Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 5
Carta 3 - Fogo.


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma nota: este capítulo será um pouco agressivo, acho. Acho que avancei muito, me deixei levar pela euforia dos sentimentos que tomaram conta de mim, e o que escrevi está escrito. Alguma hora eu faria isso, mas acho que fiz cedo demais.
Boa leitura.



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Katara,

Senti necessidade de escrever-lhe esta carta por algumas razões que, creio eu, são um pouco fracas para tanto. Ultimamente venho me sentindo fraco, não fisicamente, mas mental e psicologicamente.

Tudo está acontecendo tão rápido que mal posso acompanhar. Eu não consigo colocar ordem nos meus pensamentos a respeito de tudo isso. O mundo, as pessoas, as coisas, a ordem dos fatos, eu não consigo processar isso tudo tão facilmente.

Acho que estou cedendo à pressão de ser o senhor do fogo. Não consigo controlar bem o que está sobre meu comando, e eu estou ficando confuso demais para me manter em equilíbrio. É muita responsabilidade, é muita coisa! Eu vou acabar enlouquecendo a qualquer momento. As pessoas cobram demais de mim, acham que vou trazer a harmonia de volta, ou que eu vou acabar com o “resplendor” que a nação conseguiu nesses cem anos de guerra.

Existem muitos que são contra meu comando. Aqueles que realmente apoiavam a causa de meu bisavô Sozin estão contra mim agora. Até os soldados, alguns até iludidos, suponho, com honrarias e façanhas que os enalteceriam ao máximo em nome da nação.

Está difícil convencê-los que os tempos e as metas são outras. Que devemos pedir perdão pelos nossos erros e que devemos juntos construir uma nova nação do fogo, como a fênix que renasce das suas cinzas para uma nova vida. Mas as antigas cinzas são desfeitas e apagadas, por que elas vieram de uma vida passada muito conturbada.

É isso que eu não consigo fazer. Se ao menos eu tivesse a sua paciência...

Estou sem apoio algum, Katara. Sempre que posso, vou visitar meu tio, mas é muito raro. Acho que ele ainda não se convenceu que eu tenho uma vida ocupada, e que eu não poderei ajuda-lo com o chá. Por um lado, isso me entristece muito. Fazer chá com ele é muito reconfortante, aprendo muitas coisas com ele (na maioria sobre chá, e algumas lições de moral também). Soube que ele foi nomeado “servidor de chá real” pelo rei da terra. Não sei se dou os parabéns, ou dou risada, confesso.

Katara, ajude-me. Estou sem saída.

Como eu preciso ao menos da sua presença! Ela já me deixa aliviado, e esperançoso.

Deve se perguntar agora: não tenho ninguém que possa fazer isso por mim? Outra pessoa que não seja você?

E eu respondo com toda a sinceridade que possuo: não, preciso de você. Preciso ao menos uma palavra tua de conforto. Preciso mostrar pra mim mesmo que você ainda está aí, que o que há entre nós não mudou...

Ultimamente eu venho percebendo que eu tenho pensando em ti com uma frequência muito grande. Quando estou num momento calado, me pego tocando na minha cicatriz e lembrando o episódio das cavernas de cristal. Sei que minha recusa foi importante naquele momento, por que você usaria a água para trazer Aang de volta.

O que me faz pensar que, no fim das contas, eu gosto da minha cicatriz. Ela é uma parte de mim agora, e ela sempre foi importante e sempre será. Acho que ela vai me mostrar o caminho que devo seguir. Acho que tudo o que fiz pode servir de exemplo. Como meu tio disse, eu sou o único capaz de ser o Senhor do Fogo.

Mas ainda preciso de você, Katara. Ainda preciso sentir aquilo que sinto quando conversamos: um misto de calor e confiança. Um desejo muito grande de que este momento não se acabe. Apenas... Coisas estranhas.

Por que estou desejando tudo isso? Por que passei a acreditar que eu tenho que escrever ao menos algo para ti? Por que o pensamento da espera de uma reposta me parece tão doloroso? Por que tudo isso está acontecendo?

Katara, eu definitivamente não sei, mas se sei, estou tentando mostrar a mim mesmo que não é algo importante. Por que existem coisas que são muito delicadas para serem tratadas, ou por que não sei trata-las muito bem, confesso. Mas bem que a Mai faz alguma falta.

Acho que não te contei, não é?

Tivemos uma briga. Não diria que foi uma briga séria, mas no que deu depois... Foi, sim, uma briga séria. Mai questionava a pouca – ou nenhuma, como ela colocou – atenção que eu lhe dava. Tentei me justificar, dizendo que não tinha tempo, que eu estava muito ocupado para entretê-la ou conversar seriamente com ela. Por um momento, eu me senti meio vitorioso, mas você sabe que sou péssimo em convencer pessoas, e sou fácil para me deixar levar, mas ela então me mostrou algo que eu jamais pensei que cairia nas mãos dela.

