com uma ternura que eu o vira usar apenas com Emily. Leah o olhava sem dizer palavra, o olhar torturado preso no rosto de Sam como quem implora algo. Desviei o rosto daquela cena e numa rápida passagem pela clareira a minha volta, meus olhos se encontraram com os de Alec. O manto negro havia sido quase completamente destruído, obrigando-o a se livrar dos farrapos. Agora, porém, sua pele contrastava acentuadamente contra a camisa preta, que a despeito das mangas rasgadas, deixava seus braços longos e esguios nus. Também não era seguro olhá-lo, nem tampouco confortável me recordar de que já o havia beijado, de modo que me senti agradecida quando todos se reuniram para a iminente caçada que se seguiria.
- O rastro dele vai para o norte, talvez esteja indo para as montanhas. - Disse Willian, enquanto nos reuníamos para partir.
- É possível, e se ele não fizer nenhum desvio vai dar de cara com Jasper e Emmett. - Concordou Jacob. - Então aí o encurralamos.
- Não vai ser tão simples assim, você viu como ele reage quando está sem saída. - Eu percebi que Alec tentava não pousar os olhos em mim com tanta freqüência como fazia, enquanto falava, ainda mais com Jacob a meu lado, e no meio dessa disputa de olhares eu me via de cabeça baixa, escutando e tentando não me sentir tão desconfortável com aquilo.
- Temos que considerar a hipótese dele desviar e descer o vale até a cidade, há famílias morando no campo, pouco mais de dez quilômetros daqui. - Sam mantinha a voz firme enquanto falava, e percebi, ao olhar para ele, que Sam não se sentia nem um pouco a vontade com a proximidade de Willian e Alec, e talvez até mesmo com a minha.
- Acho pouco provável. - Respondeu Alec. - Não perceberam o incômodo dele com a luz do sol? Ele é uma criatura noturna e já é um mistério o fato dele estar andando por aí em pleno dia, geralmente essas criaturas dormem durante a lua minguante e só despertam no quarto crescente para se banquetear durante os sete dias da lua cheia. Por mais faminto que esteja, ele não vai correr pelos campos de trigo quando o sol está a pino. Ele vai para as montanhas, onde há grutas geladas durante todo o verão.
- Como sabe tanto sobre essas... coisas? - Indagou Jacob, e eu não pude deixar de perceber a nota de desconfiança que pontilhou aquela pergunta, nem creio que Alec o tenha deixado passar despercebido.
- Eu tive muitos anos para saber e conhecer muitas coisas. - Respondeu Alec num tom brando.
- Me parece, e não sei se vocês concordam comigo, que o fato do filho da lua ter abandonado suas tradições, tem alguma coisa a ver com aquela cena grotesca com que Ness nos presenteou. - Interveio Willian, olhei-o, sobressaltada por ter meu nome destacado naquela conversa novamente, e ponderando por um momento, eu concluí que não poderia discordar dele, nem ignorar o fato de que Aro deveria ter bons motivos para ter preparado tudo aquilo, tal como vi na mente da criatura, mesmo com as tendências teatrais e todo ar rebuscado de Aro.
- O coração. - Disse eu. - Acha que tem alguma ligação com essa mudança de hábito?
Acho que o fato de Aro ter escolhido o coração meio imortal de um mestiço, não pode ser inteiramente ignorado por nós. Ele tinha alguma finalidade com aquilo, disso eu tenho certeza. - Willian me encarou, e eu não pude deixar de notar que ele havia destacado especialmente o fato de Nahuel ser um mestiço, como eu. - Bem, pelo menos sabemos agora o quê o interessava tanto em você minha cara, uma vez que mestiços estão em falta no mercado. - Disse ele.
- Maldito. - Grunhiu Jacob.
Silenciosamente, eu tecia minhas próprias teorias sobre os interesses de Aro, mas não podia deixar de concordar com a lógica de Willian.
