A Deusa Mãe escrita por Hakushiro Lenusya Hawken


Capítulo 14
Loucura passageira


Notas iniciais do capítulo

Byakushi e Yomi descobrem mais sobre os inimigos e ganham habilidades para derrotá-los. Será que elas, ainda frágeis, conseguirão administrar os poderes que estão chegando?



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A mesa estava decorada com saladas coloridas e de folhas desconhecidas. Eu encarava o anfitrião como se perguntasse se ele realmente queria que eu comesse aquela coisa toda. O moço capturou as folhas com a mão. O som da folha sendo triturada era assustador. Olhei para Kenji, que estava com a mesma expressão de nojo que eu. Pelo menos, não era carne. Eu não conseguiria imaginar como seria devorar carne oriana.

Me arrisquei a experimentar. E não era ruim. Eu cheguei a limpar o prato. Mas logo, o rapaz destampou a tigela no centro da mesa e meu estomago revirou. Lá dentro, estava uma poça de água roxa escura. Havia algo roxo claro boiando.

Ele pegou um garfo grande, espetou naquela coisa roxa e puxou para fora, revelando ser um braço. Perguntou se nós queríamos, mas negamos com a cabeça.

- Não sabem o que estão perdendo.

As pontas do garfo arrancaram vigorosos pedaços de carne, e eu me espantava no quão fácil a carne se desprendia do osso.

Depois dele se deliciar com seu banquete, começamos a conversar direito. Ele nos levou para uma espécie de sala de reunião, com uma mesa redonda de madeira e cadeiras que eram baixas demais para nós. Em cada parede, eu via um cenário diferente, mas todos com os mesmos pontos: As três luas ou o sol laranja ao fundo, e arvores com manchas brancas em suas pontas. Ora era só a plantação, ora havia gente por lá. Se você tombasse o corpo para frente, dava para ver um vazio no centro da mesa, coberto por um vidro límpido.  Dentro havia uma caixa, mas não tive coragem de perguntar o que era.

Conversamos sobre coisas nada importantes. Perguntamos sobre as pinturas, civilização, e também confirmamos que ele era o sacerdote. Perguntamos também como que aqueles lugares fora de Conchita foram criados em 7 anos.

- Bem... Nossas mestras são de fato muito fortes, perdendo somente para a luz da classe pura e primaria do reino, a Aiya. Aiya pode fazer tudo, mas cada uma das outras mulheres tem apenas uma única habilidade.

- Posso entender. – Sussurrou Yomi.

Conversamos sobre mais algumas coisas. Vira e mexe aquele rapaz estava rindo do que falávamos, mesmo se estivéssemos sérios. No entanto, em meio a gargalhada, eu resolvi chamar a atenção para um assunto importante.

- Theia...

- Hm? – A risada fora transformada em uma expressão séria e curiosa.

- De que classe é a Theia...?

- Joker, como Aiya e Zatsu.

- Qual a habilidade de um Joker?

- Não dá para se saber, ao certo. Cada um, até agora, esboçou uma habilidade diferente, sem forma.

- Eu preciso saber se um dia serei tão forte quanto ela... – Sussurrei.

Faraoni explicou para nós que os poderes da primeira geração nem sempre são passados para uma segunda. Ele me analisou da cabeça aos pés, antes de dizer que eu não tinha chances contra NENHUM membro da classe alta. Isso incluía Ghanida, Eisblume, Theia, entre outros. Entretanto, seus olhos passaram de mim para Yomi e depois voltou a olhar para mim.

- Mas... Nós, orianos da classe Paus, desenvolvemos métodos de aprimorar habilidades. Pequenos artefatos que elevam a força de um oriano ao extremo.

- Ótimo... E... – Fui interrompida.

- Entretanto, uma mulher com Mormia já no segundo estágio, se utilizar o método, será devorada pela doença rapidamente. Então não poderei da-lo a você, Byakushi.

- Mas...

