Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 19
Automutilação


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei. Sim, demorei, sei disso, sei disso. Minhas aulas voltaram com tudo. Mas nessa brecha que encontrei resolvi continuar. Gostaria de saliente que: estamos chegando em um ponto crucial da história, esse capítulo é confuso, malvado e triste, mas - apesar disso tudo- eu espero, honestamente, que vocês gostem. Sinto muito pela demora, não foi falta de consideração, foi falta de tempo mesmo. Desculpe.

E quem quiser ouvir uma musiquinha enquanto lê: You and me - Lifehouse.



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Automutilação (AM), é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. Os atos geralmente têm como intenção o alívio de dores emocionais e em grande parte dos casos, estão associados ao Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). As formas mais freqüentes de automutilação são cortar a própria pele, bater em si mesmo e queimar-se.

- Vitor - ela disse no habitual tom de voz calmo- Seu lanche já está pronto!- mexeu novamente o copo de laranja para tirar o açúcar do fundo- Vitor, venha meu anjo.

E ele veio pulando vários degraus perigosamente. Deu um beijo na bochecha dela e engoliu o sanduíche sem mastigar. - E você pequena? Não vai comer nadinha?-abaixou-se para colocar os olhos no meu nível.

Balancei a cabeça. Ela estendeu um sanduíche. Balancei a cabeça. Elá virou-se momentaneamente, alisou o cabelo dele. Olhou para mim novamente e sentou-se ao meu lado no chão, com um copo de suco e um sanduíche. Foi tão inesperado que não pude não aceitar o sanduíche. Ela parecia a mulher que cuida do Dodó em O cão e a raposa, ela tinha uma coisa boa. Dos outros eu não gostava, nem do grande nem do pequeno.

O grande parecia estar sempre bravo, sempre como se alguém lhe dissesse que comera sua sobremesa e, por isso, ele ficaria sem doce. Ele seria o caçador em O cão e a raposa, com certeza ele seria o caçador.

O pequeno, que era pequeno em relação ao grande, mas em relação a mim ainda era grande, tinha esperteza de sobra. A mãe era boa e o pai era mau, e ele não era nem tão bom nem tão mau. Ele não me chamava nunca para brincar, na verdade, às vezes eu sentia vontade de apostar comigo mesma que ele não me via, que eu ficava invisível sem querer. Ele brincava com os amigos dele, mas os outros garotos só podiam brincar se fizessem as coisas do jeito dele. E ele fazia birra e jogava o prato no chão e corria pela casa quebrando coisas e minha mãe e as outras corriam atrás dele e parecia que tudo estava ruim até que ela chegava. Segurava ele pelos braços, como nenhuma das empregadas ousava fazer, dizia-lhe que aquilo era errado e que ele não podia fazê-lo. Só que ela era boa, então dizia isso de um jeito bom, beija sua testa e lhe contava histórias de meninos bonzinhos, segundo ela, como ele. Ele a amava.

Vai ver por isso, quando ela foi para o céu, porque minha mãe disse que ela tinha ido para o céu (eu duvidei porque ela não tinha asas e o céu parecia muito longe, mas minha mãe disse) ele se tornou um menino mau, nada parecido com o das histórias. Só que o mau dele era diferente do mau do homem caçador de O cão e a raposa. Acho que por isso eles viviam brigando. Ele chutava as coisas enquanto xingava o pai, às vezes era o contrário, xingava o pai enquanto chutava as coisa. Só que o homem grande não era ela, ele respondia com tanto ódio que eu até pensei em perguntar se Vitor não queria brincar comigo.

E eu perguntei. E ele gritou comigo enquanto chutava a cadeira da cozinha, me explicou quem ele era e quem eu era. A minha mãe disse para eu não perguntar de novo, mas eu pensei que ele devia estar triste, então no dia em que o encontrei chorando no jardim resolvi perguntar se ele queria um abraço. Ele olhou para mim como a Dona Mercedes, a cozinheira, olhava para as rãs do jardim (ela não gostava de rãs). E pegou o Mariola (meu melhor amigo de todos os tempos, o ursinho que o papai tinha me dado no meu aniversário de oito anos) arrancou-lhe a cabeça. Foi assustador, eu pensei que o Mariola tinha morrido para sempre (mas a mamãe costurou, ficou uma cicatriz e ele reclamava de dor no pescoço, mas o Mariola sobreviveu). Ele disse ao pai que deveria mandar meus pais embora dali, então nós arrumamos nossas coisas e fomos para outro lugar. Eu soube naquele instante que ele nunca seria como ela, que ele era como o cachorro do seu Alfredo que morava por perto. Ele podia estar calmo e parecer um cão bonzinho, mas também podia arrancar seu braço (ou sua cabeça) numa mordia só. Ele deveria andar com uma placa de “cuidado, cão bravo”. E eu não gosto dele. Eu não gosto dele.

BERNARDO

Ela demorou alguns minutos amarrando e desamarrando o cadarço, fazia de maneira perfeccionista e, se um lado não ficava igual o outro, ela desamarrava e começava de novo. Em determinado momento, no entanto, olhou para mim e resolveu contar como conhecera o Vitor , como se não fosse a quinta vez que eu perguntava. Mona contou que seus pais trabalhavam na casa dele quando ela era pequena, mas que foram despedidos justamente a pedidos dele. As últimas notícias que tinha tido dele chegaram através de amigas de sua mãe que trabalhavam lá, soube quando ele fugiu e soube também de  muitas histórias que, para quem conhecia apenas aquele Vitor imponente e extremamente simpático que andava de mãos dadas com a Pan, pareciam sem sentido.

