P.O.V. Katniss

Saí logo depois de Percy e Haymitch, Effie me levou até meu quarto. Era lindo, uma imensa cama de casal, uma poltrona sobre um tapete macio, e duas portas na parede direita. Uma levava para o banheiro, que era maior que a cozinha da minha casa, uma banheira luxuosa ficava no canto esquerdo do cômodo, embaixo de um chuveiro de largura impressionante. Apertei alguns botões, e a luxuosa banheira se encheu de água rapidamente. Logo depois, saiu, sei lá de onde, líquidos coloridos, com um forte e doce aroma. Despi o vestido da minha mãe, e entrei calmamente. Nunca senti tanta tranquilidade em minha vida, era uma água morna e aconchegante. Mas se eu aprendi alguma coisa em minha vida, é que se me dão algo bom de mais, é melhor não abusar. Assim que sai, jatos de ar quente tocaram meu corpo, e quase instantaneamente fiquei seca. Meus cabelos caiam sobre meus ombros, macios e sedosos, pareciam algodão.

Em cima da minha cama tinha uma camisola de um tecido que não reconheci, nunca vi algo igual. Era brilhante e sedoso, de um rosa claro e bonito. Me vesti, mas parecia que não usava nada, era leve e macio, roçava em minha pele de um jeito impressionante. Me olhei em um espelho que estava de frente para a cama. Não me reconheci, essa não é a Katniss. Katniss não é delicada como essa pessoa que refletia no espelho. Katniss é uma garota fria, que guarda seus sentimentos, forte e uma caçadora. Não uma princesa, como estava vestida. Me senti mal, mas não tinha mais nada para vestir. Calcei os chinelos que estavam ao lado da cama e sai do quarto. Não encontrava Percy em lugar algum, afinal, ele ainda tem coisas para me explicar. Até que abri uma porta no final do corredor. Percy tentava tirar uma garrafa de Haymitch, não falei nada, só observei.

Haymitch tenta dar um soco na barriga em Percy, mas ele desvia com uma rapidez impressionante, como se fizesse a vida toda isso, deu uma cotovelada do lado direito do corpo de Haymitch, que tenta novamente acertar Percy com um chute, ele desvia facilmente e da oura cotovelada em suas costas. Haymitch cai no chão e Percy o imobiliza. Isso tudo acontece em menos de 10 segundos, e eu não sei se estou impressionada, surpresa ou aterrorizada. Mas consigo balbuciar:

–Co...como você fez isso?

Ele se vira, e sua expressão é confusa, como se nem ele soubesse o que estava fazendo em cima do nosso mentor.

–Eu não sei. Foi instintivo, meu corpo comandou, não minha mente.- ele sai de cima de Haymitch.- desculpe, não sei como fiz isso.- Haymitch se levanta e olha para ele extasiado.

–Desculpe? Você só pode estar brincando. Isso foi incrível, pode te ajudar muito na arena. O que mais sabe fazer?

–Lutar com espada- ele reponde sem hesitar.

–Isso é ótimo- Haymitch se vira para mim- E você garota, o que sabe fazer?

Eu ainda estou paralisada por causa do que Percy fez a poucos minutos. Mas volto à realidade com um estalar d dedos na minha frente.

–E então garota? O que você sabe fazer?

–Eu sou boa com o arco, e sei subir em árvores.

–Ótimo, amanhã é o primeiro dia de treinamento, e vai ser na frente de todos, até dos outros tributos. Portanto, não podem mostrar suas habilidades, o que significa, longe de arma. Principalmente arcos e espadas. Vocês vão nas seções de técnicas de sobrevivência. Como acender uma fogueira, camuflagem, armadilhas e natação.

–O Percy também precisa ficar longe de água. Ele é muito bom. –falo sem pensar.

–É?-Haymitch olha para ele.- então, longe da água.

–Mas eu gosto de água- ele protesta.

–Você gosta da sua vida também? Então, longe de água.

–Com uma condição-Percy diz, olhei interrogativamente para ele, mas ele ainda encara Haymitch.

–Que seria...?

–Você para de beber, e vai nos ajudar.

–Tudo bem. Mais uma coisa. Quando chegarmos na Capital, vocês terão sua equipe de preparação e seu estilista, e farão tudo o que eles mandarem.

–Tudo bem- digo. Talvez Haymitch possa ser um bom mentor. Mas ainda me pergunto como ele ganhou os Jogos, a 24 anos atrás.

–Então, aí estão vocês- ouço a voz de Effie as minhas costas, e me viro para fita-la.- Vamos, vamos, vai passar a reprise do Dia da Colheita em todos os distritos.- E ela sai com aquele salto enorme, e o som é abafado pelo macio tapete bege. Sem dizer nada, eu, Haymitch e Percy a seguimos para uma sala com dois imensos sofá e uma televisão de tela plana, que só vejo em propagandas na minha pequena e velha televisão, que só funciona no período dos Jogos. Na imagem aparece Kaeser, o simpático apresentador dos Jogos. Ele muda a cor do cabelo todos os anos, esse ano a cor escolhida é um azul bem chamativo. Ele loga anuncia o Distrito 1.