- Se você quer tanto salvar seu mundo das garras do Zatsu, aconselho a você lutar. Lutar e vencer com as próprias forças... Eu sei que é difícil, mas você consegue. Afinal, é filha de Aiya e... Hã? Por que está chorando?

Eu estava com a cabeça perto do peito. Soluçava e meu busto estava pintado de escuro, graças às lagrimas.  Mas Faraoni me encarava com um sorriso amável. Kenji me abraçou, apoiando minha cabeça em seu ombro.

- Você é muito dependente de ajuda, cara albina.

- Eu preciso ajudar Aiya... Preciso honrá-la e honrar também os sacerdotes! – Minha voz estava rouca, de forma que nem eu mesma já tinha ouvido. Olhei para ele com o canto dos olhos e o mesmo estava com os lábios entreabertos, surpreso pela teimosia. – Preciso do arte...

- Me dê o artefato. – Yomi se levantou, colocando ambas as mãos sobre a mesa.

Os olhos da morena estavam brilhantes, de forma estranha. Apesar disso, estava com um sorriso que pegava a pontinha da curva da boca. De longe era impossível enxergar, mas eu tinha a visão clara do que via ali. Era um sorriso.

- How... Você aceita um artefato misterioso sem nem saber o que ele faz?

- Vou poder acabar com Theia, não? Então sim.

Faraoni explicou que o amuleto se chamava Histeria. Uma gargantilha que dava leves choques nos nervos do pescoço e subiam até a cabeça, elevando velocidade, força e agilidade. Isso durava cinco minutos, e depois, demorava 10 minutos para ser recarregado. Além disso, nesse modo, não havia como distinguir quem era amigo ou inimigo. Avisou que quando uma oriana já sanguinária por natureza entra nesse modo, mataria até mesmo quem mais ama.

- Eu tenho autocontrole. O amuleto. Agora.

- Sua forma Oriana será revelada. Não tem medo?

- Medo algum... O amuleto!

Faraoni retirou a tampa de vidro da mesa e arrancou de lá dentro a caixa, abrindo-a. Lá, havia um pequeno amuleto de forma peculiar com a cor preta, que muito parecia o símbolo do signo peixes, amarrado numa fita branca, larga.

Entregou-a com cautela para Yomi, que no mesmo momento amarrou-a no pescoço. Esperamos alguns segundos, e nada.  O verdinho contou que o amuleto só funcionaria se o usuário estivesse em apuros.

Após mais uma conversa trivial, partida de Kikuri que estava calada até agora, nos retiramos da casa.

...

- Esse amuleto não parece ser lá grande coisa. – Kenji falou, encarando de perto o colar no pescoço de Yomi.

- Se aproximar mais um milímetro, eu farei questão de testá-lo.

Kenji se afastou novamente, indo para perto de mim, agarrando minha mão. Fizemos o caminho de volta tranquilamente, seguindo as arvores queimadas. Paramos perto de uma clareira, e me perguntei se tínhamos seguido por algum caminho errado. Yomi estava sempre de guarda. Ela olhava com os olhos brilhantes, acesos. Circulava aos arredores, atenta.

Um farfalhar que muito me lembrou uma risada tomou conta da clareira, e Kikuri se pois a flutuar pelas copas para ver se encontrava a origem do som. Eu vivia repetindo que era apenas o vento, mas Yomi estava desconfiada demais.

E ela tinha razão. Kikuri voltou correndo, se jogando contra Kenji, que mesmo desconfortável, protegeu-a em seus braços. Ela falou que quem chegava tinha o corpo negro e uma mascara branca. Era grande, mas com poucos músculos. E continha no corpo vários símbolos de Paus.

- Quantos minutos para o embate?

- 5... Segundos.

Não precisava falar mais nada. Yomi sacou minha espada e se colocar em posição defensiva. A criatura se jogou contra ela, com uma adaga serrilhada, que foi defendida por Orologio sem nenhum problema. A morena emburrou a besta para trás, e ela se afastou alguns passos, demorando poucos segundos para avançar mais uma vez.

