Cípsela escrita por Taticastrom


Capítulo 3
Gumusservi


Notas iniciais do capítulo

Dedico o terceiro capítulo a duas pessoas que são muito importantes para que todos os dias eu dedique pelo menos alguns poucos segundos a esse pequeno mundo que eu criei.
Monique, minha primeira leitora do Nyah. Você é uma fonte de alegria imensurável para essa pequena autora que dá seus primeiros passos na escrita.
A outra dedicada é uma amiga, celebridade, que tenho um apresso muito profundo. Lan você é responsável por cada linha aqui contida, por cada não desistimento que já tive nesses poucos parágrafos já escritos. Você é a inspiração que busco todos os dias para escrever. Obrigada pela sua amizade e carinho.



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Gumusservi: do turco reflexo do luar na água


Spyer se aproximava perigosamente de mim e suas vestes, como sempre pretas, deixavam expostas a cicatriz avermelhada que eu sabia que surgia atrás da orelha direita, descia pelo pescoço e terminava no lado esquerdo de seu peito. O vermelho, que eu bem sabia já estava fraco com o tempo parecia pulsar brilhante em minha mente iludida criava.

Em poucos segundos ao lado do Spyer real estava um garoto cinzento com seus doze anos, sem machucados, sem os coturnos, apenas um sorriso caloroso nos lábios e um carisma que me fizera apaixonar por ele em poucos minutos quando nos conhecemos em um passado tão remoto que quase não parecia real.

– Posso ajuda-lo Spyer? – Matthew surgira magicamente do meu lado e passará a mão na minha cintura me apoiando.

– Como sempre não pode Tharde. - Aqueles olhos negros ainda não haviam desviados dos meus e parecia que o melhor olhar dele era capaz de causar as mais diversas reações no meu corpo alucinado. Era uma sensação estranha que se passava naquele mar negro que me fitava. – Você está branca Karly, se continuar assim vai ficar transparente.

Dito isso ele começou voltou a andar. Passou ao meu lado deixando seu inebriante perfume invadir meu corpo e o sorriso que havia formado em seu rosto era malicioso, irônico e nada se assemelhava ao meu amado e pequeno amigo cinzento que andava a seu lado. O garoto continuava a sorrir para mim e me dando um adeus enquanto andava do lado da sua versão mais velha e sumia de vista como uma fumaça cinza.

– Eu te deixo dois minutos sozinha e você encontra problemas mocinha? – Matt começou a guiar pelo conhecido jardim da entrada de sua casa, como ele havia dito estava tudo destrancando, então ele gritou. – Cheguei mãe! – E me ajudou a deitar no sofá.

Pouco tempo depois uma senhora, com seus quase quarenta anos apareceu na porta. Tia Julie estava com seu maravilhoso e enorme cabelo louro preso em uma trança e usava um vestido de tecido floral com avental por cima. Quando me viu seus olhos cor de mel assustaram, apesar de já ter estado naquela mesma situação varias outras vezes.

– Karly, minha querida, o que houve? – Ela se posicionou a meu lado e colocou a mão na minha cabeça verificando se estava febril. Devia estar, meu corpo parecia queimar lentamente. – Matt o que você está fazendo parado? Pegue um copo de água para sua prima e um pouco daquele remédio de jasmim. Você sabe onde está certo? – O garoto confirmou e ela voltou sua atenção para mim.

– O-obrigada, tia. – Minha voz saiu sussurrada e meus olhos começaram a pesar, mas eu sabia que precisava tomar o remédio que Julie me indicou. Minha tia era conhecida pela sua arte terapêutica, tanto que há poucos meses ela havia aberto a casa dela como uma casa terapêutica e todas terças havia um encontro em seu jardim.

Matt me deu o remédio e passei o resto da tarde deitada no sofá com ele do meu lado vendo séries e rindo muito. Julie continuava a trabalhar em seu escritório, mas sempre que podia passava para pegar um copo de água e passar perto de mim e me lançava aquele olhar preocupado. O dia passou calmo e leve, como se nunca tivesse uma nuvem cinza passado nos meus olhos, o céu estava escuro quando Matt me deixou em casa e mesmo assim Gabe ainda não havia chegado.

