Os Semideuses e a Árvore De Sangue escrita por DennysOMarshall, Robert Zhang, HenryDixon


Capítulo 12
ADAM




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Em algum lugar na vasta floresta que cercava o Acampamento Meio-Sangue, o lobo esbranquiçado de Egrezen uivou. O som parou sobre o carro esporte de Dakota Marshall como uma bandeira de luto. 

Adam Bunny ergueu os olhos do livro cuja leitura acabara de continuar assim que entrara no carro e estremeceu, apesar de que arranjara um lugar deveras agradável dentro do carro. Há algo no uivar de um lobo experiente que pertence a uma Caçadora de Ártemis que tira um filho de Afrodite, que mal vivencia com realidade os treinamentos do seu aqui e agora e o transporta de modo vil para uma sombria floresta mental, onde está cercado por uma horda de criaturas vis e sombrias, que costumam assombrar os heróis.

Quando o lobo voltou a uivar, Adam fechou o pesado livro encadenardo a couro que estava lendo, um discurso de cem anos de um contador de histórias grego muito famoso que há muito morrera sobre os monstros que geralmente atacam os heróis em suas viagens e como lidar com eles de modo fácil e que não machuque muito. Abafou um bocejo com as costas da mão. Tinha passado a noite anterior inteira lendo, mas isso não era novidade. Adam Bunny não era um rapaz que costumava, embora sem vestígios, dormir muito. Na noite retrasada, por exemplo, passara a noite inteira na Lagoa de Canoagem com um filho de Atena, com os pés emergidos à água enquanto discutia animadamente com ela sobre seus gostos musicais e a diferença da Disney dos tempos modernos aos antigos.

Quando deslizou do banco de couro, sentiu as pernas rígidas e doloridas. Devolveu-lhes alguma vida com uma massagem e levou os olhos ao seu lado, onde Alice D'Vince, a filha de Poseidon ressonava baixinho, com um livro aberto no colo, lido até mais ou menos um pouco mais da metade. Adam lançou um olhar de relance ao título. Não admirava: era uma biografia de Teseu.

— Alice — disse, com sua voz docemente encantadora em tom baixo. A jovem ergueu os olhos de supetão, pestanejando, confusa, com o cristal balançando vigorosamente na ponta de sua corrente de prata. — Vou, agora, quebrar o jejum. E creio que você deveria me acompanhar, minha bela. Trate de fechar este livro, que lhe embebe em um pesado sono que lhe pode ser prejudicial durante essa viagem perigosa. Eu mesmo já passei horas lendo sobre esse Teseu, e tenho em minha cabeça uma enciclopédia ambulante que pode lhe entreter mais do que um quieto livro que lhe faz fria companhia. Eu — disse ele, levando a mão magra aos cabelos dela — posso lhe ensinar tudo. — Alice olhou de boca aberta, ainda meio adormecida. Por ser uma garota de dotes de beleza, costumava ser cortejada pelos rapazes, mas Adam a tratava de um modo tão erudito que a fazia pensar estar num conto de fadas grego, e que aquele garoto esguio e inexperiente era na verdade um rapaz de muitas aventuras.

Adam levou as mãos ao bolso da calça jeans skinny e apanhou, lá dentro, um sachê transparente de biscoito light, que era o que costumava comer. Ofereceu um deles com um sorriso agradável para Alice, e segurou a mão dela enquanto ali colocava um dos biscoitos. A garota teve a obrigação de corar.

Adam deu um sorriso e virou o rosto claro para a janela do carro. Ao observar a paisagem, via que uma tempestade estava para vir. Perguntou-se em silêncio se a notícia da Árvore de Sangue chegava agora ao Olimpo. Um de seus dedos apertou com força o botão que abaixava a janela do carro. Com o ar exterior penetrando o carro, Adam encheu os pulmões com o frio ar da manhã e recomeçou sua laboriosa leitura, enquanto mordiscava o biscoito salgado. Duas vozes ao seu lado, que não se assemelhavam a de Alice, que ouvira no dia anterior chamaram a atenção de Adam.