Todas essas considerações se firmaram num prazo de poucos minutos e logo estávamos correndo pelo vale esverdeado, com a luz do sol penetrando as árvores grandes e antigas. Jacob e Sam assumiram a dianteira, suas patas enormes rasgavam o solo úmido enquanto cravavam suas passadas rápidas na relva. Alec e Willian seguiam comigo logo atrás numa marcha acelerada, todo som, todo cheiro, todo rastro era registrado, levando-nos, como dissera Alec, para as montanhas que circundavam Volterra. Quanto mais perto chegávamos, mais os odores da criatura se fundiam com a fumaça pesada das piras que ainda queimavam em vários pontos, dentro e nos arredores da cidade. Olhando para a depressão que acomodava a pequena e devastada cidade de Volterra, eu imaginei onde estariam meus pais, mas tive que deixar meus temores para outra hora, e me concentrar no rastro de poucos minutos que contornava a montanha pela base, subindo poucos metros de sua encosta íngreme.
- Fiquem atentos. - Murmurou Alec. - Ele sabe que estamos aqui.
Uma brisa fresca varria a encosta, agitando a orla de árvores e levantando a fumaça negra das ruas mortas de Volterra, por um breve momento senti um traço de um cheiro familiar, mas não conseguia segui-lo ou detectá-lo, e o rastro se dissipou no vento.
- Tem mais alguém aqui. - Eu disse, tentando encontrar aquele tênue rastro que se confundiu no ar. Willian e Alec trocaram olhares atribulados enquanto procuravam captar algum rastro, e foi vasculhando cada ínfimo indício de presença, que subimos a encosta escarpada dos morros de Volterra.
- É Jasper e Emmet, eles estiveram aqui não faz mais de quinze minutos. - Falei, inspirando o ar quando já adentrávamos as primeiras fendas da montanha. O cheiro de Jasper se espalhava por toda a entrada da caverna e penetrava fundo na montanha.
- Será que encontraram a criatura? - Perguntou Willian.
- Não acredito que tenham, nós teríamos ouvidos os barulhos da luta. - Respondeu Alec. Olhei para entrada da caverna que ficava cada vez mais para trás, a luz do dia morrendo sob as pedras que se fechavam sobre nós. O caminho estreito não permitiu que Sam e Jacob entrassem, tendo eles que dar a volta na encosta até o outro lado e seguir o rastro por fora, caso a criatura tivesse encontrado outra entrada. Alec, Willian e eu seguimos o rastro de Jasper e Emmet por dentro, e eu não conseguia deixar de sentir a presença de mais alguém, embora o cheiro me parecesse tão distorcido e modificado.
Nós estávamos no meio da caverna quando os rugidos da criatura soaram na superfície, reverberando pelas paredes internas da montanha.
- Por aqui. - Gritou Alec, arrebentando um dos recôncavos da caverna e abrindo uma passagem improvisada para um túnel adjacente. Corremos desenfreadamente pelo túnel cada vez mais estreito, até que avistamos a luz do dia se estender a nossa frente. Os urros da fera misturavam-se ao dos lobos e ecoavam pelas pedras como se essas conduzissem sua ferocidade diretamente para nós. Antes de cruzar a passagem, percebi com um estalo que era o cheiro de Alice que eu vinha sentindo, e nem ao menos tive tempo de pensar sobre isso, e já estávamos do lado de fora, frente a frente com a criatura erguendo-se nas pernas traseiras e sibilando furiosamente contra Jacob, Sam, Emmet e a pequena Alice que se retraía ao lado de Jasper. Minha respiração se conteve ao vê-la, e se não fosse à seriedade e urgência da situação, nada teria me impedido de correr para abraçá-la.
Alice olhou-me aturdida, seu rosto pequeno se contorcendo numa máscara de pânico. Eu podia ver seus olhos se perderem nas inúmeras possibilidades que se abriam em sua mente, e por um instante eu imaginei se nossa chegada havia bloqueado suas visões. Minha presença, bem como a interferência dos lobos, mudava tudo na perspectiva das visões de Alice, e ela agora estava cega para o que viria a seguir.
Não houve muito tempo para conversas ou estratégias, tão logo nos reunimos, deu-se início uma seqüência de ataques coordenados, sucessivos e extremamente violentos. Jasper avançou com tudo, inspirando Emmet a segui-lo em suas investidas pouco ponderadas. Sam e Jacob não ficaram para trás, e logo eu quase já não podia acompanhar tudo que se sucedia naquela cena terrível.
- Eles vão se matar! - Gritou Willian para Alec, que se mantinha logo atrás da luta, tentando enlaçar a criatura em sua rede de torpor.