– Tem certeza que não quer que eu espere o Gabe chegar com você Kaká? - Ele me perguntou enquanto acariciava meus cabelos, deitado na minha cama. Eu neguei e ele se despediu me dando um beijo na testa.

Nem me lembro quando Gabe chegou ou qualquer outro detalhe do dia, assim que ouvi a porta se fechando - e sendo devidamente trancada, porque eu gritava do segundo andar para o Matt trancar e ficar com a minha chave e me entregar amanhã - eu adormeci como um bebê, mas atormentada por sonhos tão reais e tão fictícios que preferia a cruel realidade das crises, que eu sabia que o cinza era da minha cabeça.

– Oie princesa. - Gabe estava deitado do meu lado quando abri os olhos pela manhã. - Dormiu bem?

Sorri e levantei. Já me sentia bem melhor, meu corpo parecia ter estabilizado a temperatura e nenhum cinza invadia meus olhos.

– Vai querer ir à aula hoje? - Gabe perguntou enrolando meu cabelo em seus dedos. Foi quando percebi uma luminosidade por trás das grossas cortinas do meu quarto e que meu pai estava com calça e blusa social.

– Prefiro ficar e não atrasa-lo - Tentei sorrir mas a dor de cabeça colocou em meu rosto uma careta. Meu pai beijou minha testa e me pediu para ligar caso a crise voltasse.

Desde meus 12 anos, quando as crises começaram, já sofri umas duas ou três e todas perduravam pelo menos dois dias, sendo assim preferi me afastar dos olhares preocupados em mistura com as alucinações.

Era uma sexta-feira cinzenta então a cama foi meu refúgio. Fechei os olhos e me encontrei rodeada pelos altos pinheiros da pequena floresta de Cípsela, mas desta vez não havia corujas mutantes me perseguindo. Tudo parecia calmo então adentrei a floresta reencontrando o lago que havia visto no meu último sonho, tirei meu calçado e coloquei meus pés na água e deixando os minúsculos peixes beliscarem meus dedos. O luar iluminava a noite fria e o vento soprava trazendo algum barulho para meu mundo silencioso, junto com o vento estava alguns animais, predadores com passadas tão sutis, mas que ainda deixava um leve ruído.

Mirei-me no lado e a imagem turva que se formava me assustou, acordei ainda solitária. Com a respiração ofegante pulei da cama e me arrastei para o primeiro andar, pois meu estomago reclama de fome. Durante a decida da escada ela surgiu desfocada e cinzenta, usando um leve vestido floral. Ela era uma lembrança remota, um fantasma irreal criado pela minha mente psicótica.

– Já de pé minha querida? - Assustei imensamente ao ver que tinha dado forma e voz aquela jovem com pouco mais de 20 anos.

– O que você faz aqui? - Gritei, tão enlouquecida quanto em qualquer outra crise

– Sempre estive aqui. - Ela falava calma, tentando me abraçar.

– Suma! - Eu gritava, balançava os braços e chorava. Ela era a imagem materna que minha mente infantil guardou, um pesadelo cruel e real.

– Aconteceu alguma coisa minha linda? - Ela me olhava desolada e preocupada, segurava sua mão que provavelmente queria me tocar mas via todo meus desprezo . - Fiz algo errado?

– Tudo!! - Eu tropecei no último degrau da escada e cai no chão, fechei os olhos, chorando desesperada para que aquela imagem desfizesse em cinzas.

Fiquei na posição fetal que me coloquei apos a queda, ouvia barulhos, mas nada me fazia sair do escudo que fizera para presença daquele fantasma do passado. O tempo passava, a dor da fome e da queda se uniam me torturando ainda mais, porém continuei no meu choro silencioso.