— Aqueles quatro — a voz masculina referia-se à Própon, Dakota, Turbanus e Oliver — não se decidem mesmo. A nossa viagem vai atrasar muito, e não temos tempo nenhum a perder. Meu pai que olhe por mim, e sei que vai olhar. Me preocuparia se essa viagem fosse para previnir algum mal que cairia sobre o Acampamento. Os deuses não dariam a mínima! Uma pequena ajuda, uma pequena dica, talvez. Mas aposto que só faltará marcarem presença física uma vez que o problema é deles, dessa vez.

Adam olhou de relance para o lado, com as sombrancehas arqueadas, e viu que quem comentava era Xavier, o filho de Apolo. 

— Pelo menos fazem um silêncio profundo. — respondeu Katherine — É o lobo que faz barulho. Quase não consegui dormir durante essa noite, que foi quando as Caçadoras chegaram ao Acampamento. Eu as vi entrando na Casa Grande, foi logo quando eu saí. 

Adam suspeitou. O que Alice fazia na Casa Grande pela noite? O mais suspeito, como ela fora para lá sem a sua ciência, uma vez que nos últimos dias esses encontros de Própon e Katherine tornaram-se mais frequentes, e consequentemente sua espionagem também? Precisava embarcar naquele assunto, e o fez do modo mais sutil.

— Posso silenciar a criatura, se agradar a senhorita — disse, através dos olhos sarcásticos. Adam exibiu a sua adaga brilhante para Katherine, que a olhou com desdém e deu uma risada. A resposta que bolava na cabeça parecia encher ela de orgulho.

— Mandar um poodle cheiroso matar um lobo selvagem! — exclamou ela, humorada — estou ficando irritada com a presença de tantos cães ao meu redor. Embora se o lobo fosse assassinado não acho que Egrezen ia notar. A vaidosa substituta da tenente está tão rodeada de cães que ia tentar roubar o lobo de uma de suas Caçadoras, assim como quer roubar o cargo de Ellen Scaller.

Adam rebateu, afim de travar uma luta verbal com Darkholme.

— Permita-me discordar, minha linda — Alice sentiu-se substituída. — As Caçadoras são capazes de reconhecer seus próprios lobos, assim como são capazes de reconhecer quem lidera elas. Ellen Scaller foi escolhida por Ártemis, e elas seguem Ártemis. Essa briga estúpida não levará a nada, se for da vontade da eterna donzela.

— Essa voz me parece a voz de alguém sábio, Kat — disse Xavier — talvez algum grande herói que já participou de muitas batalhas! Não, não! Deixe-me adivinhar, por favor, que embora não esteja ao meu ver, o nosso grande guerreiro nos ensina sobre as Caçadoras de Ártemis com exímia experiência. Talvez lutou ao lado delas, hã?

Katherine riu, como ria sempre que Xavier fingia-se de pantomimeiro. Adam já estava habituado com as piadinhas.

— Hoje, meu caro filho de Apolo, não tenho tempo, e muito menos disposição moral para as suas insolências. — Adam virou-se para a filha de Hades — A situação já se torna hostil aqui, e não gosto disso. Me desculpe pela discussão.

— Discussão, rainha da beleza? Eu não senti a situação hostilizada em momento algum. Ilude-se se acha que causa algum efeito aqui, entre nós. Uma viagem de efeito bem maior está por começar.

— Afrodite se recordará disso, insolente — preveniu Adam, enraivecido.

— Rezo para que se recorde — respondeu Katherine Darkholme — Caso se esqueça, seja um bom cãozinho e a relembre — passou os olhos pelo carro e virou-se para Xavier — sabe do que estão discutindo lá fora? 

Xavier pensou um pouco, como se tentasse lembrar do que ouvira da conversa entre Dakota e Própon.

— Estão conversando, acho, sobre as condições da volta para o Acampamento, e sobre as ajudas das quais podem dispor.

— Ah — respondeu Katherine. Inclinou negligentemente a cabeça para Xavier e deitou a cabeça no banco, assobiando, com tanta vivacidade quanto seu humor mórbido a permitia.

A porta do motorista abriu com força. Adam achou que fosse Dakota, preparando-se para partir com a viagem, mas era na verdade Própon, que inclinou a cabeça e olhou para os semideuses. Tirou os óculos com a mão esquerda, enquanto apoiava-se no volante com a direita.