A segunda estocada foi novamente defendida sem nenhuma expressão de surpresa no rosto da morena. Ela defendera todos os golpes sem nenhuma emoção, até que por fim, teve de se defender subitamente de uma segunda fera que se jogou da copa em cima dela. Yomi pulou para trás e gritou para que nós saíssemos dali. Kikuri e Kenji se ocultaram em meio a relva, mas eu estava parada observando a batalha, com os olhos brilhantes.

A fera de um rodopio e avançou contra Yomi, que imitou o ataque e ambas as armas se chocaram. O terceiro voou sobre eles, avançando com uma espécie de lança negra. Diferente de inimigos comuns, as bestas não temiam a arma azul nas mãos da morena. Elas avançavam, e atacavam, sendo feridas, mas não recuavam, e atacavam de novo, até que a morena se desequilibrou em meio aos obstáculos no chão e caiu.

Nesse momento, ambos os monstros se jogaram em frente, saltando para dar o golpe que mudaria tudo, na bela dama de companhia da princesa. Entretanto, escutei o vibro do colar. O tempo pareceu ficar lento por alguns momentos, enquanto uma nevoa leve e negra envolvia a morena e ela, num rugido surdo, ficou em pé e se jogou contra os monstros. Orologio, que era azul por natureza, exibia a lamina negra e brilhante.

Quando a nevoa se despistou, formando apenas uma fumaça atrás dos fios negros da moça, deu para ver o que Histeria lhe fez. Na cabeça, um par de chifres serrilhados. A pele ficou simplesmente branca, como a de Aiya. Os olhos verdes ficaram cintilantes, tanto que dependendo do movimento, fios de luz da mesma cor escapavam deles. Tinha pequenas asas em suas costas. Pelo menos a parte óssea.

Yomi fechou a guarda com os braços, recebendo o ataque da adaga de forma firme, mas sem sofrer arranhões. Após isso, avançou sobre os animais novamente, decapitando o segundo que apareceu. Quando Orologio foi abandonada, sua lamina voltou a ficar azul. As mãos da morena receberam uma nova companheira: A foice da fera morta. Ela rodopiou como um pião, ao que a foice deslocou a quantia de ar necessária para desequilibrar aquele animal ainda vivo. Após estar atordoado, a mulher desceu a foice sobre seu corpo negro, cerrando-o em dois.

Kenji e Kikuri urraram uma comemoração, mas a minha expressão assustada apenas mostrava a eles que fizeram besteira. Desembestada, Yomi voava sobre mim, com a foice em punho, e eu, travada pelo medo e incapacidade de lutar contra uma amiga, fiquei olhando para os olhos azuis. Yomi se aproximava... E ia rápido. Mas por um milagre, o chifre e aquelas asas mal formadas sumiram em uma nova fumaça e ela caiu em meus braços, me fazendo desabar junto.

Faraoni estava logo atrás, sobre uma das arvores, rindo, como um demônio louco.

- Um teste para ver se ela tinha chances de suportar a nova habilidade.

- Seu idiota! Poderia ter matado todos nós! – Kenji gritou.

- Jokers a menos. – Após sussurrar isso, se jogou para trás e sumiu entre as folhagens.

Yomi tinha pulso e estava quente. Quente como uma pessoa com febre altíssima. Kenji agarrou-a pela nuca e abaixo dos joelhos, pegou-a no colo, e avisou que levaria-a para casa. Eu peguei e limpei Orologio, guardando-a. Kikuri, sem ordem de ninguém, achou legal levar a foice. Assim, a morena poderia ter algo para se defender sem precisar de Orologio.

O caminho de volta para casa foi tranquilo, novamente. Entretanto, eu ainda queria saber sobre as chapas de aço. Por que elas estavam ali? Yomi poderia tentar responder, graças a sua sabedoria, mas agora, a única coisa que ela iria dizer para mim seria “onde estou?"


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Notas finais do capítulo

Caramba, eu fiz uma bagunça com os capitulos. Agora, tenho que penar para conseguir reorganizá-los. Mas espero que não se importem. XD
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