– Karly? - A voz heroica me tomou, assim como seu dono fizera ao me abraçar e me carregar em rumo ao sofá. Eu ainda não estava preparada para abrir os olhos, com medo dela ainda está ali. - Ei, estou aqui, minha pequena. - Ele me abraço forte e parecia que nenhum mal poderia me atingir.

– Você está pegando fogo minha princesa. - Gabe passava a mão no meu rosto. Eu ainda não ousara abrir os olhos, pois sentia a presença dela ali ainda. - Fique aqui, vou ligar para Julie, ela deve saber o que fazer.

Meu pai era jovem demais, não sabia ainda como lidar com a vida de uma pessoa que dependesse dele, apesar de vivermos sozinho há doze anos. Sempre que acontecia alguma coisa comigo ele ligava para Julie, por isso a minha tia era quase a minha mãe.

– Ela mandou você ficar deitada. - Ele apareceu com minha colcha rosa, meus óculos que eu devia ter deixado cair no tombo e um lanche. - Disse para acompanhar sua febre se não passar daqui algumas horas eu vou te medicar.

Ele ajeitou-se no chão do meu lado e ligou a tv. Eu já havia aperto os olhos e não havia mais vestígios de cinza. O resto do dia passou calmo, com a febre indo e vindo. Então meu pai resolveu me medicar e deitou ao meu lado para me observar dormindo.

No sábado eu estava jogada no sofá assistindo TV, um desses programas de comédia e Gabe trabalhava na mesinha da cozinha a poucos passos de mim. A campainha tocou e ele me olhou, já que não esperávamos visitas. Uma ruiva alegre e saltitante apareceu na porta.

– Bom dia margarida! Eu e o Lucca estamos indo na biblioteca e nem adianta dizer n... -(RIP. Duan*) Ela me olhou, ali, de moletom e com a pele ainda mais branca. - Sempre achei a sua biblioteca melhor que a de toda cidade - Ela olhou para Gabe sorrindo e ele retribuiu.

– Pode chamar o garoto. Vou abrir o escritório e sair para comprar algumas coisas para vocês - Gabe parecia feliz em ter alguém com quem dividir a preocupação comigo.

– Eu acho que você poderia trocar de roupa, Kaká - Ela falou me analisando. Revirei os olhos. - Como quiser... - E ela saiu para buscar o Lucca.

Quando ele entrou Gabe tinha acabado de descer as escadas, os dois se encararam, e uma corrente fria passou no local, como se houvesse um ódio repentino entre eles.

– Lucas certo? - Meu pai tentou começar a amenizar o ambiente - Sou o Gabriel.

– É Lucca, Lucca Hortz. - Ele falou estendendo a mão. Os dois se cumprimentaram e meu pai avisou para os dois ficarem a vontade que ele só ia comprar algo para comermos e já estaria de volta.

Subimos pra o escritório e Lucca ficou admirado com as paredes cobertas de estantes e livros. Com a enorme janela que iluminava a sala e que tinha um pequeno divã e muitas almofadas brancas no chão. E parou exatamente em cima da estante onde ficava uma foto minha e do Gabe quando eu ainda era criança, nosso primeiro ano vivendo sozinhos.

– Ele é seu irmão? - Lucca perguntou analisando a foto e o desajeito do meu pai tentando me segurar nas suas costas e quase me deixando cair.

– Quem dera. - Nicolle respondeu suspirando. - O lindo, maravilhoso, gostoso, sarado, perfeito... - Então Nic percebe meu olhar amaldiçoador. - Ér, bem, ele é o pai da Karly.

– Nú! Ele parece muito jovem, novo demais para ter uma filha adolescente. - Lucca falou olhando para Nicolle que admirava meu pai mais jovem suspirando algo como "se eu fosse mais velha você teria uma madrasta linda Karlyzita."

– Certo, certo. - Falei tirando a Nic de seu transe - Agora, o que diabos vocês estão pesquisando? - Me sentei no divã, pois já estava cansada e com a vista turva.

– Trabalho de lendas, claro. - Ela me olhava preocupada, mesmo mantendo o sorriso no rosto. - O Lucca não conhece nenhuma das histórias da magia de Cípsela.