— Muito bem, heróis — ele disse, pigarreando — eu não me sinto bem, definitivamente, em deixar um grupo de adolescentes partirem numa viagem críticas sendo guiadas por um outro adolescente, filho de Dionísio, ainda por cima — Dakota revirou os olhos atrás dele — Katherine, cuide desse garoto e de todos os outros — Própon olhou Alice de relance, como se apontasse para ela — e não deixe que nada de ruim aconteça. Seus olhos devem estar constantemente fixados na estrada. Dois sátiros, Jan Vahmer e John Perpox estão na picape que vai junto de vocês. Um deles, Jan Vahmer, recorde bem, pois você os dividirá, está destinado a ficar com os semideuses que estão naquele orfanato. Ele, na picape, os trará de volta para o Acampamento em segurança. John Perpox, o sátiro protetor sênior, deve partir junto com vocês. Ele é amigo de Ellen Scaller, foi ele que a trouxe ao Acampamento. Rezarei todas as noites para o meu pai, Katherine, para que ele os protejam dos males que os assolarão durante esse caminho. 

— Própon... — a respiração de Katherine falhou, Adam observou minuciosamente as palavras, e ela percebeu, então as mediu — eu agradeço de coração pela sua preocupação. Turbanus fez um bom trabalho. Eu me sinto confiante, senhor. Por mim e pelos outros semideuses, sei que conseguiremos nos sair bem.

Própon segurou a mão pálida dela, não havia percebido que Adam os observava. Ela retirou a mão bruscamente da concha que as mãos de Própon faziam e o lançou um olhar repreensivo. Própon se arrependeu de ter feito aquilo.

— Muito bem, crianças — Própon disse, deixando o mapa no banco do passageiro — boa viagem. Ouso dizer isso como um puro desejo e prece? Sim, é claro. Que os deuses estejam com vocês, meus pequenos. 

Própon saiu com um sorriso. Adam pôde ver ao se esgueirar pela janela do carro que deu uma batida firme no ombro esquerdo de Dakota e lhe deu seus votos de boa sorte. Dakota entrou no carro, e Oliver veio logo em seguida. Adam se mexeu no banco e se aproximou de Alice, e levou as mãos até a mão esquerda dela e a segurou, envolvendo-a num aperto caloroso. Alice estava adormecida, por isso nada ela disse.

— Muito bem, então — disse Dakota, suspirando e olhando para trás, colocando o ombro no encosto do banco — quem está com o mapa?

Ao lado dele, Oliver abriu o mapa com vários ruídos e um pouco de dificuldade. — Eu estou — disse ele, virando o mapa para o lado certo. Dakota o segurou e começou a ver o caminho para Denver.

— E as Caçadoras? Já foram embora?

— Não — disse Adam, com uma voz lamuriosa — elas estão no Ford ali atrás. Egrezen teve um problema com o motor. Infelizmente, apesar de ter sido chamado, não as consegui ajudar.

— Tá bom então — disse Dakota, que ligou o carro abruptamente — isso vai ser bem difícil... De Long Island até Denver... Bem, vamos demorar, no tráfego atual, pelo que vi no meu iPhone — arrependeu-se ao dizer isso, e mesmo sem olhar para trás imaginou que Darkholme o estaria fuzilando com os olhos — é de cerca de trinta horas. Eu preciso ser prudente se não quisermos ir parar em cana, por isso chegamos lá em cerca de trinta e cinco horas... Isso passando por Chicago, é claro. Bem, de Denver até Salt Lake City... Isso eu faço em dez, oito horas. No problem.

— Então vamos! — disse Oliver, apertando alguns botões do rádio — Estão todos prontos para salvar os deuses?

Esperava um coro animado gritando "SIIIIIM!", mas o máximo que atingiu foi Dakota lhe lançando um sorriso triste. Aquilo parecia uma ironia cruel, mas a rádio tocava a música Highway to Hell. De fato, Adam se sentia no caminho pro inferno, longe de suas barreiras mágicas, longe de seus espelhos e seus amores. Longe de Edward Grommën, filho de Apolo, o seu melhor amigo. Se sentia, a partir do momento em que Dakota saiu do Acampamento Meio-Sangue, longe de sua casa.

Mais a frente podia ver o começo de uma estrada. Raphael Chimicatti estava lá junto com Leah e Natalie. As duas seguravam um arco longo curvado e tinham flechas em prontidão. Raphael sentava-se encostado num pedregulho comendo morangos. Adam suspirou de medo e apertou forte a mão de Alice.


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