P.O.V Percy.

      A espada era magnífica, perfeita. Tão parecida com contracorrente... Eu e Cato a queríamos, nos olhávamos furiosos enquanto ecoava a contagem regressiva, assim que o gongo soou eu corri, corri direto para a espada. Eu era rápido e Cato também, portanto, chegamos ao mesmo momento na espada, nós dois a queríamos, mas só havia uma.

      –Essa espada é minha Jackson. –Cato disse rangendo os dentes. Os outros tributos se matavam ao nosso redor, mas no momento só existia eu e ele.

      –Você não merece ter uma espada dessas, você nem sabe usa-la. –Provoquei. Eu tinha um plano bolando em minha mente.

      –E você já me viu lutar? –Estava quase conseguindo.

      –Não, mas tenho certeza de que perderia de mim, como na corrida da piscina.

      –Como você tem tanta certeza?

      –Dá pra ver que você é ruim. –Eu precisava fazer ele querer duelar, em uma luta de espadas eu poderia ganhar facilmente, mas uma luta corpo a corpo eu não tinha muita chance, sorte a minha que Cato é lento.

      –A é? Então vamos ver. Um duelo, quem ganhar fica com a espada, já que o outro já vai estar morto. –Por que tinha que ser até a morte? Eu ganharia fácil dele, mas não poderia mata-lo, por mais que ele seja desprezível, metido, idiota, ignorante, ele ainda é um mortal, mas agora não podia dar para trás.

      –Tudo bem, você quer assim? Morrer logo no primeiro dia?

      –Cale a boca Jackson, depois que você morrer terá a eternidade para treinar suas piadinhas. –disse. –Escolha sua espada, qualquer uma menos esta, e sem escudo. –Fui procurar uma espada, e vi o que aconteceu enquanto nós conversávamos. Agora só havia os carreiristas a nossa volta esperando para assistir o duelo, e os mortos. Vários, mortos da pior forma, a maioria com facas nas costas, que agora estavam sendo retiradas e limpadas por Clove. Felizmente, Katniss não estava ali, isso me aliviou.

      –Procurando a irmãzinha Perceu? –Fala Clove me provocando. –Infelizmente a estúpida conseguiu fugir das minhas facas, mas ela não vai durar muito, não se preocupe. –Decidi ignorar e voltar a procurar uma espada. Achei uma um pouco longe das outras. Cinquenta centímetros de comprimento, afiada, parecia-me suficiente, ma não tão boa quanto a que estava em jogo. Cato me esperava com um sorriso zombeteiro. Sua espada era de um metro de comprimento, tão afiada quanto a minha. Fui caminhando lentamente até ele.

      –Sem pressa de morrer, Destruidor de Calx?

      –Somente analisando a forma mais dolorosa de acabar com você, senhor intrometido.

      Ele ficou irritado e partiu para cima de mim a toda a velocidade. Somente desviei para o lado e ele continuou a frente se desequilibrando, ele quase caiu e eu ri. Cato ficou nervoso novamente e preparou outro ataque que aparei com a minha espada. Ele era forte, mas lento. Ele atacava, mas eu conseguia desviar. Eu somente defendia, não atacava. Ainda não me conformava com a ideia de ter que mata-lo. Em um momento ele tentou me enganar: Fingiu que ia atacar por baixo, mas parou o golpe no meio e lançou a sua espada para o meu rosto. Bom truque, mas eu o conhecia, e foi ai que ele me deu a oportunidade. Esperei ele estar o mais perto possível do meu rosto e abaixei, fazendo com que sua espada o levasse para frente, me deixando atrás dele e livre para por minha espada em sua nuca. Assim que sentiu o toque frio da minha espada ele paralisou.

      –Perdeu a coragem agora?

      –Me mate logo Jackson, é isso o que você quer não é?

      –Não, não é isso o que eu quero. Eu não sou tão desprezível como você. Não mato por diversão, e evito quando posso.     

      –Infelizmente nesse momento você não pode.

      –Posso sim. Não sou eu que tenho uma espada no meu pescoço. –Senti um toque frio na minha nuca.

      –É sim. –Ouvi a voz de Clove as minhas costas. Grande erro Clove, grande erro. O que fiz agora foi tão rápido que não deu tempo nem de Clove gritar. Eu me abaixei dei uma rasteira em Clove, troquei minha espada de mão e com a livre peguei a de Clove que tinha caído. Concluindo, obteve-se um Percy Jackson com duas espadas, cada uma apontada para um pescoço.

      –Já deu a palhaçada ou mais alguém quer perder a espada? –Falei para os outros que estavam com uma expressão de terror, e todos se afastaram de nós.

      –Me mate logo Percy Jackson, mas deixe Clove em paz. –Cato disse, sua voz era confiante, mas dava para ver um tom de súplica, me diverti com isso.

      –Relaxe, eu vou deixar o casalzinho vivo. Não vai ser pelas minhas mão que o Distrito 2 vai ser eliminado do jogo. Eu fico com a espada que foi apostada e com a minha que usei no duelo. Quero duas mochilas, uma adaga e um escudo. Agora todos soltem suas armas. –Ninguém soltou. Apertei mais minha espada em Clove que gritou:

      –AHHH

      –SOLTEM AGORA SEUS INÚTEIS! –Cato ordenou e todos soltaram suas armas no chão.