Sinto muito pelo que vou te dizer agora, Katara, mas esta carta estava nas mãos dela.

Pra mim, foi como se ela apertasse meu coração, esperando cada gota de sangue dele cair.  Ela apertava e segurava com uma força muito grande. Tentei me controlar para não arrancar com ignorância a carta das mãos dela, apenas para tentar disfarçar o que estava acontecendo.

Lembro-me perfeitamente daquele momento.

“- Então quer dizer que você não tem atenção para mim, mas para ela você tem?!

- Mai...

- Zuko, por favor. Não se faça de vítima. Se você simplesmente não queria algum apoio meu, bastava me dizer, e eu entenderia. Eu sei de suas relações como Senhor do Fogo, suas obrigações. Pra mim, não é fácil saber que você pode não ter tempo para mim. Mas me trocar por ela... Mentir pra mim, Zuko?!

- Eu não menti para você quando disse que eu precisaríamos nos afastar.

- Claro que não. Foi até bom para mim, me manter um pouco longe, sabe? Pensar melhor sobre o que está acontecendo conosco. Pensar melhor sobre absolutamente tudo o que está acontecendo. E quando eu finalmente chego a uma conclusão, quando eu finalmente acredito em suas palavras com força, você me dá esse golpe.

- Mai, isso é puro ciúme. Não significa que só por que eu preciso da atenção de uma amiga...

- E eu não sou sua amiga? E estou bem mais próxima que ela!

- Mas é diferente, Mai! Sei que nos conhecemos de longa data, mas você não era a pessoa certa para tratar dos problemas que vivi naquele momento.

- Eu não era a pessoa certa?”.

Nessa hora tive que respirar bem fundo. Eu tinha que ser franco comigo mesmo, ou então, Mai jamais iria olhar na minha cara novamente.

- É.

- Pelo visto, vocês são bem íntimos com relação a esse assunto. Por que Ela é muito profunda no relato.

- Você... Leu a carta?!

- Não cheguei a esse ponto, Zuko. Pelo tamanho, e por algumas palavras que vi aqui e ali, eu deduzo algumas coisas.

- Primeiro: como você encontrou a minha carta, Mai? Ela é algo extremamente pessoal!

- Viu sua reação? O conteúdo dela deve ser muito controverso para que eu possa saber, não é? A defende como se fosse um segredo. O que há de tão secreto que não me permita ler?”.

Eu realmente estava ofegante e aflito. Meus esforços tinham sido em vão? Sim, Katara, eu tinha escondido a carta, por que eu sabia que, ela era muito pessoal para qualquer um lê-la, e ela é, de alguma forma, importante para mim. Mas de uma coisa eu sabia: o fato dela dizer que não tinha lido a carta era mentira.

“- Mai, eu...

- Você. Esse é o problema: você. Não confia mais em mim? Despeja seus sentimentos e pensamentos sobre outra pessoa? Como você quer que eu fique: alegre, sem me importar, ou que eu fique desconfiada e cheia de ciúme?!

- Mai, por favor...

- Zuko, eu não sei nem mais o que dizer – ela estava em prantos. – Achei que você confiava em mim. Achei que você me amava de verdade!

- Mas Mai, eu ainda sinto algo por você.

- Sinto algo por você... Disse num tom de voz expressando pena. Zuko, suas lamentações não me importam. Você é mais profundo a ela nesta carta do que você foi profundo comigo. Em todo o nosso relacionamento. Zuko! Não existem explicações pelo o que aconteceu. Se eu estiver certa - e meu coração diz que estou - não tem volta. O que eu descobri aqui acabou completamente com minha visão sobre você, e me deixou profundamente magoada. Como você pode usar tais palavras com ela, Zuko? Onde estão as palavras de amor que você me disse no fim da guerra? Como você é cínico e sarcástico ao me deixar de lado assim? E pior: fazer isso Às escondidas! Por que não deixou claro o que estava sentindo desde o começo, ou melhor, desde quando começou a sentir?!

- Mai! Pare! – suas palavras me metralhavam, e me faziam tecer um sentimento de culpa muito grande.

- Olha, Zuko, quer saber? Não me procura mais. Não vem atrás de mim. Finja que nunca houve nada, Okay? Eu espero de você o mínimo possível. De mim, você só verá a sombra, e nada mais.

Aí ela largou a carta no chão, e foi embora, chorando.

Permaneci ali, sem me mexer, ao menos.”.

Como eu pareci um idiota naquela hora!

Eu tinha que ter feito algo, Katara! Mas não pude fazer nada. Nem me defender, ou defender o que estava escrito.

Só que Mai estava certa, em partes. Mas ainda assim, não compreendo muito do que ela disse. Sinto-me confuso com tudo isso.

Ajude-me. Seja pra mim a lua que ilumina o mar noturno.

Zuko.


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Notas finais do capítulo

Todas as opiniões serão bem vindas.



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