- Recuem! - Gritava Alec, mas ninguém o ouvia, exceto eu.
Eu podia sentir o quão mortal e sanguinolento a luta se tornava a cada momento, e mesmo assim obrigava-me a não desviar o olhar. Jasper investia com toda fúria contra a criatura e suas habilidades em combate o renderam vários golpes de êxito que fizeram a criatura sangrar em vários pontos de seu enorme corpo deformado. Mas isso só parecia o enfurecer mais, e em dado momento, eu pude extrair uma pequena parcela de escuridão de sua mente, e então eu sabia que ele agora estava tomado pela sede de morte e destruição.
Olhei para Alice. Ela estava imóvel, observando, aterrorizada, o desfecho sangrento daquela luta. Eu não sabia se ela se dava conta do quão próxima ela estava do combate, e antes que ela fosse pega pelo turbilhão de golpes que a teriam destroçado, eu me lancei em direção a ela e cheguei a tempo de tirá-la dali. Mas então algo aconteceu atrás de nós, e ao me virar, não consegui assimilar de imediato o quê acontecera e meio segundo após, Emmet foi lançado nas pedras, os braços parcialmente arrancados de seu corpo. Um estrondo sucedeu o impacto e o barulho me fez acordar para o fato de que aquilo era real e estava acontecendo bem ali, a alguns metros de mim.
- Emmet!-  Gritei, sem saber ao certo o quê fazer ou o quê pensar. - Ele ficaria bem, não é? Ele se restabeleceria em alguns minutos, certo? - Minhas pernas ameaçavam ceder a qualquer momento, e com algum esforço eu me obriguei a me manter firme, não importa o quê houvesse. Alice estava trêmula em meus braços, de modo que tive que ampará-la junto a mim, não podia deixá-la. Mais uma explosão de fúria chamou minha atenção para a luta, e dessa vez eu vi Willian e Sam sofrerem sério golpes e serem arremessado para longe. Jasper investiu, Jacob o seguiu de imediato, cercando a criatura. Alec se aproximou, os olhos focados em seu propósito de abrandar a fúria do animal, mas não parecia que seria o bastante dessa vez, não quando Jasper e Jacob o estavam ferindo tanto.
Num último urro de dor e ódio, a criatura agarrou Jacob pelo pescoço e lançou-o de encontro a Alec. Meus olhos seguiram o corpo grande e peludo de Jacob ir de encontro às árvores e Alec desviar do golpe que receberia se fosse atingido e quando voltei meus olhos para a criatura, eu vi o corpo de Jasper ser levantado no ar. A pata dianteira atravessou o peito de Jasper, eu vi suas costas arquearem e seu rosto perder a expressão. Enquanto Alice gritava ao meu lado eu só pude sentir a dor dela alcançando minha mente, e quase como um instinto inevitável de destruição, eu me propaguei para dentro da mente da criatura. Ele largou o corpo abatido de Jasper e dobrou no chão com a dor que irradiava de seu cérebro primitivo. Era como segurar um laço de calor que se estende até a outra mente, queimando ambos os lados da linha tênue que nos unia, comprimindo nossos pensamentos numa só caixa de escuridão e dor. Eu não sabia como manter a ligação por muito mais tempo, e enquanto a sentia escorregar e oscilar, eu senti que meu corpo ia de encontro à criatura que se contorcia de dor.
E então eu estava fora da mente dele, perdendo por completo a ligação que me mantinha dentro dele, e ele, dentro de mim. Os olhos negros e vazios da criatura me fitavam enquanto eu me aproximava, e desviando meu olhar dele por um momento, eu vi o rosto de Jasper se contorcer e seu corpo reagir, tentando se juntar novamente. Apenas alguns passos me separavam da criatura, embora eu não soubesse o quê faria de fato quando estivesse cara a cara com ele. Eu estava quase alcançando Jasper quando ele avançou bruscamente e o abocanhou, içando-o pelo ombro e o arrastando com ele para a encosta da montanha.
- NÃO! - Ouvi Alice gritar, enquanto permanecia paralisada, vendo-o arrastar Jasper para as ruínas de Volterra, e sabendo, com um aperto de aço comprimindo meu peito, que seu veneno já corria pelas veias de meu tio.


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