O Resplandecer Da Luz escrita por Ninguém


Capítulo 6
Cap. 5 Egoísmo.


Notas iniciais do capítulo

Estou aqui postando outro capitulo um dia depois do outro. Não é muito comum, mas surgiu inspiração e tempo então estou postando.
Espero que gostem.
Ah sim, e se puderem mandar comentários eu agradeceria muito, é sempre uma motivação a mais. ;)



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Egoísmo.

A ultima lembrança que Eros teve antes de acordar neste lugar estranho foi de ouvir uma grossa voz ecoando por sua garganta, era uma voz tenebrosa e até macabra que parecia se divertir em meio a dor que parecia dilacerar o corpo do jovem naquele momento.

O espaço poderia muito bem ser descrito como uma sala, haviam paredes brancas e um teto azul claro iluminado por uma lâmpada fluorescente. Neste cômodo continha um grande sofá de couro negro que reluzia com a luz artificial. O clima estava bem gostoso, como se houvessem ligado o ar condicionado – só que não havia nenhum por ali.

Eros se pôs de pé observando a sua volta e tentando entender o que estava havendo, mais principalmente por que estava preso,  afinal não haviam saídas, nem portas, nem janelas.

Então ele apareceu. Surgiu do nada levantando os braços para cima numa espreguiçada intensa que até daria preguiça em Eros se ele não estivesse assustado demais com a imagem.

Por que o individuo que estava agora se sentando no sofá negro, era Eros.

- Pronto. – disse o reflexo do rapaz. – tenho que me acostumar melhor com o processo. – ele estralou o pescoço e depois relaxou no confortável móvel.

- Tudo bem... – disse o real Eros tentando se tranquilizar. – obviamente isto é um sonho. E você... – o rapaz apontou para o sósia. – não é real.

O sósia recostou a cabeça no descanso das costas do sofá e fechou os olhos já dizendo:

- Sonhos como chama são manifestações energéticas do seu córtex cerebral, mais precisamente no lado primitivo onde não há um controle dos eventos. E como há eventos então é real, só numa dimensão diferente. 

Eros não entendeu nada. Mas o jeito complicado de falar lhe fez lembrar do et que havia trazido um dos selos.

- Quem é você? – Eros perguntou recuando um passo.

O reflexo levantou a cabeça abrindo os olhos.

- Acho que pela característica estética, você possa ter uma dica. Mas entendo sua confusão, afinal sua mente humana é tão lenta. – o sósia posicionou o corpo para frente cruzando os braços. – Eu não tenho um nome próprio, logo não adiantaria eu dizer, também não possuo uma face estruturada, assim tomei a sua como molde. Então você me conheceria como um selo de energia primária.

Eros ficou petrificado por um segundo encarando sua própria face que o olhava tranquilo, ao menos eles não estavam com as mesmas roupas, o que o poupava de parecerem gêmeos estúpidos.

- Não. Não... não pode ser...

O sósia que se dizia ser o selo suspirou.

- Eu ouvi a conversa que você teve com Rian. Esperava que pudesse ter mais perspicácia depois de informado.

- Rian? Quem... – então Eros percebeu que o sósia falava da voz que o precavera sobre os riscos dos selos. – Este era o seu nome? Como sabe?

O sósia sorriu.

- Incrível. Então até agora você não percebeu... eu esperava mais dos humanos, mas fazer o que? Estou preso com um projeto em fase final de amadurecimento. – o reflexo voltou a recostar a cabeça no sofá.

Eros ficou atrapalhado por um momento.

- Não percebi o que? Esqueça... você não pode ser o selo! A voz disse que você é basicamente energia que... que... abastece a continuidade do universo como uma imensa bateria... não... não tem como você ter...

- Racionalidade? – o selo completou sem sequer abrir os olhos.

-Eh...hã... é!

O selo então deu risadas, e voltou a erguer a cabeça abrindo os olhos focando em Eros.

- Inteligência não é seu forte não é mesmo, Eros? Bom... – o selo abriu os braços alinhando-os no descanso do sofá. – como temos um tempinho juntos eu vou lhe contar. Nós... os catalogados de “selos de energia” ou baterias como você mesmo me descreveu somos conscientes, somos uma das milhões de raças que existem nos multiversos. Temos capacidade de pensar e de ver tudo o que acontece em qualquer lugar do cosmos por que nós criamos. Rian lhe disse isso certo? Que por um longo período eu e meus... adversários criamos sistemas inteiros, estrelas de dimensões que deixariam este seu sol parecendo uma bolinha de gude quente. Como você acha que vamos criar algo, que vamos conceder todas as configurações necessárias para que a vida possa surgir se nem ao menos pudéssemos ter a capacidade de falar, ou nos comunicar? Pois te digo agora Eros... fomos nós que criamos a comunicação, fomos nós que criamos o ar que respira, a terra que pisa e a agua que o molha... – ele se levantou do sofá com um olhar sério como se quisesse fulminar o garoto. – somos NÓS! Que criamos sua vidinha pequena e insignificante... acha que seres superiores como eu ou os outros não temos capacidade de pensar?

