Os Semideuses e a Árvore De Sangue escrita por DennysOMarshall, Robert Zhang, HenryDixon


Capítulo 10
DAKOTA




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Quatro horas da manhã. O som de uma gota que parecia ser infinito pigando perto da cabeça de Dakota o ajudava a dormir. Aliás, tudo naquele chalé era um incentivo forte ao cochilo eterno. Não lhes seria possível descrever em palavras a frustração que o próprio Oliver, o que mais estava motivado a partir teve a acordar. Teve que tomar cerca de cinco banhos quentes para despertar completamente. Mas para aqueles que não estavam acostumados aos caprichos do chalé quinze, poderiam levar décadas para acordar completamente e nunca mais sentir falta daquele lugar.

Às quatro e quarenta e cinco, Darkholme e Xavier bateram na porta do chalé várias vezes seguidas. Foi quando Oliver terminou o seu quarto banho. Recebeu-os e apagou a lareira para tentar amenizar o efeito que o chalé quinze causava. Sentaram-se ao lado de Dakota, que dormia petrificado e começaram a conversar. Darkholme tentou acordar Dakota de todas as maneiras, mas sentiu-se cansada depois da décima quinta tentativa. Não obstante o local, Dakota dormia com uma camiseta branca e uma calça larga de lã. Não é possível pensar numa coisa sequer que faça o sono de alguém ser mais efetivo. Mexia-se para lá e para cá.

— Marshall, acorda — resmungou Xavier, cabisbaixo e sonolento, não costumava acordar tão cedo desde que Turbanus virou uma fera com o chalé de Apolo por causa de uma brincadeirinha e os fez dar sete voltas no acampamento por cinco manhãs e cinco noites — nós temos que ir... encontrar as Caçadoras...

— Calma aí, Sheeper. — Oliver alertou — Uma vez que esses seus olhos se fecharem, vai ser tão difícil abrí-los quanto os de Dakota. Ele está dormindo desde quatro e meia, acho que daqui a uns dez minutos ele mesmo cansa de dormir. Mas você... você não deve ter ido dormir cedo como nós fomos, e ainda acordou tarde, suponho — Xavier assentiu, envergonhado — eu acho que devíamos todos... — piscou, em sonolência — ficarmos mais alertas quanto a isso. Falar em alerta... Eu acho que sei como acordar ele.

Darkholme o fitou, estudando o sorriso insano que dominava sua face, bolando uma ideia para acordar Dakota. Imaginou o que ele faria enquanto o olhava com desdém. Oliver começou a mexer num tipo de baú de couro que ficava no fundo do chalé. Lá, jaziam objetos que mais pareciam festivos, e Katherine se lembrou que Oliver tocara numa orquestra no anfiteatro uma vez. Ele tocava uma daquelas esferas douradas que ficam naquelas baterias, amarrando uma em cada mão e batendo-as repetidamente, como um macaco de corda.

— Melhor taparem os ouvidos, eu acho — nisso, Oliver amarrou-os cuidadosamente. Katherine foi a primeira a posicionar-se em posição fetal e tapar os ouvidos. Xavier somente se afastou, decidiu que após o aviso de Oliver seria melhor ouvir aquelas batucadas para acordar de vez, e PÁ, PÁ, PÁ, PÁ, PÁ! Oliver começou a bater insanamente uma mão na outra, e se não fosse a porta que bloqueava o som, um dos resultados além dos travesseiros super-macios que os antigos membros do chalé quinze conseguiram com aquele protesto, todos os outros campistas teriam acordados, e acordar tão cedo teria sido inútil. Própon e Turbanus provavelmente já os esperavam.

Dakota pôs-se de pé num pulo de supetão. Assustou até mesmo Darkholme, que deu um pulo e caiu na cama de costas. Dakota mal conseguia raciocinar o que devia fazer, e andou tontamente pelo chalé por alguns segundos.

— Dakota, Dakota! — Oliver gritou — Acorde, dorminhoco. Temos de ir agora. É hora de partir.

— Pra... Salt Lake City?

— Não — Katherine falou, arrumando os cabelos ruivos — nós vamos encontrar Ellen Scaller em Denver. Ela está resolvendo um problema. Pelo o que Própon disse hoje mais cedo quando eu e Oliver fomos lá, quatro semideuses no mesmo orfanato estavam sendo atacados por um mantícore.

— Quatro semideuses? Isso sim é uma coincidência... — Xavier disse, suspirando.

Katherine o olhou, analisando a palavra coincidência minuciosamente.

— Mantenha isso na sua cabeça, solzinho: não existem coincidências. Principalmente se estamos falando sobre semideuses e quaisquer outras coisas que envolvem... realidades... diferentes, não sei. E se fosse mesmo uma coincidência, Própon, que disse já saber disso, teria enviado sátiros, e Ártemis não se preocuparia.

— Você acha que isso tem algo a ver com... a Árvore? — Dakota disse, coçando os olhos.

— Acho. Na verdade, muito do que acontecer daqui pra frente vai ter a ver com a Árvore. Própon nos disse que não somos as únicas forças indo para Salt Lake City, mas somos a que ele mais põe fé. Jano também deve ter chamado alguém, e não demora para que essa notícia chegue ao Olimpo.

— Ainda não chegou? — Xavier perguntou, incrédulo — Nós estamos sendo enviados, junto com mais alguns outros grupos e os deuses gregos não sabem que estão correndo perigo? Pior, não sabem que correm o risco de morrer?

