P.O.V. Katniss

-Ok. Eu vim do passado.

Eu ri. Não me levem a mal. Mas eu achei que era uma brincadeira, mas quando olhei para ele, percebi a besteira que eu tinha feito. Eu nunca vou mudar? Porque eu tenho que ser assim? Não consigo conversar com ninguém sem deixar a pessoa com raiva ou magoa? Você é um monstro Katniss!

-Me desculpe, por favor, Percy, eu, eu não queria rir.

-Não, tudo bem. Eu entendo, acho que até eu não acredito muito nessa história. Mas eu já sonhei com deuses. Mas não eram só sonhos. Eram reais, visões. Tenho certeza de que aconteceu realmente. Uma delas é de como eu vim parar aqui. Eu e uma garota loira da mesma idade do que eu, que descobri ser uma filha de Atena, estávamos fugindo de monstros. Eram esquisitos, com cabeça de cães, mas os corpos pareciam que eram de alguma criatura marinha. Eles nos perseguiam. Forcei a garota, Annabeth, a fugir. Mas eu fiquei. Quando estava quase morrendo, usei minhas ultimas forças e fiz um terremoto, que destruiu a montanha onde estávamos. E essa montanha era nos Estados Unidos, disso eu tenho certeza. Tudo foi pelos ares, e quando eu estava caindo, uma deusa me salvou, e me trouxe para cá. No Dia da Colheita, quando foi anunciado o nome Peeta Melark, a mesma deusa falou em minha mente que era para eu me voluntariar, seria o único jeito de eu ganhar minha memória de volta, e retornar ao passado, onde esta havendo uma guerra, que, segundo Atena disse na minha segunda visão, os outros semideuses só têm esperança por minha causa, por que eu estou vivo. Se eu morrer, eles perdem a esperança, e, consequentemente, a guerra.

Eu estava atônita, sentia que ele falava a verdade, afinal, eu também já ouvi uma voz em minha mente, quando vi Percy pela primeira vez.

-Por que você esta me contando isso?

-Você me perguntou, não foi? Ou eu estou ouvindo coisas?

-Mas eu não entendo. Nos conhecemos a pouco tempo, e você já disse a história da sua vida. Por que confia em mim?

-Eu não deveria confiar?- ele é esperto. Consegui dar um sorriso.

-É claro que você pode confiar em mim.

-Mas, espera aí. Você acreditou?

-Eu não deveria acreditar?- ele riu e eu o acompanhei.

-Achei que me acharia um louco.

-Eu te acho um louco. Mas um louco que falou a verdade. Então, recapitulando. Você salvou uma garota, destruiu uma montanha, veio para o futuro, perdeu a memória, uma deusa disse que você é o único que pode dar esperanças para semideuses que estão em uma guerra, e o único jeito de você conseguir voltar para o passado e recuperar a memória é participando e ficando vivo nos jogos. Certo?

-Eu acho que sim.

-Mas, o que é essa guerra?

-No meu sonho que eu destruí a montanha, me vi falando o nome de alguém. Cronos. Sabe quem é ele na mitologia?

-Se for quem eu estou pensando, você tem um adversário bem poderoso.

-Quantos Cronos você conhece na mitologia?

-Vish. Só um.

-Que é...?

-O pai dos deuses. Aquele que matou seu pai, Urano, e comeu seus filhos, e depois Zeus o fez vomitar os deuses que ainda estavam vivos no seu estomago, o cortou em pedacinhos e jogou nas profundezas do Tártaro.

-É, eu acho que é esse ai mesmo. Se não me engano ele está reconstituindo seus pedaços, quer destruir o Olimpo e transformar o mundo em caos.

-E você não está preocupado?

-Calma ai, um problema de cada vez. Primeiro eu tenho que sobreviver nos jogos. - eu abaixei a cabeça. Ele ta certo, ele tem que ganhar, ele tem que ganhar essa guerra, e eu vou morrer, mas se eu vou morrer, eu vou ajudar ele a vencer enquanto eu estou viva.  Acho que ele deve saber o que eu estou pensando, pois ele colocou a mão no meu queixo e levantou meu rosto, me obrigando a olha-lo e disse:- eu tenho que sobreviver nos jogos, não vencer. Você vai vencer, eu não vou deixar você morrer.

-Não tem como. Só um vive. Só um vence.  Você não tem como me fazer sobreviver.

-A é? Quem é que vai me impedir? Esses idiotas que acham que comandam, eu já enfrentei piores, quem são eles perto de Cronos?

-Como assim já enfrentou piores?