Eros recuou mais dois passos batendo na parede atrás de si.

- Não criança... – disse o selo. – não somos baterias que servem para dar continuidade em algo que delimita sua própria capacidade... somos superiores a um nível que sua limitada inteligência jamais poderia compreender.

Eros ficou intimidado pelas palavras, pois estavam carregadas de raiva e determinação, o que o fazia crer que o selo falava a verdade.

- Des...desculpe. Eu...eu não sabia tá legal... hã... Rian... disse-me...

- Eu sei o que ele disse. Eu ouvi. No entanto Rian faz parte desta raça que evoluiu a um ponto que se acha no direito de ditar a continuidade da vida, sem sequer questionar nossa vontade, o que faz de suas palavras e crenças uma estupidez egoísta e hipócrita. E não se preocupe mais com ele. – o sósia voltou a se sentar no sofá. – quando minha energia entrou em vigor a dele foi destruída automaticamente.

Eros então estranhou o selo dizer aquilo “quando entrou em vigor?” Seus pensamentos então voltaram a voz estranha e a dor de momentos atrás.

- Você! – Eros apontou para ele. – Foi você! O que fez comigo?

- Salvei sua vida. Um pouco de gratidão seria decente de sua parte.

Eros então pensou no que aquelas palavras queriam dizer, logo tomado por um instinto de lógica, o garoto se enfureceu e partiu para cima da imagem o pegando pela gola da camisa.

- O que foi que você fez!? O que fez!?

O sósia ficava observando a face de raiva do garoto, achando divertido.

- O que você acha?

Eros começou a balançar a cabeça na negativa repetidas vezes.

- Não... não... não! Não! Não! Impossível! Você não veio a tona! Não tem como! Eu estava no meio do oceano longe de tudo e de todos... não tem como!!!

O selo voltou a rir, depois pousou as duas mãos sobre os pulsos de Eros que cederam à força do sósia que se levantou lentamente ainda segurando o garoto.

- Você é ingênuo Eros. – o selo dizia sorrindo. – uma pobre criatura minúscula vivendo a margem do abismo... um grão de areia em meio a bilhões... se acha diferente? Se acha esperto?

O selo começou a forçar mais os pulsos de Eros que já gesticulava dor.

- Não há saída. Não importe o que tente fazer para evitar os combates, não irá funcionar... até entendo seus esforços e os acho interessantes e tolos. – agora o selo forçou tanto os pulsos que o garoto caiu de joelhos. – Escute bem menino... não tem como impedir isto, quando nós pousamos aqui, seu mundinho e até este sistema solar podem estar condenados as trevas para sempre.

O selo o largou e Eros encolheu no chão. O sósia voltou a cruzar os braços olhando para o menino de cima, sentindo a superioridade que tanto falava. Só que ao invés de sentir prazer com aquilo, o selo parecia estar com pena do garoto que massageava os pulsos machucados.

- Quer mesmo saber?

Eros ergueu a cabeça olhando para o selo, seus olhos esboçando uma tristeza nunca antes sentida.

- Você estava exatamente a 12.4 km de distante de uma praia no litoral sul do Brasil. Havia um homem que continha um selo em seu corpo e a medida que ele se aproximava, seja um centímetro, uma força de atração provinda de nossas energias é ativada o que só aumenta a área de magnetismo. Isso atraiu o outro selo mais e mais... e com a aproximação, minha energia foi se expandindo. Você começou a senti-la muito antes de perder a consciência. Lembra-se daquela sensação boa que sentiu de repente?

Sim, Eros lembrava.

- O... o que foi aquilo?

- Em uma palavra? Poder. Era minha energia se espalhando por seu corpo. – o selo voltou a se sentar no sofá. – até certo nível meu poder se espalha por seu sistema aumentando sua resistência, sua força e velocidade numa preparação ao combate que virá. Consequentemente os níveis de hormônios aumentam para compor as novas modificações e um desses hormônios, é o responsável pela sensação de bem estar. Mas como percebeu logo... – o selo suspirou. – minha energia vai aumentando e aumentando a ponto que quebrar milhões de células suas provocando uma pressão em seu cérebro e coração. Basicamente você estaria morto, mas meu poder garante a regeneração dos tecidos e órgãos a fim de mantê-lo vivo.  