Levantei calmamente e tirei um grosso e empoeirado livro da prateleira.

– Então vamos ter a melhor fonte de informação. - Abri o livro em uma página com um dente-de-leão desenhado a mão - Esse livro foi escrito pelo primeiro Tharde que nasceu na nossa cidade, quando ele começou a escrever ele tinha nossa idade. - Os dois se aproximaram para ver o livro mais de perto, com sua letra bem desenhada a tinta trazia um tom mágico para as palavras ali escritas. - A primeira lenda que qualquer pessoa que conhece pelo menos a cidade tem que conhecer e a lenda que gerou o nome da cidade.

– Essa é a única que já sei. Minha mãe costumava a sempre olhar pelos lados procurando um dente-de-leão para desejar que meu pai a deixasse voltar para casa para cuidar da minha avó. Por fim, quando a minha avó morreu ela realizou o desejo, apesar de nunca ter deixado as cípselas flutuarem.

– Como o Tiago disse todo mundo tem um desejo que a flor realizou. Essa deve ser a mais batida de todas. - Nicolle falou passando as páginas e procurando algo a mais. - A mais interessante para mim é a que fala da criação de Cípsela.

Era noite de lua cheia
e em um lago sem vida tudo começou
as quatro casas chegaram juntas
trajando apenas o que da guerra restou

Sem roupas, sem tesouros
nada que pudessem vender ou comprar
os forasteiros já donos da terra
chamaram mais duas famílias para ali ficar

As duas casas sem nome
que não podia ficar em nenhum lugar
era tão nômade, quanto os outros que chegaram lá.

E começou a magia se alastrar
um mundo surgia pela água
iluminada pelo luar

Da água e da flor nasceu então
toda uma vida que se esperava da estação
flores coloriam a beira do lago, cresciam
rapidamente se transformavam

Começou a surgir pinheiros e gramados
animais saiam da floresta um tanto assustados
com uma rapidez fora do comum
as seis casas caçaram um jantar como nenhum

Ainda havia animais correndo por lá
e a magia ainda nem começara a trabalhar
encontraram materiais para as casas criarem
poucas horas todos tinham abrigos para morar

Quatro casas bem vistosas, em cada canto se ergueram
duas casas humildes quase se esqueceram
cercaram o local para nenhum mal adentrar
e Cípsela, assim nomeada, começou a uma economia gerar.

A voz da ruiva quando lia parecia mudar, parecia suave, angelical. Ela entrava no personagem, um garoto que via toda criação de uma cidadezinha através de apenas um lago qualquer. Essa era apenas um dos poemas que contavam essa história e cada uma falava de um jeito diferente de como a magia se explodiu e formou toda a vida dali.

– Nossa. Esse cara é foda. - Lucca falou boquiaberto. - Quase me fez acreditar.

– Todas as crianças já acreditaram um dia na magia de nossa cidade. Já visitaram o lago em busca de pistas de que era realidade. - Falei enquanto Nic ainda parecia devorar cada detalhe do livro, como se estivesse vendo tudo acontecer.

– Creio que a senhorita Fortini foi uma dessas crianças aventureiras. - Lucca falou me fazendo e rir, e tirando a atenção da garota que antes estava totalmente no livro.

– Qual é? Sou uma escritora, cada história dessas é uma inspiração única. - Ela passava a mão nas paginas delicadamente. - E que escreveu? Não conhecia nada semelhante a isso.

– Dimitri Tharde, se não me engano. - Falei. - Vamos procurar outra lenda. Qual você quer ouvir Lucca? Temos bruxas, fantasmas, fadas, duendes e seres tão bizarros que nem os irmãos Winchesters** seriam capazes de lidar.

– Bruxas? Não me lembro de nada delas - Nicolle falou procurando algo no livro.