      –Ótimo. –Empurrei Cato com o pé, mas fiquei com Clove. –Se alguém se mexer a garota morre.

      –Eu não tenho nada a ver com isso. Que morra a garota, não vou ser usado como um peão do Distrito 12. –O garoto do Distrito 3 disse apanhando sua arma. Dei um corte no braço de Clove que gritou novamente. Cato, rápido como um raio, catou uma faca no chão e jogou no pé do garoto, que gritou de dor. Fiquei horrorizado com a cena, um dedo dele tinha sido arrancado quando ele retirou a faca.

      –Suma da minha frente. –Disse Cato e o garoto correu para a floresta mancando. –Se Clove se machucar mais uma vez por causa de vocês eu não vou ter tanta pena.

      Continuei meu caminho em direção ao que queria. Peguei as mochilas e coloquei nas costas, arrumei a adaga no meu cinto, guardei a espada que usava na lateral do meu corpo, peguei a que eu lutei para conseguir com uma mão e o escudo com outra.

      –Você já tem o que quer, agora suma. –Decidi que já estava suficiente. Fui até a beira da floresta ainda com Clove. Soltei-a com um empurrão na direção de Cato, que a abraçou. A garota do Distrito 1, estava com o arco, o único arco, aquele que Katniss precisava. Devia ter incluído isso, mas agora Clove não era mais minha refém. A garota preparou o arco em minha direção, eu ia erguer o escudo, mas nem foi necessário: a mira da garota era tão ruim que caiu a quase um metro de distancia de mim. Isso seria bem mais útil na mão de Katniss. Agarrei a flecha que caiu do meu lado e corri floresta adentro enquanto a garota ainda preparava o arco pra usa-lo novamente.

     Corri por um longo tempo e decidi descansar, provavelmente já estava longe da cornucópia. Posso até ouvir os comentários das pessoas da Capital sobre o que eu fiz. Alguns provavelmente me acham estúpido, e que logo vou morrer, mas eu não conseguiria matar alguém assim. Eu tinha bem mais vantagem, além de que ele não tem culpa de estar aqui. Foi posto na cabeça dele que deveria fazer isso, então vai fazer, mas tenho que tomar cuidado, não acho que Cato vai ser tão amigável quanto eu, quando for ele que tiver uma espada na minha garganta. Abri as mochilas e encontrei a mesma coisa nas duas: um saco de dormir, um pacote de bolachas, um saco de tiras de carne seca, uma garrafa de iodo, um rolo de fio de arame e uma garrafa vazia. Só no momento que vi a garrafa notei o quanto estou com sede. Preciso de água.

      Uma pessoa normal sairia por aí procurando um riacho ou um lago, provavelmente demoraria horas para encontrar, felizmente, eu não sou uma pessoa normal. Eu tenho receio de usar meus poderes, mas no momento meu problema de sede é um pouco pior do que o que a Capital fará quando ver o que vou fazer agora. Fechei os olhos e senti a água. Não estava longe, sentia um lago a poucas centenas de metros de distancia. Comecei a andar e chegar cada vez mais perto da água. Depois de meia hora de caminhada alcancei um pequeno lago de água doce. Enchi a garrafa e nadei um pouco, isso me fortaleceu e me encheu de energia.

      Decidi acampar por ali mesmo, mas não no chão, eu não sou tão burro. Subi em uma arvore com galhos fortes e arrumei meu saco de dormir. Comi uma bolacha e uma tira de carne seca e fiquei deitado esperando o crepúsculo. Fiquei pensando em minha vida antiga, no que poderia estar acontecendo no acampamento. Doía lembrar-me de Annabeth daquele jeito, nunca pensei que ela sentiria tanto a minha falta. Fico feliz por Thalia estar com ela.

      Um tiro de canhão interrompeu meus pensamentos. São onze tiros, provavelmente significam quantos mortos teve no dia. Logo depois começa a tocar uma música. A mesma da Cerimônia de abertura, deduzo ser o hino. Imagens começam a aparecer no céu escuro. O garoto do Distrito 3, provavelmente morreu por hemorragia na floresta. O garoto do 4, que impressionantemente se parece comigo. Cabelos pretos, pele bronzeada e olhos verdes. E os distritos 6, 7, 8 e 9 estão eliminados totalmente. Faço as contas e falta um. Rezo a Hades para que não seja Katniss, e então a garota do 10 aparece no céu. “Obrigado tio!”. 11 eliminados no primeiro dia, só restam 13 tributos. Parece que estes Jogos não vão demorar muito, e certamente Cato e Clove serão problemas. Por um momento questiono minha decisão de não mata-los quando pude, mas logo tiro a ideia da cabeça. Eu não vou fazer o que estes estúpidos da Capital querem, se eles querem matar Cato e Clove eles que venham aqui. Assim que o hino toca novamente percebo que estou muito cansado, por mais que a luta não tenha sido difícil, eu não dormi bem noite passada.

      Antes de fechar os olhos penso: Boa noite Katniss. Boa noite Annabeth.  Será que no passado é noite também? Não sei, e não estou muito disposto a descobrir. E caio na inconsciência, sem sonhos ou pesadelos, felizmente.