-Eu estou me lembrando de algumas coisas que eu fiz, mas acho que se eu dissesse agora você não acreditaria.

-Eu já não acreditei até agora?-Ele sorriu e disse:

-Já.- e começou a contar, a cada historia eu ficava mais impressionada. Quando ele terminou eu disse:

-Recapitulando novamente: você derrotou o minotauro com as próprias mãos aos 12 anos sem ao menos saber que é semideus ou receber algum treino, no mesmo ano foi acusado de roubar o raio-mestre de Zeus, matou a Medusa, pulou de uma altura de 192 metros, foi para o mundo inferior, foi acusado de roubar o elmo da trevas de Hades, saiu do mundo inferior, lutou contra Ares, o deus da guerra e GANHOU, recuperou o raio-mestre e o elmo das trevas, devolveu ao seus respectivos donos, tudo isso enquanto dois dos deuses mais poderosos queriam matar você e sua mãe estava presa no mundo inferior, mas Hades a devolveu assim que recuperou seu elmo. Aos treze anos você foi atacado por monstros na escola e salvo por um ciclope, que descobriu ser seu irmão, fugiu do acampamento onde era seguro, lutou contra uma hidra, pulou de um barco que explodiu, lutou contra um ciclope gigante, aos 14 anos sua amiga, Annabeth foi sequestrada, você ficou louco e fugiu do acampamento de novo, matou o leão de nemeia, fez mais algumas coisas que não lembro, fugiu de um dragão, lutou contra um titã, segurou o céu e salvou uma deusa e Annabeth. E antes de vim para Panem você destruiu uma montanha sozinho. Acertei tudo?

-Se eu me lembrei de tudo e tudo for real, sim. Mas algumas coisas com a ajuda dos meus amigos.

-Você se lembrou dessas coisas quando?

-Agora, enquanto começava a contar, fui me lembrando de outras coisas, mas não de tudo.

-Você gosta da garota, né?

-Que garota?

-A Percy, fala sério! Você salva o mundo milhares de vezes, mas não percebe que gosta da sua amiga, que esta perto de você sempre! Poupe-me!

-Do que é que você está falando?- eu ria da cara dele, ele não sabia mesmo!

-Esquece, você descobre sozinho. Mas, se você quer saber, eu acredito. Acredito em tudo o que disse- eu sinceramente não sei por que, mas eu acreditei nele, parecia tão certo do que falava, e não acho que poderia ter inventado tudo aquilo.

-Obrigado. Me sinto melhor em não ter que esconder isso de você.

-Percy, você vai ganhar. - eu sabia disso, ele derrotou monstros a vida inteira, os Jogos Vorazes vai ser apenas um treinamento.

-Não sei, eu derrotava monstros. Cruéis, feios, do mal. Não pessoas. Elas são apenas peças que fazem tudo o que a Capital manda fazer. Não são culpadas. A Capital quer que eu mate eles. Mas eu não quero ser apenas uma peça, seguir os padrões e as regras, por isso, dois vão sobreviver nessa arena. Katniss Everdeen e Percy Jackson!- ele disse parecendo que estava lendo algo no ar, ri com a cena. Ele é tão legal, divertido. Essa tal de Annabeth tem sorte. Ele a ama, e espero que essa daí saiba dar ao valor. O Percy é uma pessoa incrível.- Vamos Kat, amanha chegaremos na Capital.

-Kat?

-É eu gostei. Você não?- eu só abri um sorriso. Isso me fez lembrar Gale, e fechei a cara. Fiquei triste novamente, Gale me chamava de Catnip. Cada vez mais eu sentia falta de Gale. Mas eu tenho que ser forte. Não vou ser uma peça dos Jogos, como Percy diz. Eu sou Katniss, uma garota forte, que não vai chorar e fazer tudo o que a Capital quer que eu faça. Segui Percy pelo corredor, paramos na frente do meu quarto.

-Boa noite, Kat.

-Boa noite, peixinho. - ri com o apelido que inventei.

-Peixinho?- ele disse indignado.

-É. Filho de Poseidon:  peixinho.

-Não gostei. - disse com um biquinho fofo.

-Por isso mesmo. – disse e fechei a porta.

-Você é má!- ele disse do corredor.

-Eu sei! – gritei de volta.

O que esse garoto fez comigo? Por que eu estou feliz? Katniss Everdeen feliz? Essa não é Katniss. Mas, eu não acho que seja a Capital que está me mudando.  É Percy, ele me faz sentir confortável, eu sinto que posso dizer tudo para ele, que posso ser quem eu sou, e ele não vai me julgar mau. Eu estou gostando dessa mudança. É a nova Katniss.