Eros ficou lembrando da sensação boa seguida pela dor, o que trouxe a ele memórias mais inquietantes.

- Então os marinheiros ficaram bem, não é? Disse que o selo estava a mais de dez km de distancia... se houve uma luta entre vocês... foi longe de lá.

O sósia reprimiu um sorriso encarando Eros.

- Sua consciência e seu medo são suas maiores fraquezas Eros. É nobre você querer proteger as pessoas de si mesmo, ainda mais as pessoas próximas a você. Confesso que não achei que iria seguir o conselho de Rian e se afastar do lugar onde você chama de lar. Mas precisa entender de uma vez por todas. – o sósia o encarou sério. – não há esperança em suas ações, as batalhas já começaram... os desastres só irão aumentar. Infelizmente menino aquela embarcação ficará para sempre no fundo do oceano, assim como muitas casas de um vilarejo pesqueiro, por que minha luta alcançou outro continente.

Eros permaneceu no chão se encolhendo mais, ao ver que todos os seus esforços não serviram de nada. Ao perceber que sua intenção, que seu propósito haviam se perdido na desilusão da realidade macabra em que se encontrava.

- Não... não... isso não está acontecendo! – o rapaz levou as duas mãos a cabeça querendo puxar os cabelos pela raiz. – não... não... pode estar acontecendo... é só um pesadelo... é... é só um pesadelo e eu vou acordar... eu vou acordar... daqui a pouco eu acordo...

- É de dar pena. – disse o selo analisando o menino. – eu não deveria ter vindo parar em seu corpo, sua mente é jovem e inocente demais para arcar com tudo isto.

Em meio ao princípio de loucura Eros virou a cabeça na direção do selo.

- Hã... o que... o que quer dizer?

O sósia hesitou fixando o olhar em Eros, como se não entendesse algo, então logo relaxou a expressão e prosseguiu.

- Entendo. Rian não teve tempo de lhe contar isto. – o selo se acomodou melhor no móvel. – você entendeu que aqueles seres se convertem em energia, viajam conosco até o hospedeiro, por que são guias. Todos os humanos deste mundo já foram pré-selecionados para nos receber, devidos a suas habilidades e suas mentalidades. Mas principalmente por suas experiências Eros. Os compatriotas de Rian acreditam que suas mentes adquiriam certa resistência devido aos acontecimentos em toda a vida deles. Você não sabe, mas os selecionados são todos homens na faixa de trinta a quarenta anos por que são quando seus corpos alcançam o ápice da força e facilita o processo. Porém você foi a exceção. Um garoto magro de 17 anos? Não tem mentalidade muito menos força para nos comportar com equilíbrio. Não acho que houve um erro no transporte e tenho me perguntado desde que apareci aqui. Por que você? Já pude comprovar que não há nada de especial em sua pessoa, nenhuma habilidade acima do comum, logo a teoria de um erro no transporte parece ser mais apropriada.

- Quer... quer dizer que estou nessa confusão apocalíptica por um mero engano? – Eros se pôs de pé. – Quando os correios trazem uma encomenda que não é sua, ou perdem o que pediu você fica chateado... agora como é que eles puderam errar ISTO!!!!?

Lágrimas saíam desciam por seu rosto.

- Eu estou cansado! Estou farto! Não suporto esta situação nem mais um minuto!

O sósia ficou encarando calado enquanto Eros desabafava. Por fim quando o menino se calou, ele disse:

- Vou lhe falar algo que não ensinam na natureza humana. O egoísmo é o amor de vocês. Tudo no seu ciclo de vida em sociedade se baseia no egoísmo Eros. É a razão pela qual o homem domina o mundo, é a razão que os torna violentos e os tornam superiores com o instinto de superação. É necessário um desejo de se sobressair ao próximo para o motivar a ser melhor. Tanto que sua sociedade dá grande importância as competições onde sempre há um vencedor e um perdedor, há sempre alguém com o titulo que o caracteriza melhor que o adversário que perdeu. Um ciclo infinito e necessário para evolução humana. E você deveria amar mais o seu egoísmo.

- O que quer dizer?

- Vou te dar um conselho. Volte pra casa. Veja seus pais, se divirta com seus amigos, se declara a uma mulher que lhe interesse... viva de modo que você, e unicamente você, seja feliz. Permita-se o egoísmo de ser feliz apesar das consequências, pois o fim de sua existência é tudo que encontrará no término desta jornada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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