É sempre a mesma coisa, dois são chamados, mas logo os carreiristas se voluntariam. O mesmo acontece no Distrito 2, mas os carreiristas dessa vez me dão medo. O garoto é alto e forte. A garota tem uma expressão fria e assustadora. Cato e Clove. Terei de tomar cuidado com esses dois. Olho para Percy e ele não parece tão preocupado como eu, e me lembro de sua promessa de que iria me explicar. De hoje a noite não passa. Aparecem os outros tributos, e uma garotinha do Distrito 11 chama minha atenção. É pequena, provavelmente de 12 anos. Sinto dó da menina, e, ao contrario de Prim, ninguém se voluntaria para tomar seu lugar.

Até que chega no Distrito 12, o nome de Prim sendo chamado e eu corro ao seu encontro, minha expressão é de desespero, e vivo novamente o momento em que me voluntariei. Depois o nome de Peeta sendo chamado. Nesse momento eu fiquei desesperada novamente. Não podia ser ele, como eu iria para a arena com um garoto que tenho uma dívida pendente. Ele salvou minha vida, e eu não retribui*. Mas logo Percy se voluntaria, ele parece atônito, como se não soubesse o porque de ter feito aquilo, mas seu tom de voz é determinado e confiante. Minha expressão muda de desespero para raiva, como ele pode fazer isso? Acabar com sua vida! Será que conhece Peeta? Acho que não. Peeta tem dois irmão mais velhos, mas foi Percy que se voluntariou. Os comentários de Kaeser são animados. E ele não consegue disfarçar sua ansiedade. Dois voluntários de uma vez só no Distrito 12? Aquele que sempre perde? Isso é totalmente novo.

–Esse ano vai ser o melhor e todos!- ele termina e a televisão desliga automaticamente.

–Vocês são as estrelas, todos falam de vocês. Parece que esse ano posso ter vencedores.- Haymitch diz. Percy sai da sala silenciosamente e eu o sigo, deixando um Haymitch e uma Effie com cara de confusos, mas não ligo. Daqui a algumas horas vou ter que fazer tudo o que me mandar fazer. Vou aproveitar esse pouco tempo de liberdade. Percy segue em direção a uma escadinha, que descubro que leva até um quarto secreto. Quando chego esta sentado com as pernas esticadas.

–O que você quer saber?- ele pergunta sem se virar para mim.

–O que você é. – respondo me sentando ao seu lado. Ele se vira para mim.

–A pergunta não seria : “QUEM eu sou”?

–Você não parece ser uma pessoa normal.

–Eu não sou uma pessoa normal- confirma- mas não deixo de ser uma pessoa. O que quer dizer que sua pergunta deveria ser “Quem você é?”.

–Agora vai me dar aulas de gramática?- levanto a sobrancelha para ele.

–Ai, não. Esquece. – eu rio.

–E então, QUEM você é? –dou ênfase no “Quem” e ele ri.

–Você me consideraria louco.

–Eu já o considero louco.

–Então tudo bem, acho que não tenho nada a perder. – Le fica em silencio, mas como percebe que eu não falo nada, continua:- você já ouviu falar sobre mitologia grega?

–Já, aprendi na escola. Era uam de minhas matérias favoritas.

–Por que?- ele pergunta curioso.

–Ahh... acho que é por que eu admiro aquelas pessoas. Olham para seus deuses em forma de esperança. Mesmo quando todas as coisas dão errado, eles ainda tem a esperança de que alguém pode ajuda-los.

–Você não tem esperança?

–Não. E não adianta mudar de assunto. Ainda quero saber QUEM você é.- ele suspira.

–Tudo bem. Você sabe que esses deuses, no passado, eles vinham para a terra e se apaixonavam por mortais, certo?-assinto. Como que ele sabe disso tudo? Me pergunto silenciosamente, mas não sai pela boca e continuo sem falar nada- Então, eles acabavam tendo filhos com esses mortais, que eram chamados de semideuses. Pois, bem...-ele para por um momento, como se decidisse se devia falar ou não, mas no fim diz:- eu sou um semideus.

–Mas... Isso não é tudo mitologia? Mitos?

–Não, os mortais esqueceram dos deuses, e criaram essas histórias. Mas existem sim, não morrem. São imortais.

–E você é filho de quem?

–Poseidon- responde como se fosse obvio. Mas é claro! Sua facilidade na água! Mas ainda não sei se acredito. Uma parte de mim diz que isso é loucura, mas outra me convence de que ele está falando a verdade.

–Mas de onde você é?

–Agora eu tenho certeza de que você não vai acreditar.

–Tente.

–Ok. Eu vim do passado.