— Não — disse Katherine — Morfeu e Hipnos quiseram manter isso como um segredo. Na verdade, Jano quis. Essa foi a escolha que ele fez. Mas não acho que essa decisão vá durar tempo demais. Não se esconde nada dos deuses por tempo demais, mesmo sendo um deus quem esconde. E acho que você — olhou para Dakota severamente — deveria estar se arrumando, a não ser que queira enfrentar os perigos do caminho com os cordões da sua calça de lã.

Dakota sorriu e percebeu que todos já estavam arrumados para partir. Xavier usava quase a mesma roupa do dia anterior. Uma camisa com manga longa do acampamento, que ele mesmo mandara confeccionar, uma calça preta e o anel negro. A diferença desta vez era um cinto que mal parecia lhe ser útil, pois a calça se sustentava sozinha. No meio do cinto, a decoração de um sol mal desenhado. Katherine não usava o uniforme do acampamento. Seu batom estava reforçado, e sua maquiagem em volta dos olhos também. Suas roupas eram de couro e brilhavam com as tochas que se espalhavam pelo chalé. Tinha uma luva que não cobria os dedos em suas mãos e um sapato com salto. Oliver parecia sonolento. Apoiava os ombros cobertos pela camisa de lã acinzentada na larga calça tactel azul claro. Levantou-se da cama e esfregou os olhos. Ninguém disse uma só palavra enquanto ele abria a porta do chalé de Hipnos. Olhou para trás e todos o olhavam apreensivamente. Sabiam que aquela não seria uma missão fácil. Sabiam que ninguém voltaria do jeito que está, seja fisica ou psicológicamente. Suspirou e fechou a porta.

Atrás do Pavilhão do Refeitório, o sol nascia sereno. Os céus ainda estavam emaranhados pela noite, e a lua era vista logo depois da Casa Grande, sumindo no horizonte. Dakota suspirou no ar gélido. A grande fogueira dos chalés estava apagada. Ele cruzou os braços e olhou para o chalé de Dionísio, que ficava logo a frente. As vinhas balançavam conforme o vento soprava. Uma uva caiu no chão. Dakota andou até lá apreensivo. Abriu a porta cuidadosamente. Jopler dormia com uma camisa social preta desabotoada. Nas mãos uma marca avermelhada de batom. Dakota não queria nem pensar o que acontecera enquanto ele estivera no chalé quinze. Provavelmente aquele batom não era de Darkholme, as razões são óbvias. Aliás, o batom dela não tinha essa tonalidade.

Um baú marrom-claro estava ao lado da cama vazia, desarrumada na qual Katherine dormira no dia anterior. Dakota ficou de joelhos e abriu o pequeno baú. Um casaco de couro marrom estava lá, desbotado e amarrotado. Na gola, pêlos altos de um animal claro. Dakota não sabia, mas achava que era um urso polar ou algo assim. Nunca se sabe do que fazem esses casacos hoje em dia. Uma camisa preta com uma estampa acinzentada de mandíbula de tubarão estava abaixo dela. Ao lado, seu colar de contas. Pegou-os todos e uma toalha. Saiu do chalé e foi para os banheiros tomar um banho. 

Depois do banho, refletiu um pouco sobre sua participação naquela missão. Sabia que não seria fácil, e que talvez nem ao menos voltasse vivo. Entretanto, Dakota era um rapaz bem treinado. Nunca se espera essas coisas de um filho de Dionísio, mas o rapaz era esforçado. Bom arqueiro, espadachim e furtivo no uso da adaga. Talvez porque seu companheiro de batalha era sempre Oliver, e o uso da foice não era permitido e ele sempre ganhava, mas Dakota gostava de pensar que era bom. 

Sua reflexão acabou. Um frio na barriga. Olhou para cima. Um pilar envelhecido com algumas vinhas à sua frente. Uma escritura em grego, que ele podia entender muito bem: "Acampamento Meio-Sangue". Engoliu em seco. Sabia que assim que atravessasse aquele arco, estaria fora da proteção mágica do acampamento. Pensou se não podia ficar dois dias em paz no lugar onde se sentia mais seguro no mundo. Um olhar determinado surgiu em sua face. Não havia ninguém atrás de si. Não havia ninguém e nenhum motivo para olhar pra trás. Pisou forte na terra. Saiu do Acampamento.

A mão suada no bolso a cada passo envolvia a esfera de ébano. As árvores tremiam, e as folhas caíam ao seu lado. Desceu a Colina. Ao procurar pro seu carro, encontrou várias pessoas ao lado dele. Própon usava um cachecol enorme, que voava ao vento. Sentada abaixo de uma árvore, sonolenta, estava a filha de Poseidon. Usava um short pequeno jeans. Xavier tinha em mãos a sua arma padrão, um arco antigo e legendário, usado por Teseu nos tempos anciões. O Arco de Épiro. Encostava-se no carro de Dakota. Oliver estava do outro lado do carro, apoiando o braço contra o teto solar. Dakota olhou apreensivo. Um sorriso formou-se em sua boca. 

Darkholme, que sentava-se ao lado da roda do carro parou de amolar sua lâmina e olhou para ele, que se encostava em uma árvore ao longe. Sorriu e sacodiu os cabelos ruivos. Ao lado dela, Alice olhou-o confusa. Dakota suspirou.


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