Eu sabia que se eu contasse essas histórias para Zoe ela duvidaria muito, contar para Pan então nem passava pela minha cabeça sob pena de ser taxado de ridículo, caluniador e trapaceiro. E, na verdade, eu podia ter duvidado da veracidade daquilo também, mas eu conhecia a Mona muito bem para saber que ela nunca inventaria uma história daquela, foi isso e algo em mim que acendeu, como uma vela que mostra uma chama quando todos pensavam que ela estava apagada, não sei, não sei se por ela ou por mim mesmo acreditei naquilo tudo. E quando ela relatou o que as empregadas contaram sobre a ambição dele, sobre como sentia-se injustiçado por não ter tanto dinheiro quanto o pai ou sobre como ele tinha fama de mulherengo ou sobre como ele ainda era o menino que fazia birra só que agora, grande. Bem, quando dei por mim eu simplesmente acreditava.

- Você acha que ele vai fazer mal a ela?- perguntei algumas noites depois.

- Não sei Bernardo, as pessoas mudam – ela virou-se para olhar diretamente nos meus olhos, pôs a sobre mim e completou – Ou não.

- Eu só interferiria se soubesse que ele vai fazer algum mal a ela – respirei fundo já pensando em como faria para impedir que ele ludibriasse minha amiga.

Só quando percebi que estava pensando por muito tempo naquilo percebi também que ela estava na mesma posição e me olhando com um semblante num misto de duvida e tranquilidade.

- O que foi? – disse encostando minha mão em suas costas por debaixo do lençol.

- Você ainda gosta muito dela – disse com um sorriso sem graça de canto de boca – É quase engraçado.

- O que?! – me apoiei nos cotovelos para sentar, ela fez o mesmo e ficamos nos olhando calados por mais um tempo – Não é nada disso Mona, eu estou preocupado porque ela é minha amiga e eu pensei que ele era um cara legal. Dai descubro que ele é um babaca e você quer que eu ignore essa informação?

- É, mais ou menos isso – ela puxa o lençol mais para ela- Olha para mim Bernardo- obedeço – Eu estou aqui, agora, no seu apartamento, na sua cama, com você- ela mira algo distante e volta a me encarar logo em seguida, desvia os olhos por mais um momento, e então sorri mais uma vez um riso sem graça, coloca a mão na cabeça – Você está certo – puxa o lençol todo para ela me obrigando a pegar um travesseiro rápido, e sai em direção ao banheiro.

- Não...Mona...Espera....Mona...- pulo da cama ainda segurando o travesseiro, seguro o braço dela – Espera, por favor. Você que está certa, me desculpe, mesmo. Eu não queria magoar você, era a última coisa que eu queria. A última.

- Eu sei...eu sei...- ela suspira pensativa, e então olha diretamente para mim percebo que algumas lágrimas podem fugir de seus olhos a qualquer momento, e é ai que me sinto o pior ser humano do mundo, pois fui eu quem chamou aquelas malditas lágrimas – Você é um cara ótimo, você é um amor mesmo, e poderia dar certo, poderia...mas não vai dar. Porque você gosta dela,gosta muito, e tudo bem sabe? Eu entendo, sério. Dói um pouco por você ser tão legal e eu já gostar tanto de você... – ela enxuga o rosto - ...mas passa- me dá um beijo na bochecha e continua falando.

Eu não consegui ouvir mais nada, algumas frases soltas que juntas não faziam o menor sentido. Me recusei a acreditar no que ela dizia dessa vez. Eu quis responder, quis argumentar que eu tinha encontrado tudo o que precisava nela, que não fosse. Não consegui dizer nada. Quis também segurá-la, impedi-la de ir, abraçá-la e beijá-la e pedir desculpas, de joelhos até. Não consegui fazer nada. E eu fiquei feito um idiota segurando o travesseiro de frente para a porta que ela tinha fechado. Tive vontade de bater minha cabeça quantas vezes fossem necessárias na parede para que doesse muito. Mas a vontade foi afugentada quando o telefone tocou.

- Bernardo? –a voz disse.

- O que é? – responde mais mal humorado do que planejava.

- Pelo amor de Deus, você precisa vir aqui – foi aí que percebi que a voz estava desesperada.


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Notas finais do capítulo

E ai? To mt mt mt ansiosa pra saber o que vcs acharam, então não me deixem no vácuo, ok? E não posso prometer quando postarei de novo, mas posso afirmar com toda certeza que quando surgir uma brecha eu escrevo e posto (inclusive parte desse capítulo escrevi durante uma aula chata ...crianças não façam isso, é muito feio.... sério eu não sou de fazer isso, a aula era mt chata :o ).

Um bj pra vcs, estava com saudades (owwwwwn).

ps: nesse link (http://www.alexandreporfirio.com/2013/01/28/apple/lista-com-mais-de-300-livros-gratis-para-ler-no-seu-computador-ou-tablet/) tem obras de domínio público, ok, eu tb prefiro ler no papel, mas é grátis. Peguei um monte da Florbela Espanca hhehehe. Bjs.



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