– Não vai achar nada ai, ele era um Tharde. “Nenhuma das quatro casas pode delas falar, horríveis, desprezadas de todo e qualquer lugar. De fato só prestaram para a cidade criar e pela eternidade vieram a essas casas cobrar. De tal forma que quase a vida de todos elas pediram para entregar "

– Decorou as frases desse diário? - Nic perguntou rindo. - Tinha me esquecido disso. Esse que é problema de ser descendente das "quatro casas", não se pode conhecer a história completa.

– Não para mim. - Cantarolei irritantemente.

A presença da Nic e o ambiente do escritório estavam melhorando meu humor, mas era só olhar aqueles olhos claros do garoto que meu corpo parecia queimar lentamente de novo. Então evitava aquele garoto.

– Tá vendo aquele livro gigante ali em cima Lucca, pegue ele, por favor.

O garoto se esticou, deixando a camisa subir exibindo o cos da cueca preta que ele usava.

– Esse aqui? - Ele puxou um livro tão grande quanto a Bíblia, com pedras azuis contornando e um reforço de metal que terminava em um cadeado. - Outro diário?

– Quase isso. - Comecei a rir. - Essa casa era da minha avó Suzanne. Ela está em coma desde meus cinco anos e eu o Gabe moramos na casa dele desde sempre. E ela era autora e historiadora. Juntou cópia das escrituras antigas e essa é uma raridade, pois os livros mágicos foram queimados.

Ficamos o resto da tarde lendo as mais diversas magias escritas ali. Já tinha anoitecido quando os dois se foram e eu e Gabe voltamos para nosso cantinho na sala. Passamos o resto do fim de semana assim, quietos, rindo e conversando sobre qualquer coisa.

No domingo, já bem tardezinha, tinha terminado de tomar banho e estava com cabelos molhados quando o interfone tocou e Gabriel me pediu para abrir. E do lado de fora estava uma mulher alta, cabelos longos e vermelhos. Um vermelho que parecia queimar não algo que ficava quase natural como a Nicolle. Ela era magra, como uma modelo e de olhos completamente artificiais e violeta. Ela usava roupas estranhas.

– Lyzinha, você não esta se lembrando da sua tia mais querida? - E como se fosse aquela voz irritante a única coisa que faltava para me fazer recordar eu revi tudo de novo.

– Alexandra Leskova, o que faz aqui? - Gabe falou descendo a escada trajando apenas a calça social e com um sorriso que preferia que ele não estivesse no rosto.

Ela entrou na casa e seus saltos pareciam fazer minha cabeça pulsar ritmadamente. Mexendo seus cabelos artificiais, fazendo seu perfume, doce demais, se impregnava em toda a casa.

– Gabe!!! – Já começou mal, o apelido Gabe era exclusivo para mim e para as pessoas que eu permitia. E havia algo nela que parecia ruim. – Quanto tempo, uns dez anos?

– Doze anos, Alex. E você não mudou nada, ouso dizer que ficou mais jovem. – Ele deu um beijo em cada bochecha dela, perto demais dos lábios para meu gosto.

– E você continua o mesmo galanteador barato. – Ela gargalhou. A risada dela me lembrava da risada de uma hiena, ou algo ainda mais esganiçado.

Parecia que eu estava avulsa no local, como se meu pai estivesse se esquecendo de mim com a presença daquela invasora. A marca da destruidora de lares naqueles olhos violetas. Afastei-me da porta e da cena, subindo para meu quarto. Mas do segundo andar eu escutava aquela risada martelar na minha cabeça e sua voz parecia me sufocar.

Já era mais de dez horas da noite quando a ousada invasora resolveu agradecer a hospitalidade de Gabe e dizer que ia dormir no hotel hoje enquanto ainda não arrumava uma casa para completar sua mudança definitiva para cidade.

– E pagar um horror? O quarto da minha mãe está vazio e ainda temos um quarto de hospedes. – Eu o ouvia falando nitidamente. Quando ele ofereceu o quarto de Suzanne para ela meu estomago revirou. Jamais eu deixaria que alguém invadisse o local sagrado de minha avó com ela ainda viva, ainda mais aquela mulher, vil e cruel que desde o momento que entrou em nossas vidas desunia um pouco a minha família. Enquanto ela ficava fingindo negar querendo aceitar eu sai calmamente e fui no último quarto do estreito corredor. Peguei a chave na cômoda e tranquei a porta, levando a chave comigo.

– Karly! – Meu pai gritava do segundo andar. Eu desci, com o sorriso falso mais forçado do mundo. – A Alex vai ficar com a gente uns dias.

A mulher me lançou o olhar e eu sabia, estava declarado guerra entre nós. Durante os doze anos que Gabe me criou sozinha ele teve muitas namoradas. Mas tudo desandou e nunca por minha causa. Parecia que meu pai não podia se apaixonar que algo dava errado. Ele descobria um passado oculto, alguma traição, dele ou dela e por ai andava. Porém nunca fui muito amável e amigável com suas pretendentes a minha futura madrasta, trauma por não ter mãe durante minha infância. Mas Leskova era um caso especial, ela foi a amante que trouxerá o final do casal que nunca se casou, meus pais.

– Nosso quarto de hospedes é o segundo a direita. Fique a vontade para não entrar no meu quarto. – E no de Gabe. Completei mentalmente.

– Karly? Isso são modos? – Gabriel me olhou e eu revirei os olhos.
– Boa noite, titia. – Falei na voz infantil mais sarcástica que possua. – Tentem não fazer barulho, pessoas estudam de manha.

Leskova fez uma cara triste, como se eu tivesse magoado seu coração gélido.

– Desculpe a Karly, você conhece ela, ela não é sempre assim. – Ele falou abraçando ela. – Vamos, irei te levar para o quarto de minha mãe, onde ficará mais a vontade.

– Pai, podemos conversar. – Olhei para Leskova friamente. – Em particular.

Ele pediu um minuto e subimos. Primeiro ele me deu um sermão pela falta de educação e depois de alguns minutos falando de como deveria proceder com uma amiga tão velha dele e tão querida, papo que estava me dando sono, me permitiu falar.

– No quarto da vó ninguém entra. – Falei. – Ela tá viva! Respeite sua mãe. Você sabe como ela odiava pessoas no seu quarto.

– Eu decido onde a minha hóspede vai dormir, e ela se sentira melhor dormindo no quarto da sua avó e fim da história.

– Pode tentar abrir a porta, quebra-la e o quiser. Dentro do quarto meu e da minha avó aquela víbora ruiva não entra. Pela porta que ela entrar eu saio, se ela ficar eu saio de casa. Eu sou uma filha que nunca te deu trabalho, Gabriel, mas ela? Logo a mulher que foi um dos motivos de fazer a minha mãe ir embora? Eu não aceito traidoras destruidoras de lares no mesmo ambiente que eu.

– Olha como fala da minha amiga Karly! Que alucinação você está tendo para achar que Leskova foi culpada pela sua mãe sair de casa? – Ele estava perdido na convesa. – E por ser uma filha tão resposavel vai entrar em seu quarto e ficar de castigo. Até que a Alexandra ache um local para morar você será uma ótima anfitriã.

Revirei os olhos e entrei em meu quarto, mas sem nenhuma intenção de ficar nele como Gabe havia mandado. Cumpriria a minha palavra e arrumei minhas coisas para sair, tudo em uma bolsa e com o fone de ouvido desci sorrateiramente pela sacada de meu quarto, e cai sem muito barrulho. Adentrei na floresta, pois assim que Gabe colocasse a víbora personificada para dormir ele descobriria que fugi e me procuraria e por hoje passaria o longe dele. A presença daquela mulher era tão ruim quanto qualquer imagem cinza que me cercava. Estava andando entre os pinheiros quando o vi pela primeira vez.





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Notas finais do capítulo

* Duan é um dos personagens das melhores fics já escritas. Ópera por Lan, nessa história o personagem tinha a mania de chamar seu melhor amigo de Margarida .
** Winchester é o nome da família dos personagens principais da série Supernatural , para quem não sabe a história os irmãos Dean e Sam são caça seres sobrenaturais. Como os citados na história.